Dá para perceber que a moça é bonita e tem talento, mas a fotografia precária do filme não valoriza o trabalho dela e de nenhum dos atores. O texto dos diálogos até que não é de todo ruim, mas o problema é justamente a estrutura que imita um documentário e não permite qualquer aprofundamento dramático. Ela faz o papel da filha de uma italiana que matou duas pessoas durante um ritual de exorcismo e cumpre prisão perpétua num sanatório em Roma. Junto com um cinegrafista e dois padres exorcista, ela pretende investigar a verdade e nos conduz a uma atmosfera horripilante.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
"A Filha do mal", Fernanda Andrade é o mais novo rosto brasileiro em Hollywood
Crítico e divertido “Histórias Cruzadas” é o melhor lançamento da semana
Mas quem carrega o componente emocional do filme quase por inteiro é Viola Davis (“Dúvida” – 2008), numa atuação que lhe dá condição de competir com as demais concorrentes ao troféu de melhor atriz do cinema americano neste ano. Ela interpreta a criada da moça que lhe fornece as principais informações da reportagem, arriscando-se a enfrentar a fúria de toda a cidade e até da temível Ku Klux Klan, ainda atuante naquela época e naquele estado, em que a segregação racial era lei.
Como coadjuvantes, numa linha ao mesmo tempo cômica e dramática, temos Octavia Spencer (“Sete Vidas” – 2008), a melhor e pior cozinheira da cidade e Jessica Chastain (a mãe da “Árvore da Vida”- 2011), no papel de uma loira tão segregada quanto as empregadas de cor, ou seja, a forasteira casada com um dos homens mais ricos da cidade. Entre as duas, entretanto, Octavia se destaca pela curiosa integração de revolta, sarcasmo e bom humor que consegue imprimir à sua personagem. Mais uma vez podemos observar como o cinema americano se dispõe a criticar alguns dos aspectos mais constrangedores da história daquele país.
estreia 03 02 2012
gênero drama / social / costumes
"O Artista", uma novidade com cara de antiguidade e 10 indicações ao Oscar
Jean Dujardin foi escolhido pelo sindicato dos artistas de cinema dos Estados Unidos como o melhor ator de 2011, por sua atuação em “O Artista”. Curioso é o fato de ele ser francês, assim como o próprio espetáculo, que se passa em Hollywood, no final da década de 1930 − época em que os filmes falados começavam a conquistar o espaço do cinema mudo, passando a substituí-lo na indústria cinematográfica. Inspirado no visual de Mandrake (herói de HQ criado por Lee Falk em 1934), seu personagem é um astro do cinema mudo que não se adapta às mudanças e que foi construído como uma alegoria, ou seja, a partir de traços de personalidade de diversas pessoas reais: um pouco de Errol Flyn, Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Fred Astaire e Rodolfo Valentino.
Uma personalidade inspirada nesses figurões só poderia desenvolver um ego especialmente hipertrofiado de modo que, por orgulho e excesso de confiança, não admite a queda e não aceita ajuda de ninguém. Nem da estrelinha vivida pela franco-argentina Berenice Bejo − competindo ao Oscar de atriz coadjuvante − que o ama em segredo enquanto se transforma numa celebridade dos talkies. O enredo se situa na transição do cinema mudo para o falado, compondo uma espécie de alegoria dos fatos e dos agentes históricos. Mais ou menos como fez Billy Wilder em "O Crepúsculo dos Deuses" (Sunset Blvd - 1950)
Não se trata, portanto, de um ensaio didático sobre aquele período e sim de uma trama alegórica sobre a soberba e a vaidade. De modo semelhante ao seriado televisivo “O Brado Retumbante”, ao elaborar a alegoria de um presidente que tem um pouquinho de diversos indivíduos que de fato ocuparam a presidência, para fazer ficção com a ideia de um político para quem os fins não justificam os meios. É o que acontece também com praticamente todo o faroeste: a época está retratada em todos os exemplares do gênero − usos e costumes, roupas, armas etc. Mas, em lugar dos verdadeiros caubóis e pistoleiros do passado, temos somente alegorias em ação. O fato de “O Artista” ser mudo e em branco e preto é um destaque a mais para a atuação de Dujardin, a música de Ludovic Bource e a direção de Michel Hazanavicious − todos concorrendo ao Oscar, num total de 10 indicações.
É impressionante como a comédia se transmuta em drama e depois retorna ao veio original, garantindo uma narrativa absolutamente clara e rica em pormenores culturais, técnicos e psicológicos, mesmo com um mínimo de letreiros. Destaque para as passagens de interação do herói com o cachorrinho que é o seu principal parceiro e para a cena em que Berenice Bejo contracena com a roupa de seu amado. “O Artista” é uma prova de que Chaplin estaca correto quando ponderou que a estética do filme mudo ainda não tinha esgotado todas as suas possibilidades, quando foi interrompida em sua evolução pelo advento do som. E assim como o fez o personagem, produziu “Luzes da Cidade” e “Tempos Modernos”, em plena era do cinema falado. A surpresa maior de todas, entretanto, é o próprio diretor Hazanavicious que, antes desta experiência notável, fizera com o próprio Dujardin os sofríveis filmes do “Agente 117”, uma paródia infeliz de James Bond.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Os principais filmes que concorrem ao Oscar 2012: as novidades e algumas injustiças
Está publicada a lista dos concorrentes ao Oscar de 2012, um evento que nenhum crítico de cinema deixa de comentar. Neste ano as indicações para melhor filme se referem a títulos de indiscutível qualidade. Nesta semana estréia um deles, que é “Os descendentes”, protagonizado por George Clooney que, inclusive, concorre com ele para o prêmio de melhor ator. Aliás, Clooney é igualmente candidato a melhor roteirista pelo filme “Tudo pelo Poder”, que já se acha em cartaz. Também estreia “Millenium: O homem que não amava as mulheres” (versão americana) – que concorre a melhor atriz e a vários prêmios técnicos. Alguns dos meus favoritos fazem parte da lista, como “Árvore da Vida” de Terrence Malick; “Cavalo de Guerra”, produzido por Steven Spielberg e que está em cartaz; “Meia Noite em Paris” de Woody Allen; “Histórias Cruzadas” de Tate Taylor (ainda não lançado) e o sensacional “O Artista” de Michel Hazanavicius, com estréia para breve. (foto acima).
Este é o raríssimo caso de um filme mudo e em branco e preto que tem toda a condição de derrubar os demais competidores. As maiores injustiças, porém se acham na área do desenho animado, que deixa de lado obras primas como “Rio”, de Carlos Saldanha, e “As Aventuras de Tin Tin”, (acima) de Steven Spielberg para incluir o medíocre “O Gato de Botas”. Como que para compensar, “Rio” só concorre a melhor canção, de Sergio Mendes, e “Tin Tin” só é indicado para melhor trilha sonora, composta por John Williams. Abaixo, Martin Scorcese atuando em seu filme "A Invenção de Hugo Cabret", que faz referência a Méliès e e Julio Verne.
"Os homens que não amavam as mulheres" (versão americana) concorre ao Oscar
Protagonizada por Daniel Craig ("Casino Royale") e dirigida por David Fincher ("O Curioso Caso de Banjamin Button), estreia a versão americana do sueco “Millenium - Os homens que não amavam as mulheres”. De elevada qualidade, o filme pode ser resumido como uma mistura de Bergman com Hitchcock. Ou seja, suspense de alta voltagem, montado a partir de personagens aprofundados e ancorados na concretude dos mundos psíquico e social em que vivemos. O personagem central é um jornalista injustamente preso e condenado por difamação. Impedido de trabalhar na mídia, ele é contratado para investigar o desaparecimento da sobrinha de um magnata que vive recluso numa ilha. Há inicialmente uma homenagem a "Blow Up" de Michelangelo Antonioni, quando o herói aplica as técnicas jornalísticas tradicionais, vasculhando arquivos e dissecando documentos. Mas quando entra em cena a intrigante figura de uma hacker profissional que se associa a ele, o filme dá destaque à internet e aos procedimentos digitais de pesquisa. Esta é vivida por Rooney Mara ("A hora do pesadelo") que concorre ao Oscar de melhor atriz. Um dos encantos do filme, aliás, é esse confronto entre personalidades formadas por duas culturas quase antagônicas, que teria tudo para cair no lugar comum hollyoodiano em que homem e mulher se odeiam a princípio e, depois, se amam. O horror vai se adensando à medida que eles se aproximam dos suspeitos e vão reconstituindo uma série de outros crimes até então não resolvidos. Ironicamente, esses assassinatos são cometidos por um ex-militante nazista que mata mulheres conforme determinadas execuções e cenas de violência descritas no antigo testamento.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Lançado em DVD: "Rudo e Cursi": tudo para ser uma comédia brasileira, mas é mexicana
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Ainda é tempo de ver "Tudo pelo poder", um excelente trabalho de George Clooney
“Tudo pelo Poder” é um admirável trabalho autoral de George Clooney, produzido em parceria com Leonardo di Caprio. Além disso, Clooney escreve o roteiro, dirige e interpreta um dos papéis principais neste drama que tem como tema o maquiavelismo e a desonestidade envolvida numa campanha presidencial. Ele faz o papel de um candidato democrata, cujo discurso assumidamente populista é cativante demais para ser verdadeiro. O protagonista, porém, é um de seus mais jovens e idealistas assessores, interpretado por Ryan Gosling. Durante a maior parte do filme, ele se coloca em conflito com o veterano e pragmático coordenador da campanha vivido pelo craque Phillip Seymour Hoffman e também com personagem de Paul Giamatti -- o calejado assessor de outro político que disputa a indicação pelo partido para concorrer à presidência.
Pode parecer uma reedição do clássico “A Grande Ilusão” de 1949 e refilmado em 2006 com Sean Penn, que aborda um assunto semelhante, mas este “Tudo pelo Poder” discute questões bem mais contemporâneas. Por exemplo, as alianças espúrias firmadas com o objetivo de chegar ao poder, como o título brasileiro já explicita. No entanto o título original “Os idos de março” sugere melhor o cerne da trama. Essa expressão tem origem na Roma antiga e significa o dia 15 de março, em que Julio Cesar foi assassinado pelos senadores, pondo fim a uma ditadura corrupta e de base populista na república romana. Em suma, o filme propõe uma identificação entre o personagem de Clooney e o astuto demagogo que foi Julio Cesar. Na verdade, a premissa do roteiro é que os corruptos acabam caindo, mais cedo ou mais tarde, de um modo ou de outro.
“Cavalo de Guerra” épico de Steven Spielberg é o primeiro grande filme do ano
Neste caso tudo se amplifica porque a motivação principal do jovem protagonista é o afeto que nutre por um animal, ou seja, o cavalo mestiço que ele treinou e cujo trabalho no arado ajudou a arrancar seus pais da ruína e da miséria. Afastado de seu dono e amigo, o animal super-dotado é requisitado pela cavalaria inglesa e conduzido para a França, onde é reduzido de montaria a besta de carga pelos alemães e experimenta a carnificina das trincheiras. Ali acontecem as sequencias mais impressionantes e dramáticas do filme constituindo o seu ponto alto em termos de emoção, quando, em meio aos horrores da guerra desponta uma centelha de piedade.