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segunda-feira, 25 de março de 2013

Quarta feira, dia 27, às 19 horas no MIS-SP, debate após exibição de "Leões e Cordeiros"



LEÕES E CORDEIROSLions for Lambs(EUA – 2007, 92 min. 14 anos) Direção de Robert Redford. Com Tom Cruise, Meryl Streep, Peter Berg,
Andrew Garfield, Michael Peña e Robert Redford.

DEBATEDORES:
Jaime Pinsky (historiador) e Miguel de Almeida (jornalista)

A partir de um mesmo momento histórico, isto é, a chamada Guerra do Afeganistão, o enredo permite observar diferentes formas de pensar a política: como ideologia (uma dupla de jovens combatentes alistados voluntariamente); como estratégia eleitoral ou de conquista do poder (um candidato à presidência da república); como objeto de análise jornalística ( uma repórter que entrevista esse político) ou como matéria de pesquisa científica (um professor universitário e seu discípulo).

Diretor bissexto, Robert Redford vem filmando de um modo cada vez mais sério e engajado em causas públicas. Depois deste, em 2010 ele faria o excelente “Conspiração americana” sobre um erro judiciário que ocorreu no julgamento dos assassinos do presidente Abraham Lincoln. Desde o ano 2000, Robert Redford estava sem dirigir filmes. Foi preciso um processo de convulsão política como o que os Estados Unidos vêm atravessando há décadas, para estimular o ator, militante do cinema independente, ativista de causas humanitárias e mecenas da criação cinematográfica a se colocar novamente na posição de diretor. 

Trata-se de uma obra abertamente intelectual, no sentido que o pioneiro Eisenstein atribuía a esse adjetivo. Um filme que não se ocupa apenas de coisas, porque discute ideias. Não se limita a relatar eventos, mas coloca em questão princípios éticos e morais. No roteiro escrito pelo mesmo Matthew Michael Carnahan de “Intrigas de Estado”, observa-se praticamente uma única ação desenvolvida em tempo real, um único conflito de posturas que ocorre ao mesmo tempo em três pontos diferentes: numa montanha do Afeganistão, no gabinete de um senador republicano e na sala de um professor de ciência política em Berkeley. 

Todos os personagens colocam seus pontos vista com lógica racionalidade, levando-nos a questionar a secular e discutível diferenciação entre as noções de “esquerda” e “direita”. A dualidade contida no título Leões e Cordeiros”ultrapassa – em complexidade de conteúdos e simbolismo – essa tradicional dicotomia originada na Revolução Francesa do século XVIII, quando os representantes da nobreza e do “terceiro estado” escolheram os lugares que ocupariam no salão da Assembleia Nacional. 


Em cada um dos locais de filmagem, há sempre dois personagens em confronto: no Afeganistão, dois jovens universitários que se ofereceram como voluntários para lutar na guerra enfrentam um batalhão de talibãs que os prenderam numa emboscada. Em Washington, o senador Tom Cruise, candidato à presidência da republica, explica para a jornalista Meryl Streep uma nova estratégia militar contra o terrorismo. E na universidade, o professor Redford procura convencer seu melhor aluno a não abandonar o estudo de política. Essas dimensões se articulam num mesmo debate em que se defrontam todas as dúvidas e certezas experimentadas pelos cidadãos americanos e seus líderes, desde Thomas Jefferson. 

O melhor filme brasileiro em cartaz continua sendo “A Busca”, de Luciano Moura


Trata-se de uma produção paulista de qualidade técnica e artística bem acima da média atual. Por trás dos acertos que marcam este projeto acha-se Fernando Meirelles e cuidado com que ele cerca suas realizações. Esta já foi por alguém chamada de “aquele filme argentino feito em São Paulo”. Esse comentário um tanto venenoso, porém, não se encontra totalmente fora da realidade. Assim como geralmente ocorre no cinema argentino, de fato, este longa-metragem de estreia de Luciano Moura não está preocupado em elaborar denúncias, discursos ou teses sobre a nossa realidade social, apesar de se mostrar fiel a ela. Parte de uma proposta dramática simples, mas humana o bastante para manter a nossa atenção em torno de um pai desesperado que parte numa busca frenética, quase alucinada, do filho adolescente que foge de casa. 
Wagner Moura, aliás, sem qualquer parentesco com o diretor – responsável pelas séries televisivas “Antônia” e “Os Filhos do Carnaval” – interpreta com o máximo de entrega esse pai que percorre os mais desencontrados ambientes, seguindo pistas de modo geral inconsistentes, munido apenas de coragem e intuição. O dado de originalidade na historia é que o garoto, sem recursos para fugir de motocicleta ou de automóvel, usa um cavalo como meio de transporte. Quem resumir o enredo do filme poderá considerá-lo simples demais: um médico que sai pelo mundo à procura do filho desaparecido. 
Na verdade, entretanto, essa sinopse é apenas o fio condutor para uma série de pequenos episódios, todos originais e surpreendentes, que formam essa trajetória. Eles funcionam praticamente como um conjunto de curtas metragens, com relativa autonomia uns dos outros, cada um deles montado a partir de personagens fortes e situações inesperadas. É o caso do parto de emergência que o protagonista é obrigado a fazer, ao encontrar um grupo de jovens que acampara perto de uma rave. Ou da briga quase mortal com um camponês que vestia uma camiseta idêntica à que o menino usava no dia da fuga. 
A principal qualidade dessa narrativa, porém, é que o personagem vai se alterando ao longo dela, até o momento final em que ele se encontra capaz de compreender o nó, o pântano em que a sua vida se estacionara. E, portanto, partilhar conosco a essência desse drama que passa ser inteligível por todos nós, ao ultrapassar o limite de uma desgraça pessoal e mostrar a amplitude desse sofrimento que atinge a humanidade por inteiro. Ou seja, o conflito sem fim entre pais e filhos e todas as dores e asperezas – inevitáveis na passagem da infância para a maturidade. No conjunto da encenação, tudo funciona: desde o roteiro de Elena Soarez (“Casa de Areia” e “Eu, tu, eles”) até a cenografia, a música, os figurinos e o trabalho dos coadjuvantes. Com destaque para a sensível Mariana Lima (“Sessão de Terapia”) no papel da mãe, e de Lima Duarte, numa atuação especialmente notável e emocionante.
A BUSCA

Brasil – 2012 – 96 min. – 12 anos
Distribuição: Paris Filmes e Downtown Filmes
Direção: Luciano Moura
Com Wagner Moura, Mariana Lima, Lima Duarte e Brás Antunes
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Hoje às 19:00, no MIS-SP, debate após a exibição de "Tudo pelo Poder" - entrada franca


TUDO PELO PODER
The Ides of March (EUA, 2011, 102 min. 12 anos) - dia 19/03/2013
Direção de George Clooney, com Ryan Gosling, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Phillip Seymour Hoffman, Paul Giamatti e George Clooney.

Melhor roteiro pelo Instituto Australiano do Filme;
Melhor filme pela National Film Board (USA);
Prêmio Brian do Festival de Veneza para o melhor filme em favor
da democracia e direitos humanos.


DEBATEDORES
Edison Nunes - professor de Ciência Politica da PUC-SP
Renato Janine Ribeiro - Professor de Ética e Filosofia Política da USP
Mediação: Luciano Ramos e José Álvaro Moisés
Curadoria: Luciano Ramos


Uma campanha eleitoral vista pelo lado de dentro é o que este drama nos oferece, com todos os percalços que ela pode sofrer numa sociedade democrática, mas complexa como os Estados Unidos. O roteiro assume a aparência de uma “fábula moral”, em que um assessor de um candidato à presidência precisa decidir se sucumbe à próprias ambições profissionais ou se preserva a integridade de sua alma. Em lugar de Mefistófeles que produzia as tentações de Fausto, temos aqui Maquiavel sob a forma de vários personagens. 
O filme é um admirável trabalho autoral de George Clooney, produzido em parceria com Leonardo di Caprio. Além disso, Clooney também escreve o roteiro, dirige e interpreta um dos papéis principais neste drama que tem como tema o maquiavelismo e a desonestidade envolvidos numa campanha presidencial. Ele faz o papel de um candidato democrata, cujo discurso assumidamente populista é cativante demais para ser verdadeiro. Se o nazista Joseph Goebbels afirmava que “uma mentira mil vezes repetida torna-se verdade”, o filme prova que, ao contrário, quando exaustivamente repetida, a mentira torna-se evidente.


O protagonista da história, porém, não é o candidato, mas um de seus mais jovens e idealistas assessores, interpretado por Ryan Gosling (“Drive”, 2011). Durante a maior parte do filme, ele se coloca em conflito com o veterano e pragmático coordenador da campanha vivido pelo craque Phillip Seymour Hoffman (“O mestre”, 2012) e também com personagem de Paul Giamatti (“O ilusionista”, 2006) o calejado assessor de outro político que disputa a indicação pelo partido para concorrer à presidência.

Pode parecer uma reedição do clássico “A Grande Ilusão” de 1949 e refilmado em 2006 com Sean Penn, que aborda um assunto semelhante, mas este “Tudo pelo Poder” discute questões bem mais contemporâneas. Por exemplo, as alianças espúrias e as concessões aos adversários de ideologia, firmadas com o objetivo de chegar ao poder, como o título brasileiro já explicita. No entanto o título original “Os idos de março” sugere com mais precisão o cerne da trama.
Essa expressão tem origem na Roma antiga e significa o dia 15 de março, no qual o demagogo e usurpador Julio Cesar foi assassinado pelos senadores, pondo fim a uma ditadura corrupta e de base populista na república romana. Em suma, o filme propõe uma identificação entre o personagem de Clooney e o astuto manipulador político que foi Julio Cesar. Na verdade, a premissa do roteiro é que os corruptos acabam caindo, mais cedo ou mais tarde, de um modo ou de outro.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Hoje às sete da noite no MIS-SP, debate após a exibição de "Intrigas de Estado".


INTRIGAS DE ESTADO
State of Play (EUA / UK – 2009, 127 min. 14 anos)
Direção de Kevin MacDonald.
Com Russel Crowe, Ben Affleck, Helen Mirren, Rachel McAdams e Jeff Daniels.

Melhor ator para Russel Crowe, pelo Instituto Australiano do Filme
Refilmagem de minissérie inglesa de Paul Abbot agraciada com o Prêmio Edgar Allan Poe, premiada pelo BAFTA e pela Royal Television Society em 2004

DEBATEDORES
Suzana Singer - ombusdman da Folha de São Paulo
Fernando Limongi - chefe do Departamento de Ciência Política da USP
Mediação de José Álvaro Moisés e Luciano Ramos 
A trama narra um caso de tentativa de manipulação de um órgão da grande imprensa por um senador dos Estados Unidos. De forma por vezes insidiosa e outras vezes direta, o filme mostra como esse papel de controle se manifesta por meio das relações de poder. Mesmo afetadas, neste caso as instituições democráticas são visíveis sob a forma de personagens individuais: o protagonista é um repórter que tenta exercer o seu ofício, apesar das dificuldades pessoais e das limitações enfrentadas pela empresa jornalística para quem trabalha.
Sob a aparência de um enredo de suspense premiado pela associação de escritores americanos de mistério, em que um jornalista reedita a figura do típico (anti) herói do drama policial dos anos 1940, o chamado film noir, estamos diante de uma obra estruturada sobre as limitações ao direito à informação que ainda se manifestam – mesmo em países que se consideram democráticos. O filme não se aprofunda na mecânica da ilegalidade governamental de maneira geral, mas tece uma trama muito bem informada e esclarecedora das suas ligações com as diversas esferas da sociedade americana. E, além disso, apresenta um modo pelo qual a imprensa poderia enfrentar um arranjo montado por corruptos de dentro e de fora do estado. O protagonista é um repórter veterano interpretado por Russell Crowe. Ele investiga o assassinato da assistente de um congressista vivido por Ben Affleck e que, por acaso, é seu amigo de juventude. 
Aliás, o desenho desse jornalista neste filme não mistifica a profissão, ou seja, não tenta atribuir-lhe um charme que ela de fato nunca teve, e o coloca sempre pressionado: pelos superiores, como a editora Helen Mirren (preocupada com as vendas) e pelos subordinados, como a redatora novata Rachel McAdams, que adoraria ocupar-lhe o espaço na publicação. Aos pouco ele começa a entrelaçar pistas que o levam a um esquema corporativo montado por políticos, lobistas e assassinos. Quando, porém, o jornalista se aproxima da verdade, ele precisa decidir entre arriscar o emprego e a vida ou se render às conveniências do sistema.
O filme é dirigido pelo competente Kevin MacDonald de “O Último Rei da Escócia”, mas o elemento criativo da equipe é o hábil escritor Tony Gilroy, do já clássico “O Advogado do Diabo”. Este é o seu trabalho mais recente como roteirista e traz em sua carne as cicatrizes ainda abertas da realidade presente. O filme termina com imagens de uma rotativa imprimindo um jornal, mostrando que a trama toda acabou estampada em suas páginas. “Intrigas de Estado” pode ser visto como uma homenagem ao jornalismo e uma escolha ética e estética de elaborar ficção a partir do que se publica (ou deveria ser publicado) nos jornais.

sexta-feira, 8 de março de 2013

"César deve morrer": o cinema dos Taviani trabalha a permanência da tragédia


O cinema não para de se inventar se reinventar. Ao registrar a montagem de uma peça de teatro por um grupo de presidiários, os octogenários irmãos Taviani (“Pai Patrão”, 1977) nos oferecem uma nova reflexão a respeito do sentido do espetáculo como elemento essencial da natureza humana. Que mistério tem esse exercício de fingir para os demais que somos outras pessoas, justamente para exprimir o que de fato somos? Numa prisão de segurança máxima, os detentos se inscrevem nos testes para integrar o elenco da tragédia “Julio Cesar”, de Shakespeare. No processo de encenar um texto escrito por um inglês no século XVI, aqueles criminosos italianos têm a oportunidade de viajar ao tempo de suas próprias origens, fincadas na tradição romana do século I A.C. 
Ao serem autorizados pelo diretor cênico a se expressarem em seus próprios dialetos locais – sicilianos, napolitanos etc – os voluntários recebem a mensagem implícita de que, mesmo na pele de senadores ou generais da antiga Roma, eles jamais deixam de manifestar suas verdadeiras identidades. O filme leva o título de “Cesar deve morrer” e não se resume à documentação daquela experiência teatral. Os irmãos Taviani acrescentam conteúdos pessoais ao material filmado, abrindo espaço para a intimidade emocional dos intérpretes. 
Confrontados com aquilo que foi o assassinato político de um suposto tirano pela elite da república, eles percebem que se acham também condenados à sua condição de seres humanos – o que implica no inevitável enfrentamento do livre arbítrio. Ou seja, as grades os impedem de sair da prisão, mas não lhes protegem da própria consciência. Antes de ouvir as sentenças que os condenaram, todos eles foram julgados. E agora é a vez de julgarem aqueles personagens que eles trouxeram de volta à vida, por meio da exposição de aspectos profundos das suas personalidades. 
CÉSAR DEVE MORRER 
Cesare Deve Morire 

Itália, 2012, 76 min, Livre
estreia 01 03 2013
gênero/ drama/ documentário
Distribuição: Europa Filmes
Direção: Paolo & Vittorio Taviani
Elenco: Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO



"O Quarteto" revela o talento de um novo, porém idoso diretor: Dustin Hoffman.


Quem admira o ator Dustin Hoffman vai gostar de ver este filme em que ele estreia como diretor.Trata-se de uma produção inglesa que focaliza uma casa de repouso para músicos e cantores líricos aposentados. De modo geral, a linha é humorística, até pela presença no elenco do competente cômico Billy Connoly e da sempre pernóstica Maggie Smith, se esmerando em sua fleuma tipicamente britânica, no papel de uma diva de ópera – ela que foi uma das professoras de Harry Potter e, recentemente, brilhou em “O Exótico Hotel Marigold”. 
Há um drama que se desenvolve quando alguns artistas super veteranos decidem apresentar o empolgante  e difícil quarteto do Rigoletto, num festival em homenagem a Giuseppe Verdi. Essa apresentação poderia saldar as dívidas do asilo e garantir a sua continuidade, mas a estrela interpretada por Maggie Smith não se acha disposta a enfrentar o público novamente, agora com a voz já enferrujada. Por outro lado, a maioria do numeroso elenco de apoio, ou seja, os moradores da instituição é composta por músicos de verdade que, volta e meia, aparecem mostrando seus talentos sonoros ainda intactos. 
Como vemos, a trama é simples e despretensiosa, mas com ela, Hoffman prova que é capaz de dirigir. Sabe conduzir emoção, que se mostra especialmente intensa nas passagens musicais, controla o eventual ímpeto expressivo dos atores e revela talento para a edição – fato, aliás, que se percebe logo na primeira sequencia, e na manutenção de um ritmo de narrativa que vai se adensando ao longo do filme. Há o detalhe de que tudo no enredo gira em torno da música o que não permite que o clima desabe para a melancolia que pode rondar as histórias que os protagonistas têm mais de 70 anos.
O QUARTETO
Quartet 
Reino Unido – 2012 – 100 min. – 12 anos
estreia 08 03 2012
gênero / Comédia/ Música
Distribuição: Diamond Films
Direção: Dustin Hoffman
Com Maggie Smith, Billy Connoly, Michael Gambon, Tom Courtenay
COTAÇÃO
* * *
BOM