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domingo, 30 de outubro de 2011

Sem ser uma obra prima, "Condenação" é um drama bem realizado com boas atuações

Condenação” não chega a ser um grande espetáculo, mas traz um tema ainda não explorado pelo cinema americano, que sempre se mostrou fascinado por histórias que envolvem o sistema jurídico, o universo dos advogados e das condenações injustas,sempre com grandes batalhas em tribunais. Não trata propriamente de um erro judiciário, mas de um processo criminal prejudicado pela ausência de uma tecnologia que apenas recentemente tornou-se amplamente praticada, que é o chamado exame de DNA. Sabe-se que, por meio dele, é possível dizer quem realmente é filho de quem ou se os resíduos de sangue encontrados no local do crime pertencem de verdade ao principal suspeito de assassinato. Para dar corpo a essa questão, digamos forense, o filme parte de uma história real, ou seja, a de uma dona de casa com dois filhos adolescentes que decide se formar em direito apenas para defender o irmão condenado à prisão perpétua.
Apesar de verdadeira, essa premissa soa falsa ao desenhar uma mulher que sacrifica o próprio casamento e perde a guarda dos filhos para ajudar um irmão que ela acredita ser inocente. Um dos personagens até se espanta, dizendo que a irmã dele nem se lembra de mandar parabéns no seu aniversário. Por isso, o diretor Tony Goldwin que é neto do fundador da Metro e especialista em séries de TV, trabalha com duas grandes atrizes premiadas com o Oscar: Hilary Swank e Melissa Leo. Além disso, enxertou no roteiro, de modo muito hábil, uma série de flash backs para explicar a origem desse relacionamento tão raro. Durante a infância, o casal de irmão praticamente não teve pai e nem mãe e isso os fez se tornarem especialmente unidos.


A CONDENAÇÃO
Conviction
EUA, 2010, 110 min, 14 anos
estreia 28 10 2011
gênero drama / judiciário / família
Distribuição Vinny Filmes
Direção Tony Goldwyn
Com Hilary Swank, Sam Rockwell,
Melissa Leo, Thomas D. Mahard, Juliete Lewis
COTAÇÃO
* * *
B O M

"Contágio" tem bons atores, um diretor ótimo e uma grande produção, mas o filme é fraco

O americano Steven Soderbergh iniciou a carreira em 1989, com seu primeiro longa “Sexo Mentiras e Videotape”, que arrebatou a Palma de Ouro em Cannes, quando tinha apenas 26 anos. Depois disso, foi desenvolvendo uma trajetória difícil de classificar, na qual alterna filmes de experimentalismo soft tipo “Bubble” (2005) ou “Confissões de uma Garota de programa” (2009), com docudramas e comédias ideologicamente sofisticadas como “Che” (2008) ou “O Desinformante” (2009), ou paródias carregadas de ironia como o magnífico “O Segredo de Berlim”, uma espécie de “Casablanca” construída pelo avesso – um filme apenas lançado apenas em DVD (2006).
Mas, provavelmente Soderbergh vem ganhando a vida como produtor e juntando dinheiro dirigindo espetáculos de mercado, como “Doze homens e outro Segredo” (2004) e este “Contágio”: produção caríssima, com um elenco milionário, cenografia e efeitos especiais de alto custo e filmagens nos quatro cantos do planeta. Tudo para contar a história pequena e previsível de um vírus que quase destrói a humanidade inteira, não fosse um abnegado grupo de pesquisadores e funcionários públicos. Estes não apenas se mostram incansáveis e incorruptíveis, mas dispostos a sacrificar suas vidas em prol do interesse coletivo, como é o caso dos personagens de Marion Cotillard, Kate Winslet e Laurence Fishburne.
Por sua vez, o mal se acha germinando entre os particulares, ou seja, no seio da sociedade civil: Gwyneth Paltrow faz a esposa infiel que traz o vírus de Hong Kong para os Estados Unidos. Matt Damon é um dos felizardos que são imunes ao contágio, mas se mostra doentiamente omisso, enquanto Jude Law é o blogueiro que se torna bilionário espalhando boatos e falsas promessas de cura. O curioso é ver como esse tipo de filme populista típico de Hollywood produz esse exemplar de enredo tão estatizante, quase stalinista.

CONTÁGIO
Contagion
EUA, 2011, 106 min, 12 anos
Distribuição Warner
estreia 28 10 2011
Gênero drama / ficção científica
Direção Steven Soderbergh
Com Laurence Fishburne, Matt Damon, Marion Cotillard,
Kate Winslet, Gwyneth Paltrow, Jude Law
COTAÇÃO
* *
REGULAR

Selton Mello brilha como ator, roteirista e diretor em seu segundo filme: "O Palhaço"

Este segundo filme dirigido por Selton Mello vem colhendo prêmios em todos os festivais por onde tem passado. Em conseqüência, alguns comentaristas já estão torcendo nariz para o sucesso desse rapaz que, além de freqüentar o horário nobre da Globo, parece não estar interessado em montar um laboratório cinematográfico para discutir problemas sociais contemporâneos. Seu filme “O Palhaço” pertence a um cinema atemporal, que emprega como matéria básica sentimentos e relações humanas que não possuem data de nascimento e nem comprovante de residência.
A prova é que, dentro dele, é possível pinçar referências ao cineasta caipira Humberto Mauro e ao internacional Charles Chaplin, por meio de um personagem triste que se acha obrigado a fazer rir. A partir daí, essa matriz se enriquece com elementos de “Gaviões e Passarinhos”, em que Pior Paolo Pasolini imaginava uma dupla de pai e filho (Totó e Nino Davolli) vagando por uma Itália tão metafísica quanto este interior de Minas Gerais, pelo qual perambula um circo mambembe com o emblemático nome de Esperança. O proprietário é o também palhaço Paulo José numa atuação comovente. E, em vez do policial que Carlitos sempre ridicularizava, aparece Moacir Franco, na pele de um delegado que inverte as posições e humilha os pobres empregados do circo à beira da ruína.
Há também um eco de Fellini, na música circense que ele encomendava a Nino Rotta e que desempenha uma função muito marcante na narrativa deste filme. Destaca-se a competência desse cineasta que, antes de completar 40 anos, dirige atores com a habilidade de um veterano, conseguindo surpreendente uniformidade nas atuações de profissionais tarimbados e intérpretes iniciantes. E acima de tudo, montando um fascinante painel visual desse interior brasileiro no qual beleza e pobreza não se excluem mutuamente.


O PALHAÇO
Brasil, 2010, 90 min, 10 anos
ESTREIA 28 10 2011
gênero comédia
Distribuição Imagem filmes
Direção Selton Mello
Com Selton Mello, Paulo José,
Jackson Antunes, Jorge Loredo, Moacir Franco
COTAÇÃO
* * * *
Ó T I M O

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

"Meu País" de André Ristum é a mais promissora surpresa deste ano

Logo nas primeiras sequencias de “Meu País” fica evidente a presença de um diretor de mão firme e sensibilidade. Alguém que domina a técnica e a linguagem do meio. Trata-se de André Ristum em seu primeiro longa metragem. Filho de pais incompatíveis com a ditadura, ele nasceu em Londres (1971), cresceu na Itália e se formou em cinema em Nova York. Aos três anos de idade, concoreu com um curta-metragem no primeiro Festival de Super 8 da Itália. Desde a infância, André conviveu com cineastas do porte de Antonioni, inclusive porque seu pai trabalhou como assistente de direção em “La Luna”, que Bernardo Bertolucci fez em 1979. Ele era o sociólogo paulista Jirges Ristum, que se tornaria um dos amigos mais próximos de Glauber Rocha. Mais tarde, em 1996, foi o próprio André que exerceu a função de assistente de Bertolucci em “Beleza Roubada”.
O personagem central deste filme – rodado em Roma e em Paulínia – é Rodrigo Santoro, na pele de um executivo bem sucedido que vive na Itália e que viaja para o Brasil com a morte do pai, interpretado por Paulo José, com o brilhantismo de sempre. Cauã Reymond faz o papel do irmão mais novo que vinha perdendo no jogo a fortuna paterna e Débora Falabella é uma meia irmã, cuja existência os dois desconheciam e que se achava internada numa clínica psiquiátrica. O empresário precisa decidir, então, se volta para a sua confortável rotina na Itália – onde administra os negócios do sogro – ou se permanece aqui em seu país para assumir as responsabilidades de arrimo da família onde nasceu.
Tudo isso é narrado com elegância e economia de explicações, porque afinal uma boa história não precisa uma profusão de palavras para ser contada. Esse ascetismo narrativo se manifesta, numa encenação que dá importância equivalente às falas, gestos, olhares e silêncios. Alguns comentários até ligaram essa linha de trabalho com o estilo de Walter Hugo Khoury (1929-2003). Mas acontece que o diretor de “Noite Vazia” queria filmar principalmente a dificuldade de comunicação, enquanto Ristum pretende provocar emoção com um mínimo de recursos. Observe-se por exemplo, a carga de sentimentos que afloram na cena em Rodrigo transmite para a irmã a notícia da morte do pai deles, sem precisar entrar na obviedade melodramática dos detalhes.
Outros críticos reclamaram de não vermos empregados, como motoristas ou copeiras, na mansão onde vive essa abastada família de empresários, talvez sem levar em consideração que, apesar da sua ligação com a Itália, o diretor não quis fazer aqui uma obra neo-realista. Sua proposta é desenvolver um ensaio poético e intimista, a partir do conflito íntimo do protagonista que se encontra indeciso em relação ao local e às pessoas em que colocaria o seu afeto naquele momento: isto é, na esposa e em seus negócios italianos ou nos irmãos e em suas raízes paulistanas. Não que isso explique ou justifique o filme, mas o fato é que se trata, provavelmente, de um dilema que toma de assalto o próprio cineasta, dividido entre a possibilidade de trabalhar na Europa e todas as dificuldades de fazer cinema no Brasil.

MEU PAÍS
Brasil, 2010, 95 min, 12 anos
gênero drama
estreia 14 10 2011
Distribuição Imovision
Direção André Ristum
Com Rodrigo Santoro, Cauã Reymond,
Débora Falabella, Anita Capriol, Paulo José
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Nova versão de "Os três mosqueteiros" supostamente para o público jovem

A partir de hoje, está nos cinemas OS TRÊS MOSQUETEIROS numa versão em 3D. Uma produção franco-alemã dirigida pelo inglês Paul Anderson, aquele que fez alguns exemplares da série “Resident Evil” estrelada pela bela, mas sofrível atriz Milla Jovovich de quem é marido. Aliás, ela faz aqui o papel de Milady deWinter, a sedutora vilã do livro escrito por Alexandre Dumas em 1844 e que teve incontáveis adaptações para o cinema.
Nesta versão temos algumas novidades que vêm para estragar a história original. A primeira é a excessiva juventude do personagem de D’Artagnan que torna descabida a sua ousadia e arrogância, interpretado por Logan Lerman, um americano de 19 anos que fez o herói juvenil em “Percy Jackson, o ladrão de raios”. Durante 150 anos, o texto de Alexandre Dumas atraiu os jovens sem que se precisasse diminuir a idade dos mosqueteiros. Outra invenção é o desnecessário anacronismo de Aramis usando um escafandro nos canais de Veneza e navios de guerra que voam movidos a balões.
De fato, os efeitos especiais e a reconstituição histórica de Paris no século XVII por meio de computação gráfica são o que o filme tem de melhor, ao lado da figura sempre blasée do alemão Cristoph Waltz no papel do Cardeal Richelieu. O design de produção é superior a muita coisa feita em Hollywood, mas, infelizmenre não é o que acontece com o roteiro: preocupado demais em acelerar a ação física dos atores, não consegue obter movimento na ação dramática. Ou seja, não se entende porque um personagem é inimigo de outro, nem qual o motivo desta ou daquela briga. Orlando Bloom está no elenco numa caracterização lamentável do duque de Buckingham que quer provocar uma guerra com a França. Melhor é a versão de 1993 com Charlie Sheen e Kiefer Sutherland.

OS TRÊS MOSQUETEIROS
The Three Musketeers
Alemanha, 2011, 110 min, 12 anos

estreia 12 10 2011

gênero aventura / história
Distribuição Playarte
Direção Paul W.S. Anderson
Com Logan Lerman, Milla Jovovich,
Orlando Bloom, Matthew MacFadyen
COTAÇÃO
* *
REGULAR

terça-feira, 11 de outubro de 2011

“O Filme dos Espíritos” se destaca entre os filmes espíritas ao falar das Casas André Luis

“O Filme dos Espíritos” em cartaz se diz livremente adaptado do texto de Allan Kardek o “O livro dos Espíritos”. O enredo na verdade é uma compilação de algumas histórias que apareceram num concurso de curtas metragens que a TV Mundo Maior organizou há alguns anos justamente com esse fim. Ou seja, conceber um longa metragem a partir dessa criação conjunta. O problema é que, mesmo contando com atores competentes como Nelson Xavier, Etty Fraser, Sandra Corveloni, Ênio Gonçalves e Ana Rosa, além de recursos técnicos de bom nível, a obra tropeça justamente no aspecto mais importante que é a sua concepção cinematográfica, isto é no roteiro e na direção. Comparando com a série de filmes espiritualistas da qual fazem parte “Bezerra de Menezes”, “Chico Xavier”, “Nosso Lar” e “As Mães de Chico Xavier”, este que tem a direção do estreante Andre Marouço é o menos consistente do ponto de vista estético.
As narrativas não se articulam dramaticamente entre si e os personagens não são montados de modo a obter identificação com o público. Curiosamente, o melhor de todos esses filmes desse mini ciclo espírita ainda é “Chico Xavier”, dirigido pelo experiente Daniel Filho e, correndo por fora, o “Além da Vida”, do americano Clint Eastwood. Mas “O Filme dos Espíritos” suplanta os demais no seguinte aspecto: em lugar de focalizar os líderes do espiritismo, dedica-se a mostrar o que os espíritas têm feito de concreto para ajudar os desvalidos. Ou seja, a intenção do filme é divulgar a obra das Casas André Luis. Pena que isso não seja suficiente para levar as pessoas ao cinema, especialmente aquelas que não pertencem à comunidade espírita.

O FILME DOS ESPÍRITOS
Brasil, 2011, 101 min, 12 anos
estreia 07 10 2011
gênero drama
Distribuição Paris filmes
Direção André Marouço / Michel Dubret
Com Nelson Xavier, Ênio Gonçalves, Etty Fraser, Ana Rosa

COTAÇÃO

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REGULAR

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Uma semana especialmente rica em filmes brasileiros, para todos os gostos

Em termos de cinema melhor da semana da semana não é um único filme, mas um conjunto de quatro títulos novos que vêm para atestar a saudável diversidade do cinema brasileiro, ou se quiserem a sua fase de expansão produtiva. Os filmes são para várias preferências. Para mim, o melhor em todos os sentidos é MEU PAÍS, longa de estréia de André Ristum um cineasta que estou cinema na Itália, tendo Bernardo Bertolucci como mentor. No elenco, grandes figuras como Rodrigo Santoro (acima), Cauã Reymond, Débora Falabella e Paulo José. A trama focaliza uma família italiana que se transfere para o Brasil e que tende a se destruir após a morte de seu chefe.
UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA é dirigido por César Rodrigues e André Pinto, filho do Ziraldo que é o criador da personagem interpretada por Paola Oliveira (acima). Não é um filme para crianças, mas sobre o mundo infantil em confronto com a quadradice dos adultos: uma visão particular do próprio Ziraldo que cresceu em Caratinga, no interior de Minas e traz um bocado de suas memórias para o filme.
CAPITÃES DE AREIA (acima) não tem a qualidade audiovisual de outras adaptações, como “Dona Flor” e “Gabriela”, mas a vigorosa história de Jorge Amado e a cultura da Bahia estão lá, num filme de Cecilia Amado, neta do escritor. Fala de um bando de garotos abandonados por suas famílias e que sobrevivem nas ruas de Salvador. Vale como recall para quem já conhece o texto, e serve de trailler para quem não leu o romance.
Numa comparação com os filmes espíritas do momento, O FILME DOS ESPÍRITOS perde para “Nosso Lar” e “Chico Xavier” em termos de dramaturgia e montagem cinematográfica. Mas o estreante André Marouço teve a boa idéia de filmar algumas cenas dentro das Casas André Luís. E aí o filme ganha dos demais porque não fica apenas na homenagem aos líderes fundadores, mas mostra o que os espíritas de hoje vêm fazendo de concreto na área da caridade para aliviar o sofrimento das pessoas. No elenco, além de atores tarimbados, como Nelson Xavier, Ênio Gonçalves, Etty Fraser e Ana Rosa, temos uma surpreendente participação especial da apresentadora Luciana Jimenez (acima e abaixo), dando conta do recado direitinho e interpretando o papel de uma mulher 30 anos mais velha.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A discussão pública sobre o fechamento do Cine Belas Artes ainda não acabou

A arquiteta Raquel Rolnik informa que o futuro do Cine Belas Artes ainda não foi selado com a decisão do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico) de não abrir o processo de tombamento do cinema. O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico), que é um órgão estadual decidiu pela abertura do processo de tombamento não apenas do cinema, mas também do antigo bar Riviera (na esquina oposta à do Belas Artes) e da passagem subterrânea da Rua da Consolação, que liga as duas esquinas. Ou seja, a posição do Condephaat incluiu não apenas o cinema, mas toda o seu entorno. Por sinal, o edifício Anchieta, onde ficava o Riviera, foi projetado pelo escritório dos irmãos Roberto, em 1941, e é um importante exemplar da arquitetura modernista em São Paulo. No entanto, a abertura do processo de tombamento não significa que esses lugares serão de fato preservados. Mas enquanto a avaliação formal não é concluída e votada no Conselho, os proprietários dos imóveis não podem descaracterizá-los nem fisicamente nem quanto ao seu uso. Qualquer coisa que eles decidam fazer também depende de autorização do Condephaat neste período.
O Conpresp decidiu sem discutir, adotando a interpretação da Procuradoria Geral do Município (PGM) de São Paulo, que considerou inconstitucional o tombamento de um uso de um edifício cuja arquitetura não é significativa. Isso revela total desconhecimento das leis que regulam o patrimônio histórico em nosso país: há muitos anos órgãos municipais, estaduais e federais têm tombado imóveis que não apresentam interesse arquitetônico. Vejam o exemplo da Fábrica de Cimento Perus, em São Paulo, que foi tombado pelo significado histórico daquele lugar para a população da cidade ou inúmeras casas onde viveram pessoas importantes da nossa história. A abertura do processo de tombamento pelo Condephaat significa a possibilidade de realização de um debate mais qualificado a respeito.Para comemorar a notícia, o Movimento pelo Cine Belas Artes convida para uma festa em frente ao cinema na quarta-feira (5), às 19h.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro foi tombado o cine Paissandu, no bairro do Flamengo. Inaugurado em 1960 e fechado há um mês, quando o grupo Estação Botafogo anunciou que não tinha condições de continuar administrando o cinema sem um patrocinador, o Paissandu foi tombado pelo prefeito Cesar Maia como patrimônio cultural da cidade. Intelectuais e cineastas, alguns remanescentes da chamada Geração Paissandu, que deu fama ao lugar nos anos 60 tinham iniciado uma campanha pelo tombamento temendo que os donos do imóvel vendessem o cinema. Eles anunciaram que o Estação vai administrar e o Sesc vai patrocinar o Paissandu por dez anos. Depois de passar por obras de modernização, o Paissandu vai reabrir com uma programação de filmes de arte que marcaram a sua história. Bom... tirem as suas próprias conclusões.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

“Família Vende Tudo” volta, de certa forma, às chanchadas brasileiras dos anos 1950

A maior parte dos comentários acerca de “Família Vende Tudo” associam o filme de Alain Fresnot a “Feios Sujos e Malvados”, que o italiano Ettore Scola fez em 1975, mostrando uma família habitante de uma favela romana, em que dezenas de pessoas vivem num barraco de um cômodo único e só pensam em roubar a fortuna que o dono da casa tinha recebido do seguro por conta de um acidente de trabalho. É oportuno, porém, pensar nas diferenças entre os dois casos, para entendê-los melhor.
Enquanto Scola elaborou uma alegoria quase trágica sobre um grupo social unido apenas em função dos interesses mais básicos e imediatos, Fresnot faz uma comédia satírica acerca da dissolução atual dos valores tradicionalmente consagrados e o surgimento de novos critérios de solidariedade familiar na periferia das grandes cidades. O grotesco dos personagens e a frenética luta pelo dinheiro são comuns aos dois filmes, mas, enquanto os de Scola chegam a tramar um assassinato, os de Fresnot apostam na vida e fazem de tudo para que a beldade da família fique grávida de uma celebridade da televisão e da música popular. Aí se acha a vertente crítica do exemplar nacional, que faz menção à recente onda de casos amorosos de políticos corruptos, cantores assanhados e atletas afoitos – sempre invariavelmente lucrativos para as vítimas.
O enredo também se fundamenta na atual eliminação da privacidade dos famosos, cuja vida íntima se transformou em nova mercadoria de consumo. Aliás, esse fenômeno é mundial, haja vista a suspensão do tabloide inglês News of The World, envolvido em um escândalo de escutas ilegais e fabricação de escândalos. Nessa comparação, salientam-se também o tom e o ritmo tipicamente brasileiros da farsa, que remete aos tempos das chanchadas cômico-musicais da década de 1950. Só que as mocinhas daquela época, geralmente vividas por Eliana Macedo ou Fada Santoro, faziam de tudo para penetrar no show business como artistas, enquanto a do filme de Fresnot procura trilhar o caminho inverso. Destaque para veia humorística dos intérpretes, como Lima Duarte, Luana Piovani, Vera Holtz, Imara Reis e Caco Ciocler, que carregam o filme nas costas.

FAMÍLIA VENDE TUDO
Brasil, 2011, 89 min, 12 anos
estreia 30 09 2011
gênero comédia / sátira
Distribuição Playarte
Direção Alain Fresnot
Com Lima Duarte, Caco Ciocler, Vera Holtz
Marisol Ribeiro, Luana Piovani, Imara Reis
COTAÇÃO
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REGULAR