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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

“Sim Senhor” é o mais recente e o mais interessante trabalho do cômico Jim Carrey.

Jim Carrey é o Jerry Lewis dos tempos atuais. Nesta comédia (estréia 30/01/2009), ele não exagera nas caretas, porque seu personagem pretende representar um homem especialmente comum. Alguém que não se destaca em qualquer aspecto da vida e quase não tem personalidade própria. Vai todo o dia do trabalho para casa, onde vive sozinho diante da TV, amargando a ausência da mulher que o abandonara. Na primeira parte, portanto, o cômico trabalha contido, na linha naturalista solicitada pelo roteiro. Lembra inclusive os seus melhores momentos em O Show de Truman (1999). Um dia, quase sem motivo, ele assiste à palestra de um guru (Terence Stamp, abaixo) e promete a si mesmo que passará a dizer sim para tudo e, a partir daí, sua existência se modifica radicalmente: passa a ter aulas de violão e coreano, dar carona para estranhos, aceitar convites para as mais ridículas festas à fantasia e todos os comerciais que chegam pela internet.
Mas, o que a princípio parecia uma caricatura às campanhas de auto-ajuda, mostra uma face inesperada. O personagem se transforma por completo e passa a viver muito melhor que antes, até arranja uma namorada interpretada por Zooey Deschanel (O Guia do Mochileiro das Galáxias), bem mais interessante que a ex-mulher. E realiza proezas, como evitar um suicídio e ser promovido no banco em que trabalha. Nesse processo, longe dos exageros de Grinch e Debi & Lóide, as poucas caretas que Jim Carrey monta são inigualáveis, assim como a sua hilariante caracterização de bêbado. O filme também vale pelo trabalho dos roteiristas que jamais abandonam a ironia, como tempero da trama.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"Austrália": um capítulo pouco conhecido da nossa história, que aponta para o futuro

As pessoas se esquecem, ou melhor, nem reparam que do outro lado do planeta existe um continente ocupado por um braço da civilização ocidental. Ali, pertinho da China, formou-se a Austrália, um país mais novo que o Brasil e que já é mais desenvolvido que o nosso, apesar de também ser multicultural e ter raízes européias e primitivas. Nós freqüentadores de cinema sabíamos que o seu povo é bonito e talentoso. Tanto que Cate Blanchett e Heath Ledger são de lá, assim como Hugh Jackman, Nicole Kidman e o diretor Baz Luhrmann que, antes de Moulin Rouge (2001), tinha feito uma pequena jóia chamada Vem Dançar Comigo (1992). Mas foi preciso que ele desenvolvesse este projeto para sabermos que o gado da Austrália foi fundamental para alimentar as forças aliadas em guerra contra os fascistas. E que os japoneses bombardearam com crueldade genocida a cidade de Darwin, logo após terem atacado a base americana de Pearl Harbor.
Como vemos, de um lado, o filme é educativo, mostrando a extrema diversidade étnica do país, povoado por ingleses, chineses, russos etc. Mas é também poético, destacando com carinho a profundidade da cultura dos aborígenes, que praticavam mágica por meio da música, cantando para os peixes antes de pescá-los. E comentando a fusão de culturas neste planeta, recorrendo ao filme musical O Mágico de Oz (1939) antes do qual o cinema tinha como cores apenas o branco e o preto. Esse filme dentro do filme funciona como símbolo da inclusão, como lembrete de que, mesmo no tempo da segregação racial, já existia gente de várias cores lutando contra ela. Austrália foi rotulado um filme épico porque tem a estatura de obras como Assim Caminha a Humanidade (1956), em que os personagens lutavam pelo petróleo, do mesmo modo que os de Baz Luhrmann brigam pelo gado. Ou de E o Vento Levou (1939) no qual os protagonistas amavam a propriedade que possuíam, mais até que os seus próprios amantes. Em Austrália, a terra é importante, claro, mas as relações entre pessoas valem muito mais. Um de seus aspectos mais comoventes é a adoção do garoto mestiço e órfão pela aristocrata britânica vivida por Nicole Kidman. Quase no encerramento do filme esse encantador personagem declara que "contar histórias é o que existe de mais importante no mundo, porque é através delas que as pessoas amadas permanecem vivas". Trata-se de uma declaração de amor ao cinema, à história e à tradição tribal em que a cultura aborígene sobrevive. Resumindo, por trás da roupagem aparentemente pesada de espetáculo épico, o filme fala do passado, mas sintonizado com o mundo de hoje.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"O Corajoso Ratinho Desperaux": desenho que tropeça nas complicações do roteiro

É pena, mas esta animação inglesa teria tudo para enfrentar as produções da Disney e da Dreamworks, não fosse a pretensiosa conceituação do projeto, perdida num passo maior que as pernas. Como se os desenhistas do filme e os seus roteiristas pertencessem a duas tribos diferentes. Num ambiente de conto de fadas, parecido com o de Schreck, um camundongo pequeno até para a sua espécie se mostra especialmente nobre e corajoso. Como Dom Quixote, deixa-se inebriar pelos contos de cavalaria dos livros que lê, em vez de roer. Tem a capacidade de falar com os humanos, assim como o herói de Ratatouille e também se relaciona com um grande chefe de cozinha: o cozinheiro oficial do reino. Suas orelhas são exageradamente grandes e, graças a elas, às vezes pode voar, lembrando o elefantinho Dumbo. Imaginado com uma direção de arte primorosa, o universo dos camundongos é acessível por meio de um buraco na parede, assim como víamos nas aventuras de Tom & Jerry. Um dia, o personagem desaba no caótico e bárbaro mundo dos ratos, instalado no subterrâneo de um palácio, mais ou menos como no recente desenho animado Por Água Abaixo, da Dreamworks, por sua vez uma referência a Blade Runner - O Caçador de Andróides e Gladiador, ambos de Ridley Scott. Mais tarde, encontra uma camareira que é sósia da grotesca Fiona, de Schreck que sonha em se tornar também uma princesa. São “influências” em demasia. Até para um adulto, quanto mais para uma mente infantil.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Lançado em janeiro, "Se eu fosse você 2" já mostra potencial para ser o campeão de 2009


Em apenas duas semanas, a comédia de Daniel Filho em que marido e mulher trocam de espírito ultrapassou a marca de 2 milhões de espectadores. Como não podia deixar de ser, os produtores comemoram e anseiam que o longa ultrapasse o filme inaugural da série, chegando a 4 milhões. Em somente dez dias, Se eu fosse Você 2 arrecadou a mesma renda obtida pelo número 1 durante 30 dias. Isso quer dizer que este vem se mostrando no mínimo três vezes mais bem sucedido que o anterior. Com isso, o filme consegue entrar para o cada grupo vez mais seleto de filmes nacionais vistos por 2 milhões de espectadores. Sua média de público logo no primeiro fim de semana foi de 1.411 pessoas por sala de exibição. Na programação nacional de 2008, somente Meu Nome não é Johnny alcançou esta marca, mas levou quase três meses para somar números similares. Como se explica este resultado? Do ponto de vista da qualidade cinematográfica, ele é superior ao primeiro, com um roteiro mais intenso e concentrado: no sentido de que não se perde em diversos subtemas e gracejos circunstanciais, como toda a seqüência em que a mulher, no corpo do marido, precisava comandar a agêcia de publicidade. Aqui, o (a) personagem de Tony Ramos vai além e participa de um jogo de futebol de várzea, chegando mesmo a marcar um gol. Glória Pires continua mais efetiva, interpretando um homem envergando seu arcabouço de mulher. Por outro lado, ao fazer o papel da própria esposa presa dentro de seu seu corpo peludo, Tony Ramos se mostra mais feminino do que afeminado, procurando evitar trejeitos óbvios e atitudes caricaturais. O argumento flui com mais naturalidade, emoldurando a "tragédia" do casal com a surprendente gravidez da filha adolescente, o que permite aos coadjuvantes funcionarem melhor. O filme adota como epígrafe a afirmação de que "um raio pode sim cair duas vezes no mesmo lugar". Essa frase valeria para os personagens e também para o sucesso comercial do filme, que mereceria o adendo de "... inclusive com mais intensidade".

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

"O Curioso Caso de Benjamim Button": o filme americano mais original da temporada

Desta vez é possível de Brad Pitt leve um Oscar. Mesmo que isso não aconteça, sua atuação neste filme (estréia 16/01/2009) é memorável. Não só pelos aspectos técnicos envolvidos na personificação de uma pessoa que nasce idosa e vai se tornando cada vez mais moça, mas pela ginástica de tornar plausíveis todos os relacionamentos que estabelece ao longo da vida. O filme de David Fincher como um todo é um manifesto em favor da flexibilidade e da mutabilidade do ser humano. Assim são as personagens centrais, como aquela vivida magníficamente por Cate Blanchet, e a própria cidade de New Orleans, principal palco da história. Como se o surpreendente roteiro de Eric Roth (Forrest Gump - 1994) reproduzisse a máxima taoísta segundo a qual o junco é mais forte do que o carvalho: numa tempestade, a grande árvore é partida ao meio pelo vendaval, mas, com toda a sua fragilidade, a erva flexível se dobra ao vento e ergue-se novamente.

A maquiagem não é o único elemento a explicar a excelência do resultado obtido na construção deste personagem que nasceu velho e morreu, 86 anos depois, com a forma de um recém-nascido. A questão é que ele veio ao mundo com o tamanho de um bebê e, à medida em que ia crescendo, foi se tornando mais jovem. Observe-se na foto acima, que ele tem a idade, o gestual e o tamanho de um garoto de 10, mas a forma física de um homem de 76. Ou seja, o mérito é também da computação gráfica, que o fez menor que os demais atores representando na mesma cena. E, acima de tudo, da habilidade do ator que, ao longo do filme foi marcando visualmente as profundas modificações de Benjamim Button, pela voz, pela expressão corporal e pelo olhar. Esse é um digno exemplo da grande arte da "caracterização" que, no decorrer da história do cinema, fez a glória de alguns artistas inesquecíveis, como Lon Chaney.

Sob a direção de Robert Julien, O Fantasma da Ópera de Lon Chaney é sem dúvida o rosto mais aterrador do cinema mudo, porque foi concebido sem a máscara que, desde então, vem acompanhando o personagem em todas a suas versões. E, principalmente, porque foi obtido com um mínimo de maquiagem. Além do auxílio dos recursos externos, o verdadeiro intérprete se transfigura quando aciona uma alquimia de emoções e posturas que vem de dentro para fora. Comparemos a face do monstro (acima) com a do ator, fora de qualquer personagem (abaixo).

Lon Chaney Senior (1883-1930) é considerado até hoje o mais importante "ator característico" da história do cinema, chegando a ostentar o apelido de "o homem das mil caras". A capacidade de transmutação de seu rosto no clássico O Fantasma na Ópera foi a essência com a qual brilhou em mais de 160 filmes, entre 1920 e 1930. Tanto que passou a fama para seu filho (abaixo), num tipo de legado raro no cinema e que é mais comum no ambiente do circo. E a maquiagem? Qual a sua importância nesse campo?

O primeiro Oscar de maquiagem só foi entregue em 1982 para Rick Barker (Star Wars), por seu trabalho em O Lobisomem Americano em Londres. (foto abaixo) Prova de que na tradição do cinema americano, essa arte não merecia tanto reconhecimento quanto as demais que participam do cinema. Mas, de fato, era essencial, especialmente em gêneros como o cinema de horror. Basta comparar o trabalho de Barker com a caracterização de Lon Chaney Jr (1906-1973) em O Lobisomem, de 1941, na imagem acima. Provavelmente isso ocorria porque as transformações físicas no design de aparência dos personagens fossem, até então, atribuídos prioritariamente ao desempenho dos atores, como o célebre Lon Chaney, pai deste que deu vida ao lobisomem, no filme de George Waggner. Abaixo, David Naughton sob a direção de John Landis.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Colin Farrell, vencedor do Globo de Ouro, em filme ignorado pelo público brasileiro


A maioria dos premiados no Globo de Ouro ainda não apareceu nas salas de cinema, em especial os que despertam mais curiosidade, como o melhor filme dramático e os dois em que Kate Winslet foi premiada. Todo mundo viu o falecido Heath Ledger (melhor coadjuvante) fazendo o Coringa, em Batman o Cavaleiro das Trevas. Mas a mesma coisa não aconteceu com o trabalho de Colin Farrel, como melhor o ator em comédia pela atuação em Na Mira do Chefe (In Bruges). O filme (na foto) ficou uma semana em cartaz e quase ninguém reparou neste que foi o melhor desempenho do ator irlandês que vimos em Alexandre, Miami Vice e Pergunte ao Pó.
Este Na mira do Chefe é um sopro de novidade no cinema europeu: o primeiro longa do inglês Martin McDonagh, autor de teatro considerado um dos mais promissores dramaturgos da Broadway. Com apenas 38 anos, ele teve tempo de estudar os filmes de Scorcese e Tarantino, e desenhar nova roupagem para essa modalidade que é o filme de gangsters. Com ela o humor flui com mais naturalidade e a violência se faz menos explícita. Há uma inegável carga de angústia existencial e de ironia nessa história de assassinos profissionais dotados de uma ética rígida. Tudo se passa na Bélgica, na cidade histórica de Bruges, para onde Ralph Fiennes, no papel de chefe de uma quadrilha, manda dois de seus capangas irlandeses. Um deles é Colin Farrell, numa das interpretações mais cativantes de sua carreira – um matador tão desastrado e sem talento para o ofício que, no primeiro serviço, tinha acertado um inocente por engano. Eles vão para a Bélgica para executar uma outra vítima que não ainda não sabem quem seja. Mortificado pelo erro cometido, o personagem de Colin Farrell depara com uma equipe de cinema que está filmando na cidade e conhece uma moça pela qual se interessa. Enquanto isso, seu parceiro passa o tempo em contemplação estética, visitando os monumentos medievais da cidade. Aos poucos as surpresas de Na mira do Chefe vão se sucedendo e justificando o prestígio que seu estreante diretor já desfrutava no teatro. Em breve o filme será publicado em DVD pela Paris, ou quem sabe relançado nas salas

"Maus Hábitos", de Simon Bross - lançado em DVD uma jóia do moderno cinema mexicano


O público brasileiro começa a se interessar pelo cinema que se faz em outros países do continente, como a Argentina. Mas acaba de ser lançado em DVD pela Paris Filmes, Maus Hábitos, um exemplo de vitalidade na cinematografia mexicana. É até aconselhável anotar o nome de seu autor: Simon Bross, um produtor que, aos 48 anos, decidiu realizar um filme cuidando apenas do roteiro e da direção. E a tentativa impressiona pela estatura do resultado: um trabalho que retoma as preocupações de Luis Buñuel sobre o absurdo da vida em sociedade, especialmente em obras sarcásticas como O Discreto Charme da Burguesia. Numa linha aparentemente naturalista, o diretor focaliza um grupo de personagens femininas para as quais a comida representa papéis bem diferenciados. Uma freira pratica jejum porque acredita adquirir poder de cura por meio dele. Por outro lado, o seu convento sobrevive vendendo as guloseimas que as religiosas cozinham. Sua tia é tão obcecada com a aparência que se torna anoréxica e inferniza a vida da filha (na foto) que tem tendência para engordar. Em conseqüência, o tio se apaixona por uma estudante de formas confortáveis e abundantes que atende pelo apelido de Gordinha. Assim como fazia aquele mestre espanhol naturalizado mexicano, o filme vem carregado de uma melancólica ironia, demonstrando ternura e compaixão ao expor o ridículo dos personagens. Outro mérito de Maus Hábitos é a fotografia, a um só tempo sóbria e expressiva, lembrando o claro-escuro dos pintores flamengos do século XVII, como Johannes Vermeer.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

"A Troca": sexta é dia de Clint Eastwood dirigindo Angelina Jolie no papel de mãe


Um menino de nove anos desaparece e a polícia de Los Angeles, cansada das acusações de incompetência, tem o desplante de apresentar à mãe (Angelina Jolie) um outro garoto que fora instruído para assumir o papel. (foto acima) Evidentemente a mulher não aceita a troca e, por isso, é internada como louca num hospício. Atualmente isso talvez fosse impossível, mas, em 1928 as instituições democráticas americanas provavelmente ainda não estivessem consolidadas. Não havia corregedoria na polícia e ninguém falava em direitos humanos, num país em que a segregação racial era parte do cotidiano. Além disso, Los Angeles ainda não era a capital mundial do cinema, porque a indústria do áudio visual se achava num estágio mediano de desenvolvimento. Clint Eastwood enfatiza este fato, fazendo a heroína seguir pelo rádio a primeira cerimônia de premiação da Academia. O rádio era, na verdade, o principal meio de comunicação de massa e o herói coadjuvante do drama era um pastor presbiteriano (John Malkovich) que mantinha um programa diário durante o qual desancava a corrupção e a violência policial: um embrião, portanto, dos tele pregadores que continuaram até hoje navegando com sucesso nas mídias eletrônicas. O diretor também destaca este aspecto, mostrando uma emissora de rádio instalada nos fundos do templo. Mas também sublinha a eventualidade do vilão, sobre o qual não podemos comentar quase nada para não entregar o desfecho, pertencer ao credo católico. Longo demais (140 minutos), filme é instrutivo, vibrante, dotado de uma fluência quase líquida na narrativa, mas não tem a marca autoral de Eastwood e nem é mais original dentre aqueles que ele tem dirigido nos últimos anos. Note-se, por exemplo, o excesso de personagens épicos, isto é, que não assumem função dramática, mas apenas descritiva, como o advogado S.S. Hahn (Geoff Pierson) e o próprio reverendo radiofônico Briegleb. E, como exemplo, o casuísmo quase amadorístico da cena em que a protagonista se encontra prestes a tomar um eletrochoque no manicômio, quando é salva por eles, no último segundo. Exatamente como acontecia nos seriados de Tom Mix, aliás, mencionado por um dos personagens: uma coqueluche nas matinées da época.

Raridade: a TV Globo exibe "Bendito Fruto", um filme decididamente anti Globo

Não ficou bem claro porque motivo, a Globo escolheu programar para esta quinta-feira o filme Bendito Fruto, num "festival brasileiro" ao lado de outros hits com a cara da emissora, como A Grande Família, Ó paí ó e O Coronel e o Lobisomem . Apesar da reduzida bilheteria que teve em 2005, este filme é bem superior aos demais e faz boas piadas ridicularizando a própria TV Globo. Com Bendito Fruto, o documentarista carioca Sergio Goldenberg iniciava uma carreira como realizador de filmes de ficção. Aparentemente, é uma comédia romântica que focaliza gente de classe média, no bairro de Botafogo no Rio de Janeiro. Sem o charme de Ipanema e Copacabana, esse bairro é mais próximo do centro da cidade, com uma paisagem e uma arquitetura geralmente ignorada pelos cartões postais. Mas aqui ele aparece por inteiro, até no gestual de seus moradores, graças à capacidade de observação do diretor.

Goldemberg consegue captar um microcosmo brasileiro, em que a telenovela faz parte do cotidiano das pessoas e, de certa forma, se mistura com as suas próprias vidas. Especialmente no Rio de Janeiro, onde mora a maior parte dos astros e estrelas de novela. O mérito maior do filme é a ironia da trama, que resulta numa divertida paródia do universo narrativo das novelas. O comediante Otávio Augusto (foto acima) interpreta um cabeleireiro que vive um esdrúxulo triângulo amoroso, com uma antiga colega de escola e a sua própria cozinheira. Esta é vivida por Zezeh Barbosa (acima com Otávio), prêmio de melhor atriz no festival de Brasília, junto com Lucia Alves, do mesmo filme, que foi escolhida como melhor coadjuvante. Resumindo, além de uma história leve e inteligente, Bendito Fruto oferece a excelência de um elenco, do qual também faz parte a bela figura de Camila Pitanga.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Com "Bolt o Super Cão", a produtora Disney prossegue em sua trajetória de superação




Esta é a melhor animação de longa metragem lançada depois de Ratatouille, que muitos críticos consideram o melhor filme de 2007. Bolt Super Cão é o 47º desenho animado produzido pela Disney e tem direção de Byron Howard e Chris Williams, que estiveram envolvidos com Chicken Little e Lilo & Sitch e que agora conseguem um resultado muito superior. Bolt é um "cachorro de TV", como foram antigamente Lassie e Rin-Tin-Tin, mas não sabe disso. Nunca saiu do set, onde grava uma série de grande sucesso. Pensa que tem super poderes e vive para proteger a sua jovem dona, assim como o seu personagem. Um dia, por acaso, ele sai do estúdio que é o seu lar e o seu cativeiro e se encontra solto em plena rua. Mas continua agindo como super cão, até desabar na realidade, por meio do contato com uma gata de rua e de um hamster fanático por séries de televisão. Mesmo assim, prossegue procurando a dona, que julga ter sido raptada pelo vilão da série. Ou seja, mesmo sem qualquer poder especial, o protagonista preserva a nobreza de caráter e sua condição de herói. Só isso já bastaria para dotá-lo de charme e interesse.
No melhor estilo road movie, até o fim do filme, ele vive a experiência, ao mesmo tempo dolorida e prazerosa, de aprender a ser um cachorro comum. E justamente por isso poderá alcançar o seu objetivo como personagem. Alguns vêm no roteiro, uma narrativa de superação, bem ao estilo tradicional da Disney, com Pinóquio como paradigma. Outros associam esse esquema ficcional a O Show de Truman, em que Jim Carrey interpretava alguém que igualmente crescera dentro de um estúdio e não tinha consciência disso. Mas, na verdade, trata-se de uma continuidade da safra atual de desenhos focalizando animais que foram criados em zoológicos e que entram em contato com os mundos reais da floresta e das selvas urbanas: Madagascar, da Dreamworks, e Selvagem , da própria Disney (foto abaixo).



A essência de todas essas histórias é um diálogo com as idéias de Jean-Jacques Rousseau sobre o “Contrato Social”. Mesmo considerada por ele a única instituição natural, a “família” (a televisão ou o zoológico) desses personagens não os preparou para o mundo, mas para a existência dentro de uma redoma. Esta pode ser complexa e confortável como um estúdio de TV, ou diminuta e sufocante como a esfera de plástico em que vive o hamster do filme.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

"O Dia em Que A Terra Parou" , refilmagem de um clássico pacifista dos anos 50


Em 1951, a primeira versão de O Dia em Que a Terra Parou fazia mais sentido, do ponto de vista político-cultural. O filme funcionava como um alerta à humanidade, ainda transtornada pela primeira utilização militar da bomba atômica ocorrida apenas 6 anos antes. Mas, nos dias de hoje aquele significado se perdeu porque, depois do fim da Guerra Fria, a Terra já parou várias vezes e não se resolveu nada. Parou com o 11 de setembro, com as catástrofes de Louisiana e de Santa Catarina, mas ficou tudo por isso mesmo. Sob a direção de Robert Wise, o célebre montador de O Cidadão Kane, um alienígena assume uma forma humana para tentar convencer os líderes mundiais a estabelecerem a paz em definitivo (foto no topo). Desembarca em Washington e recebe de volta a proverbial agressividade e o costumeiro preconceito dos humanos. A conclusão foi que a Terra precisava ser salva. Não para os humanos, mas dos humanos.


Como de hábito, na ficção científica tradicional, os extraterrestres eram antropomórficos. E isso nada tinha a ver com os baixos orçamentos, porque o mesmo procedimento vem acontecendo até nos filmes milionários de Steven Spielberg, como Contatos Imediatos e E.T. A raiz desse procedimento reside nas bases bíblicas da civilização judaico-cristã: muito antes do Espírito Santo se fazer homem, um anjo já recorrera à aparência humana para lutar fisicamente com Jacó. Aliás, essa luta se repete na refilmagem (estréia em 9/1/2009) com Keanu Reeves enfrentando um personagem do mesmo nome: o filho pequeno da cientista vivida por Jennifer Connelly − encarregada de provar que o ser humano merece mais uma chance (foto acima à esquerda). Em ambas as versões, não apenas o emissário das galáxias, como também o seu robô destruidor têm formato de gente, a não ser por uma janela que solta raios, colocada em lugar dos olhos. O roteiro desta adaptação dirigida por Scott Derrickson (O Exorcismo de Emily Rose - 2005) preserva a estrutura do original, mas as sublinha as três armas empregadas para demover o anjo exterminador de seus propósitos mortais: a música de Bach, a inteligência de um matemático e o amor de uma mulher por seu filho adotivo.