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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A poeta americana Elizabeth Bishop será o tema do futuro filme de Bruno Barreto

No Festival que está rolando agora no Rio, Bruno Barreto vai anunciar o projeto de seu novo filme, "A Arte de Perder", baseado no livro “Flores Raras, Banalíssimas” de Carmem Lucia de Oliveira. Será uma co-produção internacional produzida pela família Barreto. A atriz será Glória Pires e a roteirista Carolina Kotscho. Mais feminino é impossível, até porque é uma história de amor entre duas mulheres que foram famosas no Brasil dos anos 1950 e 1960. Trata-se do relacionamento entre a poeta norte-americana Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares. Esta será interpretada por Glória Pires.Na peça escrita por Marta Góes e dirigida por José Possi, Bishop foi vivida por Regina Braga, cujas fotos ilustram esta postagem.
As filmagens começam no segundo semestre de 2011, no Rio de Janeiro, Petrópolis, Nova Iorque e Veneza. A escritora Elizabeth Bishop ganhou o Premio Pulitzer em 1956 e Lota de Macedo Soares era uma personalidade carioca dos anos 50, que planejou e implantou o Parque do Flamengo. No contexto do filme, a Bossa Nova explodia e Brasília começava a ser construída. A história conta a trajetória inversa dessas duas mulheres. Emocionalmente frágil, Bishop passava a vida viajando, sem família e residência fixa. Mas torna-se mais forte à medida que sofre várias perdas em sua vida. Por sua vez, a empreendedora Lota se torna cada vez mais fraca quando perde o controle do seu maior projeto, o Parque Flamengo. Esse é o tema do filme: se você quer ganhar, é preciso saber perder... é "A Arte de Perder", que não funciona na política.

"Lula Filho do Brasil" tem chance de concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro?

A escolha do filme "Lula, o Filho do Brasil" para se candidatar ao Oscar de melhor filme estrangeiro pelo MinC provocou indignação e revolta entre a maioria dos críticos e cineastas. Até o veterano diretor Roberto Farias, que fez parte da comissão de seleção declara que “a escolha não foi direcionada ao melhor filme dentre os inscritos, nem ao mais artístico, nem ao mais popular”. Segundo ele, o filme conta uma história que não é só do Lula, mas de milhares de brasileiros que saíram do campo para buscar vida melhor nas grandes metrópoles. E justifica a escolha dizendo que “a figura do Lula é mais conhecida no exterior que qualquer ator brasileiro”.
Já o crítico Rubens Ewald Filho disse que “a primeira sensação que tive ao ouvir a notícia foi de vergonha... Não posso acreditar que um comitê de seleção, supostamente qualificado tenha cometido uma atrocidade dessas.” E continua: “é incrível que tenham nomeando um filme que o próprio público rejeitou e detectou como uma propaganda descarada, deformando fatos.” Segundo ele "5 X Favela", "Bróder", ou "É Proibido Fumar"... qualquer um deles seria mais indicado para o prêmio. Ewald afirma que vai ser um vexame internacional. Ele acredita que “vai ser um choque para as pessoas no exterior quando se derem conta de que estamos parecendo a Itália fascista de Mussolini, quando fazemos filmes de propaganda do nosso presidente”.
Bem, o que eu acho do filme? Foi isso o que escrevi em janeiro, na época do lançamento:
“Lula-o filho do Brasil” parece enfeixar dois filmes sob um único título. A primeira parte emociona com a luta pela sobrevivência daquela família de nordestinos conduzida em seu deslocamento para São Paulo por uma mulher. Há momentos marcantes e bem colocados em termos de linguagem de cinema, como por exemplo a sequência em que a personagem de Glória Pires recebe uma carta do ex-marido, lida por um dos filhos interpretando o texto conforme seus interesses. Em seguida, gradativamente a narrativa se concentra sobre Lula e seu esforço para se casar e afirmar-se como trabalhador. A dramaticidade do filme se encerra quando ele alcança esse objetivo, porque a atividade de sindicalista aparece depois disso, como uma espécie de hobby ao qual ele, por acaso, passa a se dedicar. A partir daí, o roteiro se limita a descrever friamente os acontecimentos, como quem desenha o perfil oficial de um político, sem jamais se intrometer no mundo interior do protagonista. O retrato que o filme apresenta, aliás, se mostra aqui bem diverso do que vimos em documentários como "Peões" (Eduardo Coutinho - 2004).
Quanto a Gloria Pires, ela faz um bom trabalho, ainda que não seja melhor do que nos mostra em "É proibido Fumar". Em suma, com essa estrutura assim fragmentada, o filme poderá ser rejeitado em Hollywood e toda essa discussão terá sido inútil.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Agora já podemos ver "O Segredo dos seus Olhos" em casa mesmo

Lançado em DVD pela Europa Filmes “O Segredo dos seus Olhos”, o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano. O grande preferido pelos críticos, inclusive eu, era a “Fita Branca” do austríaco Mikael Haneke. Mas confesso que fiquei surpreso com a excelência do argentino “O Segredo dos seus Olhos”. Em 2001, com “O Filho da Noiva”, Juan José Campanella (Buenos Aires, 1959) já dizia ao que vinha, afirmando mundialmente o seu talento de construtor de histórias e diretor de cinema. Os brasileiros aplaudiram e aquele filme ganhou prêmios em São Paulo e Gramado, além de também ter sido indicado ao Oscar. Depois disso ele foi trabalhar nos EUA, fez muita coisa para a televisão, como as séries “House MD” e “Law & Order”, e agora finalmente conquista um Oscar com este admirável “O Segredo dos Seus Olhos”.
Um filme completo, no sentido de reunir excelentes técnicos e atores num um roteiro intrincado, mas absolutamente inteligível na tarefa de contar duas histórias ao mesmo tempo: uma dentro da outra e se desenvolvendo em épocas diferentes (1999 e 1974), ainda que com os mesmos personagens. Uma de amor e descoberta, a outra de suspense e crime. Os personagens falam o tempo todo e sem parar, no entanto, a ação jamais estaciona para abrigar aquela conversinha mole de estúdio que marca as telenovelas. Amanhã continuaremos a falar sobre esse filme sensacional. Ricardo Darín, o ator predileto de do diretor Juan José Campanella, interpreta um oficial de justiça aposentado e tentando transformar em livro um caso policial em que se envolvera 30 anos antes.
Dois outros intérpretes irretocáveis lhe servem de apoio nesse processo: Soledad Villamil, no papel de uma juíza por quem ele se apaixona e a quem nunca se declara, e Guillermo Francella que quase rouba a cena, num papel que se inicia cômico e termina de modo especialmente emocionante. O humor e o drama, aliás, se casam com perfeição no cinema de Campanella por meio de um diálogo econômico, a um só tempo rude e poético. Ao seu final, vemos que toda a trama se encaixa em elementos concretos da sociedade argentina, ou seja, o futebol e a ditadura dos anos 70. Campanella não é um diretor americano que nasceu na Argentina, como resmungam alguns. Ele é, na verdade, um cineasta portenho que incorporou tudo o que aprendeu em Hollywood para engrandecer o cinema de seu país. A cena mais empolgante do filme é um plano-sequencia que se inicia mostrando um estádio de futebol numa tomada aérea. Em seguida a câmara mergulha, se aproxima do campo e voa pelas arquibancadas até captar um personagem no meio da massa, para acompanhá-lo enquanto persegue alguém no meio da multidão. É de cortar o fôlego.
O SEGREDO DOS SEUS OLHOS
El Secreto de Sus Ojos
lançado em DVD setembro 2010
Argentina / Espanha
2009 – 129 min – 12 anos
Gênero Drama / Policial / romance
Distribuição Europa Filmes
Direção Juan José Campanella
Com Ricardo Darín, Soledad Villamil e Guillermo Francella
COTAÇÃO
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Ó T I M O

terça-feira, 28 de setembro de 2010

"O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus" em DVD: uma festa para os olhos

Lançado em DVD "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus", que Concorreu ao Oscar de direção de arte, mas perdeu para "Avatar". Só que, do ponto de vista estético, o desafio aqui era bem maior e, por força do diretor Terry Gilliam, as soluções em termos de desenho de produção exibiram muito mais ousadia e criatividade que o trabalho de James Cameron. Vivido pelo veterano Christopher Plummer, o protagonista é um contador de histórias imortal porque há séculos fizera um pacto com o demônio. Este é interpretado pelo também cantor Tom Waits − numa atuação surpreendente e muito engraçada, sempre tramando para mandá-lo de vez para o inferno. (foto abaixo)
Mas o destaque do elenco é Heath Ledger o inesquecível Coringa de “O Cavaleiro das Trevas” que lhe valeu o Oscar de coadjuvante. O ator morreu em 2005 durante as filmagens de "Dr. Parnasua", mas, para não perder o que já tinha filmado, o diretor Gilliam resolveu a questão convocando outros três intérpretes para dar continuidade ao papel dele: Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell. E isso enriqueceu bastante o personagem, que tinha a função de representar o mundo real e prosaico, junto à surrealista caravana do Dr. Parnasus. Alguns críticos reclamam que o filme não tem uma unidade de estilo e cada uma das partes funciona como um espetáculo isolado. Mas, no meu entender, essa diversidade é mais um de seus muitos predicados. Depois de desfrutá-lo, é difícil não se tornar "parnasiano".
O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR. PARNASSUS
The Imaginarium of Dr. Parnassus
Direção Terry Gilliam
Canadá/França/Inglaterra
2009 – 117 min. - 14 anos
Gênero Aventura / fantasia
Distribuição Columbia
Lançado em DVD setembro 2010
Direção Terry Gilliam
Com Johnny Depp, Heath Ledger,
Jude Law, Tom Waits e Colin Farrell
COTAÇÃO
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ÓTIMO

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"Wall Street - o Dinheiro nunca Dorme" vinte anos depois das aventuras de Gordon Gekko

Nesta continuação de “Wall Street – Poder e Cobiça” (1987), além de mostrar o protagonista Gordon Gekko (Michael Douglas) 20 anos depois, Oliver Stone atualiza o ambiente em que ele se movimentava. Assim, vemos como o corretor de ações amadureceu após ter passado sete anos na cadeia e como se comportava a Bolsa de Valores de Nova York, no exato momento em que enfrentava a crise de 2008 – por muitos analistas, considerada até mais profunda do que foi a de 1929. Por isso, o maior problema de Allan Loeb − o principal roteirista de “Wall Street – o Dinheiro nunca Dorme” - é trabalhar numa linha estocástica, acrescentando uma multiplicidade de dados acumulados pela realidade na trama desenvolvida no roteiro original de Stanley Weiser. Essa tarefa é representada logo de início, na sequência da saída da prisão, em que se devolvem os objetos pessoais que o detento portava no primeiro dia da sua pena, entre estes um relógio Rolex e um telefone celular de dois quilos e meio. Ou seja, trata-se de estabelecer uma continuidade clara com a figura central do filme anterior, respeitando o seu caráter essencial, mas integrando-o no mundo de hoje.
A solução foi transformá-lo inicialmente num pensador crítico do sistema financeiro, que não apenas questionava seus próprios princípios (“a ganância é boa”), mas prevê a crise que se avizinhava. Libertado um pouco antes dos primeiros sinais do desastre financeiro dos Estados Unidos, ele ainda tem tempo de condenar a onda de especulação imobiliária num livro intitulado “Greed is Good?”. Só que de 1987 para cá, o próprio Oliver Stone também se modificou, desenvolvendo talentos e preferências antes insuspeitados e que se manifestam com clareza em “Ao sul da Fronteira” (2009) um documentário abertamente panfletário, dedicado a elogiar a chamada “revolução bolivariana”. Provavelmente em função dessas mudanças estéticas, ele introduz recursos visuais um tanto primários na montagem: por exemplo, uma bisonha ilustração gráfica para explicar a argumentação de um personagem sobre uma nova fonte de energia alternativa. Ou uma óbvia fileira de peças de dominó desabando, para se referir à quebradeira em série dos bancos de investimento. É como se Stone estivesse aqui invejando Michael Moore, ou mesmo Al Gore.
Por outro lado, num discurso de poucos minutos, Gekko diagnostica a patologia estrutural do capitalismo e profetiza a gestação da crise numa palestra para divulgar o livro. Parece até que o vilão se redimiu. Pelo menos é o que imagina o noivo (Shia LaBeouf) da sua filha − um jovem e ambicioso corretor da bolsa que pretende descobrir de onde vieram os boatos responsáveis pela bancarrota da empresa em que trabalhava. Além da perda do emprego, ele quer vingar a morte do ex-patrão e mentor (Frank Langella) que se suicidou no dia seguinte à falência. Em troca da ajuda de Gekko, o rapaz promete facilitar-lhe a aproximação com a filha (Carey Mulligan) que tinha cortado relações com o pai criminoso. Graças a esse lado de melodrama, em que não faltam surpresas e reviravoltas narrativas, o filme funciona como entretenimento para o grande público. Seus personagens, no entanto, parecem ter sido construídos para nos oferecer um leque dos tipos humanos envolvidos com a crise e, nesse sentido, tendem para a alegoria. Todos se deitam e acordam pensando em dinheiro.
Não é por idealismo que o noivo defende a energia alternativa, mas porque se acha convencido de que esse é o grande negócio do futuro. A mãe dele (Susan Sarandon) é uma enfermeira competente que abandonara a profissão para vender imóveis hiper-valorizados. O falecido mentor não deve ter se matado apenas por que perdera a fortuna e a empresa, mas porque no processo, provavelmente, seriam reveladas grandes falcatruas do seu passado. Até filha de Gekko mantém um site de jornalismo investigativo "sem fins lucrativos" apenas porque, numa época de grandes escândalos, a quantidade de acessos (e o faturamento) cresce dia a dia. Em resultado desse esquema dramático habilmente arquitetado, há inclusive uma passagem especialmente emotiva e convincente, em que Gekko pede perdão à moça e mostra-se verdadeiramente arrependido. Antes do encerramento, porém, veremos que aquilo tudo talvez não passe de pistas falsas, como aquelas que Hitchcok costumava espalhar em seus filmes para iludir o espectador. Isto é, uma série de artifícios à qual Oliver Stone recorre para enunciar a sua visão particular acerca das crises cíclicas do capitalismo e que ele e seus personagens chamam de “bolhas”. Trata-se de um ponto de vista pré-marxista, remetendo a um indisfarçado darwinismo que o leva a considerá-las “evolucionárias” e, portanto, inerentes à própria natureza.

WALL STREET – O DINHEIRO NUNCA DORME
Wall Street - Money Never Sleeps
estreia 27 09 2010
EUA - 2010 – 138 min. - 14 anos
Gênero Drama
Distribuição Fox Films
Direção Oliver Stone
Com Michael Douglas, Susan Sarandon,
Shia LaBeouf e Frank Langella
COTAÇÃO
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B O M

Nosso amigo Carlos de Souza Dantas Gandolfo trabalha no mercado financeiro e declara que gostou do filme, especialmente da fotografia e do modo como retratou a crise de 2008. Mas assinala que "alguns jargões e siglas não estão bem traduzidas e talvez alguém mais afeito a esses termos poderia traduzir melhor". De fato, eu me perdi um pouco nas conversas em que os personagens tratavam de questões técnicas de economia e finanças. Algumas passagens, aliás, nem apareciam nas legendas, como certas referências a ursos e touros. Felizmente o Carlos me explicou que o touro (bull) simboliza o mercado em tendência de alta, enquanto o urso (bear) representa o mercado em baixa. Ele salienta que há uma estátua de touro em Wall Street, mas não existe nenhuma estátua de urso, por motivos óbvios.

Clássico de Douglas Sirk para rever em casa

Lançado em DVD, o cultuado “Sublime Obsessão” dirigido em 1954 pelo mestre Douglas Sirk, um cineasta que sabia extrair emoções genuínas dos enredos mais lacrimosos. O elenco tinha Jane Wyman ao lado de Rock Hudson, no começo da sua carreira de grande astro. Ele faz o papel um milionário que sofre um acidente em seu barco de corrida. Um grupo de salvamento o ressuscita com um equipamento que, por esse motivo, não pôde ser usado para salvar a vida de um benfeitor da cidade. Mais tarde o rapaz conhece a viúva, se apaixona por ela e procura se redimir. Trata-se, portanto, de uma história de redenção que, além, desse aspecto de crítica social, mostra uma personalidade dividida.
Nesta versão restaurada pela Universal, a distribuidora Versátil oferece como bônus o filme original de 1935 completo, estrelado por Irene Dunne e Robert Taylor. Pouca gente sabe, mas o chamado domínio público também contempla os direitos autorais de cinema e muitos dos clássicos dos anos 1930 e 1940 podem ser novamente publicados, apenas pelo custo de reprodução. Essa é uma prática que, se ampliada, favoreceria bastante os estudiosos de história do cinema. Este é um dos filmes mais famosos de diretor de alguns dos maiores sucessos de bilheteria da década e 1950, como o célebre “Imitação da Vida”. A televisão ainda não tinha se consolidado como entretenimento doméstico e, assim, o público precisava d e ir ao cinema para alimentar a sua fome de emoções românticas.
Sublime Obsessão
Magnificent Obsession
lançamento 1954
gênero drama
Lançamento em DVD Versátil
Direção Douglas Sirk
Com Jane Wyman, Rock Hudson,
Barbara Rush e Agnes Moorehead
COTAÇÃO
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ÓTIMO

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

“Coincidências do Amor” surpreende, com um drama embutido na comédia

Provavelmente pela presença de Jeniffer Aniston, “Coincidências do Amor” (The Switch) da dupla de diretores Will Speck e Josh Gordon (“Escorregando para a Glória”), foi mal interpretado pelos críticos. Olhando bem, o filme tem na estrela da série “Friends” quase uma mera coadjuvante, porque na verdade a trama toda gira em torno do personagem de Jason Bateman (“Juno”, 2007). Especialmente em seu relacionamento com um garoto de sete anos, ou seja, o filho que ele não sabe ser seu e que se afeiçoa a ele, antes de saber que se tratava do verdadeiro pai. Isso lembra uma linha melodramática de novela, mas é matéria prima de uma comédia de costumes bastante perspicaz.
O roteiro foi escrito por Alan Loeb, roteirista do filme “Wall Street – O Dinheiro nunca dorme”, que estréia na semana que vem e que se baseia num conto de Jeffrey Eugenides, também autor de “As Virgens Suicidas” (1999), de Sofia Coppola, o que ajuda a explicar o tom agridoce. Logo no início, sobre imagens de pessoas andando apressadas pela rua, uma voz em off enuncia uma simples, porém correta reflexão sobre a vida urbana: “estamos sempre correndo, mas sempre atrasados... talvez isso seja o que se chama de human race”. Aí o roteiro faz um trocadilho com a palavra inglesa race, que significa tanto corrida, quanto raça mesmo. Isto é, talvez esse corre-corre incessante seja inerente aos humanos e o principal motivo pelo qual muita gente tende a não reparar no que está diante do nariz e valorize mais o que se acha inacessível. São as tais “coisas tangíveis (que) tornam-se insensíveis à palma da mão”, mencionadas por Carlos Drummond em seu poema “Memória”.
Parece uma divagação minha, mas é a essência do filme, construída sobre um relacionamento de amizade aparentemente platônica entre um homem (Bateman)e uma mulher (Aniston), ambos solteiros. Um dia ela resolve ser mãe, mesmo sem ter qualquer marido à vista. Como apresentadora de TV e, portanto, uma pessoa midiática, ela prefere divulgar amplamente essa decisão, que muitos considerariam íntima, e chega a dar uma festa para apresentar aos parentes e amigos o doador da semente (Patrick Wilson, de “Watchmen”) por meio da qual ela viabilizaria o bebê. Enciumado, o amigo se embebeda e troca a semente encomendada pela sua própria. No dia seguinte a amiga se muda para outra cidade e ele se esquece de tudo, mas, sete anos depois, aparece um menino que é uma verdadeira miniatura dele. É aí que o filme de fato começa, apresentando sequencias cômicas e tocantes desse qüiproquó, absurdo o suficiente para dar vibração e vida a uma boa comédia de viés dramático.
COINCIDÊNCIAS DO AMOR
The Switch
estreia 17 09 2010
EUA - 2010 – 101 min. - 12 anos
Gênero: Comédia/ Costumes/ Família
Distribuição Imagem
Direção Will Speck, Josh Gordon
Com Jennifer Aniston, Patrick Wilson e Jason Bateman
COTAÇÃO
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B O M

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O magnífico "Baaría - A Porta do Vento" é o "Amarcord" de Giuseppe Tornatore

"Baaría" de Giuseppe Tornatore é um trabalho monumental, em termos de produção e escopo narrativo, porque aborda a história de um camponês da Sicilia, desde o início do regime fascista até os anos 1970. A trajetória do protagonista Peppino Torrenuova (Francesco Scianna), provavelmente inspirado em seu próprio pai, serve de fio condutor para uma série de episódios em que o autor de "Cinema Paradiso" (1988) revela a sua visão acerca daquele período e de sua cidade natal: a siciliana Bagheria. Um pouco como Felini em em "Amarcord", o cineasta deixa que a memória seja contaminada pela fantasia e pelo impulso poético. O personagem central é um camponês "de dentes fortes e cérebro nem tanto". Especialmente belo e saudável, ele desenvolve força de vontade e firmeza ideológica, mas não demonstra queda para os estudos e permanece um semi-analfabeto. Faz uma carreira impecável dentro do Partido Comunista, sem qualquer revisionismo nem tramóia e também (ou por isso mesmo) sem nenhuma vitória eleitoral. Com uma única esposa (Maragareth Made), criou 5 filhos, sendo um deles tão apaixonado por cinema que colecionava fotogramas, como se fossem figurinhas.

O roteiro consiste numa gigantesca elipse em que o protagonista, ainda menino, fica de castigo na sala de aula e pega no sono para despertar mais de meio século depois. Caminha atônito pela Bagheria moderna e se pergunta se estava no passado sonhando com o presente, ou vice-versa. Mais que salientar o descompasso entre as épocas, essa operação de montagem nos diz que, mesmo com a inexorável passagem das décadas, o personagem se mantinha ingênuo e cristalino do mesmo jeito que era quando criança. A cena do vendedor de linguiça oferecendo a sua mercadoria enquanto caminhava atrás do líder fascista local é igualmente memorável. A dois passos do "camisa negra" que marcha pela rua principal sob os olhares de todos, o comerciante ergue o produto, gritando: "é puro porco!" Assim, faz marketing para os partidários de Mussolini, ao mesmo tempo que os ridiculariza, para os adversários. Seguindo a antiga lição de Sergei Eisenstein, por meio da justaposição de representações diversas Tornatore cria imagens de alta densidade simbólica e carga emotiva. Vejamos, por exemplo, como ele nos diz que o povo siciliano é marcado pela obrigação e pela capacidade de esperar. Numa sequência o pai do protagonista permanece vivo, mesmo contra a expectativa dos médicos, enquanto o filho não chega para se despedir dele. E mais adiante, enquanto ocorre uma passeata de protesto no centro da cidade, a câmara mostra duas mulheres em frente às suas casas. Uma ao lado da outra, esperam tensas e em silêncio por seus maridos: um é da polícia e ou outro é militante comunista. Um deles, ou dos dois voltarão machucados, ou nem voltarão. A majestosa música sinfônica de Ennio Moricone se articula organicamente às dimensões épicas do filme, em que os planos mais abertos correspondem aos acordes mais intensos e conclusivos das sequencias. De resto, a própria musicalidade da fala siciliana se encarrega de colorir de ritmos e melodias a trilha sonora. Como ilustração, note-se o pregão do comprador de dólares, pontuando a narrativa com seu grito, nos momentos mais inadequados. E a cena em que o orador comunista vai declamando o seu discurso ensaiado e, cada parada permitida pelas palmas, pede "água!" Feita com o rosto sempre voltado para o microfone, essa solicitação é também amplificada para o público. De modo que, quando ele repete o pedido pela terceira vez, é a platéia em coro que grita "água!" Pode parecer apenas uma piadinha que empregou milhares de figurantes para ser mostrada, mas a gag exprime com perfeição e ênfase o senso crítico a sensibilidade de todo um povo.
Numa entrevista coletiva, quando Tornatore veio ao Brasil para divulgar o filme, fiz uma pergunta, tentando decifrar um símbolo visual que aparece na última cena: um menino tem o seu pião quebrado ao meio numa disputa, mas, de seu interior surge uma alegre surpresa. Felizmente para minha auto-estima, ele respondeu favoravelmente à minha análise: "A sua interpretação está correta”, disse ele. “O filme de fato se concentra numa história de paixão e entrega à vida que parece ser a de um perdedor. Apenas parece, porque o protagonista é na realidade alguém que fracassa no aspecto público de sua trajetória, mas triunfa plenamente em termos pessoais. Você leu muito bem o que o filme diz". Com isso, ganhei o dia e também uma chave para entender melhor outros roteiros, tantos quantos focalizem histórias de sucesso.
BAARIA – A PORTA DO VENTO
Baaría estréia 17 09 2010
Itália/França - 2009 – 150 min. - 14 anos
Gênero: drama / história / política / fantasia
Distribuição Paris Filmes
Direção Giuseppe Tornatore
Com Francesco Scianna, Margareth Made, Raoul Bova e Giorgio Faletti
COTAÇÃO
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Ó T I M O

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Drew Barrymoore e Justin Long experimentam "Amor à Distância".

Nesta época em que vivemos sob o signo da internet e celulares inteligentes, faltava uma nova história sobre “Amor à Distância” (Going the Distance). No centro da trama, temos um casal de apaixonados que moram bem longe um do outro: ele (Justin Long – “Duro de Matar 4”) em Nova York e ela (Drew Barrymoore – “As Panteras”)em São Francisco. Aliás, eles já foram casados, na chamada “vida real” e, agora, continuam namorando, só que vivendo em casas diferentes. Em função dessa sinopse, o mercado carimbou o filme como uma “comédia romântica”, provavelmente sem pedir a opinião da diretora Nanette Burstein, em seu primeiro longa de ficção. Ela deve saber esse hábito de classificar os filmes em gêneros pode pesar, porque seu trabalho de estréia foi um documentário de longa metragem (“American Teen” - 2008) sobre adolescentes americanos.
E a indexação tradicional leva a reservar para esse tipo de filme a tarefa de refletir a “realidade”, como algo oposto à “ficção”. A propósito, o mestre Godard dizia que todo o grande filme de ficção tende para o documentário (e vice-versa). De fato, mesmo não sendo excepcional, “Amor à Distância” não pode ser considerado um filme romântico. Se o fosse, o relacionamento entre os personagens até renderia cenas emocionantes, além de lindos poemas e canções, como acontecia em épocas anteriores, em que as distâncias só podiam ser vencidas por carta ou a cavalo.
O tema é exatamente o confronto entre um projeto amoroso dos mais comuns e a tonelada de dificuldades impostas pelas condições objetivas de existência. A começar pelo companheiro de quarto do rapaz, que jamais tranca a porta do banheiro e se expressa por meio de palavrões, até a família da moça que o odeia com toda a franqueza, passando por todas as limitações financeiras da classe média: se eles tivessem recursos para cruzar o continente de avião todo o fim de semana, certamente não precisariam assinar ponto no trabalho e poderiam viver felizes para sempre. Tudo nesse drama, porém, evolui numa acentuação cômica, repleta de gags extraídas justamente do choque entre o objetivo singelo dos namorados e a aspereza do resto do planeta. Em alta sintonia, Justin Long e Drew Barrymoore passam a idéia de que eles são os únicos normais, num mundo de neuróticos e nervosos.
AMOR À DISTÂNCIA
Going the Distance
estreia 10 09 2010
EUA - 2010 – 103 min. – 14 anos
Gênero: Comédia / Romance
Distribuição Warner Bros
Direção Nanette Burstein
Com Drew Barrymore, Justin Long, Christina Applegate
COTAÇÃO
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BOM

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Bons Lançamentos em DVD, talvez possam compensar o que está nos cinemas

Lançada em DVD a excelente comédia “Um Homem Sério” dos irmãos Coen. Mais uma vez eles elegem a própria etnia como alvo. Não apenas ridicularizam usos e costumes, como também crenças e tradições religiosas. O roteiro coloca de um lado, o homem sério do título e, de outro, três rabinos que deveriam apoiá-lo em seus dilemas existenciais e familiares, mas só amplificam a sua confusão. E acima de tudo, quase como um personagem fora de cena e que, no entanto, é o mais citado por todos os demais, a presença do Todo Poderoso. Pois Ele castiga implacavelmente algumas figuras da história, de um modo semelhante ao que se observa em certas passagens do Velho Testamento. O outro alvo do sarcasmo dos irmãos Coen é a família. A do personagem central, um professor de física, é especialmente enlouquecedora: por exemplo: a mulher o troca por um velho amigo e o expulsa de casa, exigindo que ele pague as contas do divórcio. Apesar de toda a seriedade e da vocação para a conformidade social, o protagonista resiste a tentações, como o aluno coreano que lhe oferece uma fortuna em troca da aprovação. Provavelmente resiste apenas porque teme a ira do Senhor. Num pesadelo do professor, ele usa uma lousa gigante para demonstrar matematicamente o princípio da incerteza de Heisenberg, aliás, um tema que sempre fascinou os irmãos Coen e que deles mereceu um filme inteiro como tema: "O Homem que não Estava Lá”.
Lançado em DVD "Canta Maria", um dos melhores trabalhos de Francisco Ramalho Jr, autor de sucessos como "O Cortiço" (76) e "Besame Mucho" (87) e executivo de grandes produções, como os filmes internacionais de Hector Babenco. O elenco é liderado por Marco Ricca e José Wilker, interpretando Lampião, o próprio ícone do cangaço. O clima de guerra que vigorou no tempo dos cangaceiros apenas acentua os dilemas e as dificuldades das mulheres nordestinas. Principalmente as mais belas e voluntariosas, como a sertaneja que protagoniza o romance do sergipano Francisco Dantas, em que o filme se baseia. E é vivida pela estreante, mas talentosa Vanessa Giácomo. É sem dúvida um dos melhores filmes brasileiros sobre aquela época, promovendo uma espécie de síntese daquilo que de mais interessante já se filmou sobre o tema. Munido de um ponto de vista feminino, Ramalho lança uma nova luz sobre tudo. Atribui mais conteúdo ao estilo que deu origem ao ciclo do cangaço inaugurado na Vera Cruz. E, por outro lado, torna mais palpáveis e carnais as conceituações sociológicas com que o cinema novo falava da terra do sol, no tempo em que deus ou o diabo eram as únicas opções. Neste trabalho de maturidade profissional, Ramalho acerta em todos os aspectos. O roteiro alcança a dimensão trágica de Shakespeare e o texto mostra uma concisão digna de Graciliano Ramos. John Ford, Glauber Rocha e Lima Barreto bateriam palmas para "Canta Maria".
Lançado em DVD “Se Nada mais Der Certo” de José Eduardo Belmonte. Esse diretor nasceu em São Paulo, mas cresceu e se formou no Distrito Federal. Em seu filme "A Concepção", de 2006, ele retratou em profundidade o ambiente cultural de Brasília. E fez isso por meio de personagens jovens, mesmo porque a cidade tinha apenas 45 anos de idade. Este último filme já se passa em São Paulo, mas ele permanece focalizando a patologia social das cidades, por meio de personagens daquela mesma faixa etária, só que com algumas diferenças. No trabalho anterior, os protagonistas eram da elite, filhos de diplomatas sempre fora do país e que enlouqueciam por falta de identidade social e referências éticas. Neste, os personagens centrais também são jovens, só que massacrados pelo achatamento da classe social a que pertencem: um jornalista sem vínculo empregatício (Cauã Reymond), um motorista de taxi sem veículo próprio (João Miguel) e uma menina da noite que faz a ponte entre eles e a marginalidade (Caroline Abras). É um filme sobre o desespero e os efeitos que ele pode causar, realizado numa linha estilística de baixo orçamento, com equipe reduzida, filmagem em locação e iluminação natural. Um aspecto importante do roteiro é a conexão disso tudo com a corrupção na política e demais esferas da vida pública. É um lançamento em DVD bastante aguardado, deste trabalho tão importante, um dos melhores filmes exibidos em 2009.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Baseado em livro de Chico Xavier, "Nosso Lar" não se coloca à altura das suas intenções

Nosso Lar” é uma produção ambiciosa, repleta de efeitos especiais, principalmente na área da cenografia. Porque, afinal, trata-se de propor a espacialidade para uma colônia espiritual, onde os desencarnados recebem o tratamento necessário para que possam prosseguir em sua jornada rumo à evolução. O livro em que se baseia foi psicografado por Chico Xavier que o atribuiu ao espírito de um médico falecido nos anos 1930 e que tem o pseudônimo de André Luís. Mostra um aspecto curioso ao falar de uma cidade etérea, cuja existência, no entanto, se inscreve no tempo histórico. Num determinado diálogo, se explica que ela é uma entre tantas outras situadas no além, e que começou a ser “construída” no século XVI por colonos portugueses. É, portanto, uma contrafação celeste do próprio Brasil – livre, porém, das imperfeições mundanas. Um dos personagens esclarece: “aqui os dirigentes dão bons exemplos”. O texto, portanto, tem o status de obra devocional e, por isso, é natural que os realizadores tenham buscado obter o máximo de fidelidade em sua transposição para a tela. Mas é justamente aí que residem os principais problemas da direção de Wagner de Assis (“A Cartomante” – 2004), conhecido como roteirista de três filmes da Xuxa, entre 1999 e 2002. Numa das suas raras passagens descritivas, o livro se refere à vestimenta dos habitantes como se fosse feita de linho branco, mas o filme adota um tecido que parece seda artificial. Já os cenários alternam a imponência de edifícios modernistas − nos quais, não há cantos e nem arestas − com residências particulares exageradamente bisonhas e coloridas. Ainda que gravada num volume alto demais, a música é de Phillip Glass e o minimalismo desse compositor até poderia sugerir uma linha a ser seguida também no aspecto visual. Lembro-me de “Dogville” (2003), de Lars Von Trier, no qual os cenários são apenas insinuados por linhas traçadas no chão.
Mesmo livre de seu corpo físico, o protagonista carrega os conflitos íntimos que trouxe da terra. Ainda assim, a narrativa de Assis carece de dramaticidade e emoção, caminhando sempre de maneira previsível e linear. Parafraseando Paulo Emílio Salles Gomes que, ao criticar a adaptação de “Guerra e Paz” feita por King Vidor em 1956, afirmou que o filme não tinha captado o “espírito de Dostoievski”, digamos que “Nosso Lar” também não alcançou os de André Luiz e Chico Xavier.
NOSSO LAR
Brasil - 2010 – 115 min. - 10 anos
estreia 03 09 2010
Gênero Drama
Distribuição Fox Films
Direção Wagner de Assis
Com Renato Prieto, Fernando Alves Pinto,
Paulo Goulart, Werner Schünemann
COTAÇÃO
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REGULAR