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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A polêmica das biografias e os perigos para o cinema documentário brasileiro

“Outro Sertão”, o longa de Adriana Jacobsen e Soraia Vilela (prêmio especial do juri no último Festival de Brasília) foi eleito pelo público o Melhor Documentário Brasileiro na 37ª Mostra Internacional de São Paulo. Assim, o filme recebe o prêmio de R$ 15 mil. Mas esse valor é mil vezes menor que aquele que elas investiram no projeto. R$ 15 mil também não será suficiente para inteirar a fortuna que os herdeiros do personagem abordado pelo filme pediram para autorizar essa biografia, isto é, para que você possa assisti-lo nos cinemas. “Outro Sertão” acompanha a passagem do escritor Guimarães Rosa pela Alemanha. Vice-cônsul do Brasil, Guimarães Rosa (acima) viveu na cidade de Hamburgo entre 1938 e 1942, tempo em que o país europeu estava no auge do regime nazista. Por meio de imagens de arquivo da época, documentos e testemunhos de pessoas que o conheceram, “Outro Sertão” revela novos aspectos da biografia deste que foi um dos maiores escritores brasileiros da história. Destaque para uma entrevista inédita e sensacional com o próprio escritor, aliás o único registro gravado com a voz e a figura em movimento do autor de “Sagarana” e “Grande Sertão Veredas”. Isso, além de incontáveis documentos inéditos (alemães e brasileiros) com testemunhos de judeus que fugiram para o Brasil por Hamburgo, graças ao nosso escritor e diplomata. Só que essas pessoas, nem você e nem ninguém poderá ver o filme, se os herdeiros do Guimarães não permitirem.  
A campanha do grupo Procure Saber (que reúne artistas como Gil, Caetano, Chico Buarque e, até recentemente, Roberto Carlos) contra a mudança da legislação que obriga os escritores a obterem autorização prévia dos biografado, ou seus herdeiros, para a publicação das biografias, fez a discussão incendiar mercado editorial. Mas, pouco se falou ainda sobre o impacto que o Código Civil exerce sobre o cinema brasileiro. O veto mais famoso talvez seja aquele imposto ao filme "Di Glauber", que é um documentário curto e absolutamente genial de Glauber Rocha sobre o pintor Di Cavalcanti (acima e abaixo). Por conter imagens do velório e do funeral do pintor, o filme foi proibido por seus familiares em 1977. 
Recentemente, temos a escandalosa proibição das imagens do músico Paulo Moura, num documentário sobre ele feito por Eduardo Escorel (abaixo). Além da necessidade de autorização dos biografados ou de seus familiares, os documentários brasileiros têm de lidar com outro obstáculo: o extorsivo valor que deve ser desembolsado em troca dos direitos de imagem e som, e que muitas vezes torna inviável o uso do material. Diretor do festival É Tudo Verdade e um dos mais importantes especialistas em documentário do país, o crítico Amir Labaki se posicionou contra a ação do Procure Saber dizendo que potencializar as "já imensas" restrições impostas pela legislação resultaria em "consequências apocalípticas" para o gênero. Aguardemos a decisão do Congresso a respeito. Deputados e senadores deverão responder à pergunta que fica: existe ou não liberdade de imprensa e de expressão neste país?

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

"O Alabê de Jerusalém" : obra original e emocionante de música sacra brasileira.

Lançado em DVD pela Versátil, O Alabê de Jerusalém, uma obra de música sacra, popular e religiosa brasileira, de elevadíssima qualidade técnica e artística. Trata-se de uma ópera composta no formato da MPB por Altay Veloso, um excelente compositor de samba, guitarrista que trabalhou com Egberto Gismonti, Durval Ferreira e a banda Black Rio, um dos preferidos de cantoras como Leny Andrade e Zizi Possi. Nascido em São Gonçalo, lá no RJ nada tem a ver com Caetano e consumiu os últimos 20 anos trabalhando nesta ópera que foi gravada em estúdio antes da sua apresentação em teatro, com solistas como Bibi Ferreira, Lenine, Jorge Vercilo, Ivan Lins, Elba Ramalho e Alcione. 

O DVD, na verdade é um documentário de duas horas que registra essa gravação surpreendente, executada pela Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, dirigida pelo maestro Leonardo Bruno. O próprio Altay narra a história por meio de um recitativo bastante inspirado, no qual interpreta o protagonista: um curandeiro africano de Ifé que teria conhecido Jesus pessoalmente há 2 mil anos e que agora reaparece como uma entidade espiritual num ritual de umbanda. Essa é uma religião verdadeiramente originária do Brasil. Assim como o candomblé pode ser visto como um sincretismo entre o culto africano aos orixás e o cristianismo, a umbanda seria o sincretismo entre o candomblé e o kardecismo. Muito bonita, emocionante e repleta de boas ideias musicais e poéticas, sobre ética, política e cultura é O Alabê de Jerusalém.