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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Mais um impressionante trabalho de Glenn Close digno de Oscar: "Albert Nobbs"

A partir de uma história original do cineasta húngaro Istvan Szabo, autor do célebre “Mefisto” (1981) Glenn Close redigiu o roteiro do filme “Albert Nobbs”. É isso mesmo, ela escreveu o roteiro, mas concorre ao Oscar de melhor atriz, fazendo o papel de uma mulher que se finge de homem na Irlanda do século 19, para poder ganhar a vida como garçom num hotel para pessoas da elite social de Dublin. A interpretação é ainda mais impressionante e complexa ao se perceber que a personagem não tem qualquer motivação erótica para se vestir com roupas de outro gênero. Sua motivação é a sobrevivência e o sonho de obter independência financeira para um dia montar o seu próprio estabelecimento comercial.
Comportando-se como um senhor há mais de 30 anos, Albert também gostaria de ter uma esposa para compartilhar uma casa própria. E esse é um dos aspectos mais surpreendentes do roteiro, porque não existe nesse travestimento qualquer conotação sexual. A ponto dele (a) começar a cortejar uma colega vivida por Mia Wasikowsa, que fez “Alice de Tim Burton”, e não tentar obter um beijinho sequer dessa moça que pretende pedir em casamento. Em função disso, o trabalho de Glenn Close se mostra ainda mais requintado, porque seu personagem é pura auto-repressão, treinado em jamais revelar qualquer sentimento. E mesmo assim emociona, pela depuração e pelo ascetismo que o eleva acima das pessoas comuns − talvez como um anjo, sem sexo e motivado pelas melhores intenções.

ALBERT NOBBS
Albert Nobbs
Irlanda/Reino Unido, 113 min, 16 anos
estreia 24 02 2012
gênero drama / história
Distribuição Paris Filmes
Direção Rodrigo Garcia
Com Glenn Close, Jonathan Rhys Meyers, Mia Wasikowska
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"A Dama de Ferro": caso raro de docudrama a um só tempo político e poético

Muita gente supunha que “A Dama de Ferro”, filme biográfico sobre Margareth Tatcher que governou a Inglaterra entre 1979 e 1990, contivesse acusações e denúncias sobre a sua administração conservadora. Em outras palavras, que fosse um apedrejamento cinematográfico semelhante ao que foi feito com Nixon, Idi Amim e outras figuras do passado político mais recente que abusaram de seu poder. Com essa expectativa, torceram o nariz para o filme que somente entrega o que prometeu e não aquilo que esses comentaristas imaginaram. A idéia é elaborar um docudrama quase subjetivo,isto é, sem a frieza descritiva de muitos filmes desse gênero, desenvolvendo uma narrativa do ponto de vista da ex-primeira ministra tal como ela se encontra atualmente, ou seja, uma anciã de 87 anos que, desde 2002 não se pronuncia mais publicamente porque se acha sofrendo do mal de Alzheimer.
Essa é a dificuldade e também o encanto do roteiro que a mostra já fora do poder, conversando com o marido morto e tendo dificuldade de se lembrar exatamente como as coisas aconteceram. Falo do complicado processo histórico que a levou a exercer o governo de um modo especialmente enérgico e que, como também aconteceu com os do Partido Trabalhista, apresenta aspectos positivos e negativos. Em alguns momentos, o filme impressiona pela tenacidade e pelo idealismo desta que foi a primeira mulher a assumir a chefia do governo na Inglaterra, desde a rainha Elizabeth no século XVI. Em outros, comove com as passagens poéticas em que a vemos frágil e falível como qualquer ser humano. E acima de tudo o louva-se o inigualável talento de Meryl Streep que corre o risco de com ele levar o 3º Oscar da carreira, por não apenas ter incorporado a personagem histórica, mas ter revelado dramaticamente, inclusive por meio da expressão corporal, a passagem do tempo sobre ela.

A DAMA DE FERRO
The Iron Lady
estreia 17 02 2012
gênero docudrama / política
Reino Unido, 2012, 105 min, 12 anos
Distribuição Paris Filmes
Direção Phyllida Lloyd
Com Meryl Streep, Jim Broadbent
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Em “A Invenção de Hugo Cabret”, Scorcese louva e glorifica a história do cinema

“A Invenção de Hugo Cabret” é uma produção ambiciosa e realizada com todo o entusiasmo por Martin Scorcese, que tem como missão de vida divulgar o patrimônio cultural do cinema. Ele que financiou a restauração de vários filmes antigos conta a história verídica de como Georges Méliès (1861-1938), um dos pioneiros do espetáculo cinematográfico, chegou à década de 1930 na miséria e completamente esquecido. Ben Kingsley (“Gandhi”) elabora uma cópia quase idêntica da aparência física de Méliès, enquanto Scorcese reconstitui cenas de seus filmes e momentos de suas filmagens como se fossem um delirante parque de diversões. Ele chega a fazer o papel de um fotógrafo que aparece para registrar Méliès, seu estúdio e sua equipe, no auge do processo criativo em que se misturavam circo, aventura, arte e técnica à malandragem do ilusionismo.
Mas tudo no filme acontece por meio de um personagem fictício criado pelo escritor Brian Selznick (da família de David Selznick, produtor de sucessos como “E o Vento Levou”), um menino órfão que vivia escondido na estação de trem onde o velho mago do cinema vendia doces e brinquedos para sobreviver. Até esbarrar com a neta dele (Chloe Moretz de "Deixe ela entrar"). Sempre se esquivando de um policial que o persegue (Sacha Baron Cohen de “Borat”), a meta desse personagem interpretado pelo garoto Asa Butterfield é desvendar o segredo do funcionamento de um autômato movido a corda, como um relógio, que seu pai (Jude Law de “Sherlock Holmes”) tinha construído antes de morrer. O sentido desse boneco animado permanece obscuro quase até o final.
A função do rapaz no projeto, porém, é instaurar um clima de fábula para crianças, repleto de peripécias e correrias, para garantir a necessária identificação com as platéias mais jovens e talvez mais distantes do conhecimento histórico referente à trajetória do cinema ao longo do século XX. É surpreendente como o filme associa a sensação de aventura e risco que marca o início do cinema ao frenesi das narrativas infantis. Naquela mesma época em que se passa o filme de Scorcese, em Hollywood surgia o cinema falado, exilando para a gaveta obras primas como “Metropolis” (1926) do alemão Fritz Lang, no qual a heroína é substituída por um robô sem alma. Uma frase desse filme que se tornou famosa é “sem o coração, não pode haver entendimento entre a mão e o cérebro”. Ou seja, numa interpretação ligada ao tema de “A Invenção de Hugo Cabret”, os avanços da tecnologia como o som e o digital não vieram para anular o que foi feito anteriormente e sim para abrir novas possibilidades de criação.
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
Hugo
EUA, 2011, 126 min, livre
estreia 17 92 2012
gênero aventura / história / comédia
Distribuição Paramount
Direção Martin Scorsese
Com Ben Kingsley, Asa Butterfield, Chloe Moretz
Sacha Baron Cohen,Jude Law,Christopher Lee
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Aparece o favorito para o Oscar de melhor desenho animado de longa metragem.


Com a ausência de “Rio”, de Carlos Saldanha, e de “As Aventuras de Tin Tin - O Segredo do Licorne”, de Steven Spielberg, já tinha gente apostando no medíocre “O gato de Botas” de Chris Miller e no apenas razoável “Kung Fu Panda 2”, de Jennifer Yuh. Já o francês “Um gato em Paris” parece fora do páreo. Mas acontece que “Rango", de Gore Verbinski foi o grande vencedor da 39ª edição do Annie Awards, realizado em Los Angeles. O prêmio é considerado uma prévia do Oscar, por que é concedido pela International Animated Film Society às melhores animações do cinema (longa e curta), televisão e videogame. O sensacional “Rango”, inteligente e amargo, mas furiosamente engraçado, cujo personagem principal é dublado por Johnny Depp, ganhou os prêmios de Melhor Animação, Edição, Personagem e Roteiro. "Kung Fu Panda 2", da Dreamworks, era o favorito da noite, mas levou apenas de Melhor Direção de Arte e Melhor Diretor para Jennifer Yuh. Os dois concorrem ao Oscar 2012 de Melhor Animação, mas minha preferência é “Rango”. "As Aventuras de Tintin: O Segredo de Licorne", também recebeu dois Annies, de Melhor Música e Efeitos. A produção de Spielberg ficou de fora do prêmio da Academia, mas ganhou o Globo de Ouro, provando que nos EUA os desenhos feitos no sistema “captura de movimento” também são considerados filmes de animação.

A comédia “As Mulheres do 6º Andar” é um novo alento para o cinema francês.

“As Mulheres do 6º Andar” é um filme francês que aborda a época em que surgiu o movimento de modernização do cinema chamado nouvelle vague, mas com um olhar abertamente pós-moderno. Ou seja, sem a preocupação de inovar em termos de linguagem e dedicado a passar idéias, enquanto lida com a capacidade de emocionar o público. É dirigido por Philippe Le Guay que, além de roteirista é professor da Fémis, a mais importante escola parisiense de cinema. Ele sabe que já passou a época dos hermetismos vazios e carentes de sentido. A história é ambientada em Paris no começo dos anos 1960, apresentando um elenco liderado pelo sensível e habilidoso Fabrice Luchini (“Potiche - a esposa troféu” - 2010). Ele interpreta um abastado corretor da bolsa de valores que, por acaso, descobre o que acontece no sexto andar do prédio onde mora, todo ele ocupado por empregadas domésticas espanholas.
Nos prédios residenciais do centro de Paris, em geral os apartamentos vão até o 5º pavimento. No 6º, logo abaixo do telhado, ficam os chamados “quartos de empregada”, geralmente minúsculos e sem aquecimento. Naquela época anterior à União Européia, a maior parte das criadas vinha de Portugal e da Espanha e o protagonista se encanta com uma delas, vivendo um relacionamento espontâneo e transformador, que nada tem a ver com a rotina “sinhozinho e mucama” da tradição brasileira. Trata-se de uma encantadora e tocante comédia social, valorizada por atrizes ibéricas, como Carmem Maura e Lola Dueñas, que já tinham mostrado a sua competência nos filmes de Almodóvar. E pela também argentina Natalia Verbeke, premiada por sua atuação em filmes como “O filho da Noiva”.

AS MULHERES DO 6º ANDAR
Les femmes du 6ème étage
França, 2011, 104 min, 16 anos
estreia 10 02 2012
Gênero comédia / romance
Distribuição: Vinny Filmes
Direção: Philippe Le Guay
Elenco: Carmen Maura, Fabrice Luchini,
Natalia Verbeke, Lola Dueñas
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

Mais um bom trabalho de Tilda Swinton: "Precisamos falar sobre Kevin"

Tilda Swinton não foi indicada ao Oscar, mas ganhou vários prêmios em festivais importantes como o de São Francisco com sua atuação nesta produção independente inglesa ambientada no EUA “Precisamos falar sobre Kevin”. O papel é da mãe de um adolescente que se torna assassino de massa na escola em que estuda. Ela luta para se adaptar à sociedade, ainda que se sinta culpada pelo que aconteceu. O filme é dirigido pela escocesa Lynne Ramsay que se esforça para atribuir-lhe uma aparência moderna, fugindo da linearidade, reiterando exaustivamente algumas informações e ocultando outras que seriam úteis à sua fruição e inteligibilidade, como por exemplo, as atividades profissionais da protagonista e de seu marido. Este é vivido pelo cômico John C. Reilly, em atuação discreta e contida, num diapasão bem diverso dos jovens atores que interpretam o garoto maligno. O leitor de um site americano reclamou que esse dado teria estragado a sua surpresa, mas, na verdade ele já aparece no início do filme que evita uma narrativa linear. Sua espinha dorsal é o dia em que ela se prepara para uma visita à penitenciária, enquanto as lembranças e sonhos vão se encarregando de nos contar em retalhos a sua trágica história, desde a concepção e o nascimento do garoto. Tilda como sempre está perfeita em sua atuação repleta de detalhes e silêncios eloqüentes. Mas nada acima do que ela já nos ofereceu em trabalhos recentes como “Um Sonho de Amor”. .

Quem "O Artista" representa? Charles Chaplin, Rodolfo Valentino, Errol Flynn, ou todos eles?

Nesta semana, o cinema francês passa para o primeiro plano no que se refere às estreias, pelo lançamento do excelente “O Artista”, que traz 10 indicações para o Oscar: uma obra prima em branco e preto e, ainda por cima, muda. Isto é, um filme em que os diálogos só aparecem nos letreiros, ou são apenas insinuados pelo gestual dos atores. Na maior parte das vezes, eles ficam subentendidos por conta da montagem que vai narrando a história e sublinhando visualmente as emoções dos personagens.
O principal deles é um astro do cinema mudo que, no começo da década de 1930, que não se adapta às mudanças propostas pelo cinema falado.O nome dele é George Valentin, num menção ao grande astro da época Rodolfo Valentino (foto acima, ao lado da esposa Natasha Rambova).Mas o personagem também tem relação com Charles Chaplin e é interpretado por Jean Dujardin, que tem grande semelhança física com Errol Flynn. (foto abaixo).

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Boas piadas com uma sombra do nosso passado político em "Reis e Ratos".

Em favor a "Reis e Ratos", é preciso ressaltar uma qualidade que é a leveza com que trata assuntos sobre os quais não temos o hábito de fazer piada, mesmo porque não se costuma achar a menor graça deles. É o caso do tema do próprio filme: o golpe de estado que, a partir de 1964, assombrou a nação por mais de 20 anos e até hoje provoca calafrios em quem viveu aquele período. Sempre imaginamos um cenário no mínimo sério, quem sabe neo-realista ou na linha do Dogma dinamarquês, para abrigar as "tenebrosas transações" mencionadas por Chico Buarque na letra de "Vai passar". É saudável, porém, imaginar que talvez tudo aquilo não passasse de uma conspiração iniciada por um bando de pés-de-chinelo, até para dessacralizar certas figuras emblemáticas da época, como a do sinistro Cabo Anselmo, por exemplo. Por isso Mauro Lima foi feliz em criar uma dupla de "clowns" como detonadores do plano golpista. Os agentes da CIA Selton Mello e Otávio Muller são como os inspetores Dupond e Dupont da série Tintin (foto abaixo), que não acertam uma. Se vestem, agem e falam de modo ridículo, como de resto as duplas de humoristas ao longo da história do cinema, do tipo o gordo e o magro, Oscarito e Grande Otelo etc. Aliás, Marx já dizia que a história pode se repetir (ou reconstituir), nunca como tragédia, mas sempre como farsa.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"Reis e ratos" será lançado em 17 de fevereiro, com Selton Mello e Rodrigo Santoro

Ainda que isso não signifique um tipo de elogio, “Reis e Ratos” é uma prova de que o chamado “cinema marginal”, ou “de invenção” fez escola no Brasil. Até o dia 12, aliás, prossegue no CCBB uma mostra chamada “Jairo Ferreira – Cinema de Invenção”, cujo título é uma homenagem ao crítico paulista que se engajou naquele movimento desenvolvido nos anos 1960 e 70, como uma reação ao cinema novo, que realizara uma espécie de pacto com a ditadura e tinha, de certa forma, se assenhoreado da Embrafilme. Alguns dos diretores daquele ciclo como Rogério Sganzerla, Neville de Almeida e principalmente Ivan Cardoso são citados explícita e veladamente ao longo deste filme dirigido por Mauro Lima, que fez o bem resolvido e biográfico “Meu nome não é Johnny” (2008). Desta vez ele cria uma paródia dos acontecimentos anteriores ao golpe militar de 1964, por meio de duas figuras que parecem ter saído de um gibi underground. São dois agentes da CIA trabalhando para derrubar o governo com o apoio do embaixador dos EUA (Hélio Ribeiro), mais um latifundiário mineiro (Orã Figueiredo), e um ex-cafetão (Rodrigo Santoro).

Eles são Selton Mello e Otávio Muller que falam igualzinho aos personagens de enlatados americanos, com o mesmo fraseado e uma entonação idêntica. A maior parte do filme inclusive é filmada em branco e preto, com diálogos e trilha sonora gritantes, talvez para ampliar as referências aos seriados de TV daquela época e ao estilo trash do cinema marginal. Mas, com exceção do trabalho dos atores Orã Figueiredo e Otávio Muller, que se impõe por conta própria, o projeto não decola, derrapando no humorismo forçado, nas confusões da narrativa e em personagens sem sentido nem fundamento, como o de Cauã Reymond – um radialista que transmite recados mediúnicos durante a locução dos próprios programas. O filme será lançado pela Warner e Globo filmes, no dia 17 de fevereiro, com produção de Paula Lavigne e canção original de Caetano Veloso, cantada por Bebel Gilberto. O resultado é uma comédia apenas regular, parecendo dizer – já que não se sabe tudo sobre aquela época conturbada, então podemos inventar qualquer disparate sobre ela.