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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"Clássicos Sci-Fi", box com 6 clássicos de ficção científica, chega a seu 3º volume


Capa da mais nova edição da coleção lançada pela Versátil Filmes

Se existe um tipo de espetáculo cinematográfico que evoluiu de modo impressionante nos últimos tempos é, sem dúvida, o gênero da ficção científica. É inegável o resultado das transformações na tecnologia de produção de imagens. Uma parcela importante do público, entretanto, se lembra com saudade dos clássicos daquele gênero cuja criatividade, associada a certa ingenuidade narrativa, compensavam a ausência dos recursos atuais.
Acaba de ser lançada a "Clássicos Sci-fi Vol.3", 3º volume de uma coletânea de clássicos do cinema de ficção científicas, com 3 DVDs que reúne 6 cultuados filmes, incluindo versões inéditas e restauradas e contendo uma hora e meia de extras, com documentários e entrevistas. No primeiro disco temos "Repo Man - Onda Punk" (cujo trailer pode ser visto acima), de 1984. O diretor é o inglês Alex Cox que, em 1986, ganhou o prêmio da crítica na Mostra Internacional de São Paulo, com o filme “Sid e Nancy”, sobre o baixista da banda inglesa Sex Pistols. “Repo Man” é o papel de Emilio Estevez, um jovem cujo trabalho é recuperar carros que não foram pagos. Ele conhece um cientista louco que sequestrou alienígenas. 


Cena do filme "Colossus 1980"


Nos anos de 1970, a ideia da inteligência artificial alimentava filmes que se nutriam do receio quanto ao futuro da tecnologia. É o caso de "Colossus 1980", obra que o detentor de vários prêmios Emmy Joseph Sargent fez em 1970. Para evitar novas guerras, o governo dos EUA oferece a um supercomputador o controle total sobre suas armas nucleares. Mas o resultado não deu certo. Trata-se de um bom exemplo desse subgênero que é o do “computador fora de controle”.  

Cena do filme "Fase IV: Destruição"

Na década de 1970, um dos mais admirados artistas gráficos que atuavam no cinema era Saul Bass. Ele cuidou, por exemplo, do design da obra prima de Hitchcock “Um Corpo que Cai”. Nesta caixa de DVDs ele apresenta "Fase IV: Destruição", de 1974. Uma dupla de cientistas investiga os efeitos de um fenômeno cósmico que pode ter transformado as formigas do deserto em criaturas inteligentes. O título foi cultuado nos anos de 1970, no entanto o que mais o distingue é ter sido único longa dirigido por Saul Bass.  
Outra curiosidade é "Pânico no Ano Zero", de 1962, dirigido por Ray Milland. Ele trabalhou como ator em mais de 170 filmes e ganhou o Oscar em 1945 por “Farrapo Humano”. E neste longa foi um dos seus raros longas-metragens como diretor. É também um dos primeiros filmes pós-holocausto da história do cinema. Para sobreviver, uma família sai de Los Angeles, pouco antes de uma bomba nuclear destruir a cidade.
Um dos exemplos mais típicos da ficção científica clássica é "Daqui a Cem Anos" – o famoso “Thingsto Come”, de 1936, dirigido por William Cameron Menzies. A narrativa se estende de 1940 a 2036, abordando a história da humanidade destruída pela guerra e reconstruída pela ciência. O roteiro foi escrito pelo próprio autor do livro, o lendário H. G. Wells, criador de “Guerra dos Mundos”. Também faz parte dessa coleção, o divertido filme B de Roger Corman "O Emissário de Outro Mundo", sobre um alienígena enviado à Califórnia, para extrair o sangue dos humanos. 

"É Apenas o Fim do Mundo", de Xavier Dolan, é um dos melhores filmes do ano


Gaspar Ulliel é o protagonista do novo longa do diretor canadense

Neste ano, lá em Cannes, o filme “É Apenas o Fim do Mundo” ganhou o Grande Prêmio do Júri, que equivale a um segundo colocado na disputa pela Palma de Ouro. O jovem diretor Xavier Dolan, de 28 anos, ficou inconformado com o fato de alguns membros do júri terem preferido o filme “Nascido Para Lutar”, com Sylvester Stalone. Para ele é isso o que significa, na verdade, o fim do mundo.

Acima de tudo, o cineasta franco-canadense Xavier Dolan é apaixonado por Marion Cotillard. A paixão do controvertido autor de “Eu Matei Minha Mãe” por esta que é, de fato, uma das mais talentosas atrizes francesas do momento é tão grande que, para contracenar com ela, ele convocou outros nomes de primeira grandeza no cinema francês atual: Vincent Cassel e Lea Sidoux. Sem falar da célebre Natalie Baye, uma das preferidas de François Truffaut, que já atuou em 99 filmes. O protagonista, porém, não é nenhuma dessas estrelas, mas o emergente Gaspar Ulliel, que vimos recentemente na pele de Yves Saint Laurent.

O detalhe é que todos personagens se acham em cena durante o filme inteiro e sempre com a lente da câmera colada em seus rostos. São raras as cenas em que os intérpretes são filmados de corpo inteiro, de modo que Dolan pratica o que poderia ser chamado de uma dramaturgia do olhar ou, melhor dizendo, da expressão facial. Os diálogos dizem muito, em função mesmo do roteiro: um escritor não vê a mãe e os irmãos há 12 anos. Ao se saber contaminado pela AIDS, ele vai visitá-los para comunicar que está prestes a morrer. A intensidade das conversas é tanta que, numa das passagens mais longas e contundentes, o diretor decide filmar Gaspar Ulliel e Vincent Cassel de costas.

Marion Cotillard encena uma das cenas mais belas do cinema recente

Há alguns poucos flashbacks, mas é no confronto direto entre personalidades tão distintas que o filme se constrói. Ulliel interpreta um dramaturgo bem sucedido que deixa para trás o provincianismo de sua terra natal e de seus parentes. Cassel, é o irmão recalcado e embrutecido, Sidoux, a irmã reprimida e viciada em drogas e Baye a mãe alienada pela ausência do marido. A única figura que se comunica humanamente com o personagem central é Cotillard, responsável por um dos diálogos mais tocantes do cinema atual – até porque as falas se colocam sempre na contra mão dos olhares. “É Apenas o Fim do Mundo” acaba de chegar ao mercado, mas, desde já, tem seu lugar reservado entre os melhores da temporada. 

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 25 11 2016


Xavier Dolan dirige cena de "É Apenas o Fim do Mundo", melhor filme desta semana

É possível que o mercado das salas de cinema esteja começando a se auto regular, porque nesta semana temos apenas cinco filmes novos. Mas essa aparente racionalidade talvez seja apenas fruto da prudência diante do principal concorrente que é "Animais Fantásticos e Onde Habitam"Líder absoluto de bilheterias no Brasil, em seu primeiro final de semana em cartaz,o filme já foi visto por mais de 1,3 milhão de pessoas. Para enfrentá-lo, o cinema brasileiro escalou uma cantora apelidada de Pimentinha.

Com direção de Hugo Prata, apoiado por um elenco que tem Caco Ciocler e Gustavo Machado,o filme “Elis” é protagonizado por Andreia Horta, no papel daquela que foi a mais importante e mais querida cantora brasileira dos últimos tempos. O filme ganhou o prêmio de público no último Festival de Gramado e, neste que é o seu primeiro longa, o diretor traz como credencial o fato ter sido diretor da premiada serie de TV “O Castelo Ratimbum”. 

Alguns críticos, no entanto, não aprovaram o roteiro assinado por Vera Egito e Luis Bolognesi, por ser demasiadamente didático e linear. Ou seja, por ter reproduzido a biografia da cantora de maneira simples, um tanto burocrática – no sentido de ter dado importância aos seus cacoetes para caracterizá-la, como a abertura do sorriso e o movimento frenético dos braços. Mas observações como esta não derrubam a qualidade do filme que, em menos de duas horas, conseguiu sintetizar uma biografia tão rica como foi a de Elis Regina.

No campo do cinema internacional, a maior atração é Tom Cruise, do personagem título de “Jack Reacher: Sem Retorno”. Mais uma vez, ele interpreta um herói solitário dedicado a desvendar uma conspiração que envolve a sua trajetória. Ele é um militar que retorna à base onde serviu e lá encontra uma amiga presa, acusada de ter vazado informações confidenciais do exército.

O diretor é o talentoso Edward Zwick, premiado pelo Oscar por seu trabalho em “Shakespeare Apaixonado” de 2003. E assinou 22 títulos como diretor, alguns deles de ação como “O Último Samurai” também de 2003. 

Mas o melhor lançamento da semana tem como título "É Apenas o Fim do Mundo"do canadense Xavier Dolan, baseado na peça “Juste la fin du monde” de Jean-Luc Lagarce. O filme mereceu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes neste ano. O elenco é todo formado por estrelas do cinema francês, como Vincent Cassel, Marion Cotillard e Léa Seydoux; além do protagonista Gaspard Ulliel, que vimos recentemente no papel de Yves Saint Laurent.

Após doze anos de ausência, um escritor volta a sua cidade-natal, com a intenção de anunciar para a família a morte que se aproxima. Mas a reunião familiar não acontece conforme o planejado...


Estreia também um filme de horror dos mais costumeiros, ainda que o seu diretor seja o DJ Caruso, um especialista na modalidade. Chama-se “O Quarto dos Esquecidos”. Esquecidos... Assim como será o filme muito em breve.
Impossíveis de serem esquecidos, na verdade, são os filmes de Brian de Palma, cuja voz estamos ouvindo na trilha do filme chamado “De Palma”. Trata-se de um documentário sobre ele e sua obra, dirigido pelo nova-iorquino Noah Baumbach, que recentemente fez o bem sucedido “Frances Ha”

Trata-se de um raro caso de documentário desenvolvido na primeira pessoa. Porque é o próprio cineasta que vai conduzindo essa exibição da vida dele e da sua própria obra. Tendo como matéria prima os filmes que ele fez, como “Carrie, a Estranha”, “Vestida para Matar”, “Um Tiro na Noite”, “Dublê de Corpo”, “Os Intocáveis” e tantos outros. 

"Snowden" é preciso na descrição dos fatos mas falho quanto a sua dramaturgia


Joseph Gordon-Levitt vive o ex-agente da CIA Edward Snowden 

Deste os tempos de Aristóteles que, lá no século 4 a.C., foi um primeiros sábios a teorizar sobre a mecânica da dramaturgia, os que escrevem sobre personagens em conflito sabem que os espectadores preferem acompanhar aqueles que têm uma trajetória clara e definida. Os escritores podem variar em torno desse princípio e os críticos até aplaudem quando um autor consegue fugir dessa linha e, mesmo assim, fazer um filme interessante. Mas o público, sem dúvida, prefere se envolver com uma narrativa em que se conhece e se compreende o objetivo do protagonista.

É justamente nesse aspecto que se questiona “Snowden – Herói ou Traidor”, o filme mais recente de Oliver Stone - aquela celebridade premiada com Oscars por “Platoon” e “Nascido a 4 de julho. Ao longo de sua história como realizador, é fácil notar que ele tem preferência por obras construídas em torno de personagens fortes, ou seja, figuras cuja meta todos identificam facilmente – não apenas o espectador, mas todos os seus contemporâneos.

Assim, em “Poder e Cobiça”, Gordon Geko só pensava em ganhar dinheiro, muito dinheiro. É evidente que “Nixon” e George Bush do filme “W” fariam de tudo para se manter na presidência da republica. Por sua vez, “Alexandre” queria dominar o mundo – aliás, por coincidência, aquele conquistador era uma figura muito ligada ao próprio Aristóteles, de quem ele foi aluno. E que, no filme “Alexandre”, de 2004 foi interpretado por Christopher Plummer.


O diretor Oliver Stone (último à direita) dirige seus atores em cena de "Snowden"


Essa preocupação dos roteiristas de cinema em deixar evidente e bem explicada a intenção dos protagonistas talvez tenha alcançado o auge no gênero do faroeste. No recente “7 Homens e Um Destino, por exemplo, a maior parte do tempo é gasta na descrição dos motivos de cada um dos 7 pistoleiros em participar da batalha que só acontece nos momentos finais. No filme “Snowden”, com certeza o personagem central não tem o tipo físico de caubói, mas de um “nerd” tímido e introvertido. Mesmo assim se esforça para ser aceito no exército e ser escalado para combater no Iraque. Mas seu talento para informática lhe abre as portas da CIA, onde vai trabalhar como espião, assim como todos os seus colegas.

Sem o menor talento para James Bond, ele vai se aprofundar em criptologia, desvendando códigos e algoritmos para combater os hackers a serviço da China, da Coria do Norte e demais países perigosos para os Estados Unidos. Quando ele descobre que as nações amigas, como o próprio Brasil, também estão espionadas, ele então vira a mesa e revela tudo para a imprensa mundial. E nós espectadores? O que fazemos com o resto do filme? Como se explica aquela ascensão de meteoro se, o rapaz não tivesse provado a sua fidelidade ao sistema? Em suma, em “Snowden – Herói ou Traidor” Oliver Stone descreve os fatos com precisão mas não nos explica direito, em termos de dramaturgia, porque eles aconteceram.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

"A Rede" mostra olhar crítico de Kim Ki Duk sobre as Coréias, o capitalismo e a democracia


Cena do acre drama de Kim Ki Duk, bem recebido na Mostra de SP desse ano

Aos 56 anos, o cineasta sul coreano Kim Ki Duk é um dos criadores mais importantes do cinema oriental. Nesta 40ª Mostra, ele nos apresentou um filme de grande impacto humano e político: “A Rede”. Deverá ser um dos 24 sucessos que ele obteve em sua carreira, durante a qual colecionou 48 prêmios em festivais internacionais - dos quais se salientam Berlim, Cannes, Veneza e Chicago. Menos de meia dúzia, porém foram lançados comercialmente no Brasil, como “O Arco”, “Casa Vazia” e “O Amor Contra a Passagem do Tempo”


Neste filme mais recente, Kim Ki Duk surpreende ao narrar um drama tão doloroso quanto imprevisível. Um humilde pescador vive na Coreia do Norte, á beira de um lago que a separa da Coreia do Sul. Mora em ma casinha paupérrima e só tem de seu um decrépito barquinho movido a motor de popa. Um dia a rede de pesca fica presa na hélice, o motor enguiça e ele vai parar no território da Coreia do Sul.

Depois de capturado, o pescador é detido e tratado como se fosse um espião. Enviado para a capital do país, a moderna e progressista Seul, ele se recusa a até mesmo abrir os olhos. No trajeto em direção à policia, ele tem medo de ver qualquer coisa que mais tarde o incrimine. Seu medo é ser suspeito de espionagem, mas é exatamente isso que acontece em seguida. Por azar, pouco tempo antes os sulistas tinham capturado um nortista que fingira ter se convertido ao regime de Seul, causando constrangimento às autoridades locais.



O diretor Kim Ki Duk ostenta seu Leão de Ouro do Festival de Veneza

Mesmo assim, elas insistem para que o pescador “se converta” à ideologia democrata. Mas ele se recusa porque, para isso, seria necessário abandonar a esposa e a filha na Coreia do Norte. Aí se inicia um processo de tortura física e psicológica extremamente cruel, no qual ele luta para manter a sanidade mental e se escandaliza com determinas coisas que observa no país vizinho, como a prostituição e o desperdício de bens e riquezas de todo o tipo.

Nesta parte do filme o protagonista critica o capitalismo e a democracia, mas ao regressar para o norte, depois de uma campanha promovida pela imprensa sulista, ele terá a oportunidade de sentir na carne a rigidez em vigor na sua terra natal. Em termos estruturais, o drama narrado em “A Rede” lembra o primeiro artigo acadêmico escrito em 1945, pelo sociólogo Florestan Fernandes. Contava a triste história de Tiago Marques Aipobureu, um índio bororo que ao retornar à tribo, após habituar-se com o modo de vida urbano e ocidentalizado, não foi mais aceito pela comunidade.

"O Martírio" e "O Mestre e o Divino" abordam o cotidiano e a história de comunidades indígenas


Cena do documentário "Martírio", aplaudido em Berlim

No recente Festival de Brasília, o documentário “Martírio de Vincent Carelli foi várias vezes aplaudido em cena aberta, mas ganhou apenas um Prêmio Especial do Júri. Isso pode não significar muita coisa, mas assume grande importância, se entendermos que os jurados não quiserem premiar este ou aquele aspecto desse documentário – fotografia, roteiro, pesquisa etc – e preferiram premiar o todo, isto é, o conjunto daquela obra monumental de 2 horas e 40 minutos assinada por Vincent Carelli - aliás premiado pelo filme “Corumbiara” em Gramado, no ano de 2009.

“Martírio” é considerado monumental, porque aborda a trajetória dos Guarani Caiová, desde o início da trágica história de seu relacionamento com os brancos, ainda no tempo do Marechal Rondon. Mas essa dimensão totalizante do filme desperta curiosidade acerca das outras histórias, provavelmente mais curtas e não menos interessantes, que devem ter marcado todo esse longo processo. Devem ter acontecido muitas. E algumas podem ter sido filmadas, porque faz tempo que os índios vêm registrando a sua experiência por meio do audiovisual. Uma das mais interessantes poderá ser vista agora.

No dia 17 de novembro foi lançado um primoroso documentário que é “O Mestre e o Divino”, do antropólogo mineiro Tiago Campos, todo filmado no projeto Vídeo nas Aldeias. No mesmo filme, outros dois cineastas retratam o cotidiano na aldeia e na missão de Sangradouro, no Mato Grosso: são eles Divino Tserewahú e Adalbert Heide, um dedicado missionário católico alemão. Logo após o contato inicial com os índios, em 1957, esse missionário começou a filmar tudo o que via na aldeia com sua câmera Super-8. E assim construiu um precioso acervo histórico de imagens e sons impressionantes e absolutamente inéditos, que poderemos admirar nesse filme.

Por sua vez, um jovem cineasta Xavante chamado Divino Tserewahú, vinha produzindo vídeos para a televisão e festivais de cinema desde os anos de 1990. O interesse maior de “O Mestre e o Divino” está no surpreendente relacionamento entre os dois. Professor e discípulo, eles competem entre si diante das lentes de um terceiro cineasta que é o Tiago Campos. Brincam um com o outro, trocam ironias e até críticas. Dessa forma, eles dão vida a seus registros etnográficos, revelando bastidores comoventes e bem humorados da convivência com os índios no Brasil. Não perca “O Mestre e o Divino”. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Usando de magia ao invés da força física, "Doutor Estranho" chega ao cinema


Benedict Cumberbatch interpreta o mago nesse novo filme da Marvel

O Doutor Estranho é um herói de quadrinhos que já estreia nos cinemas esbanjando aquilo que poderíamos chamar de “pedigree”, ou seja, uma linhagem de nobreza que o permite se destacar entre os seus pares. Foi criado pelo mesmo Stan Lee que deu a luz a figuras como o Homem Aranha, o Thor, o Homem de Ferro, o Incrível Hulk, o Quarteto Fantástico, o Surfista Prateado, o Demolidor, o Homem – Formiga - isso para mencionar apenas os mais conhecidos e publicados.
Agora com 94 anos de idade, Stan Lee continua aparecendo em pequenas pontas nos filmes dos quais as suas criações participam – como é o caso desta mega produção com estrelas do porte de Tilda Swinton, Mads Mikelsen e Rachel McAdams. O que caracteriza mais claramente essa dinastia à qual pertence o Dr. Estranho é o fato de ele trabalhar mais com a magia do que com a força física. Ele se inclui, portanto, naquele grupo de tipos aos quais pertencem Harry Potter, Obi Wan Kenobi, John Constantine, Mandrake, o Mago Merlin e até um feiticeiro homônimo do século XIX: Jonathan Strange, protagonista de uma bem sucedida série da TV inglesa em 2014, em que um mágico de nome Strange ajuda o Marechal Wellington a enfrentar Napoleão. 

A lendária Tilda Swinton (acima) interpreta a "Anciã" no longa de super-herói

Mas o que distingue mesmo esse figurão interpretado pelo mesmo Benedict Cumberbatch de “O Jogo da Imitação” é o fato de usar uma capa, assim como Thor, Batman, Super Homem e tantos outros. Com todo o respeito à senioridade do ancião Stan Lee, entretanto, a capa do Dr. Estranho parece ter sido inspirada naquela que foi criada em 1997, pelo desenhista canadense Todd McFarlane, e destinada ao uso do personagem Spawn, também chamado “a cria do inferno”. Além de uma simples peça de vestuário, aquela capa é de fato um personagem à parte, com vida e vontade próprias, e que interage com o seu usuário. Como vemos em algumas cenas...

O enredo de Dr. Estranho não traz qualquer novidade: ele é um neurocirurgião orgulhoso e arrogante que sofre um acidente e perde a mobilidade das mãos. Ao buscar uma cura num monastério em Katmandu, ele tira o seu doutorado em magia e volta para salvar o mundo ocidental de uma ameaça mística fabricada em outra dimensão. Quem de fato ajudou na área criativa de Dr. Estranho foi a cenografia de “A Origem”, filme de Christopher Nolan. Ele que naquela obra filme traduziu para a linguagem do cinema os trocadilhos visuais do desenhista holandês Mauritz Escher.

À esquerda, cena do filme "Doutor Estranho"; à esquerda, uma famosa obra de Escher

Outros destaques dos filmes estreantes na semana do dia 10 11 2016


Cena do filme anti-racista "O Nascimento de uma Nação"

Hoje continuamos a comentar os lançamentos de filmes novos nesta semana. Um dos méritos da 40ª Mostra de cinema foi a abundância das várias cinematografias e grandes obras do passado. Provavelmente em função desse novo interesse que é mundial, o mercado de Hollywood decidiu refilmar este que é um dos clássicos mais importantes da história: "O Nascimento de uma Nação".
O filme original foi feito em 1915 ainda, portanto, na época do cinema mudo. Seu diretor David Griffith foi aclamado por ter praticamente criado a linguagem do cinema com este filme: ele introduziu os closes, a ação paralela, as panorâmicas e demais movimentos de câmara, além dos principais elementos da técnica da montagem. No entanto trata-se de uma história de inspiração racista, em que os membros da Ku Klux Klan eram os heróis.

Mas agora o ator e produtor Nate Parker decidiu refilmar essa mesma história, evidentemente numa leitura anti-racista. Infelizmente, porém, apesar de bem aceito no Sundance Festival, o filme teve uma recepção fria e apenas mediana por parte do público e da crítica nos Estados Unidos – o que talvez já seja um sinal dos novos tempos. 
O que talvez diga alguma coisa sobre os o mundo em que vamos viver é o drama de suspense “Invasão de Privacidade”. Pierce Brosnan faz o papel de um empresário, cuja filha começa a ser assediada por um técnico em informática. Extremamente hábil, esse rapaz já tinha trabalhado para a NSA, que é o maior órgão técnico de criptologia e espionagem do mundo. Era, portanto um colega de George Snowden e, assim, será muito complicado para o personagem de Pierce Brosnan se livrar dele, nessa trama que parece ser uma espécie de “Instinto Selvagem” com o sinal trocado. 
Dirigida pela competente Rebecca Miller, estreia a comédia “Maggie Tem um Plano”, com um belo elenco liderado por Ethan Hawke, Julianne Moore e pela estrela de “Frances Há” Greta Gerwig. A jovem Maggiese esforça para sobreviver sozinha na cidade de Nova Iorque. Para complicar, ela pretende ter um filho, criando-o por conta própria. Mas o que complica mesmo é que ela se envolve com um homem casado. E isso promete atrapalhar todo o seu plano. 
“Quando o Dia Chegar” é um drama dinamarquês sobre adolescentes num orfanato. O roteiro se passa nos anos de 1960 e, portanto, o tema central são a injustiças e os abusos pelos quais passam os jovens internos. O diretor Jesper Nielsen tem muito prestígio em seu país e já coleciona 8 prêmios ao redor do mundo.

Conhecido em vários festivais internacionais, inclusive em Cannes, o marroquino Nabil Ayoucha presenta “Much Loved”, sobre quatro prostitutas que se associam para montar uma família improvisada – o que naquele país parece ser uma tarefa quase impossível.

Houve um tempo em que filmes do gênero deste – “Horizonte Profundo - Desastre no Golfo” eram muito apreciados, provavelmente porque e emoção já se achava instalada no DNA do enredo. Era o chamado “disatermovie”. Este é bastante caprichado, dirigido por Peter Berg, que é especializado no gênero. E o elenco ajuda, com as presenças de Mark Wahlberg e Kurt Russell. Baseada em fatos reais, a história se passa no Golfo do México, durante um desastre numa plataforma de perfuração marítima de petróleo. 

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 10 11 2016


"Pequeno Segredo" estreia envolto de polêmicas de cunho político

As estreias da semana nos cinemas trazem algumas atrações de certo modo polêmicas. “Pequeno Segredo” do gaúcho David Schürmann ganhou destaque por ter sido o título brasileiro indicado para concorrer ao Oscar. Houve muita discussão política na época, porque o favorito era “Aquarius” de Kleber Mendonça Filho. Estreia também “Snowden - Herói ou Traidor?”, de Oliver Stone, que mostra uma postura crítica em relação ao governo da administração Barack Obama. 

Em 2013, um funcionário da CIA chocou a opinião pública mundial ao revelar, por meio da imprensa, a prática ilegal de espionagem promovida pelo governo norte-americano. No filme “Snowden - Herói ou Traidor?”, Oliver Stone traça um retrato daquele técnico em computação e mostra os motivos que o levaram a tomar essa atitude extrema. Atualmente Snowden vive refugiado na Rússia.

Oliver Stone adota uma linha quase documental e objetiva para narrar os fatos que, por si só, já se mostram eloquentes. O mesmo pode ser dito da atuação de Joseph Gordon-Levitt no papel do jovem especialista em informática, para quem a pressão do trabalho que exercia se mostrou demasiada – assim como a voz de sua própria consciência.

Algum tempo antes de seu lançamento, o filme “Pequeno Segredo” foi arrastado para uma pequena batalha ideológica, sem que o conteúdo da obra tenha alguma coisa a ver com política. Trata-se de um melodrama puro sangue. Por força mesmo dos seus temas mais importantes, sobre os quais não se pode dizer muita coisa – sob pena de estragarmos uma surpresa que, aliás, consiste na essência do projeto.

Aspecto central do roteiro é o seu lado autobiográfico. O seu autor é o atual chefe da primeira família brasileira a dar a volta ao mundo a bordo de seu próprio veleiro – e que registrou a proeza num documentário especialmente bem realizado. Na história filmada, porém, a figura mais importante e também protagonista da história é Heloisa – interpretada com entrega e sensibilidade por Julia Lemertz. Até porque o drama fundamental se desenvolve num relacionamento entre mãe e filha. A produção impressiona pela beleza e precisão das imagens. Mas também pela concisão dos diálogos que evitam o dramalhão em que o filme poderia ter desabado.
Aos 76 anos, Walter Lima Jr. permanece honrando o seu passado como um dos líderes do movimento inovador do Cinema Novo. Ou seja, ele continua dirigindo obras de alto nível e forte personalidade, como a mais recente “Através da Sombra”, baseada numa novela de Henry James, escritor americano naturalizado inglês e falecido há 100 anos.

Seguindo uma linha de inclinação poética que ele já experimentou em obras anteriores
ele constrói um drama intimista e cheio de mistério. Trata-se de um espetáculo de época, ambientado numa fazenda de café do século XIX, que abriga uma narrativa de mistério. Como sempre Walter Limareúne um elenco de alta qualidade, desta vez com Domingos Montagner, Ana Lucia Torree Virginia Cavendish, que é aprotagonista e também produtora do filme.

Os filmes lançados no circuito comercial de SP na semana iniciada em 03 11 2016


Cena do filme "Canção da Volta", brilhantemente estrelado por Marina Person

Após o encerramento da 40ª Mostra, o mercado exibidor de filmes novos regressa ao seu ritmo normal de obras importantes, estreando ao lado de outras bem menos expressivas. Mas, talvez por influência da proximidade do Festival internacional de cinema, o nível dos títulos lançados nesta semana se mostra acima da média.
Destaca-se a novíssima cinematografia brasileira. A começar pelo documentário “Cinema Novo” dirigido por Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha. A obra se apresenta como um ensaio poético, ou seja, um olhar aprofundado, ou um retrato íntimo daquele movimento que colocou o Brasil no conjunto do cinema mundial.

Repleto de imagens e depoimentos inéditos, o filme contou com o apoio dos herdeiros dos principais realizadores do grupo, como Joaquim Pedro, Gustavo Dahl e Paulo Cesar Saraceni, além de Luis Carlos Barreto, Carlos Diégues e Nelson Pereira dos Santos. Trata-se de um obra indispensável para a compreensão da nossa história

Uma das surpresas do documentário “Cinema Novo” foi o fato do diretor Eryk Rocha ter incluído naquele movimento a figura do paulista Luis Sergio Person e seu filme, o clássico “São Paulo SA”. Agora, 80 anos depois de seu nascimento e 40 depois da morte, a filha Marina - amplamente conhecida como apresentadora de TV, roteirista e até diretora - se consolida como atriz de cinema. 

Após dirigir "Califórnia", Marina Person estrela “Canção da Volta”, numa referência a uma comovente composição de Dolores Duran. A direção é de Gustavo Rosa de Moura e o elenco conta com a presença de João Miguel e Marat Descartes. Mas a grande figura em cena é da própria Marina Person, num trabalho de impressionante densidade dramática.
Extremamente triste e cruel é o documentário “Curumim”, que tem direção de Direção Marcos Prado. O filme documenta as últimas horas de Marco Archer, um cidadão brasileiro que foi condenado à pena de morte por tráfico de drogas, após ser capturado pela polícia tailandesa na Indonésia.
Desde “O Complexo de Portnoy” lançado no final dos anos de 1960, o nome do escritor Phillip Roth é lembrado pelos produtores de filmes, como um autor cujos textos sempre funcionam bem ao serem adaptados para o cinema. Esse é um hábito, aliás, que deveria ser seguido mais frequentemente pelos produtores brasileiros e que traria para nós um acréscimo de qualidade. Agora é lançado “Indignação”, roteiro baseado em livro de Roth e que tem a direção de James Schamus – o prestigiado produtor de filmes como O “Segredo de Brokeback Mountain”. “Indignação se passa em 1951, numa universidade de Ohio, quando um estudante tem problemas com o anti-semitismo.