Encontre o que precisa buscando por aqui. Por exemplo: digite o título do filme que quer pesquisar

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

"Meu Nome não é Johnny" é o filme brasileiro que teve mais público em 2008

Há 10 anos, nem os mais esperançosos poderiam imaginar que, depois de reduzida à zero na época Collor, a produção nacional estaria hoje deslanchando. Depois do fenômeno Dois Filhos de Francisco, assistido por 5 milhões em 2005, veio Tropa de Elite que arrastou mais de 2 milhões de pessoas para as salas de cinema em 2007. Sem falar nos incontáveis milhares que o assistiram em discos piratas. Agora em 2008, no topo da lista, temos Meu Nome não é Johnny, de Mauro Lima, superando a marca de 2,1 milhões de espectadores. Descontando o incontável “público pirata”, o resultado se aproxima de Tropa de Elite. Os críticos e pesquisadores ainda não decifraram inteiramente os motivos de tamanho sucesso.
Meu nome não é Johnny é baseado num personagem de verdade: o produtor musical carioca João Estrella que, em 95, foi preso como um dos maiores traficantes de cocaína do Brasil. O espantoso era que não se tratava de um favelado, mas do filho de um diretor de banco. Depois de alguns meses preso, foi condenado a permanecer por dois anos num manicômio judiciário. Em 98 foi libertado e hoje, além de ter virado tema de filme financiado por uma multinacional, está estreando como cantor e compositor. Como se explica isso? Numa versão oficial dos fatos, ele conseguiu convencer a justiça de que não passava de um dependente, que vendia a droga para sustentar o vício. Nunca usara armas e, por algum motivo, os tribunais não consideraram a sua ligação com os fornecedores que traziam o tóxico da Bolívia como uma manifestação de crime organizado. E o filme quer que acreditemos nessa versão, assim como o protagonista conseguiu fazer com a juíza vivida no filme por Cássia Kiss. Com apoio de Cleo Pires, fazendo a namorada, e de Julia Lemmertz no papel da mãe, Selton Mello trabalha com o empenho e a eficiência que o caracterizam. Escrito pela produtora Marisa Leão, o roteiro de Meu nome não é Johnny, vale pela fluência e pelo colorido dos personagens. Curioso o fato de que, antes, ela produzia filmes sobre grandes figuras da história, como Antonio Conselheiro, Lamarca, Tenório Cavalcanti e Zuzu Angel. Mas em seu longa de estréia, como roteirista de ficção, escolheu um personagem digamos, mais sintonizado com o mundo de hoje.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

"Sete Vidas" foi arquitetado para lançamento no Natal. Mas não podemos explicar porque.

Sete Vidas (estréia 25/12/2008) foi feito para repetir o sucesso anterior da parceria entre o ator Will Smith e o diretor italiano Gabrielle Muccino. No ano passado, eles apresentaram o infalível À Procura da Felicidade, melodrama capaz de derreter um coração de pedra. Mas a arte de estimular as lágrimas das platéias não se baseia numa ciência exata. A escolha de um roteirista (Grant Nieporte) de TV, estreante em cinema, para cuidar do roteiro faz toda a diferença. Ele abusa do mistério que, como ensinava o mestre Hitchcock, pode até ser interessante, mas não emociona. Simplesmente por lidar mais com o cérebro do que com o coração do público. Se o espectador fica se perguntando “mas que fiscal do imposto de renda é este que demonstra mais interesse em ajudar do que em processar as vítimas do leão?” está usando mais a razão que o sentimento. Não poderá se comover com um personagem que levanta dúvidas do tipo: “se ele não é gay nem aleijado, por que despreza as insinuações dessa personagem da Rosario Dawson (na foto) que ele tanto ajuda?" A fórmula, desta vez, depende quase inteiramente do carisma de Will Smith, que se esforça para segurar o interesse no protagonista até o desfecho final, quando então tudo se esclarece. Inclusive o título, e o motivo pelo qual o filme é lançado exatamente no dia do Natal. Como se o roteiro colocasse um ponto final nas dúvidas mentais, abrindo espaço para o pretendido choro. Por outro lado, é exatamente nessa ousada estratégia narrativa que reside o lado mais interessante do espetáculo e seu tema central: um caso de amor diferente de todos os demais já mostrados pelo cinema.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

"Um Conto de Natal": sofisticado filme francês com lançamento no dia de natal

Por este trabalho, Catherine Deneuve ganhou o Prêmio Especial do júri no 61º Festival de Cannes deste ano. Mas ela não é a única atração deste filme de Arnaud Desplechin, atualmente o mais importante cineasta francês, autor de Reis e Rainha que, para muitos críticos, foi o melhor de 2005. Naquele filme ele mostrava um casal separado, que ainda mantinha um tipo ligação por causa do forte afeto que unia o filho e o marido. Ele era interpretado pelo mesmo Mathieu Amalric (na foto com Deneuve), que também se destaca neste filme. Desta vez o foco é uma família completa: pai, mãe, filhos e netos, além de primos, esposa, marido e amigos. Uma gente aparentemente comum, não fosse o pai o dono de uma prosaica tinturaria que tem o hábito de ouvir música contemporânea acompanhando a execução pela partitura. Já a mãe é uma dona de casa que tem Emerson, o complexo filósofo transcendentalista, como leitura de cabeceira. Eles se reúnem para celebrar o natal, com todos os rituais costumeiros da sociedade burguesa, inclusive uma “missa do galo”. Só que, em lugar da chegada do Papai Noel, o que se espera é a internação da mãe para proceder a um transplante de medula. Uma leucemia fora recentemente descoberta e espera-se que um dos filhos seja apto para uma doação de medula. Sabe-se que o neto mais velho é compatível, mas o menino é psicótico depressivo e acabara de tentar o suicídio. Por sua vez, a mãe dele tinha banido o irmão mais novo da família. Vivido pelo intenso Mathieu Amalric, este está disposto a virar a mesa em plena ceia. Além de ódios explícitos, o clã tem amores reprimidos e muitas outras complicações varridas para debaixo do tapete da salle a manger. Justamente por isso, a maestria de Arnaud Desplechin se faz mais evidente, ao entrelaçar com destreza todos esses conflitos, sem jamais esbarrar na banalidade e nem deixar desamarrada uma só ponta dramática. Vejamos agora o que dissemos de Reis e Rainha em 2005:

"Reis e Rainha" prova que o cinema francês continua vivo, saudável e criativo

O trabalho de de Arnaud Desplechin pode ser visto como uma síntese brilhante das contribuições deixadas por mestres como Godard, Truffaut e Rohmer. Seu cinema é rico em diálogos, mas também se mostra extremamente visual, num estilo que não privilegia as palavras e nem os gestos. Aqui ele conta uma história com dois protagonistas, vividos pelo elétrico Mathieu Amalric (na foto) e pela inefável Emmanuelle Devos. Ele um músico desequilibrado e encantador e ela uma mulher que parece inicialmente um anjo de candura e que, aos poucos, vai revelando a sua verdadeira face. Na verdade são duas histórias que se cruzam, tendo como denominador comum o filho que eles um dia tiveram. São tantas as reviravoltas e surpresas, que a narrativa parece querer se fragmentar a qualquer momento, transformando-se numa série de episódios ou curtas metragens. E cada um de um gênero diferente: tragédia grega, drama shakespeariano e até comédia musical. Mas gradativamente o leque vai se fechando e vamos absorvendo a obra de Desplechin em toda a sua envolvente unicidade temática e formal. Reis e Rainha (estreia 9/12/2005) é um filme sobre a grandeza e a insignificância da existência, sobre homens e mulheres que superam a si mesmos, na redenção ou no embrutecimento.

sábado, 20 de dezembro de 2008

"Rebobine Por Favor", uma comédia que tem mais graça para quem gosta muito de cinema


Superestimado pela imprensa, o francês Michel Gondry apresenta o seu Rebobine Por Favor (estreia 12/12/2008), uma comédia de baixa voltagem humorística, ainda que cheia de afeto pelo cinema em que a imaginação supera os orçamentos. O personagem do especialista em caricatura Jack Black (na foto, como Robocop) trabalha num ferro-velho e sofre com intermináveis dores de cabeça. Ele atribui o problema a uma rede de transmissão elétrica que passa por perto. Tentando sabotar as instalações, recebe uma descarga tão forte que seu corpo fica magnetizado. Depois, ao entrar na locadora de filmes em VHS de um amigo (Mos Def), ele desmagnetiza todos os filmes disponíveis. A solução encontrada é “refazer”, com uma velha câmara VHS, as principais cenas e diálogos de filmes como O Rei Leão, Os Caça Fantasmas, Quando Éramos Reis, De Volta para o Futuro, Conduzindo Miss Daisy e Robocop. O curioso é que essa tecnologia, hoje superada, era infinitamente superior aos recursos de que dispunham os pioneiros do cinema, como Méliès e Griffith. Ao montar essas “réplicas”, a dupla acaba homenageando todos aqueles que criam imagens não “apesar”, mas “a partir” das limitações conceituais, tecnológicas e orçamentárias. Por um motivo inicialmente obscuro, o grande ícone invocado para representar todo esse esforço de recriação por meio da paródia é o compositor e pianista Fats Waller (“Ain't Misbehavin”) que morreu em 1943. Na última, e melhor seqüência do filme, isso se esclarece, com a montagem de um cena que tem tudo a ver com os números musicais típicos de Fats Waller, nos quais ele associava improvisação e um simpático tom de amadorismo a uma execução jazzística de alta categoria. Veja como exemplo “Your feet's too big”:
http://www.youtube.com/watch?v=in1eK3x1PBI

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Para lançamento no dia de Natal, "Um Homem Bom", do brasileiro Vicente Amorim

Agora já começam as pré-estréias de Um Homem Bom, um dos mais atraentes lançamentos para o dia de natal. Uma surpresa é o nome de Vicente Amorim, filho do ministro Celso Amorim, na direção desta ambiciosa produção internacional estrelada por Viggo Mortensen e Jason Isaacs. (na foto) Desde 1987, Amorim vinha fazendo assistência de direção em filmes como Luar sobre Parador de Paul Mazursky e Brincando nos campos do Senhor, de Hector Babenco. Seu primeiro longa de ficção foi O Caminho das Nuvens, de 2003, com Wagner Moura. Drama histórico de intenção crítica, o tema deste Um Homem Bom é a participação de cidadãos que, apesar de não terem ligação ideológica e nem simpatia pelo nazismo, acabaram colaborando com o regime de Hitler e com todos os seus horrores. Com uma expressão sofrida e quase angelical, o americano de origem dinamarquesa Viggo Mortensen faz o papel de um professor de literatura que, para não perder o emprego, entra para a SS. O único romance escrito pelo era interpretado quase como uma justificação da eutanásia e, por isso, foi considerado uma das bases teóricas do holocausto. Essa história tem parentesco com tantas outras, como Lacombe Lucien, que Louis Malle fez em 73. Mas, mesmo sem a profundidade de O Ovo da Serpente (1979) de Ingmar Bergman , Um Homem Bom é impecável em termos de produção e acabamento. E Amorim apresenta uma impressionante fluência em seu modo de narrar, sem medo de recorrer ao flash back, e contando uma história de época com a agilidade de uma aventura contemporânea.

Retrospectiva dos mais importantes filmes de Bernardo Bertolucci no CCBB




Até o dia 4 de Janeiro, o Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo apresenta uma retrospectiva dos filmes de Bernardo Bertolucci intitulada A Estratégia do Sonho. São 11 títulos do diretor de O Último Tango em Paris (1972). Alguns são bem conhecidos do público brasileiro, como 1900 (1976), La Luna (1979) e O Último Imperador (1987). Mas, outros foram muito pouco vistos entre nós, por causa da censura no regime militar. É o caso de A Morte (1962), Antes da Revolução (1964), Partner (1968), O Conformista (1970) e A Estratégia da Aranha (1970). Sobre este último, aliás, eu escrevi na época um artigo para a Folha de São Paulo que foi publicado apenas em 1980. O texto foi incluído no recente lançamento da Cosacnaify Cinema Político Italiano - anos 60 e 70. (na foto). Baseado num conto do argentino Jorge Luis Borges, o filme fala de uma figura cuja imagem oscila entre a de herói e a de traidor. A ideia central do roteiro é colocar em confronto ideologia e realidade histórica.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Outros filmes de ficção feitos a partir da biografia da designer de moda Coco Chanel

A professora Jô Souza, que é especialista em moda avisou que já foram feitos outros longas sobre a vida de Coco Chanel. O mais recente foi estrelado por Shirley MacLaine e produzido neste ano, especialmente para a televisão, com o qual ela concorre ao Globo de Ouro de melhor atriz de mini-série ou filme feito para a TV. (na foto) O título é Coco Chanel, com direção do canadense Christian Duguay e produção anglo-francesa e italiana , até agora, só exibido nos EUA e em alguns países da Europa. O outro é o francês Chanel Solitaire, de 1981, com Marie-France Pisier no papel e direção do húngaro George Kaczender. Num orçamento de sete, gastou-se um milhão de dólares apenas com figurinos. Foi lançado no Brasil em VHS, podendo ainda ser encontrado nas locadoras mais antigas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Em 2009, a estilista Coco Chanel vai aparecer em dois filmes biográficos

Coco Chanel, a criadora do vestido pretinho básico e sinônimo de elegância parisiense, será mais uma das personalidade culturais francesas que, em número crescente, vêm se tranformando em personagens de cinema. É um possível efeito do considerável sucesso (de público e de crítica) do emocionante Piaf - Um Hino ao Amor, que deu um Oscar a sua intérprete Marion Cotillard e outro aos seus exímios maquiadores, Didier Lavergne e Jan Archibald. O curioso é que duas atrizes vão interpretar Chanel em dois filmes diferentes sobre a vida da estilista, que deverão ser lançados no próximo ano. Nas fotos acima, vemos Audrey Tautou, a estrela de Amelie Poulain, ao lado de uma imagem histórica da própria Gabrielle Channel. No affiche abaixo, porém, percebe-se que a outra intérprete tem um rosto um pouco mais parecido com a personagem. Trata-se de Anna Mouglalis, dois anos mais moça que Tatou, e que representou Simone de Beauvoir, em Les Amants du Flore, um filme exibido em 2006, apenas na TV francesa.

Gabrielle "Coco" Chanel aliou uma grande força de vontade e um espantoso talento para desenhar roupas ao espírito modernista dos anos 1920, erguendo uma das maiores maisons de moda do mundo, no século XX. Tanto Coco avant Chanel, com Audrey Tautou, quanto Coco et Stravinsky, estrelado por Anna Mouglalis, vão se concentrar no início da carreira da estilista. Os dois filmes se acham em fase de pós-produção e devem chegar aos cinemas no próximo ano.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Bigas Luna decepciona seus admiradores com o apenas simpático "Eu Sou a Juani"


Talvez se não tivéssemos visto os anteriores do catalão Bigas Luna (1946 - Barcelona ), como A Teta e a Lua (1994), Jamón Jamón (1992) e Ovos de Ouro (1993), esse seu último trabalho Eu Sou a Juani (estréia 14/12/2008) seria mais aceitável. O filme narra a tentativa de uma moça do interior "tornar-se uma atriz" em Madri, sem conhecer ninguém na cidade e nem ter a menor idéia do que seja essa atividade e dos pré-requisitos para exercê-la. Ele continua oferecendo uma montagem nervosa e rica em informação visual, mas o roteiro tem a linearidade típica de um álbum de formatura. Do modo como é construído, parece o piloto de uma série para a TV. O diretor pratica alguma modernidade no acabamento, como inserir grafismos na imagem e o trecho de um video-clipe da cantora Mala Rodriguez, de quem a personagem é admiradora. A história tem até alguns pontos de contato com o brasileiro Falsa Loira de Carlão Reichenback, ainda que perca de longe na comparação, por se mostrar quase rudimentar, como desenvolvimento dramático e retrato psicológico de uma garota da periferia. No papel de Juani, a estreante Veronica Echegui (na foto), que o diretor afirma ter selecionado entre mais de três mil candidatas, mas que lembra o tipo físico de uma Penélope Cruz ainda em rascunho.

sábado, 13 de dezembro de 2008

"A Luta pela Esperança" - Imagens realistas da Grande Depressão, no cinema recente

Segundo os ecomistas que participaram de uma nova pesquisa do Wall Street Journal, "a recessão atual pode se tornar a mais longa e dolorosa desaceleração desde a Grande Depressão". Esse período foi mostrado recentemente, com riqueza de informações dramáticas e visuais, em A Luta pela Esperança (Cinderella Man - distribuição Disney - 2005 – EUA) Direção de Ron Howard, com Russell Crowe, Renée Zellweger e Paul Giamatti. Foi, aliás, um dos melhores filmes americanos lançados em 2005. Entre outros motivos, porque oferece um quadro bem detalhado do que foi a década de 1930. E porque tem um efeito estimulante, sem ser populista, como muito do que se fazia naquela época. Russell Crowe faz o papel do atualmente esquecido pugilista James Braddock. Também conhecido como o “Cinderella Man”, ele foi um dos heróis do povo norte-americano no período entre a crise iniciada em 1929 e o começo da 2ª Guerra. Na foto abaixo (à esquerda), ele se prepara para lutar, em 1935, com o campeão Max Bauer.
O diretor do filme é Ron Howard (EUA – 1954) que começou no cinema como ator infantil e tornou-se um dos mais competentes de sua geração. Em sua imensa folha de serviços, apresenta filmes como Apolo 13 (1995) e Uma Mente Brilhante (2001). O filme narra sete anos da vida do lutador Braddock, que começou bem, como um boxeador jamais nocauteado, e que por conta da Grande Depressão pela qual passou o país, caiu na mais profunda miséria. Sem dinheiro para alimentar a mulher e os filhos, ele passou a viver de esmolas até que encontrar uma oportunidade para recomeçar no boxe. A partir daí o filme cresce, adicionando suspense a um drama social que, além da veracidade na reconstitioção da época, tem uma dignidade equivalente à do clássico Vinhas da Ira de John Ford. Braddock é um dos mais importantes pugilistas da história e Luta pela Esperança tem tudo para ser um dos mais sérios e vibrantes filmes que elegem esse esporte e aquele período como tema.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Crepúsculo, superprodução baseada em bestseller e destinada a conquistar os jovens

Crepúsculo (estréia 12/12/2008) está para os filmes de vampiros, assim como Highschool Musical está para os musicais da Metro. Se Fred Astaire e Ginger Rogers foram trocados por Zac Efron e Vanessa Hudgens, agora, no lugar de Christopher Lee, aparece Robert Pattison, que teve um papel em Harry Potter e a Ordem da Fenix. Foi o escolhido entre 5 mil candidatos. Sua partner é Kristen Stewart que, aos 18 anos, já tinha trabalhado em mais de 20 filmes, mas nunca como protagonista. Já foram filmadas histórias vampirescas para uma parte mais jovem do público, como Garotos Perdidos (1987), de Joel Schumacher. Duas décadas depois, entretanto, os adolescentes se transformaram, obrigando esse (sub)gênero a se dirigir para um espectador que já pode dormir fora de casa (ou em casa mesmo, com o namorado); raramente mora com o pai e a mãe (de quem ouve o conselho para usar preservativo); vai para escola guiando o próprio carro e não fuma (porque não quer, não porque não deixam). Esta produção dirigida por Catherine Hardwicke (Os Reis de Dogtown - 2005) se mostra especialmente requintada, porque é a adaptação de um best-seller recente de Stephenie Meyer, escritora jovem e iniciante que se assustou com o tamanho do próprio sucesso. Os efeitos especiais e a fotografia chegam a se destacar em relação à média das realizaçõs atuais. O roteiro, por sua vez, é esperto o suficiente para manter as linhas gerais das narrativas que descendem de "Drácula", escrito por Bram Stocker (Irlanda 1847-1912) e, mesmo assim, introduzindo novidades, como uma nova (e poética) explicação para o fato dos vampiros evitarem a luz do sol.
O núcleo do roteiro é um caso de amor entre um vampiro (que tem 17 anos desde 1919) e uma colega de ginásio. É uma paixão impossível, porque o seu resultado poderia ser fatal. Outro pano de fundo, portanto, é o risco da AIDS. Numa das cenas mais empenhadas, os personagens passam a noite juntos na mesma cama, fervendo de desejo e sem se tocarem. Nesta época em que os adolescentes desfrutam de toda a permissividade em termos de sexo, pode ser marcante esse tipo de envolvimento que remete diretamente para o romantismo do século XIX. Como acontece em High School Musical, boa parte dos diálogos gira em torno do baile de formatura e há uma boa dose de humor. Neste caso, predominando na seqüência em que o "jovem" vampiro leva a namorada para jantar com a família dele. Conforme a reação do público, em breve teremos o Crepúsculo 2, 3, e assim sucessivamente, até os adolescentes atuais se ransformarem novamente.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Críticos de cinema paulista inovam na escolha dos melhores do ano da APCA


Neste ano a Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) inovou em sua premiação na área de cinema. Para chegar a uma escolha mais justa e conectada com as condições atuais do cinema brasileiro, a tradicional relação de sete categorias não foi respeitada pelos críticos paulistas. A premissa era não ignorar a explosão quantitativa e qualitativa atual dos documentários e não colocá-los apenas nas categorias em que naturalmente teriam espaço, como fotografia, montagem e direção. Por isso nós, os críticos presentes (Maria do Rosário Caetano, Neusa Barbosa, Orlando Margarido, Walter Addeo, Celso Sabadin, Luiz Zanin e Luiz Carlos Merten, além de mim) não atribuimos prêmios de fotografia e nem de direção. Mas criamos um prêmio especial do Júri que foi para o documentário Pan-Cinema Permanente, de Carlos Nader e, como melhor filme, escolhemos dois títulos Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, empatado com Serras da Desordem, de Andrea Tonacci. Uma metade deste, aliás, é documentário. E a outra é uma impressionante reconstituição dramática da realidade. Os demais escolhidos foram igualmente procedentes: Atriz, Djin Sganzerla , por Meu Nome é Dindi. Ator, Gustavo Machado, por Olho de Boi. Roteiro, Carlos Reichenbach, por Falsa Loura. Montagem, Carlos Prates, por Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais. (na foto) A seguir, vamos lembrar alguns dos premiados.

Serras da desordem já tinha sido premiado como o melhor filme do Festival de Gramado de 2006. Seu autor é Andréa Tonacci, um cineasta de ponta que, para azar do grande público, tem se refugiado das agruras do mercado, nos documentários e filmes institucionais. Em 1971, ele fez Bang-Bang, até hoje considerado uma obra prima do chamado “cinema de invenção”, ou do “ciclo underground” que, naquela época, era uma das alternativas estéticas ao cinema novo. Enquanto os diretores mais prestigiados se engajavam na denúncia das contradições sociais no Brasil rural, ele filmava a loucura urbana e ousava experimentar novos signos da linguagem cinematográfica. Com 64 anos e ainda trafegando na contramão, agora que o cinema comercial se impôs, ele se embrenha no sertão para revelar um drama inacreditável – muito mais emocionante que qualquer novela. Serras da desordem conta a história de Carapirú, um índio que pertencia a uma tribo nômade massacrada por volta de 1977. Como um dos poucos sobreviventes do grupo, vagou sozinho por 10 anos, até ser capturado e levado para Brasília pelo sertanista Sydney Possuelo, e entra em contato com o filho que julgava morto. Mas essa narrativa é apenas um dos pontos de interesse do filme, que opera magia de captar e reproduzir o contato entre culturas diferentes como se fosse o encontro de duas dimensões de tempo colidindo no mesmo espaço. Para isso recorre aos personagens reais interpretando eles mesmos e a tudo o que aprendeu sobre a arte da montagem.

Pan Cinema Permanente ganha prêmio especial na votação da APCA deste ano

Pan Cinema Permanente é um documentário sobre a vida e a obra de Waly Salomão, o poeta baiano falecido em 2003 que foi um dos mentores do tropicalismo. Ainda que ele nunca tenha reconhecido a sua participação naquele movimento e tenha composto canções como “Vapor Barato”, “Mal Secreto” e “Luz do Sol”. O filme é assinado por Carlos Nader, mas de fato, boa parte dele foi realizada pelo próprio Salomão ainda em vida, como podemos perceber em muitas das passagens em que ele praticamente dirige a cena. O próprio diretor reconhece que há mais ou menos 10 anos, quando as imagens começaram a ser captadas, nem eles acreditavam que aquele material pudesse um dia ser reunido em longa metragem, com lançamento no circuito comercial. A captação foi feita de modo tecnicamente precário, com equipamento VHS e de maneira aleatória e improvisada – bem ao estilo do poeta, que fazia da irreverência e da hipérbole pontos essenciais em seu estilo. Mas o filme revela a personalidade do escritor baiano em toda a sua exuberância. Filho de árabe e sertaneja, ele visita seus parentes na Síria, numa viagem que funciona como cerne da narrativa. Além de uma biografia, o filme contém uma tese sobre a falácia da transparência na produção estética. Para Waly Salomão, a verdade é inatingível, porque em arte é tudo sonho e ficção. O curioso é que Pan Cinema Permanente foi eleito melhor documentário no Festival É Tudo Verdade.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Café dos Maestros: um documentário sobre o tango argentino mais tradicional

Concebido pelo portenho ganhador de dois Oscar de trilha sonora Gustavo Santaolalla (Diários de Motocicleta e Brokeback Mountain) e co-produzido pelo brasileiro Walter Salles (na foto) o documentário Café dos Maestros (estréia 12/12/2008) é o levantamento da música ainda feita na Argentina por um grupo de chefes de orquestra com mais de 70 anos. Assim como o já clássico Buena Vista Social Club, que resgatou a música tradicional cubana, este recorre a entrevistas, piadas e depoimentos entremeados com cenas dos ensaios de um grande espetáculo que eles estão preparando para o Teatro Collon. Mas, diferentemente do filme de Wim Wenders e do documentários sobre as nossas Cantoras do Rádio, que apresentamos a seguir, Café dos Maestros tem menos música do que se espera. Como se o diretor Miguel Kohan estivesse mais interessado em mostrar os músicos do que o tango que eles fazem. Ainda assim o resultado é positivo, mas bem menos empolgante e balançado que este que comentamos abaixo.

Nos cinemas o documentário Cantoras do Rádio, com quatro grandes damas da MPB

Sem propaganda e sem aviso, estréia (12/12/2008) o documentário Cantoras do Rádio, dirigido por Gil Baroni e Marcos Avellar, que foi aplaudido com entusiasmo no histórico Cine Odeon, durante o Festival do Rio deste ano. Era uma sessão de gala com a presença das cantoras Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas, Violeta Cavalcanti e Ellen de Lima (na foto). É bom saber que elas mudaram um pouco de voz, mas não perderam a afinação e nem a ginga. Muito menos a capacidade de interpretar uma canção com todo o entusiasmo das almas ansiosas por espalhar beleza. O material básico são as gravações do show "Estão Voltando as Flores", que teve temporada no Teatro Rival, do Rio de Janeiro, com direção e roteiro do pesquisador Ricardo Cravo Albin. O espetáculo era uma homenagem às grandes divas do Rádio: Carmem Miranda, Aracy de Almeida, Aurora Miranda, Dalva de Oliveira, Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Linda e Dircinha Baptista, Isaura Garcia e Nora Ney. Essas figuras e toda aquela "época de ouro" são relembradas e discutidas numa série de entrevistas com as quatro estrelas do filme e outros convidados, como Miltinho, Tito Madi e a cantora Marlene. As gravações do show no Teatro Rival, infelizmente, foram realizadas de modo precário, com uma qualidade sofrível de som e imagem. Mas esse detalhe não estraga o prazer de ver e ouvir a música e a conversa daquelas representantes da mais nobre aristocracia da música brasileira, que ainda circulam entre nós, meros plebeus obrigados a aguentar a mediocridade que as rádios atualmente nos impõe.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Fronteira da Alvorada: retrato em branco e preto de um amor cruel e inconstante

Surpresa: Fronteira da Alvorada (lançado em 05/12/2008) emplaca uma segunda semana, mesmo filmado em branco e preto, sem maquiagem, cenografia, figurinos ou qualquer outro recurso técnico pelo francês Philippe Garrel, novamente com seu filho, o ator Louis Garrel (na foto, com Laura Smet), que também protagonizou Amantes Constantes. Não que o filme seja "dificil" em termos de estrutura. Apresenta a trajetória comum de um casal de amantes. Ela, uma atriz de cinema famosa mas deprimida, cujo marido passa a maior parte do tempo fora do país. E ele, um fotógrafo avesso a qualquer tipo de compromisso, que vive num sótão paupérrimo no centro de Paris. O caso caminha de modo sonolento, até que o marido volta de viagem e o fotógrafo sai de cena. A mulher entra em crise e o filme muda de registro, impedindo que continuemos com este resumo. Para uma idéia concreta do que o público costuma sentir a seguir, basta a informação de que ele foi vaiado em sua apresentação em Cannes. As coisas, que já se mostravam deprimentes, tornam-se ainda mais soturnas com uma virada para o campo do sobrenatural. Mesmo assim há um certo encanto, nessa narrativa fantástica (tomando essa expressão no sentido empregado pelo teórico búlgaro Tzevan Todorov) em que o público não tem uma informação precisa se os fantasmas que vemos na tela estão apenas na mente do personagem, ou não. Mais uma vez, a influência dos contos de Henry James, em que os personagens vivem a contradição entre uma presença insignificante e uma ausência significante.

Morre Gerard Lauzier, cineasta e autor de quadrinhos com a Bahia como tema

A imprensa brasileira noticiou o falecimento do francês Gerard Lauzier (na foto) ocorrido ontem, aos 76 anos. Mas, limitou-se a descrevê-lo como roteirista e diretor de cinema, citando filmes como Meu Pai Herói (1991) com Gerard Depardieu e o roteiro de Asterix e Obelix contra Cesar (1999). Cabe acrescentar que ele foi um dos mais importantes criadores de histórias em quadrinhos daquele país. Vários de seus álbuns foram ambientados no Brasil. Entre 1956 e 1964, ele morou na Bahia, onde trabalhou no Jornal da Bahia, como ilustrador, e cartunista.
Voltou para a França e, em 1975, criou a primorosa "Crônica da Ilha Grande", inspirada em suas lembranças da Ilha de Itaparica, narrando as aventuras de um francês conhecido como "Seu Geraldo". Na imagem abaixo, em exemplo de seu traço, no cartaz do Salão de Angoulême de Bandes Dessinées de 1994.

Madagascar 2, um pouco mais complexa e inteligente que a versão anterior

Alguma coisa acontece com os desenhos animados que, diferentemente do que se verifica nos filmes com atores, muitas das continuações resultam melhores que o primeiro exemplar da série. Foi assim, por exemplo, com a Era do Gêlo. Talvez seja porque, numa segunda tentativa, se aproveite a possibilidade de ampliar os acertos e corrigir os erros. Madagascar 2, (estréia 12/12/2008) se inicia antes do início do primeiro episódio, mostrando a infância do leão Alex numa reserva selvagem africana, antes dele ser levado para o zoológico de Nova York. Em seguida passa para uma seqüência após o fim daquele filme, mostrando os novaiorquinos se perguntando onde estaria o leão e seus amigos: uma zebra, uma girafa e um hipopótamo. A saga começa com esse time, e mais uma quadrilha de pinguins malucos, se preparando para voar de volta para os Estados Unidos num avião que eles reconstruiram. Como vemos, o non sense continua funcionando como motor da série, agora até mais exagerado porque os personagens já são conhecidos pelo público. Como era de se esperar, o avião desaba em plena África, justamente numa reserva animal, repleta de leões, zebras, girafas e hipopótamos. Ou seja, a graça desta vez é o confronto dos personagens com seus parentes e com um bando de turistas novaiorquinos que se perderam no local. É a oportunidade para o diretor Eric Darnell, que também fez o Madagascar original, brincar à vontade com a cultura daquela metrópole. Inclusive recorrendo à canção "New York, New York", com o grupo de turistas perdidos cantando "se nós triunfamos lá, triunfaremos em qualquer lugar". A líder dessa turma é justamente a velhinha que bate em Alex no primeiro filme e que, agora, se mostra ainda mais peculiar. Novamente são celebradas a tolerância e a diversidade social. O estilo visual do desenho é mantido, mas os diálogos se mostram um pouco mais sofisticados, em alguns momentos, lembrando a metralhadora verbal dos Irmãos Marx. Afinal, a garotada e seus pais, que aprovaram o filme em 2005, se encontram agora um pouco mais maduros.
Para ativar a memória, publicamos o comentário sobre
o primeiro Madagascar, que foi lançado em junho de 2005.

Imagine os animais do zoológico do Central Park em Nova York. Eles certamente devem ser os bichos mais urbanos do planeta. E também os mais neuróticos, até porque nasceram lá mesmo, no centro da cidade. Na tradição americana do desenho animado, que foi cristalizada por Walt Disney, os animais são humanizados, no sentido de que agem como gente. O Mickey, o Pernalonga e o Pato Donald, por exemplo, falam, andam vestidos... Enfim vivem em sociedade, como os próprios seres humanos. A idéia central de Madagascar é fazer piada com isso, colocando em ação animais propriamente ditos e que se comportam como tal. Vivem em jaulas, não falam com as pessoas, mas podem se comunicar entre si. Um belo dia, o leão, a zebra, a girafa e o hipopótamo – por uma série de circunstâncias – são levados para a África. Mas em vez de um contato direto com seus parentes selvagens, o roteiro resolve colocá-los numa praia de Madacascar, onde só existem lêmures e pequenos felinos. E assim, encontram-se de novo num pequeno mundo fechado, assim como o do zoológico – local que serve de palco para uma série de piadas infalíveis. Destaque para a trilha sonora que faz um uso caricatural de canções já conhecidas.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Lista - Você Está Livre Hoje? pode agradar aos que tem saudade de Hitchcock

Faltava o lançamento de uma narrativa suspense capaz de ser comparada aos clássicos de Alftred Hitchcock, nos quais a carpintaria de roteiro era essencial. Preenchendo esse vazio estréia A Lista - Você Está Livre Hoje?. O conflito central está a cargo do escocês Ewan McGregor (O Sonho de Cassandra) e do australiano Hugh Jackman (X-Men, na foto): o malando e o otário, com a mediação de uma "mulher fatal", Michelle Williams (O Segredo de Brokeback Mountain). Não tão fatal quanto a Kim Novak de Um Corpo que Cai, mas bastante adequada para o papel. O tímido contador feito por McGregor é introduzido num mundo de hotéis luxuosos e mulheres liberadas pelo advogado interpretado por Jackman. Quando a trama do filme é bem armada como esta, o comentarista não deve descrevê-la em demasia, para não estragar as surpresas que começam a acontecer logo nas primeiras cenas. O autor do roteiro é Mark Bomback, que já tinha feito um dos exemplares da série Duro de Matar e mostra que tem condições de ir mais além. Já o diretor é um iniciante que veio da publicidade chamado Marcel Langenegger e que não deve ter apresentado cacife para enfrentar os executivos da produção e, talvez por isso, fechou o filme com um final um pouco decepcionante. Mas isso não chega a atrapalhar o espetáculo que, até os dois minutos finais, é de primeira linha.


Para comparar A Lista com outro filme de suspense hitchcokquiano, a dica é procurar o DVD Encurralados (Butterfly on a Wheel) lançado neste ano pela Europa Filmes. É um filme de suspense produzido e interpretado por Pierce Brosnan, que foi James Bond 5 vezes. O diretor é o inglês Mike Barker, que veio de filmes de época como Morte ao Rei e Uma Mulher Fiel. Brosnan interpreta um impiedoso seqüestrador que acaba com o sossego de uma família de classe média alta, habitante de Chicago. Ele é Gerard Butler, o herói espartano de 300, e ela é Maria Bello, de Marcas da Violência. O casal tem uma filhinha a cuja festa de aniversário o pai não pode comparecer, porque foi convidado pelo chefe a passar o fim de semana em sua casa de campo. É um exemplo do preço que ele paga para continuar subindo na empresa de publicidade em que trabalha. A esposa parece aceitar tudo o que esse marido ausente lhe propõe e está no carro do casal com o que ele a leva para a casa de uma amiga, quando alguém aparece armado no banco de trás (na foto). É um desconhecido dizendo que a filha deles foi seqüestrada e que os dois precisam lhe obedecer em todos os sentidos. Em menos de um minuto, todo o próspero e colorido equilíbrio da família desmorona como um castelo de cartas e se inicia um dia infernal. Mas cabe avisar que nada disso que acabamos de descrever corresponde à verdade e o verdadeiro papel de cada um em Encurralados vai se revelando ao logo do filme.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Estréia no Rio Branca de Neve – Depois do Casamento, uma animaçao só para adultos


Uma das comédias mais eficientes do ano estréia nos cinemas sob a forma de desenho animado. Branca de Neve – Depois do Casamento é outra irreverência do veterano Jean-Paul Picha que, em 1975, fez Tarzoon, a Vergonha da Selva, destruindo o mito heróico do homem-macaco. Aqui, Branca de Neve é até tratada com carinho pelo humorista belga que, aos 66 anos, chega ao auge da veia cômica. Mas ele arrasa os sete anões e o príncipe, em cuja caracterização “encantado” quer dizer assexuado. Ao contrário dos longas de animação de hoje, que são feitos para as crianças assistirem junto com seus pais, este é exclusivamente para os adultos que, aliás, devem manter as crianças bem longe do filme. O roteiro imagina o que teria acontecido com a heroína depois de se casar com um príncipe sexualmente nulo e que, portanto, teria permanecido intocada após a noite de núpcias. O problema é que ele é disputado com toda a fúria pelas protagonistas de outros contos de fada, como a Bela Adormecida, a outra Bela casada com a Fera e a Cinderela, além da própria fada madrinha. Todas essas figuras carregam perversões: a Bela Adormecida é ninfomaníaca; a Bela e a Fera praticam swing e a Cinderela é um transexual que, à meia noite, se transforma num rapaz. O mais engraçado de Branca de Neve – Depois do Casamento é o confronto entre a fada madrinha e o narrador, magnificamente interpretado por Stephen Fry.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Nápoles em dois tempos: no clássico de De Sicca e no contemporâneo de Garrone

Lançado em DVD pela Versátil, O Ouro de Nápoles, que Vitório De Sica dirigiu em 1953, com roteiro de Cesare Zavattini. Típico produto pós-neo realismo, reúne vários casos e situações cômicas ocorridas num bairro central de Nápoles, no qual muitos cortiços conviviam com alguns palácios. Impossível não tentar uma analogia com o brasileiro Ói Paí Ó, ambientado no pelourinho baiano, em que as várias tramas são mostradas ao mesmo tempo. No cinema italiano daquela época, se costumava contar as histórias uma de cada vez e, cada uma, em torno de um personagem a cargo de um artista famoso. Com isso se barateava a produção, sem desfalcar o elenco das indispensáveis celebridades.
Sofia Loren (na foto) é uma vendedora de pizza cobiçada por todo o bairro; Silvana Mangano, uma prostituta pedida em casamento por um aristocrata; Totó, um músico manipulado por um mafioso; e o próprio De Sica (também na foto) é um jogador disposto a apostar suas propriedades contra o estilingue de um garoto. Na verdade, O Ouro de Nápoles do título é o povo da cidade e seu entusiasmo pela vida. Vale também uma comparação com Gomorra, de Matteo Garrone, vencedor do prêmio do júri em Cannes deste ano. Também se passa em Nápoles, só que num conjunto habitacional miserável, na ignorada periferia da cidade. Os personagens são cidadãos envolvidos de várias formas com o crime e a marginalidade. De tal maneira que a analogia possível é com Cidade de Deus e seu título brasileiro poderia ser “O Lixo de Nápoles”.

Chega aos cinemas Gomorra, o vencedor do grande prêmio do júri em Cannes deste ano (na foto). Ao contrário da exuberante cidade turística, cuja imagem mais comum foi desenhada a partir do cinema, o filme se passa em Nápoles, onde a máfia é chamada de Camorra. Em lugar do pitoresco centro histórico que vemos no clássico O Ouro de Nápoles, dirigido por Vitório De Sica em 1953, o filme de Matteo Garrone é ambientado num conjunto habitacional miserável, bem longe da praia e do centro turístico e que pode ser considerado uma favela vertical, ou um gigantesco cortiço.
Os seus personagens são cidadãos envolvidos de várias formas com traficantes e, nesse sentido, o tema apresenta muitos pontos de contato com os brasileiros Cidade de Deus e Linha de Passe. Ou seja, todos estes filmes elaborados dentro do chamado “contexto do popular criminalizado” que, como vemos, não é uma tendência exclusiva do cinema brasileiro. No caso de Gomorra, a analogia com o trabalho de Walter Salles se mostra ainda mais profunda no estilo apressado da montagem, na escolha de atores não-profissionais e na fotografia, que busca o despojamento do documentário. Mas não cabe no aspecto da estrutura da narrativa, cujas linhas mestras se concluem plenamente, ao revelar que fim leva cada um dos personagens centrais. Ao contrário do que acontece em Linha de Passe, algumas das figuras de Gomorra têm o pior destino possível, enquanto outras conseguem se livrar do crime. É o que acontece com um alfaiate que copiava modelos da alta costura a serviço de uma confecção mafiosa. Ele passa a ser marcado para morrer quando se descobre que ele também trabalhava em segredo para um grupo de chineses que fazia a mesma coisa.


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Roteiro do clássico Lance Maior lançado em livro na Cinemateca Brasileira

A ruiva numa postura de estrela de filme de Godard é Irene Stefânia, atriz que infelizmente abandonou o cinema para se dedicar à psicologia. Nos anos 60, era considerada uma das novas artistas mais promissoras do cinema brasileiro e estava no inesquecível elenco de Lance Maior.

O jovem casal apaixonado é Reginaldo Faria e Regina Duarte há 40 anos, sob a lente de Sylvio Back, um visionário que filmava um longa metragem de ficção em Curitiba, com temática urbana e atores que apenas despontavam. Agora o roteiro do filme sai publicado pela editora Imago.

No dia 4, quinta feira, às 18h30, a Cinemateca Brasileira celebra os 40 anos do clássico Lance Maior (1968), de Sylvio Back, com o lançamento em livro do roteiro do filme, a exibição de uma cópia restaurada e um debate com a presença do diretor. Tomo a liberdade de anexar o simpático bilhete que o cineasta nos mandou:

"Luciano, my dear, antes que tudo, parabéns pelo seu blogue. A exibição de Lance Maior no encerramento do recente Festival de Brasília foi simplesmente apoteótica (dia 25, terça-feira passada). Regina Duarte e Irene Stefânia, do meu lado, estavam de lágrimas nos olhos. O filme foi aplaudido três vezes durante a projeção. Fiquei felicíssimo, v. pode imaginar. Afinal só se passaram QUARENTA ANOS!!!! Na mesa de debates, o crítico Orlando Margarido e a professora Rosane Kaminski, da UFPF, autora de doutorado sobre a obra deste locutor que vos escreve, defendida este ano na USP. Obrigadíssimo, amigo. Abração, Sylvio"




Mostra José Dumont no Centro Cultural Banco do Brasil

Entre os dias 3 a 14 de dezembro, o CCBB exibe uma retrospectiva dos filmes com José Dumont, com o sugestivo título de "O Homem que Virou Cinema". Trata-se de uma referência ao filme de João Batista de Andrade em que o protagonista "virava suco" e que ganhou o medalha de ouro no Festival de Moscou de 1981, na época a capital da União Soviética. O Homem que Virou Suco (na foto acima) foi sucesso também entre nós e deu ao ator a persona do nordestino de rosto comum e figura insignificante, porém capaz de altas malandragens.

Dumont é um intérprete essencialmente de cinema, sempre com o timing e a fotogenia exatos. Pode vez ou outra aparecer no teatro ou na TV, mas o negócio dele é a tela grande. Na foto colorida, ele está em Os Dois Filhos de Francisco, como o empresário de caráter duvidoso que explora e lança os heróis no mundo artístico. Mas talvez a ambiguidade mais sutil do tipo humano que ele geralmente encarna esteja em A Hora da Estrela, de Suzana Amaral. Ele convida Macabéa para um café e ela pergunta se pode ser com leite. No que ele responde sem pestanejar: "Pode. Mas se for mais caro, você paga a diferença!"
Para a Mostra foram selecionados 19 filmes filmados nos últimos 30 anos. Além deles , haverá também um debate com o ator e os cineastas Eliane Caffé (Kenoma e Narradores de Javé) e João Batista de Andrade (O homem que virou Suco), no sábado, dia 6. Os títulos são:
O Homem que Virou Suco
Gaijin - Os Caminhos da Liberdade
2 Filhos de Francisco
Kenoma
Brincando nos Campos do Senhor
Até a Última Gota
Cidade Baixa
Morte e Vida Severina
Tigipió – Uma Questão de Amor e Honra
A Hora da Estrela
Avaeté – A Semente da Vingança
Abril Despedaçado
Coronel Delmiro Gouveia
Tudo Bem
Árido Movie
Narradores de Javé
Memórias do Cárcere
Onde Anda Você
O Baiano Fantasma

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ela pensava e se vestia melhor que Maria Antonieta


Para compensar a casual predominância de figuras masculinas nesta página, eis uma imagem escolhida de Keyra Knightley, no papel título (The Duchess) do filme histórico mais rico da temporada. Aparentemente é mais uma experiência épica típicamente inglesa, como a recente Elizabeth, com Kate Blanchet. Mas A Duquesa, que estréia nesta semana, vai além e elabora um ensaio áudiovisual daquele vibrante trecho final do século XVIII, em que a própria aristocracia se engajava na derrubada da monarquia absoluta e do colonialismo, esteios fundamentais do l'ancien régime. Contemporânea de Maria Antonieta, agora popularizada pelo filme de Sofia Coppolla, ela era uma rebelde com título de nobreza. Trabalhava em campanhas políticas, apoiando os mais liberais, e se vestia com muito mais bom gosto do que a soberana da França. Vivia no interior da Inglaterra, onde o sistema patriarcal era tão rígido quanto no tempo do feudalismo e ousou enfrentar o marido: o poderoso duque de Devonshire, vivido com maestria pelo habilidoso Ralph Fiennes, um brutamontes de fala mansa e gestos delicados. Com apenas 40 anos, o diretor e roteirista Saul Dibb soube trabalhar com o rosto de Keira, fazendo-o se transformar a cada etapa da sofrida trajetória desta mulher que mudou o ambiente social da Europa, ainda que não tenha merecido um lugar de destaque nos manuais de história. Palmas para a direção de arte, em especial para o designer dos figurinos, Michael O'Connor, que nos proporcionou um espetáculo à parte, mostrando como a heroína se vestia e se despia.

domingo, 30 de novembro de 2008

O premiado trabalho anterior dos Coen




Já é possível encontrar em DVD Onde os Fracos não têm Vez (No Country for Old Men), filme que os irmãos Coen dirigiram antes de Queime Antes de Ler, que entra agora em cartaz. Eles são considerados especialistas em humor negro. Essa expressão antiga não se referente a uma comicidade ligada a afro-descendentes, mas significa uma forma de fazer graça a partir de conteúdos macabros, dolorosos ou cruéis. Assim era, por exemplo, a 1ª piada da história do cinema, filmada em 1895 pelos irmãos Lumiére. Por trás do jardineiro, um garoto pisa numa mangueira com a qual ele rega o gramado. Quando o homem a aproxima do rosto para ver o que acontecera, o menino levanta o pé e a água ensopa o pobre jardineiro. O riso não vem do esguicho, mas do gesto mecânico do regador que o rebaixa de sujeito a objeto. Aqui o espanhol Javier Bardem (na foto)é um assassino profissional que ameaça matar a esposa de um cidadão, caso ele não revele o paradeiro de uma mala cheia de dólares. Várias cenas depois, com o dinheiro perdido e o marido morto, ele procura a mulher para matá-la. E explica que precisa cumprir a promessa, mesmo que ela já não tenha mais sentido. Esta cena é uma amostra do filme, que se justifica como um retrato atual, do oeste americano, assim como Baixio das Bestas e Árido Movie retratam aspectos do nosso nordeste. Em tempo: Onde os Fracos não têm Vez gangou os Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante, para Bardem e seu penteado linha pagem ou "playmobil".

Que tipo de comédia é esta dos irmãos Coen?


O gesto inequívoco de John Malcovich (foto abaixo) nos leva a suspeitar que, apesar de anunciada como "comédia negra", o último filme dos irmãos Coen mostre algum personagem para ser levado a sério. Que possa ser tomado por um acesso de fúria, motivado por um desejo autêntico de vingança. Neste caso, estaríamos diante de um exemplo de "ação dramática" invadindo a seara da humorismo. O mesmo acontece quando o personagem de George Clooney é observado furtivamente por alguém que estaciona em frente à sua casa. Na verdade, os autores de Queime Depois de Ler estão apenas brincando com o espectador, ao levantar uma suspeita só para derrubá-la em seguida. Trata-se de um "trop d'oeil", uma pegadinha, igual às que o mestre Hitchcock fazia às vezes e todos adoravam. Se o filme não tivesse toques de inteligência como este, não seria digno dessa dupla que fez Fargo, e tantas outras brincadeiras de bom gosto.
Os Coen até avisam que estão querendo se divertir às custas do público. Como por exemplo nesta cena, em que George Clooney ri num cinema ao lado de Frances McDormand (foto acima). É a repetição exata do que esta personagem fizera, agumas sequencias antes, assistindo o mesmo filme com outro companheiro. Talvez dizendo que nem sempre a graça está na tela, mas também na platéia.




sábado, 29 de novembro de 2008

Em Queime Depois de Ler, os irmãos Coen trabalham com o ridículo da comédia humana



Os irmãos Coen têm um senso de humor peculiar, em que os personagens não são desenhados como figuras propriamente cômicas, mas apenas ridículas. Em Queime Depois de Ler (Burn After Reading) que chegou ontem aos cinemas, atores de primeira linha interpretam um bando de fracassados que se disfarça de gente importante. Ao ser demitido, um gestor da CIA (John Malcovich) resolve redigir um livro de memórias, que ele imagina ter um efeito explosivo. A mulher dele (Tilda Swinton) aproveita para pedir o divórcio, porque tem um caso com um policial do Ministério da Fazenda (George Clooney). Ela faz um backup do computador do marido para que seu advogado estude as condições financeiras dele. Mas o CD é perdido numa academia de ginástica em que trabalham Brad Pitt (na foto) e Frances McDormand. Ao abri-lo, estes dão de cara com dados sobre espionagem e resolvem partir para a chantagem. Segue-se uma série de peripécias que chega a ter efeitos catastróficos para alguns dos envolvidos na trama. Mas que acentuam o patético de suas insignificantes existências: pessoas que agem como se os seus atos tivessem grande importância, mas cuja falta não faz a menor diferença para ninguém. Há algumas piadas isoladas, em que o riso aparece como efeito colateral. Porque parece que os irmãos Coen se acham decididos a enfatizar a vacuidade da existência e a falta de perspectiva para a vida em sociedade, mostrando o que há de mais amargo e constrangedor na comédia humana.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Caçada - reportagem: política para quem faz e aventura para quem assiste


A prisão de Radovan Karadzic, o genocida que cometeu atrocidades na guerra da Sérvia em 1995, ocupou recentemente os noticiários internacionais. Por coincidência estréia nos cinemas e agora em DVD o filme A Caçada, baseado numa matéria publicada na revista Esquire, em 2000. Nela, o jornalista Scott Anderson e outros cinco repórteres, percorreram o país em busca daquele que foi responsável pelo maior massacre na Europa desde a 2ª Guerra. O fracasso da expedição levou-o a concluir que as autoridades internacionais não se interessavam pela prisão de Karadzic. Mas interessou o produtor americano Mark Johnson, que contratou Richard Shepard para dirigir o projeto. Este tinha feito o divertido O Matador, com Pierce Brosnan e conquistado vários prêmios Emmy pela versão americana da novela Betty A Feia. No papel dos jornalistas que partem atrás do criminoso de guerra com o nome trocado, mas como o mesmíssimo rosto de Karadzic, temos Richard Gere e Terrence Howard (na foto), além de Jesse Eisenberg. O resultado pode ser visto como um impecável filme de aventura, com todos os elementos do gênero, associados a uma poderosa vertente documental. Principalmente porque o roteiro reproduz o mesmo trajeto percorrido no ano 2000 pelo repórter Scott Anderson e seus colegas, que tiveram a ousadia de se fazerem passar por agentes da CIA para entrevistar oficiais das Nações Unidas, policiais e ativistas sérvios. A Caçada é um belo exemplo de como o cinema pode abordar temas espinhosos sem abrir mão do humor e nem do senso de espetáculo.

Rede de Mentiras - o drama de um caçador de terroristas


Um modo eficiente de observar Rede de Mentiras, o último filme de Ridley Scott (Blade Runner) que estréia hoje, é compará-lo a outros filmes de ação e suspense lançados neste ano de 2008. Assim como em Controle Absoluto (Eagle Eye)– produção recente de Steven Spielberg, com Shia LaBeouf – a narrativa rende homenagem à imaginação de George Orwell. No clássico "1984", escrito em 1934, o escritor britânico profetizava que os cidadãos um dia poderiam ser vigiados ininterruptamente por meios eletrônicos. O ambiente dos dois filmes é o mesmo, ou seja, a nuvem ameaçadora do terrorismo islâmico. Mas o tema principal de Scott é novamente um agente do governo em confronto com seus superiores, repetindo a essência de O Caçador de Andróides. Desta vez o alvo da caçada é um poderoso líder terrorista escondido em algum do oriente médio. Leonardo DiCaprio faz o encarregado dessa missão supervisionada por um executivo da CIA interpretado por Russel Crowe. Os dois (na foto) se acham permanentemente conectados por celular e todos os passos do operador são monitorados via satélite. A partir disso se constrói o conflito central de Rede de Mentiras, que é muito semelhante ao de Quantum of Solace, a última aventura do 007: a quebra de confiança entre o comandante e o comandado, que comete o deslize de apaixonar em serviço. De resto, pelo alcance mais profundo das discussões e pelo artesanato do suspense, o filme de Ridley Scott é superior aos outros dois aqui citados, em todos os sentidos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Bezerra de Menezes, o Diário de um Espírito: um fenômeno de público


Nesta sexta, o filme "Bezerra de Menezes, O Diário de Um Espírito", de Glauber Filho e Joe Pimentel completa três meses em cartaz e já foi visto por 430 mil espectadores em todo o Brasil. Seus realizadores estimam atingir meio milhão de espectadores até o final de dezembro. É sem dúvida uma marca histórica, para uma produção nacional realizada fora do eixo Rio-São Paulo. O filme foi produzido no Ceará com orçamento de apenas 2,7 milhões de reais. Conta a história do médico cearense Adolfo Bezerra de Menezes, conhecido como o "Allan Kardec brasileiro", que faleceu em abril de 1900, no Rio de Janeiro. Além de Carlos Vereza no papel principal (na foto), o elenco traz Lucio Mauro e Caio Blat. Observe-se que, na listagem das bilheterias (fonte Filme B) se acha em quarta posição, perdendo apenas para as caríssimas produções de Fernando Meirelles, Hugo Carvana e Bruno Barreto. E supera folgadamente os filmes do global Jorge Fernando e do próprio Walter Salles.


Ensaio Cegueira. ...............845.880

Mãe Joana ........................513.775

Última Parada 174 ...........436.174

Bezerra de Menezes .......431.439

Guerra dos Rocha ............307.778

Linha de Passe .................155.638

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mil anos de Orações


Mil anos de Orações (Imovision)
Estréia em São Paulo “Mil anos de Orações” (Mr. Shi), do chinês de Hong Kong, Wayne Wang. Com quase 70 anos, ele tem uma carreira sólida, no cinema americano. Alguns de seus trabalhos mais conhecidos podem ser vistos aqui em DVD, como “Encontro de Amor” e “O Centro do Mundo”, sempre com histórias e atores ocidentais. Mas, desta vez, ele coloca em cena um drama que exprime o momento atual da cultura chinesa, em confronto com a globalização. Interpretado pelo veterano Henry O, que filma nos EUA desde “O Último Imperador”, um funcionário chinês, do tempo da revolução cultural maoísta, se aposenta e viaja para a América. Vai morar com a filha, uma mulher já madura e divorciada que trabalha como bibliotecária numa universidade. Ele conhece apenas meia dúzia de frases em inglês, mas ela ainda se expressa bem em mandarim. Só que isso não garante que pai e filha se comuniquem. O ancião tenta trocar idéias, porém só encontra o silêncio. A filha o aceita em casa, mas evita revelar detalhes de sua vida privada, que inclui o namoro com um homem casado. São de cortar o coração os esforços para se reconciliar com ela e compreender o universo em que se encontra. Mesmo assim, são muito engraçados os diálogos com uma senhora iraniana, que conhece a língua inglesa ainda menos que ele, e com uma dupla de missionários mórmon, para os quais Marx passa a ser um antigo profeta chinês.

AMAZONAS FILM FESTIVAL A AVENTURA DO CINEMA

O 5º Amazonas Film Festival se encerrarou em Manáus, no dia 14 de novembro. Foi um evento competitivo e temático, voltado para filmes de aventura, que focalizam a natureza e o meio ambiente. Nada mais adequado, portanto, para um festival no coração da Amazônia. A programação foi toda gratuita e apresentou mais de 200 filmes, entre documentários, longas e curtas-metragens dos mais diversos lugares do planeta. Foram ealizadas diversas pré-estréias mundiais, como as do chinês “Uma Imperatriz e os Guerreiros”, do iraniano “For a Moment, Freedom” (que ganhou o grande prêmio do júri) e do indiano “A Boy With a Grenade”, que concorreram na categoria de ficção – além do documentário neozelandês “The Crimson Wing: Mistery of the Flamingos”, uma superprodução filmada na Tanzânia, num local que é considerado o berço da humanidade. O presidente de honra do Festival foi o cineasta Gustavo Dahl e o presidente do Júri o diretor inglês Alan Parker. Foram homenageados os diretores Claude Lelouch, de “Um Homem e Uma Mulher”, e Carla Camurati, de “Carlota Joaquina”. Calcula-se que o evento foi acompanhado por um público de aproximadamente 130 mil pessoas. Além de atrativo turístico, o Festival tem como objetivo a formação de público. Por isso, o Amazonas Film Festival acrescentou outras mostras fora de competição. Destaque para a pré-estréia de “A Festa da Menina Morta” de Mateus Nachtergaele, que foi realizado em Barcelos, interior do Amazonas, com parte do elenco amazonense e apoio do governo do Estado. Ainda incipiente, produção local também se fez presente por meio de curtas metragens e os governos do estado e do município planejam investir maciçamente na formação e na qualificação de técnicos e cineastas locais.

Estréia em São Paulo um dos vencedores do Festival de Manaus

Na proa do barco que segue por um dos afluentes do Rio Negro, dois dos atores indígenas que atuaram no vitorioso "Terra Vermelha" observam a vida selvagem. Trata-se de um curioso fenômeno de inversão de papéis porque, no filme, eles aparecem na margem de um rio parecido com este, fantasiados de guerreiros pintados para o combate, para serem fotografados por turistas, exatamente como eles estão fazendo nesse passeio organizado pelo Festival de Manaus.
(foto de Luciano Ramos)



Terra Vermelha (Paris Filmes)


Chega aos cinemas “Terra Vermelha”, um surpreendente filme brasileiro concebido, dirigido e produzido na Itália por Marco Bechis. De família chilena e franco-suiça, ele cresceu entre São Paulo e Buenos Aires, de onde, aos 20 anos foi expulso por motivos políticos. Instalou-se em Milão, cidade em que viveu até os anos 80. Depois passou a circular entre Nova York, Los Angeles e Paris. Foi fotógrafo e artista plástico, antes de começar a fazer filmes nos anos 90. Este projeto teve a parceria de produtores paulistas, como os irmãos Gullane, e roteiro de Luiz Bolognesi, de “Chega de Saudade”. Mostra um grupo de índios guarani-kaiowás, no Mato Grosso do Sul, que vivem confinados numa reserva e são explorados pelos fazendeiros da região, trabalhando quase como escravos nas plantações de cana. Para ganhar um dinheirinho de uma pousada, outros se fantasiam pintados e armados como guerreiros, para serem fotografados por turistas. Os jovens começam a se suicidar e, por isso, os nativos invadem uma fazenda, sob o comando de um cacique bêbado e de um velho pajé. A história não tem tramas nem reviravoltas e se apresenta assim mesmo, simples, mas sem maniqueísmo ou tiradas de melodrama. Ainda que não tivesse sido premiado, “Terra Vermelha” foi bem recebido em Veneza. Artistas conhecidos, como Leonardo Medeiros e Matheus Nachtergaele fazem papéis do lado branco, enquanto os personagens nativos ficam a cargo de atores convocados nas próprias comunidades indígenas e que funcionam especialmente bem.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Parker Posey é a "Fay Grim" no filme de mesmo nome dirigido por Hal Hartley. Ela fez vários filmes com Hartley, de quem foi colega de escola. Ficou conhecida como atriz "indie" por excelência e tem idéias interessantes sobre o futuro do cinema, em função das novas mídias. O excesso de exposição de imagens em que o mundo se acha mergulhado tende a provocar uma nova "torre de Babel" e um novo parâmetro para a comunicação social. Ela foi uma das convidadas internacionais do último Festivak de Cinema do Amazonas.

No Festival de Manaus, Claude Lelouch fazia parte do juri de filmes de ficção e não parava de dar entrevistas. Alguns jornalistas adoravam o seu modo efusivo de falar sobre cinema. Outros, porém, "já tinham visto esse filme antes", ou seja, identificaram em algumas respostas do cineasta de "Um Homem e uma Mulher", determinadas frases feitas que ele costuma repetir nessas ocasiões. Como por exemplo, a sua inexplicável recusa em atribuir valor estético à "nouvelle vague".


Ao lado da cantora brasileira Talma de Freitas, a atriz canadense Neve Campbell também fez parte do juri do Festival de Cinema do Amazonas, concluído em 14 de novembro. Mas, ao contrários de seus colegas, ela se recusou a conceder entrevistas. Por ter trabalhado no começo da carreira em filmes de baixa qualidade, como a série "Pânico", muita gente acha que o motivo da recusa se deve à ausência de coisas para dizer. Mas acontece que ela também filmou com o grande Robert Altman, há cinco anos, em "De Corpo e Alma". Talvez tenho sido apenas excesso de timidez.