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sábado, 28 de março de 2015

Em DVD pela Versátil uma preciosidade: "O Grito", a biografia do pintor Edvard Munch.


Em 1964, o publicitário Peter Watkins foi contratado pela BBC para realizar filmes históricos, dando início ao gênero docudrama, que pode ser definido como uma forma híbrida entre a ficção e o documentário.
https://www.youtube.com/watch?v=e2BVeAz4Vzg
O primeiro foi “Culloden” sobre uma revolta no século XVIII, mostrada como numa reportagem. No ano seguinte, Watkins ganhou o Oscar de melhor documentário com “O Jogo da Guerra” (FOTO ACIMA), em que ele imaginava como seria uma explosão nuclear na Inglaterra.


https://www.youtube.com/watch?v=WcmZ1vhoqkY
De tão impressionante, a BBC não exibiu o filme na TV, mas apenas nos cinemas. Watkins resolveu então dedicar-se ao cinema comercial.


https://www.youtube.com/watch?v=v_dZEky0KAw
E assim fez “Privilégio” (FOTO ACIMA), um dos mais importantes filmes de ficção científica dos anos de 1970. Cada vez mais desgostoso com a Grã Bretanha, o cineasta foi para a Noruega filmar a vida e a obra do pintor Edvard Munch (FOTO ABAIXO), que morreu em 1944 aos 81 anos.

https://www.youtube.com/watch?v=VQ5Ui8rlttM
Munch é autor de “O Grito”, esta que é uma das mais emblemáticas telas de todo o Expressionismo. E o filme resultou numa obra prima absoluta do docudrama, até então inédita entre nós e agora lançada em DVD. 
Fiel ao seu estilo, Watkins trabalhou com atores não profissionais. Estes não interpretavam, mas praticamente se transformavam em boa parte dos personagens secundários, que eram entrevistados como num documentário. Por exemplo, para fazer o papel dos críticos de arte que não aprovavam o trabalho de Munch, foram contratados críticos de hoje que têm a mesma opinião sobre ele. O filme constrói a tese de que Munch foi o primeiro dos expressionistas autênticos. E analisa as suas obras de uma maneira perfeitamente integrada à sua história de vida. 


https://www.youtube.com/watch?v=VQ5Ui8rlttM
Nela se destaca a presença da tuberculose, dos intermináveis conflitos com o pai tirânico e puritano, além da frustração amorosa com uma mulher mais velha. Com quase quatro horas de duração, Edvard Munch nos proporciona uma fascinante viagem sensorial ao mundo opressivo em que ele viveu. Uma tragédia construída sem um pingo de poesia ou literatura... só com fragmentos brutos da realidade. 




nossa cotação

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EXCELENTE

sexta-feira, 27 de março de 2015

Minha alma canta! Vejo um filme brasileiro... Braços abertos para Julia Rezende!

Vai aqui uma recomendação para quem vem alimentando certo preconceito – talvez até compreensível, por conta do recente excesso de comédias burlescas e dramas ensanguentados de tráfico e favela. O nosso conselho é tente a ponte aérea! 

 https://www.youtube.com/watch?v=G3B31f0jM_k
Não falo do avião com destino ao Rio de Janeiro, mas do encantador filme de Julia Rezende, cujo título é “Ponte Aérea”, protagonizado por Caio Blat e Leticia Colin. O tema central é uma envolvente história de amor vivida por uma publicitária paulista e um artista plástico carioca. 

https://www.youtube.com/watch?v=G3B31f0jM_k

Antes de completar 30 anos, a diretora Julia Rezende já emplacou fenômenos de bilheteria, como “Meu Passado me Condena”. Mas esta é uma comédia leve e inteligente, com boas pitadas de suspense, que lembra os filmes que Domingos de Oliveira fazia nos anos de 1960 com Leila Diniz e Paulo José. 

ttps://www.youtube.com/watch?v=xmA2Jx8KLMU 

https://www.youtube.com/watch?v=LqRMjyCdbvw
Filha dos cineastas Sergio Rezende e Mariza Leão, Julia Rezende soube muito bem aproveitar criticamente os estereótipos costumeiros sobre as diferenças entre o povo das duas cidades. 
 Na estrutura do filme, os personagens vivem conflitos agrupados em questões ligadas ao amor e ao sexo, ao trabalho e ao lazer, à criatividade e à disciplina no trabalho. Com o apoio competente de Felipe Camargo, Emilio de Mello e Cristina Flores no elenco, o filme mostra que a distancia cinematográfica entre São Paulo e Rio de Janeiro talvez seja muito maior do que os 400 km de Via Dutra. Por outro lado, pode nem existir no mundo real. 

estreia 26 03 2015
nossa Cotação

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Ó T I M O

quinta-feira, 26 de março de 2015

Faltou uma pimenta em "O Sal da Terra" de Wim Wenders sobre Sebastião Salgado

Aos 70 anos, o alemão Wim Wenders já fez dezenas de filmes de ficção, alguns deles considerados clássicos indiscutíveis, como “Paris Texas”, de 1984, e “Asas do Desejo”, de 1987. A maioria dos prêmios internacionais que ele conquistou, no entanto, vieram em função de documentários, como esses três indicados ao Oscar: “Buena Vista Social Club” de 1999, “Pina” de 2011 e “O Sal da Terra” que estreia 26 03 2015.

(https://www.youtube.com/watch?v=pG3YLpZKomE  )
Seus temas preferidos focalizam o trabalho e a trajetória de artistas. Os músicos cubanos até então esquecidos em “Buena Vista”; a obra de uma excepcional coreógrafa registrada em 3D em “Pina”; e agora a biografia do brasileiro Sebastião Salgado cuja arte se faz em duas dimensões, apenas com luz e sombra. “O Sal da Terra” obedece à linha evolutiva da obra de Salgado, que se iniciou motivada pela indignação política e depois foi se voltando para uma postura de êxtase perante a beleza do planeta.


(https://www.youtube.com/watch?v=nbNAXC8kqT0  )
A estrutura do filme, portanto, é linear e o ponto de vista que reina absoluto no roteiro é o do próprio fotógrafo. Uma das raras sacadas cinematográficas do filme é uma relação de plano e contraplano que o cineasta constrói entre Salgado e as suas fotos. Ou seja, quando o fotógrafo fala de uma determinada imagem, está também olhando para a câmara de Wenders que se acha posicionada por traz da fotografia sobre a qual se fala. Em suma, este não é o melhor documentário de Wim Wenders, que adota aqui uma postura passiva e elegíaca em face de seu objeto.


(https://www.youtube.com/watch?v=QZWzlaG-kSM )
Não se compara, por exemplo, ao monumental "
Anotações sobre cidades e roupas" que ele fez em 1989 e que foi lançado aqui no Brasil somente em DVD, com o título de “A Identidade de Nós Mesmos”. Aquela era uma obra ensaística em que Wenders colocava em confronto a imagem digital e a analógica, discutindo profundamente o embate entre a película de cinema e a gravação em vídeo. Em suma em ¼ de século, alguns progridem em sua arte – como Salgado, enquanto outros regridem – como Wenders. 

estreia
26 03 2015
nossa cotação
***
B O M 

O drama “O Ano Mais Violento” é populista, como as antigas comédias de Frank Capra


“O Ano Mais Violento” é um filme americano de 2014 que nada tem a ver com Ocars ou Globos de Ouro. Mas foi escolhido o melhor do ano segundo a Associação dos Críticos de Nova York e pelo respeitado National Board of Review, que também premiou o seu interprete principal Oscar Isaac como melhor ator e Jessica Chastain como melhor coadjuvante.
https://www.youtube.com/watch?v=e-JW1GHbp9o


O ator principal é Oscar Isaac, um guatemalteco de 35 anos, que trabalhou em "Balada de Um Homem Comum” dos Irmãos Cohen em 2013. É um artista cuja aparência lembra a de Al Pacino no princípio da carreira. Aqui ele trabalha sob a direção do talentoso Jeffrey Chandor, que em 2011 fez o surpreendente "O Dia Antes do Fim” – um retrato sério e muito bem talhado do dia que antecedeu o desastre financeiro de 2008.
https://www.youtube.com/watch?v=o87gG7ZlEAg


A história se passa em 1981, que de fato foi “O Ano Mais Violento” da história de Nova York, em função da quantidade de crimes ocorridos naquela cidade. Nesse cenário, o herói é Abel Morales, um empresário em ascensão que age exclusivamente dentro da lei, embora todos ao seu redor, inclusive um promotor público, não se comportem da mesma forma. Nem mesmo a esposa interpretada por Jessica Chastain, que pertence a uma família de gangsters.https://www.youtube.com/watch?v=o87gG7ZlEAg 


Os críticos nova-iorquinos deviam estar cansados de tantos heróis sem caráter brilhando em roteiros de todos os gêneros, que reconheceram a importância de um personagem exemplar como este imigrante Abel Morales. Correto como foi o primeiro filho de Adão e pautado pela ética, como sugere o sobrenome.
https://www.youtube.com/watch?v=1qwCUx7rCa0

Ele chega mesmo a verbalizar uma postura oposta à de Maquiavel nesta fala que aparece no cartaz americano do filme: “sempre procurei o melhor caminho... nunca questionei o resultado porque sempre estive caminho certo”. Alguém poderia dizer ele é certinho demais para ser real. Mas serviu plenamente à estratégia do autor Jeffrey Chandor, que usou a figura de um homem de bem para melhor descrever a iniquidade dominante no tempo em que vivemos.
estreia 02 de abril
Nossa cotação é 

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Ó  T  I  M  O 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Filmes lançados na semana iniciada em 26 de março de 2015


Talvez seja a proximidade do Festival É Tudo Verdade, que está marcado para se iniciar no próximo dia 09 de abril. Na 20ª edição deste que é a mais importante vitrine do cinema documentário que se tem notícia, serão apresentados 109 títulos de 31 países, sendo 16 em estreia mundial. O filme de abertura será o “Últimas Conversas”, de Coutinho (foto acima). O fato pouco comum é que, entre os sete títulos que estreiam nesta semana, 3 pertencem a esse gênero – tão pouco comercial.

O primeiro é outro documentário com esse cineasta que se tornou o mais celebrado nessa modalidade entre nós. Trata-se de “Eduardo Coutinho, 7 de outubro”, dirigido por Carlos Nader que, aliás, venceu o É tudo Verdade do ano passado com o filme “Homem Comum”. Esse trabalho sobre Eduardo Coutinho, na verdade, resulta de uma entrevista de 4 horas concedida pelo autor de “Cabra Marcado pra Morrer”. 


http://www.imdb.com/title/tt3106868/?ref_=fn_al_tt_1
Bem mais ambicioso, do ponto de vista formal, é o superproduzido “Marcas da Água” dos canadenses Jennifer Baichwal e Edward Burtynsky. O Canadá, a propósito, é um país que sempre o documentário a serio. O filme mostra como o homem moldou a água no planeta e como foi moldado por ela, como a plantação acima.





https://www.youtube.com/watch?v=pG3YLpZKomE
“O Sal da Terra”, do alemão Wim Wenders documenta os 40 anos de carreira do fotógrafo Sebastião Salgado (foto acima) . Em primeiro plano, coloca-se a força e a beleza das imagens de Salgado, que se iniciam motivadas pela indignação política e, recentemente, buscam a uma relação de êxtase para com a beleza humana e natural do planeta.



https://www.youtube.com/watch?v=LqRMjyCdbvw
Finalmente um filme brasileiro de qualidade: “Ponte Aérea”, com Caio Blat e Leticia Colin (foto acima), é uma história de amor vivida por uma publicitária paulista e um pintor carioca. A direção é da Julia Rezende que, antes dos 30 anos, já emplacou fenômenos de bilheteria, como “Meu Passado me Condena”. Mas esta é uma comédia leve e inteligente, que lembra os filmes que Domingos de Oliveira fazia nos anos de 1960 com Leila Diniz e Paulo José.


https://www.youtube.com/watch?v=n_c56Rdf0Ow
Numa linha equivalente temos o francês “Em um Patio de Paris”, uma comédia romântica com Catherine Deneuve (foto acima), dirigida pelo habilidoso Pierre Salvadori, autor do delicioso “Amar não tem Preço”, de 2006.

https://www.youtube.com/watch?v=xVuA6N7WzbI
Já “O Garoto da Casa ao Lado” é um história de amor em que Jennifer Lopez faz uma mulher divorciada que se envolve com um rapaz mais jovem. Mas a brincadeira se transforma num drama de suspense, feito para aproveitar a popularidade dessa cantora que, ninguém reparou, mas já atuou em 39 filmes. 


https://www.youtube.com/watch?v=McQ_cCBaiac 
E finalmente, temos Cinderela – a mesma história do desenho da Disney, desta vez num requintado filme dirigido pelo shakespeariano Sir Kenneth Branagh, com um elenco de atrizes de primeira, como Helena Bonham Carter fazendo a fada madrinha e Cate Blanchet – excelente no papel da madrasta. Podemos aproveitar a desculpa de levar a filha, a irmãzinha ou neta ao cinema, para se deliciar com esta nova versão de um antigo conto de fadas que já se tornou eterno. 

domingo, 22 de março de 2015

Por enquanto, o filme estrangeiro que mais me tocou em 2015 foi "Timbuktu"

A região de Timbuktu ocupa os jornais de hoje, na qualidade de lugar cujo nome sugere poesia, mas a realidade o situa pra lá de Bagdá. Ou seja, em pleno território reclamado pelo EI. Inclusive por esse motivo, o púbico paulista amante do cinema não deve perder, ou melhor, tem o dever de assistir o filme "Timbuktu". Depois de concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro, esta coprodução da França e da Mauritânia acaba de vencer o Cesar, que é o "Oscar do cinema francês". Levou 7 prêmios, incluindo melhor filme, roteiro e direção para Abderrahmame Sissako, um cineasta de 54 anos, natural do Mali e formado em Moscou. 

https://www.youtube.com/watch?v=CspcDYQ-SiY

O filme e indiscutivelmente uma jóia, não só em termos de denúncia contra a violação de direitos humanos, como um manifesto poético em defesa de uma cultura milenar e ameaçada de extinção por conta da ocupação pelos jihadistas. A região vem sendo atacada pelos fundamentalistas desde 2012 que, desde então, vem destruindo monumentos históricos considerados patrimônio da humanidade. Muito antes, portanto, do que o vandalismo que se noticia atualmente o Iraque


Timbuktu é uma região do Mali bem próxima ao deserto do Saara e habitada por tribos de tuaregues já islamizados. O filme focaliza o momento em que jihadistas controlam um vilarejo e impõe sua autoridade por meio do terror. As mulheres precisam trabalhar de burca e luvas, inclusive as que vendem peixes no mercado. O povo está proibido de fumar, de tocar ou de ouvir música, e até mesmo sorrir em público. Até jogar futebol é considerado um pecado grave.

https://www.youtube.com/watch?v=Jd8SGBqLhoc



Uma cena antológica que atesta o talento do diretor Sissako mostra um grupo de rapazes se movimentando como se estivessem jogando uma partida, mas... sem bola. Trata-se de um filme que merece ser visto, até porque apesar de todas essas qualidades, está em cartaz em apenas uma sala na cidade,

https://www.youtube.com/watch?v=gAGydP0ICLg




sexta-feira, 20 de março de 2015

Por enquanto, o melhor filme brasileiro de 2015 é "A História da Eternidade"


As primeiras imagens do pernambucano “A História da Eternidade” reforçam o paradoxo contido no título, ou seja, o que é histórico não pode ser eterno. O autor Claudio Cavalcante focaliza um enterro e o mostra do começo ao fim, desde que o cortejo entra em quadro e até a derradeira pá de terra ser lançada sobre o caixão. Ali nada há o que contar. Nenhuma história, apenas o inevitável retorno da matéria viva ao pó da terra.

https://www.youtube.com/watch?v=8TEuLkC7I68


Quando a lente revela a máscara de dor de Marcélia Cartaxo, porem surge a certeza de que há de fato uma ou várias histórias para acontecer naquele fim de mundo nordestino. Um lugar em tudo semelhante à desolação da paisagem escolhida para ambientar “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. O clássico de Glauber Rocha, inclusive é citado por tabela, neste filme em que o sertão, literalmente, se transforma no mar. 

https://www.youtube.com/watch?v=GJzXp1ql0rc

O principal e mais contundente conflito do roteiro não acontece entre as classes sociais, mas entre dois irmãos, ou seja, entre o vaqueiro tosco e amargurado e um artista frenético que não se deixa abater nem pela miséria mais extrema. Esses são os papéis que Claudio Jaborandy e Irandhir Santos desempenham, com garra e precisão. 

 
https://www.youtube.com/watch?v=w8TlznTbbQ4
Do outro lado da praça, aliás a única da vila, por meio da sanfona, um cego se declara a uma mulher ainda incapaz de enxergar a força daquele amor. A fotografia de Beto Martins se junta à inspiradíssima música do imortal Dominguinhos e do polonês Zbigniew Preisner, para transformar aquela aridez em poesia pura. 
https://www.youtube.com/watch?v=f6Gb1c8tIqk


“A História da Eternidade” abre uma nova vertente no cinema brasileiro, agora tão sobrecarregado de comédias chulas e épicos sanguinolentos. Ou melhor, uma vereda atemporal, já trilhada por tantos outros cineastas brasileiros – de Mario Peixoto a Joel Pizini. É o retorno ao chamado “cinema de poesia”, tal como foi definido por Pier Paolo Pasolini. Para saud-alo nada como os acordes eternos d Dominguinhos.

https://www.youtube.com/watch?v=w8TlznTbbQ4 




Premiada no Oscar e em Cannes, as três faces Juliane Moore em cartaz na cidade


Nesta semana, é possível admirar o trabalho de Juliane Moore em três filmes absolutamente diversos: o drama realista e de certa forma exemplar, que é “Para sempre Alice”, filme que deu a ela o Oscar de melhor atriz. E o conto de fadas “O Sétimo Filho”, no qual ela interpreta uma bruxa má – muito mais inquietante e ambígua do que aquela outra criada por Angelina Jolie em “Malévola”. Na foto ela contracena com Robert Pattinson no filme "Mapas para as Estrelas", de David Cronenberg.

Em “Para sempre Alice”, assistimos às mudanças gradativas e radicais no comportamento e na aparência de uma intelectual que desenvolve precocemente o mal de Alzheimer. Para isso, ela deve ter empregado as técnicas de atuação propostas por Stanislavski e que, desde os anos de 1930, representam o feijão com arroz da arte dramática posterior ao Actors Studio. De modo simplificado trata-se de internalizar os conflitos do personagem para que eles se manifestem, digamos... naturalmente no corpo do ator.
Já no papel de bruxa, com a figura talhada pela maquiagem e outros efeitos especiais, ela se mostra ora decrépita e monstruosa, ora escultural e sedutora. Para exercer esse papel duplo, ela utiliza recursos exteriores ao seu próprio psiquismo, trabalhando na linha dos chamados “intérpretes característicos” de Hollywood – como, por exemplo, Lon Chaney que fez “O Corcunda de Notre Dame” e “O Fantasma da Ópera”.

A partir deste semana, porém, ela estará mostrando uma terceira faceta de sua arte, no filme “Mapas para as Estrelas” de David Cronemberg. No papel de uma estrela de cinema neurótica e amoral, Juliane exercita a paródia e uma caricatura da sua profissão. Critica a sua própria construção da personagem, por meio daquilo que Bertolt Brecht chamava de “afastamento”, ou seja, um trabalho capaz de impedir, ou pelo menos, dificultar a identificação afetiva entre ela e o público.
Parabéns a essa atriz que, aos 55 anos, continua desabrochando em seu ofício.



quinta-feira, 19 de março de 2015

A alegria de um cinéfilo que fazia filmes: José Wilker é o vilão de "O Duelo", agora em cartaz


Aproveitamos o sorriso de José Wilker para retomar, com o máximo de  alegria, a atividade deste blog endereçado aos que são, como ele era, amantes do cinema. 
O trabalho na Rádio e na TV Cultura, que mantive enquanto concluía a minha tese de doutorado na Unicamp, explica porque fui levado a interromper a edição regular do blog "Cinema Falado". Felizmente, a partir de hoje ele foi reativado, com uma matéria sobre os filmes que estreiam nesta semana. Caso raro neste período, são lançados quatro títulos nacionais. Mas não se trata de uma luz no fim do túnel, porque ao mesmo tempo outros sete estrangeiros chegam aos cinemas. Entre eles o medíocre blockbuster "Insurgente", que deverá atrair milhares de incautos. Abrindo espaço para experiências amadorísticas como "Branco Sai Preto Fica" (na foto abaixo), alguns colegas da mídia impressa alimentam a ilusão de que esse cinema auto-denominado "alternativo" e "questionador" venha a atrair a atenção do grande público, apenas por ser exibido no circuito comercial. Obras muitíssimo mais importantes, como "O Som ao Redor" e "A Historia da Eternidade" permanecem praticamente ignoradas. Esses quatro filmes novos nacionais também são comentados na página seguinte. A imagem que abre esta nota mostra a alegria de José Wilker em "O Duelo", o seu derradeiro trabalho no cinema. A ele, todo o nosso respeito por ter lutado pelo cinema brasileiro da melhor forma que lhe foi possível.  
    

quarta-feira, 18 de março de 2015

Quatro filmes brasileiros estreiam em 19 de março: infelizmente nenhum se salva

Nesta semana são lançados quatro filmes brasileiros, mas, infelizmente dotados de poucos pontos positivos. Digo isso apesar da competência dos atores e dos técnicos que trabalharam neles e que, visivelmente, se esforçaram para fazer o melhor possível. Já pronto desde 2012, Meus dois Amores é uma comédia regional e de época baseada em conto de Guimarães Rosa. Foi produzida pela Globo Filmes, com um elenco de primeira, que inclui Lima Duarte, Alexandre Borges, Caio Blat e Maria Flor. Toda falada em sotaque do interior de Minas, a trama é de difícil entendimento, principalmente pela fragilidade do roteiro que mistura tramas confusas e inconsistentes.
Na pele de um coronel, Lima Duarte está perfeito. Aliás, ele estaria bem, mesmo que não lhe dessem personagem algum. Por outro lado, Guilherme Weber e Milton Gonçalves se acham completamente deslocados. O pior é que um dos dois amores do protagonista Caio Blat é Maria Flor, enquanto o outro é uma mula, com a qual ele dorme toda noite... de conchinha

Decepção maior ainda é O Duelo, com direção de Marcos Jorge que, em 2007 nos deu o excelente Estomago. O roteiro se baseia no livro “Velhos Marinheiros” de Jorge Amado e traz o habilidoso ator português Joaquim De Almeida, além de Jose Wilker e Claudia Raia. Nenhum deles está bem, porque faltou o mais importante: roteiro e cuidado de produção.

Não há unidade nos figurinos e nem na ambientação de época. O livro foi escrito em 1961, a partir de referências que Jorge Amado trazia de muito antes. Mas tudo se passa num presente totalmente implausível. Verdadeiramente uma pena pelo desperdício de talentos.

Insubordinados é um trabalho de Edu Felistoque e da atriz Silvia Lourenço, colaborando aqui também como roteirista, filmado em elegante branco e preto. Na verdade esse longa é uma remontagem de trechos do seriado “Bipolar”, do mesmo diretor e já exibido na televisão.
Na verdade acrescentou-se a trechos de capítulos da série, um material filmado posteriormente e criado por Silvia Lourenço. Essas novas imagens contam uma pequena história dentro da qual se encaixa a ação contida no episódio
.
Uma tenente da PM interpretada pela Silvia vem passando as noites num hospital, onde seu pai se acha em estado de coma. Com o objetivo de passar melhor o tempo, ela começa a escrever um livro policial que corresponde exatamente às peripécias centrais do seriado. (foto abaixo)
O problema, porém, é o vazio que habita essa sequencia da moça que escreve um texto de ficção, enquanto aguarda a morte do pai. Nessa espera nada acontece de interessante e a vemos vagando pelos corredores, batendo papo com o faxineiro e conversando com a médica sobre o texto em processo de elaboração. Poderia ser uma experiência estética de confronto entre dois discursos ficcionais. Mas tudo não passa de tempo perdido.


Para facilitar a produção, mas dificultado a clareza da narrativa, a atriz Silvia Lourenço desenvolve dois personagens neste Insubordinados. Com cabelos longos, ela faz a tenente que é escritora nas horas vagas. Já de cabelos curtos, ela interpreta uma delegada especialmente agressiva, acompanhada por dois parceiros não menos violentos. Para complicar, a líder dessa equipe policial é interpretada por Priscila Alpha (foto acima) -- aliás, a mesma atriz que faz o papel da médica que atende o pai da Silvia, na outra história. Deu pra entender?

Branco Sai, Preto Fica foi o mais importante vencedor do Festival de Brasília de 2014, onde – além de melhor filme, arrebatou outros 10 prêmios. Se alguém estiver achando esse resultado um exagero, acertou. Mesmo que, naquela competição os de ficção filmes apresentassem uma qualidade muito baixa. Tanto assim, que o júri popular escolheu como melhor filme o documentário Sem Pena, sobre o nosso sistema carcerário.

É possível que a comissão julgadora tenha se impressionado pelo fato do filme ter sido feito por um coletivo recrutado em Ceilândia, uma das cidades satélite do Distrito Federal. Ou seja, trata-se de uma produção em cooperativa, na qual não houve financiamento. Ao contrário, os associados cuidaram eles mesmos da sua feitura e realizaram uma vaquinha para pagar os serviços técnicos mais complicados. 

O diretor e líder dessa associação é Adirley Queirós (foto acima). Dos 16 aos 25 anos, ele foi jogador de futebol profissional, mas estudou cinema na Universidade de Brasília, onde se formou há 10 anos. Branco Sai, Preto Fica é um filme ficcional que poderia ser considerado como de ficção científica, porque fala de um rapaz que foi baleado num baile funk e que volta ao passado para investigar o crime.

O roteiro poderia ter sido um justificado filme de protesto contra os problemas urbanos na periferia do DF que, aliás, não devem ser poucos. Mas resultou numa espécie de brado de guerra de Ceilândia contra Brasília – retratada como o antro da burguesia branca e opressora e que mereceria ser eliminada por meio de uma bomba. Pior do que essa postura ofensiva, que escandalizou muitos artistas e intelectuais brasilienses, a maior parte do filme é mesmo rudimentar e no fundo só interessa a quem o fez.