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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Mais que um documentário, "Awake - a Vida de Yogananda" é um ensaio sobre esse guru .

Quase 70 anos após a publicação do livro “Autobiografia de um Yogue”, a associação fundada por seu autor decidiu produzir um longa metragem sobre ele, o guru Paramahansa Yogananda. Ele morreu em 1952 depois de ter fundado a Self Realization Fellowship, isto é, a associação que financiou este “Awake”, ou seja, “Desperto”, e que resolveram deixar assim mesmo em inglês, com o subtítulo : “A Vida de Yogananda”.
O filme é mais diretamente indexado como documentário, porque descreve a trajetória desse sábio indiano com impressionante abundância de registros em matéria de fotos e filmes nos quais ele aparece ensinando o que se chamava de Kryia Yoga – uma modalidade de prática que também trabalha com exercícios físicos, no entanto, atribui mais importância à meditação e às técnicas de purificação do organismo. 

Na verdade, Yogananda se diferencia de outros mestres indianos por ocupar uma posição intermediária, entre todos esses que difundiram a sua doutrina no Ocidente. Não fundou uma linha devocional ou religiosa, como esta que é professada pelos Hare Krishna de Prabupada. E nem uma filosofia que se pratica com o corpo e com a mente, como fazem as escolas de Pattabhi Jois e Ayengar. Principalmente, preocupou-se em atribuir uma conotação quase ecumênica ao estabelecer pontes doutrinárias entre o cristianismo e o Yoga antigo bem como, entre a ciência moderna e a espiritualidade milenar. De certa maneira, ele abriu caminho para o que hoje se chama de física quântica. 
E não vacilava em estimular tanto o isolamento do eremita quanto o ativismo político. Ele que criticou o racismo nas leis americanas nos anos de 1930, foi para a Índia dar apoio ao Mahatma Ghandi em sua luta pela independência na década seguinte. (FOTO ACIMA) E tentou se comunicar em Hollywood com os artistas de cinema. Foi de artistas como George Harrison, bem mais tarde, que veio o apoio mais importante. Dirigido pela experiente documentarista Lisa Leeman, o filme alterna momentos de jornalismo histórico com explicações muito claras sobre o pensamento do protagonista. Principalmente coloca Yogananda em ação, tirando partido de uma impressionante presença física e da indescritível ambiguidade em seu olhar. E em sua voz, que se exprime num inglês esquisito – provavelmente parecido com aquele falado pelos soldados britânicos quando chegaram à Índia em meados do século XVIII. 

“Bem Casados” é realmente a melhor e mais engraçada comédia brasileira de 2015!

Como personagem central de “Bem Casados”, Alexandre Borges é um produtor e diretor de filmes. No entanto, ele não faz longas-metragens e nem comerciais. Filma casamentos, mas, além de documentar a cerimônia, ele precisa contar a história, ou seja, criar uma ficção em torno da festa. Em outras palavras, é exatamente isso o que filme de Aluizio Abranches está nos oferecendo. https://www.youtube.com/watch?v=0w8B0k-C_Sw
Abranches, dirigia filmes densos e complexos como “As Três Marias”, de 2002. Mas com esse “Bem Casados”, parece que ele não fez outra coisa no cinema do que comédias. Isso pela desenvoltura com que as sequencias se manifestam: aparentemente sem esforço algum por parte dos envolvidos nas filmagens. Aliás, a agitação frenética de algumas tomadas só permite que a montagem funcione se forem bem dirigidas. Cenas de intensa movimentação fazem da narrativa um vaudeville sem fim, mas com meio e começo.

A confusão começa quando o diretor do filme do casamento se envolve com a sua própria antagonista, isto é, uma pessoa decidida a impedir a realização da cerimônia. Essa é a personagem de Camila Morgado, numa das atuações mais eficientes e inspiradas do momento. Trata-se de uma figura tresloucada, vivendo uma espécie de alucinação como se fosse um projeto, que é o de impedir o casamento de seu amante. Mesmo assim, Camila consegue atribuir verdade e convicção a essa pessoa assim transtornada. E além de tudo fotografa como as divas do passado, obtendo sempre a melhor expressão para cada ângulo. Especialmente quando participam aqueles olhos azuis...

Alexandre Borges também acerta. Assim como o padre, a empregada, a assistente e especialmente a sogra magistralmente composta por Rosi Campos. A natural identificação entre o diretor do filme do casamento e o diretor do filme “Bem Casados” afasta de Aluísio Abranches o perigo de qualquer pretensão intelectual. E assim, junto com o elenco como um todo, ele pode se movimentar à vontade e fazer um bom cinema. Como aquele que faziam Jean Arthur, Cary Grant, Claudette Colbert e Clark Gable. Porque, na língua de Shakespeare, “to play” quer dizer interpretar. Mas também se traduz por jogar, interagir ou simplesmente brincar. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ainda em cartaz um dos melhores filmes de 2015: "A Ponte dos Espiões" de Spielberg

Numa lista oficial dos diretores mais bem sucedidos do ponto de vista financeiro, Steven Spilberg ocupa o primeiro posto. Entre 1990 e 2015, seus filmes renderam quase quatro bilhões de dólares. E o seu último trabalho, A Ponte dos Espiões prova que além de dinheiro, Spielberg sabe mesmo é fazer cinema. Pra início de conversa, ele contratou como roteiristas ninguém menos que os irmãos Coen, cineastas e autores de sucessos como “Fargo” e “Onde os Fracos não tem vez”.
Em 1957, portanto, no auge da Guerra Fria, um advogado americano vivido por Tom Hanks é intimado pelo governo a defender um acusado de espionagem – isto é, o lutar em favor do inimigo público número 01 daquele tempo. Aparentemente o filme serviria apenas para dizer que lá nos EUA tudo é feito para garantir os direitos civis, até mesmo os de bandidos estrangeiros. Mas Spielberg adota um ponto de vista mais profundo e faz A Ponte dos Espiões um comovente épico moral. Isto é, uma batalha em que diferentes modalidades éticas se digladiam.
Desenvolvida rigorosamente a partir de acontecimentos históricos, a narrativa se passa num momento dos mais nervosos da Guerra Fria, quando os soviéticos mandaram erguer na Alemanha Oriental uma barreira que ficou conhecida como o Muro de Berlim. O FBI descobriu e prendeu Rudolf Abel, um espião que trabalhava em Washington para a União Soviética. Foi uma operação que potencializou a crescente paranoia do povo americano quanto a proximidade de um conflito nuclear.


O governo do republicano Eisenhower decidiu processá-lo pelo crime de espionagem. No entanto, o seu julgamento deveria ser justo, ainda que todos os americanos quisessem vê-lo condenado. E o defensor do agente russo não deveria ser um advogado do estado, mas um particular, um profissional de carreira. Interpretado por Tom Hanks, o escolhido foi Jim Donovan, que levou a tarefa a sério e conseguiu evitar a pena de morte, sendo o réu condenado à prisão perpétua.
O tema é semelhante ao de “Conspiração Americana”, que Robert Redford dirigiu em 2010, sobre o julgamento da dona da casa, onde morava assassino do Presidente Abraham Lincoln. Aparentemente, ambos os filmes fazem o elogio, mas apontam a fragilidade de um sistema político que procura respeitar os direitos individuais. Mas Spielberg foi mais a fundo e em sua segunda parte, o filme ganha uma estatura dramática mais elevada. O fato é que logo em seguida, um avião americano foi abatido numa missão de espionagem no leste europeu e o seu piloto Gary Powers capturado pelos soviéticos. A partir daí, o entrecho assume um rumo diferente e, assim, logo após a prisão e o julgamento de um agente soviético que atuava em Washington, o piloto americano Gary Powers, que voava em missão de espionagem, foi capturado no Leste europeu. 


Na primeira parte deste épico moral, o estoico e persistente advogado interpretado por Tom Hanks consegue salvar da cadeira elétrica o misterioso espião comunista Rudolf Abel -- magistralmente incorporado pelo ator inglês Mark Rylance (FOTO ACIMA), que já interpretou Leonardo da Vinci num seriado de TV. Agora no segundo ato, o advogado Tom Hanks é intimado a completar o serviço e coordenar o processo de troca do agente russo pelo piloto americano.
Depois de enfrentar os próprios integrantes da justiça americana, por não terem a menor boa vontade para com aquele funcionário da KGB que conspirava para lançar bombas atômicas sobre a América, o advogado precisa driblar a incompreensível e desumana burocracia comunista. Tratava-se não apenas de cumprir a missão que recebera de Washington, mas de fazê-lo em sigilo absoluto e sem, esperar qualquer compensação financeira.
(ABAIXO:A CONSTRUÇÃO DO MURO DE BERLIM)


Além de conduzir a narrativa com a simplicidade e a segurança de quem não precisa provar nada, nem ao público e muito menos aos críticos, o mérito maior de Spielberg foi desenhar o seu protagonista sem nenhum traço de heroísmo óbvio ou artificial. 
(ABAIXO, O DIRETOR NO SET DE FILMAGEM) 
Trata-se de um profissional capaz de vencer apenas por executar o seu trabalho de modo honesto e empenhado. Os Irmãos Coen demonstram a sua de habilidade como roteiristas, ao compor a inusitada personalidade do espião comunista vivido por Mark Rylance. Esse ator fez o papel de Leonardo da Vinci na TV e, talvez por coincidência, o espião é colocado como um pintor figurativo. É ele que avalia e qualifica o personagem do advogado Tom Hanks, por meio de palavras e também de um retrato: o mesmo que, aparece no cartaz do filme. O desenho não embeleza nem faz a caricatura do herói, apenas registra a as rugas e a tensão no rosto de alguém que não esconde os conflitos interiores e o medo que sente, mas que não se nega a agir.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Duas décadas depois do anunciado, estreia "Chatô" e acaba a novela

Hoje se encerra uma triste novela que há quase duas décadas vinha assombrando o cinema brasileiro. O lançamento de um filme nacional é sempre digno de alguma celebração. Até este, que tantos problemas proporcionou a esta sofrida comunidade de artistas trabalhadores que dependem do cinema e da qual o nosso cinema depende. Trata-se de Chatô - O Rei do Brasil. (FOTO ACIMA) 

O projeto do filme foi aprovado pela Secretaria do Áudio Visual ainda no primeiro mandato do presidente FHC, iniciado em 1995. No 2º período da gestão de Francisco Weffort à frente do MinC, por volta de 1999, a prestação de contas do projeto Chatô foi recusada, por conter inúmeras irregularidades. Mas o produtor Guilherme Fontes continuava solicitando recursos e o escândalo resultante prejudicou todos os demais projetos de filmes em processo de captação. Ou seja, os empresários perderam momentaneamente a confiança necessária para prosseguir investindo em cinema. A Ancine ainda não fora criada, mas tudo isso está documentado.
Em 2008, ou seja 9 anos depois, a Agência Nacional do Cinema verificou que as irregularidades continuavam e a produtora de Fontes foi condenada pela Controladoria-Geral da União a devolver R$ 36,5 milhões ao Estado. Esse dinheiro não existia, é claro. Seis anos mais tarde, em novembro de 2014, o TCU condenou a produção a
devolver R$ 66.267.732,48. Esse é o valor corrigido da captação original de R$ 8,6 milhões. Com as devidas multas, o débito subiu para R$ 71 milhões.
O filme portanto precisaria obter uma bilheteria de grandeza equivalente a “Tropa de Elite 2”, o que se mostra quase impossível. Principalmente porque Guilherme Fontes nega essa dívida e já não dispõe de recursos para promover esse lançamento e porque o filme adota a estética de uma comédia popular. Justamente num momento em que o mercado se acha sobrecarregado de produtos brasileiros concebidos nessa mesma linha. 

A estreia de Chatô - O Rei do Brasil está se beneficiando de uma audiência, digamos... cativa, formada por todos aqueles que acompanharam a trajetória do escândalo provocado pela sua produção, iniciada formalmente no primeiro mandato do presidente FHC. A coisa esquentou em 1999, quando as contas do filme se mostravam irregulares. E pegou fogo em 2008, quando a Controladoria-Geral da União determinou a devolução de R$ 36,5 milhões ao Estado. Para a conclusão do filme foi preciso o apoio de personalidades como Francis Ford Coppola. Nele vemos a trajetória de Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados e do MASP. Chatô é interpretado por Marco Ricca e seu adversário político Getulio Vargas é o papel de Paulo Betti. (FOTO ABAIXO) O elenco é enriquecido por grandes atrizes como Leticia Sabatella, Andrea Beltrão e Eliane Giardini.
O roteiro evita a seriedade do livro de Fernando Morais e constrói uma espécie de farsa em torno dessas figuras históricas. No meio do filme, por exemplo, acontece um julgamento simbólico do protagonista, como se ele estivesse num programa de TV conduzido pelo apresentador Abelardo Chacrinha. E todas as suas aparições seguem essa mesma tonalidade feérica e circense que lembra os estilos de Joaquim Pedro em “Macunaima” e de Rogério Sganzerla em “O Bandido da Luz Vermelha”. Isso, aliás, é uma qualidade do filme que, dessa forma, se faz mais acessível às plateias, que foram pensadas para ser grandes.
Ou seja, brincar com a história não é pecado, como prova o próprio cinema de Glauber Rocha. Mas há inconsistências de roteiro como a construção do personagem Getúlio Vargas que permanece inalterado de 1930 a 1954, física e dramaticamente. É preciso certa ginástica mental para reconhecer alguns personagens, como o braço direito de Chatô, que parece uma fusão dos jornalistas Carlos Lacerda e Samuel Wainer. E para entender a cena do suicídio de Getúlio, em que vemos mãos enluvadas auxiliando o presidente a empunhar o revólver. O filme está querendo dizer que Getúlio foi assassinado? De resto, Chatô - O Rei do Brasil é divertido, traz informações importantes sobre a nossa história e merece ser visto. Até porque ganhou súbita atualidade com o mar de lama que agora atravessamos.  


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Filmes lançados no circuito comercial de São Paulo: avaliação da semana 19 11 2015

Em meio à costumeira profusão de estreias, nesta semana o público de cinema pode se sentir confuso, em dúvida, até meio tonto, em função de tantas opções e em busca dos melhores filmes. É aí que se percebe melhor o fato de que o chamado “público” é uma entidade abstrata, formada por diversos grupos, cada um com as suas preferências. 
(https://www.youtube.com/watch?v=SoKIqLEGhI0  )
O maior contingente de espectadores deverá se concentrar diante de Jogos Vorazes: A Esperança - O Final, novamente estrelado por
Jennifer Lawrence e com direção do austríaco Francis Lawrence – aquele que comanda a série desde o seu primeiro exemplar em 2013. Agora a situação se complica porque o regime do presidente Snow, como a maioria das ditaduras, se recusa a largar o osso.
(
https://www.youtube.com/watch?v=LkOnT0lS3rQ )
No entanto, aqueles que acompanham o cinema brasileiro se acham ansiosos para conferir esse filme que demorou 20 anos para ser concluído e custou muitos milhões aos cofres públicos. É Chatô - O Rei do Brasil com produção e direção de Guilherme Fontes, baseado em livro de Fernando Morais.
O fundador dos Diários Associados e do MASP é, interpretado por Marco Ricca, enquanto o seu antagonista – o presidente Getulio Vargas – fica a cargo de Paulo Betti, em meio a um conjunto de figuras femininas fortes, como Leticia Sabatella (FOTO ABAIXO) e Andrea Beltrão. Esse elenco segura o filme que, contrariando todos os prognósticos é bastante aceitável – apesar de ter adotado para a narrativa uma linha caricatural, de farsa meio circense e bastante discutível em face do tema.
(
https://www.youtube.com/watch?v=diR00NVSLvo )
Por ter feito oposição ao governo do Irã, o cineasta Jafar Panahi de “O Balão Branco”
foi preso em março de 2010 e durante os 88 dias em que ficou na cadeia fez greve de fome. Em setembro daquele mesmo ano, ele foi proibido de comparecer ao Festival de Veneza. Agora o seu último trabalho, Táxi Teerã foi premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Pronto! Isso já basta para atrair aquela outra parcela do público que detesta pipoca...
O filme é uma espécie de falso documentário no qual o diretor instala câmeras dentro de um táxi no qual ele circula pelas ruas de Teerã. E fala de tudo com todos que entram no carro, especialmente de política e de cinema. Pode ser interessante, mas, como em quase todos os filmes iranianos, as falas suplantam a ação.
(https://www.youtube.com/watch?v=oORHVf3cu8M )
Para um quarto grupo de frequentadores de cinema, pessoas silenciosas e discretas, mas cada vez mais numerosas, o lançamento mais importante da semana é o documentário Awake - A Vida de Yogananda. Ele foi um mestre indiano que escreveu o clássico "Autobiografia de um Yogi". Entre as décadas de 1920 e 1980, ele era o guru de Yoga mais conhecido e respeitado no mundo ocidental.
Apoiado por uma abundante iconografia, além de mostrar a trajetória desse que foi o primeiro divulgador da meditação e da cultura védica no ocidente, o documentário faz divisa com o filme de ensaio e nos explica as bases de seu pensamento filosófico. (FOTO ACIMA) 
https://www.youtube.com/watch?v=1n6E7GrJqes )
A Ilha do Milharal é um filme russo de 2014 que já colecionou 21 prêmios em festivais pelo mundo afora. Um velho camponês se muda, com sua neta para uma pequena ilha deserta no meio do rio Enguri, com a intenção de plantar milho. Mas esse rio foi e ainda é palco de conflitos armados e a tensão da guerra ainda atormenta as pessoas. 
(https://www.youtube.com/watch?v=fccc9b4QD8E )
Mas estreia também um documentário brasileiro que procura eliminar a tensão por meio do humor. É
Piadeiros, do documentarista Gustavo Rosa de Moura, paulista que correu o país em busca de pessoas verdadeiramente engraçadas. E posso garantir que ele encontrou... algumas.
(
https://www.youtube.com/watch?v=5nl43dHH1Ik )
Ainda na trilha da comédia, estreia Papéis ao Vento do bem humorado argentino Juan Taratuto, que fez “Um Namorado para minha Esposa”. Na história deste filme, morre um amigo e um grupo de seus companheiros procura encontrar uma solução financeira um tanto maluca para a família da viúva.
(
https://www.youtube.com/watch?v=6z8MCW16uZY )
Continuando a falar nas comédias da semana, que não são poucas, temos Mistress America do nova-iorquino Noah Baumbach – esse diretor que sonha em ocupar a vaga de Woody Allen com filmes supostamente cômicos, como “A Lula e a Baleia” de 2005. Neste filme, a protagonista é a esquisita Greta Gerwig, que fez “Frances Há”, com o mesmo diretor.
Ela ganha uma nova irmã, ou seja, a filha de seu futuro padrasto: isto é, o homem que vai se casar com a mãe dela. Trata-se como vemos de um humor bem peculiar, com tanto conteúdo como tem um pastel de vento...
(https://www.youtube.com/watch?v=xYxr3tt8kjU )
Mas há uma esperança de humorismo temperado com sexo e ironia com Ninguém Ama Ninguém... Por Mais de Dois Anos. Simplesmente porque o filme reúne cinco historias de ninguém menos que Nelson Rodrigues. Elas foram selecionadas da série de crônicas que o mestre fluminense chamava de “A Vida como ela é” e que, portanto, são ambientadas nas décadas de 1950 e 60. No elenco, temos Gabriela Duarte e Ernani Moraes.
(
https://www.youtube.com/watch?v=t3Xbd2Lfsy0 )
E as comédias continuam. Agora chegando da Espanha com Picasso e o Roubo da Monalisa. O tema é um suposto do roubo da obra de Leonardo Da Vinci, que teria acontecido em 1911, do qual Picasso e seus amigos eram suspeitos. Apesar da produção detalhista, o diretor
Fernando Colomo não consegue fazer graça e o filme só vale pelas intrigas e picuinhas envolvendo os grandes artistas da época, como Henri Matisse, George Braque e Picasso, no momento em que ele criava o cubismo.
(
https://www.youtube.com/watch?v=5kVrh27cH9s )
Finalmente, também estreia Samba & Jazz, um belíssimo documentário de Jefferson Mello que investiga as ligações entre esses dois universos. Ligações mágicas e também de história e estilo que os aproximam. Para isso o filme coloca o sambista em Nova Orleans e o jazzista no Rio de Janeiro. 

sábado, 14 de novembro de 2015

"Capital Humano" e "Sicário": dois filmes em cartaz que se acham na corrida para o Oscar

O titulo italiano indicado neste ano para competir ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é Capital Humano. A direção é de Paolo Virzì, um cineasta toscano que aos 51 anos alcança um inegável prestígio em seu país. O filme conquistou alguns dos mais disputados prêmios da Europa, incluindo o “David de Donatello”, concedido pela Academia Italiana de Cinema.
(
https://www.youtube.com/watch?v=NI3CtRyyM7g)
No centro da trama, temos a atuação levemente cômica do astro Fabrizio Bentivoglio, ainda que as participações mais marcantes sejam as das atrizes Valeria Golino e, principalmente, de Valeria Bruni Tedeschi  (FOTO ACIMA), ela que foi casada com o galã francês Louis Garrel.
Ainda que fascinante, a história é propositalmente confusa e de difícil compreensão. O roteiro mostra um acidente automobilístico tal como foi interpretado por três personagens diferentes. As três versões são apresentadas sob a forma de capítulos, com o apoio de um longo flashback. Essa é uma técnica narrativa cuja invenção é tradicionalmente atribuída a Akira Kurosawa em seu drama “Roshomon”de 1950. 
Mas há uma curiosa equivalência entre este e “Sicário”, do canadense Denis Villeneuve, com Emily Blunt, outro filme que também se acha próximo do Oscar. (FOTO ABAIXO) Os estilos e os argumentos de cada filme se diferenciam muito. “Capital Humano” fala das transformações na sociedade italiana atual, enquanto “Sicário” aborda a colaboração entre os policiais americanos e a os bandidos que atuam além da fronteira mexicana. Mas ambos contrariam algumas das regras que regem a dramaturgia cinematográfica. O cineasta Alfred Hitchcock já chamava atenção para as diferenças entre os gêneros do mistério e o suspense e para a inconveniência de juntar as duas coisas.
Nos dois casos os filmes se iniciam se desenvolvem sem que as informações básicas sobre o enredo tenham sido fornecidas. No filme italiano acontece um acidente e um ciclista é atropelado e o motorista foge da cena. O responsável pelo crime permanecerá desconhecido durante todo o filme, embora tenha fundamental importância no desenrolar dos acontecimentos.
O mesmo ocorre com “Sicário”, em que a protagonista, uma policial vivida pro Emily Blunt, não tem ideia de quem são os companheiros que partilham com ela a missão de enfrentar uma quadrilha de traficantes mexicanos que atuam na fronteira americana. Apesar disso, ambos os filmes prendem a nossa atenção do como ao fim. E ainda por cima, nos revelam dados e verdades importantes sobre as realidades da Itália e dos EUA. 

O título original de "Aliança do Crime" é “Black Mass”: a comunhão do bem com o mal

 
O título original de Aliança do Crime é “Black Mass”, isto é ”Missa Negra”. De fato, o filme pretende existir como uma cerimônia em que assistimos a uma experiência de comunhão do bem com o mal. Johnny Depp faz o super anti-herói, ou seja, o “protagonista ao contrário” do roteiro está agora com 86 e tinha duas identidades: chefão da máfia e informante do FBI. Pode-se dizer que o filme é sobre uma delação premiada, lá na década de 1970.
( https://www.youtube.com/watch?v=CE3e3hGF2jc )
A história é real, extraída de dois livros reportagens e de dois documentários. O mais recente é “Os Estados Unidos contra James Bulger”, feito em 2014, pelo premiado Joe Berlinger. James Bulger é o nome do personagem de Johnny Depp, que ele constrói com a ajuda de alguns estereótipos americanos em relação aos imigrantes irlandeses em Boston.
Neste elenco, o ator de “Piratas do Caribe” precisa rivalizar com outro profissional de estilo completamente diferente – o espontâneo Benedict Cumberbatch de “O Jogo da Imitação”. Com uma desconcertante naturalidade, ele interpreta o irmão do bandido, que é nada menos que um senador da República. Por outro lado Johnny Depp cria um assassino frio e calculista, sempre calmo e sanguinário, com um discurso ambíguo, aparentemente cortês, mas embutindo as mais terríveis ameaças. Mesmo assim, o personagem é monolítico, pintado sem meios tons.
Provavelmente sem confiar nos próprio diálogos, o ator resolveu apelar para recursos exteriores à arte dramática e enfeitar o seu James Bulger com detalhes de uma aparência suavemente sinistra: um longo nariz postiço, uma falsa careca, dentes careados e os olhos verdes de um anjo louco. Neste seu 3º filme como diretor, o jovem Scott Cooper descreve essa mancha na história norte-americana. Ou seja, a proteção a um criminoso dada pelo estado em troca de informações sobre os demais criminosos. Quanto a Johnny Depp, ele perdeu aqui a oportunidade de rivalizar com a fúria de James Cagney, em “Inimigo Público” de 1931. (FOTO ABAIXO)

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 12 11 2015

Esta é uma semana diferente, em matéria de filmes novos. Diferente porque dois desses filmes são portugueses e, também, porque Johnny Depp aparece sério, sem fazer caretas e atuando numa linha sóbria – tipo actor’s studio – num docudrama policial.
(
https://www.youtube.com/watch?v=NI3CtRyyM7g)
O lançamento mais credenciado desta semana é o italiano Capital Humano ,

dirigido por Paolo Virzì, um cineasta toscano que aos 51 anos se acha em ascensão. O filme conquistou alguns dos mais cobiçados prêmios da península, incluindo o “David de Donatello”, concedido pela Academia Italiana de Cinema.
FOTO ACIMA
Apesar da presença do astro Fabrizio Bentivoglio, as participações mais marcantes são as de Valeria Golino e, principalmente, a de Valeria Bruni Tedeschi. Ainda que fascinante, a trama é deliberadamente confusa e de difícil assimilação, na medida em que mostra um acidente automobilístico tal como foi interpretado por três personagens diferentes. Trata-se de uma técnica narrativa cuja invenção é tradicionalmente atribuída a Akira Kurosawa em seu drama “Roshomon”de 1950. 
( https://www.youtube.com/watch?v=CE3e3hGF2jc )
Mas é evidente que as plateias devem preferir Aliança do Crime -- um policial de época, no qual Johnny Depp faz o papel de James Bulger, um gangster de verdade que foi o sanguinário chefão da máfia de Boston durante dos anos de 1970. Ele era inclusive irmão de um senador da Republica interpretado por Benedict Cumberbatch.

Diferente das palhaçadas de “Piratas do Caribe”, desta vez Johnny Depp está bastante contido, num desempenho mais denso e interiorizado. Mesmo assim, o público deverá estranhar a sua caracterização como um irlandês narigudo, loiro, careca e de olhos azuis. (FOTO ACIMA) Um bandido especialmente cruel, que era informante do FBI, enquanto comandava uma gangue de traficantes.
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https://www.youtube.com/watch?v=vqVvgIEh1u8 )
Caso raro em nosso mercado é a estreia de dois filmes portugueses numa mesma semana. O mais curioso é As Mil e Uma Noites - Volume 1, O Inquieto
com direção do jovem Miguel Gomes que fez o elogiado “Tabu” (2012). O filme se inspira na estrutura da narrativa árabe tradicional, em que Sherazade inventava uma história a cada noite para não ser executada. Aqui temos um diretor de cinema que precisa inventar diversos roteiros para filmar antes que a sua própria equipe o sacrifique.
(
https://www.youtube.com/watch?v=VsBCtla7TUg )
O outro lançamento português da semana é Os Maias - Cenas da Vida Romântica de João Botelho – um veterano de 66 anos que já fez mais de 30 filmes e agora adapta esse clássico absoluto de Eça de Queirós. A brasileira Maria Flor faz parte do elenco e a maior originalidade do filme reside na cenografia, que recorre ao telão pintado nas cenas externas de época. Afinal, além de cineasta o diretor João Botelho é um desenhista e ilustrador de sucesso em Portugal. (FOTO ABAIXO)

Temos também outros 4 títulos brasileiros – todos daquela estirpe fadada a passar ao largo das bilheterias que é a do filme sério. Lançado na Mostra de Tiradentes, no começo deste ano, estreia Órfãos do Eldorado com Daniel de Oliveira e Dira Paes, (FOTO ABAIXO) com direção do conceituado documentarista Guilherme Cezar Coelho e baseado num romance de Milton Hatoum. https://www.youtube.com/watch?v=aaQDgA3sNV4)O filme se passa em Manaus, na selva e no Amazonas, mas sem a fluência do rio. As imagens são belíssimas, mas a história de um jovem obcecado por uma figura de mulher não tem a grandeza de “Dois Irmãos”, outro livro do mesmo escritor, já adaptado para os quadrinhos.
(https://www.youtube.com/watch?v=Pd8TuwD-ukQ )
O título do próximo lançamento já revela o seu tema: Se Deus Vier Que Venha Armado  que é polícia, bandidos e periferia. O protagonista é Vinicius de Oliveira, que foi aquele menino de “Central do Brasil”. Apesar do seu talento natural, o ator ainda não recebeu um papel à altura das suas possibilidades. Aqui ele é um presidiário que sai da cadeia num indulto de feriado e acaba se envolvendo numa história típica de faroeste. Tomara que o diretor Luis Dantas retome o caminho de “A Performance”, o seu trabalho anterior.
(
https://www.youtube.com/watch?v=VfxVUwpNDmg )
Estreia também #garotas - O Filme. Trata-se de um retrato de três amigas da pá virada, que vivem para frequentar as chamadas “baladas”. Até que uma delas resolve levar a vida mais seriamente e as outas interferem para que ela retorne, digamos... ao normal.
(
https://www.youtube.com/watch?v=ZVlKB97Pl-c )
Entre os filmes novos, há também um desenho animado russo: O Reino Gelado 2. A história segue a linha
dos contos de fada de Hans Christian Andersen, com magos, bruxas, ogros e outros seres fantásticos. E a produção não tem números musicais do tipo Disney, mas procura seguir o estilo da Pixar. Ou seja, mesmo não sendo de 1ª, trata-se se de uma diversão infantil bem razoável.
(
https://www.youtube.com/watch?v=3RoypK4cKCE )
E finalmente, há a estreia de
Como Sobreviver a um Ataque Zumbi uma comedia americana para adolescentes, na qual os personagens são escoteiros desbocados e desmiolados, enfrentando um ataque de zumbis. Ou seja, perto desta as nossas comédias são verdadeiros tratados de filosofia. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Chamado de Central da China", Walter Salles lança Zia Zhangke, um Homem de Fenyang"

Este filme que reflete a independência cinematográfica do país. O cineasta que conquistou o mundo com a excelência de seu trabalho em “Central do Brasil”, que concorreu ao Oscar de 1999. Agora ele lança um filme já aplaudido nos festivais do mundo todo e que alguns comentários bem humorados chamam de “Central da China”
 Falamos de “Jia Zhangke, um Homem de Fenyang”. Trata-se de um documentário dirigido por Walter Salles. Num artigo recente para acompanhar o seu lançamento, ele nos confidencia que a personagem de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil” talvez fosse uma referência inconsciente à figura de sua mãe, que lá trabalhou aos 18 anos. O detalhe eletrizante é que ele só ficou sabendo disso, dez anos após a sua morte.
O tema do filme é a biografia e a carreira do cineasta chinês mais significativo do momento: o autor de “Em Busca da Vida” e “Um toque de pecado”, sobre manifestações de violência do povo chinês. O roteiro se resume a uma longa entrevista que acontece enquanto Zhangke revisita os lugares da sua infância e algumas locações de seus filmes, como o escandaloso e iconoclasta “Um toque de pecado”. Ao contrário de uma obra analítica e racional, porém, este documentário alcança momentos de pura emoção.

No meio da filmagem, o diretor chinês recebeu a notícia de que o atrevido e surpreendente “Um toque de pecado” que aliás, já foi exibido no Brasil, acabara de ser proibido pelo governo chinês. A entrevista, a partir daí, ganhou uma tonalidade absolutamente dramática, quase trágica. Em seu artigo, Salles escreve o seguinte: “Foi assim que essa conversa, tão próxima do cinema direto quanto inesperada, fez parte do nosso documentário”.

Em" Infância", recordações verdadeiras se misturam com as versões poeticas do passado

Domingos de Oliveira continua filmando “Todas as Mulheres do Mundo”. Só que, em lugar de suas namoradas, Leila Diniz e Joana Fomm, como ele fez em 1966, meio século mais tarde aparecem as lembranças de sua mãe e sua avó no filme Infância.

Trata-se da própria infância do cineasta, tal como ele se recorda do tempo em que ainda não completara 10 anos e vivia num casarão senhorial dos avós. Num tempo em que Carlos Lacerda ameaçava a estabilidade do governo Vargas e os pais Paulo Beti e Priscilla Rosenbaun moravam na casa da matriarca Fernanda Montenegro. Ela não descolava o ouvido do rádio, quando Carlos Lacerda falava. Num momento notável do filme narrado pelo próprio Domingos, ela se assusta ao olhar o rosto do neto e ver ali os olhos do marido morto.

Assim como fez Fellini em “Amarcord”, as recordações verdadeiras se misturam com as versões poéticas do passado. E por entre os fantasmas que evocam as imagens do tio histérico, do odioso primo mais velho e da tentadora copeira, sobressaem as figuras dominantes da mãe e da avó – insuportável e fascinante.

Na descrição de todos esses tipos, desenhados de forma vívida e carinhosa, é inevitável uma comparação com a maneira marcada por Nelson Rodrigues em suas narrativas familiares. Uma ironia adocicada pelas três décadas de diferença nas idades dos dois escritores e pela influência das obras de Luchino Visconti, que Domingos pode ter assistido de mãos dadas com algumas das moças aqui mencionadas.


Ao som de Francisco Alves cantando “Boa Noite Meu Grande Amor”, a reunião termina com uma foto posada de toda a família, como costumava acontecer nos dias de festa, e permitindo que Domingos agradeça de viva voz a essa arte sem a qual não haveria filmes de época.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

"Rio Cigano" surpreende pela filmagem de grandes grupos de figurantes em movimento

Decididamente este é um ano em que se destaca a qualidade do cinema brasileiro. Não somente em produções de grande e médio porte, como “Que horas ela Volta”, mas também em projetos de baixo orçamento, como “Entrando numa Roubada” e este surpreendente “Rio Cigano”.

Este é o longa de estreia da jovem Julia Zakia, há pouco tempo formada pela USP, mas já conhecida em vários festivais, por força de seus curta-metragens. O roteiro se inspira na tradição dos ciganos e realiza uma curiosa transposição da história da Condessa Bathory, da Hungria do século XVI, para o interior do Brasil. Para isso ela contou com o apoio de dois veteranos, verdadeiros mestres da arte cinematográfica: a montadora Idê Lacreta, de “A Hora da Estrela” e o fotógrafo Adrien Cooper, do clássico “Chapeleiros”, esse um profissional que agora completa 70 anos.

Julia Zakia é também uma das atrizes principais de Rio Cigano e surpreende também pela habilidade em filmar grandes grupos de figurantes em movimento, como sabiam fazer os craques de antigamente, como Lima Barreto de “O Cangaceiro”. Reunindo alguns grupos de ciganos, ela recriou toda uma tribo em deslocamento pelo sertão do Brasil, numa época e num lugar indefinidos.



Ao atravessar uma fazenda, eles deparam com uma misteriosa condessa que vive reclusa num casarão, onde pratica rituais demoníacos envolvendo o sangue de jovens mulheres. A personagem de Julia é uma menina cigana raptada pelos capangas da Condessa, mas que é poupada para servir como criada. O filme já foi aplaudido em Festivais como Viña del Mar, Rio de Janeiro e Tiradentes. Competência ele já mostrou. Agora vai precisar de sorte, porque, com um mínimo de recursos para a sua divulgação, “Rio Cigano” chega a São Paulo, que é o maior circuito de cinema do país.


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

No complexo "Homem Irracional" Woody Allen contraria os cânones da dramaturgia.


Woody Allen é um cineasta que, mesmo sem acertar por inteiro, continua desafiador e interessante. Em Homem Irracional ele cria um personagem que contraria todos os cânones da dramaturgia. As teorias clássicas de Aristóteles já recomendavam que o protagonista desenvolvesse uma ação dramática, isto é, que perseguisse um objetivo claro, para ele e principalmente para as plateias. Desde o início, porém, ou melhor, desde o título esse Homem Irracional não se encaixa nessa fórmula. Ao lado das atrizes Emma Stone Parker Posey, Joaquim Phoenix desenvolve um tipo com o qual não há possibilidade de identificação com o público. Uma pessoa antipática e de difícil convivência até para as mulheres que dele se aproximam. 

Ele é um professor de filosofia numa universidade do interior, imerso na mais profunda angústia existencial. Isso porém não o impede de namorar a aluna mais bonita da classe, que se acha atraída mais por curiosidade do que por encantamento.Mesmo não sendo este o melhor trabalho de Woody Allen, em cada um de seus fotogramas, percebe-se a presença do autor na mise en scene. Apesar de aparentado com outros de seus personagens, como o anti-herói de “Ponto Final” (2005), o Homem Irracional de Joaquim Phoenix vaga pelo roteiro, desprovido de rumo ou de motivo, sem qualquer razão para continuar existindo. Até que descobre uma, como quem acha um artigo interessante, em uma revista velha numa sala de espera qualquer. E desse ponto em diante, WA segue o palpite oferecido por seu próprio personagem, durante uma aula em que ele louvava o texto de Dostoievski. E assim encontra um destino para o filme e seu protagonista. Quem assistir entenderá melhor ao que estou me referindo... 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sean Penn é um "Franco Atirador" que tenta se regenerar neste filme médio

O filme começa e termina com trechos extraídos de noticiários internacionais de televisão, sobre a violência em países africanos, envolvendo terrorismo e regimes ditatoriais. Ou seja, O Franco-Atirador é uma aventura de ação policial que não se contenta em ser apenas uma distração bem construída, mas almeja ser considerada uma obra histórica, ou um drama político.
Para ter certeza disso, basta observar o elenco liderado por Sean Penn (de Milk e 21 Gramas) e Javier Barden (de Mar Adentro e Onde os Fracos não tem Vez), em cujo curriculum predominam roteiros engajados ou assinados por cineastas de indiscutível prestígio cultural, como Gus van Sant, Woody Allen, Alejandro Inarritu, ou Almodóvar.
Este O Franco-Atirador é dirigido pelo francês
Pierre Morel, que é conhecido pela desmedida violência e o sucesso na bilheteria de filmes como “Busca Implacável” de 2008. Mas agora, neste thriller pretensamente político, ele que é uma espécie de cria do pirotécnico Luc Besson, se mostra interessado em colocar questões de caráter ético e humanitário – além da pancadaria de sempre. Os personagens de Sean Penn e Javier Barden são mercenários aposentados que há oito agiam no Congo, onde praticavam as maiores barbaridades – inclusive assassinatos de autoridades. Agora, enquanto Sean Penn se mostra digamos “regenerado” e namora uma linda voluntária numa associação beneficente. 
Ela é interpretada pela italiana Jasmine Trinca, que vimos em “O Quarto do Filho”, de Nani Moretti em 2001. Apesar de toda essa maquiagem, entretanto, o filme vale pela riqueza da encenação, que inclui até uma perseguição dentro de uma tourada em Barcelona. Quase tão bem feita quanto aquela que foi ambientada num estádio de futebol, pelo argentino Juan Jose Campanella em “O Segredo dos Seus Olhos”. O detalhe é que, em Barcelona, não existem mais touradas. 



Estreia 07 de maio de 2015
COTAÇÃO 
**

REGULAR 

"Estrada 47": aquele filme nacional esperado desde o fim da Segunda Guerra


Um dos efeitos da ditadura militar foi a rejeição, a antipatia do povo brasileiro para com o sentimento de patriotismo. Na medida em que os generais transformados em políticos se apropriavam dos heróis nacionais, caía o interesse, ou seja, a identificação dos cidadãos para com as figuras fardadas da nossa história. Mas agora parece que essa situação começa se modificar com filmes como A Estrada 47. Dirigido por Vicente Ferraz, que estudou cinema em Cuba e foi premiado em 2005 pelo documentário “Soy Cuba, o Mamute Siberiano”, trata-se de uma impressionante reconstituição ficcional de um episódio dramático na campanha da Força Expedicionária Brasileira durante a 2ª Guerra Mundial.

Naquela Guerra, o Brasil era aliado dos Estados Unidos, Inglaterra e França. Mais de 25 mil soldados da FEB foram enviados para lutar contra os nazistas, numa Itália em que o regime de Mussolini já fora derrubado. O filme focaliza um grupo de pracinhas que sofreram um ataque perto de Monte Castelo e, tomados coletivamente pelo pânico se afastaram de seu pelotão. Esses papéis são muito bem defendidos por Daniel Oliveira e Julio Andrade, mas é Francisco Gaspar que chama mais atenção, pelo lado cômico do seu personagem.


Com medo de enfrentar uma corte marcial por abandono de posto, decidiram não regressar ao seu batalhão e sair em busca de uma estrada que se achava minada. O objetivo era desarmar as minas e desbloquear o caminho para facilitar a passagem das tropas americanas. Nesse trajeto, esses quatro soldados e um jornalista encontram famílias locais em fuga, além de desertores alemães e italianos. Mais do que uma aventura militar, portanto, A Estrada 47 traça um retrato humano daquele conflito. 

estreia 07 05 2015
COTAÇÃO
* * * 
B O M

Comédia de Daniel Filho, como sempre de bom nível: "Sorria, você está sendo filmado"

A ideia de fazer uma comédia de longa metragem com apenas uma câmera fixa, diante da qual os personagens se movimentam, sem saber que ela se acha ali ligada e filmado tudo, poderia parecer inviável. Mas Daniel Filho está apenas adaptando um filme pelo qual diretor sérvio Miroslav Momcilovic foi premiado em 2012 no Festival de Karlovy Vary. A versão brasileira se chama Sorria, Você Está Sendo Filmado. 
Um redator da Rede Globo resolve gravar a imagem de seu próprio suicídio por meio de uma web câmera. Evidentemente, depois do tiro fatal, essa câmara continua funcionando e então, começa a comédia, porque uma série de 15 figuras engraçadíssimas desfila diante dela. Primeiro aparecem o síndico Otávio Augusto e sua mulher Suzana Vieira, uma ex-atriz de novelas – ambos perfeitos. Depois vem o porteiro Lázaro Ramos, o agente funerário Lucio Mauro Filho, o corretor de imóveis Marcos Caruso, o policial Juliano Cazarré e até Debora Secco, no papel de médica. 
Aparentemente simples e de natureza teatral, o filme deve ter dado muito trabalho ao diretor, principalmente para manter a unidade visual da cena e o ritmo adequado de comédia, com a entrada e saída constante dos vários personagens. A graça o filme, porém, aumenta depois que eles descobrem a existência da câmara.
A partir daí o comportamento de cada um se transforma e todos começam a interpretar papéis. Por exemplo, o policial passa a falar baixo e agir com delicadeza, enquanto a ex-atriz se veste de preto e recita poemas trágicos. A própria rede Globo, enfim, é tratada como um personagem virtual, porque além de ser a proprietária da famigerada web câmera, é responsável pela excelente piada final de Sorria, Você Está Sendo Filmado.

estreia 07 05 2015
COTAÇÃO
* * * 
B O M