Encontre o que precisa buscando por aqui. Por exemplo: digite o título do filme que quer pesquisar

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Semana 25 de setembro de 2009, salva por "Pequenos Invasores"

Nesta semana chegam aos cinemas dois filmes construídos com a mesma matéria prima, ou seja, a lei da oferta e da procura aplicada ao sexo. “Jogando com o Prazer” (acima) mostra Ashton Kutcher no papel de um conquistador serial, mais ativo que Casanova, porque o mundo atual permite maior rapidez. O que acontece com ele, porém já foi previsto por Carlos Lira na canção “Lobo Bobo”. O filme é uma mistura de “Gigolô Americano” com “Bonequinha de Luxo”, com a vantagem de falar amor nos tempos atuais.
Bem mais sério é o espanhol “Diário proibido” (acima), baseado no livro autobiográfico “Diário de uma Ninfomaníaca” da francesa Valérie Tasso, uma economista que, por prazer, trocou a carreira de executiva pela de prostituta. O diretor é o jovem Cristian Molia, mas o público europeu gostou do filme. "Pacto Secreto" (abaixo)mostra um grupo de universitárias que mata acidentalmente uma colega e são atacadas por um assassino misterioso. É a refilmagem de uma história de horror de 1983cujo diretor Mark Rosman fez certo sucesso na TV. A versão atual vale pela atuação da novata Leah Pipes, que acrescenta uma dose de humor ao filme.
A boa notícia é a sensacional comédia infantil “Pequenos invasores” (abaixo)que é a melhor estréia da semana. Um bando de alienígenas baixinhos e cruéis ataca o sótão de uma casa onde a garotada de duas famílias passa férias. É uma divertidíssima mistura de animação com atores ao vivo, concebida pelo mesmo escritor de Madagascar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

De Plínio Marcos, com direção de Carlos Cortez, "Querô" é lançado em DVD

Chega às locadoras o DVD de Querô, um dos mais emocionantes filmes nacionais do ano passadp. É a adaptação de Carlos Cortez de uma peça de Plínio Marcos, o autor de Navalha na Carne e Dois Perdidos numa Noite Suja. Este é o 1º longa de ficção feito por Carlos Cortez, um documentarista interessado em registrar origem do samba paulista em filmes como Seu Nenê da Vila Matilde e Geraldo Filme. Querô é um dos personagens que mais se aproximam da própria pessoa de Plínio Marcos: uma espécie de alter ego sombrio do dramaturgo. Alguém que ele poderia ter conhecido pessoalmente, quem sabe até como amigo, não fosse a oportunidade de se transformar em artista. Querô perdeu a mãe quando ainda era um bebê. Foi criado no prostíbulo onde ela vivia, no centro de Santos, e cresceu nos cortiços e becos do cais do porto. Por causa de pequenos delitos, foi parar na Febem. Mas não se misturou com os profissionais do crime e nem conseguiu se integrar ao meio social. Ou seja, o garoto era um marginal completo, porque permaneceu numa espécie de limbo em que a mera sobrevivência é quase um milagre. Assim como Querô, Plínio Marcos não se encaixava facilmente nas categorias ocupcionais pré estabelecidas: era um teatrólogo popular que não conseguia suportar o ambiente industrial da televisão, onde fizera sucesso como ator no início da carreira. Um escritor que, apesar de respeitado pelos críticos e demais formadores de opinião, era obrigado a vender seus livros pessoalmente, de mão em mão nas filas dos teatros. Um imenso criador que não deu sorte ao nascer e crescer num mundinho tão pequeno que não tinha lugar capaz de abrigar um talento daquele tamanho.
Querô
Brasil 2007
gênero drama social
distribuição Imagem filmes
direção Carlos Cortez
Com Maxwell Nascimento,
Angela Leal, Maria Luiza Mendonça,

“Pequenos invasores”: ação, humor e ironia numa comédia realmente para crianças

Felizmente os grandes estúdios estão investindo na qualidade dos filmes para crianças. Depois do surpreendente “Up Altas Aventuras”, chega aos cinemas a sensacional comédia infantil “Pequenos invasores” que é, aliás, a melhor estréia da semana. Um bando de alienígenas baixinhos e cruéis ataca o sótão de uma casa onde a garotada de duas famílias passa férias. É uma divertidíssima mistura de animação com atores ao vivo, concebida pelos mesmos escritores de “Madagascar” de “Wallace e Gromit, a batalha dos vegetais”. Por conta de uma situação muito bem armada no roteiro, a guerra interplanetária se faz no interior da casa de veraneio, como um campo de batalha em que se defrontam os invasores do planeta e um grupo de crianças comuns. Com todas aquelas qualidades e defeitos que a gente encontra por aí, entre os nossos filhos, sobrinhos ou alunos.
O filme é muito feliz no desenho desses tipos infantis e juvenis, que tem os mais velhos como coadjuvantes da aventura, e também na concepção dos alienígenas, que funcionam como caricaturas dos militares pertencentes à própria espécie humana. A sua principal arma é um dispositivo que permite comandar a mente dos humanos, de modo que eles sejam manipulados como fantoches, por controle remoto. Isso na verdade funciona como irônica metáfora da principal acusação que os adultos fazem à TV e aos videogames que, segundo eles, embotam os cérebros das crianças. Será mesmo? O filme “Pequenos invasores” defende uma opinião contrária.
PEQUENOS INVASORES
Aliens in the Attic
estréia 25/09/2009
Direção John Schultz
EUA/ Canada - 2009 – 91 min
Gênero aventura / infantil / fantasia
Distribuição Fox Films
Com Carter Jenkins e Austin Robert Butler

Ricardo Dias em DVD e em debate em torno do livro OS MELHORES FILMES NOVOS

Lançado em DVD “Um Homem de Moral”, o excelente documentário do paulista Ricardo Dias sobre Paulo Vanzolini. A estrutura a um só tempo cartesiana e diversificada desse documentário poderia ser considerada “pós-moderna” – por lançar mão de diversos recursos estilísticos e harmonizar diferentes vozes, num todo integrado. Não por acaso, esse filme foi também premiado pelo júri do CinePE, o Festival de Recife (2008) pelo desenho de som e pelo roteiro, causando algum espanto (“Desde quando documentário tem roteiro?”, chegou-se a indagar pelos corredores). Ainda que aparentemente simples, o filme é primorosamente fotografado por Carlos Ebert, com estilos diversos. Mais que isso, incorpora elementos do documentário clássico fundado por John Grierson no início dos anos 30, além do chamado documentário “direto” e também do estilo interativo, no qual a entrevista tem especial destaque. Cenas noturnas em que a câmara expõe a paisagem urbana da Avenida São João se misturam com outras passagens em que o diretor, sutilmente, “arranca” declarações do entrevistado. Os elementos empregados na feitura da obra mostram precisão e variedade. Por meio de uma narração em off, o próprio realizador explicita a sua ligação de amizade com o compositor (ambos em foto acima) que é tema do filme e utiliza fotos inéditas de Thomas Farkas para sugerir o visual de São Paulo, no tempo em que Vanzolini começou a escrever canções. Registros brutos de ensaios se misturam com cenas da mesma música apresentada no palco de um show. Num impagável depoimento recolhido em arquivo, Adoniran Barbosa declara que a música do zoólogo Vanzolini é parecida com a dele, só que mais fina porque “afinal ele é um cientista... um zoológico”. Boa parte das 27 canções incluídas no filme é comentada pelo próprio autor, numa entrevista, e por meio de imagens que Ricardo Dias (na foto abaixo) foi captando e editando em função da “dramaturgia” implícita em cada uma. Nesses momentos de inegável inspiração, o cineasta rende homenagem aos filmes seminais do gênero documentário, como os de Joris Ivens e Dziga Vertov, hoje classificados como "poéticos". Assim, por exemplo, a interpretação de “Na Boca da Noite” é ilustrada por fotos de caminhoneiros e moças de estrada, enquanto “Volta Por Cima” é entoada coletivamente por cidadãos anônimos recrutados nas ruas, provando que a canção do cientista contaminou de fato a alma do povo inteiro.
O diretor Ricardo Dias de “Um Homem de Moral” estará comigo, no dia 29 de setembro, às 7 da noite num debate ilustrado sobre as tndências do cinema contemporâneo na livraria Saraiva do Shopping Paulista que fica na Ria 13 de maio 1947. Com entrada franca. Todos vocês estão convidados.
Debate ilustrado:
Os melhores filmes novos
Tendências do cinema contemporâneo

Data: 29/09/2009
Horário: das 19h às 21h
Local: Saraiva Mega Store – Shopping Pátio Paulista
Rua Treze de Maio, 1.947 – Piso Paraíso
São Paulo - SP
informações
(11) 3171-3050

domingo, 20 de setembro de 2009

"Os Inocentes" é mais filme que "Desafio do Além" e "Louca Paixão". Alguém discorda?

Francamente, fiquei curioso para saber mais sobre "The Haunting", o filme predileto de Jay Schneider, organizador do livro "1001 filmes para ver antes de morrer". Diz ele que trabalhou com 50 críticos para elaborar essa obra que já vendeu 1 milhão de cópias, 40 mil só por aqui. Dá um total de 20 fitas para cada colaborador, o que é sem dúvida uma moleza, para nós que trabalhamos com mais de 8 mil títulos no "Guia de Filmes em Vídeo" da Abril Cultural nos anos 80. Mas quantidade não significa qualidade e, por ser americano, o trabalho do Schneider deve ser mesmo a maior das maravilhas. Voltando ao filme que ele mais admira e colocou no topo da lista dos 1001, foi exibido no Brasil em 1963, com o título de "Desafio do além" (foto acima). O diretor era Robert Wise, o mesmo do célebre "Amor, sublime amor" (West Side Story)e que tinha começado em Hollywood como montador do mais babalado ainda "Cidadão Kane".

Não vi o original com Claire Bloom, mas ri bastante da refilmagem do mesmo roteiro de Shirley Jackson, com Catherine Zeta-Jones, Liam Neeson e Clive Owen feita em 1999 com o título brasileiro de "A casa amaldiçoada" (foto acima) e que ganhou o froféu framboesa de ouro de pior filme daquele ano. De qualquer modo, vou atrás do DVD, para tirar a limpo essa história. Porque tenho absoluta convicção de que o MELHOR FILME de horror daquela época é "Os Inocentes" (foto abaixo), dirigido por Jack Clayton em 1961, com Deborah Kerr, a partir de uma sofisticada novela de Henry James. Esse sim valeria a pena colecionar.

Já o segundo filme na preferência do super-crítico que mereceu página inteira do Estadão, é "Louca Paixão" (Turkish Delight) que o holandês Paul Verhovem fez em 1973, quando ainda era "underground" e que foi proibido pela censura no Brasil dos militares. Aí entrou para a lista dos prazeres cinematográficos proibidos pelo regime, como "O último tango em Paris", "A Comilança", "O império dos sentidos" e " Laranja mecânica". Anos mais tarde vi o filme (foto abaixo) com Rutger Hauer e não encontrei nada de extraordinário, além de cenas de sexo e violência ultrajantes e já datadas: uma espécie de "Love Story" estilo hippie e ainda mais melodramático.

Mas, conforme Schneider que veio para "abrilhantar" a Bienal do livro do Rio, este também é um dos 1001 que a gente não pode deixar de lado antes de ir para o bebeléu. O segundo colocado na longa relação. Na entrevista, ele esclarece que teve o cuidado de não dizer que estes são os "melhores filmes". Por sua vez, os 290 que incluí no meu livro com esse título são os melhores sim! Pelo menos eu explico porque tenho essa opinião a respeito deles. Aliás, estarei fazendo isso ao vivo no dia 03 de outubro, às 16 horas, no Pavilhão do Festival do Rio, desde o ano passado instalado na Rua Barão de Teffé 75. (foto abaixo) Será um debate sobre os rumos do cinema contemporâneo que foi organizado para o lançamento do livro Festival do Rio. Estão todos convidados.
Lançamento do livro
OS MELHORES FILMES NOVOS
290 filmes comentados e analisados
Debate sobre
Os rumos do cinema contemporâneo
Rio de Janeiro
PAVILHÃO DO FESTIVAL
Rua Barão de Tefé 75 - Saúde
dia 03/10/2009 - 16 horas

sábado, 19 de setembro de 2009

Conhecendo a Gol, a Tam e a Webjet, é impossível não sentir saudade da Panair

Uma das mais elevadas ambições do cinema documentário é a de criar conhecimentos novos sobre o mundo e não se limitar a somente divulgá-los. Agora disponível em DVD, “Panair do Brasil” de Marco Altberg chegou aos cinemas junto com o livro “Pouso Forçado” do jornalista Daniel Sasaki. Ambos revelam uma das histórias mais brutais e escabrosas do regime militar, que foi a destruição daquela empresa, símbolo de eficiência e modernidade no Brasil dos anos 50. O ensaio histórico e jornalístico de Sasaki é primoroso, mas o filme atinge dimensões que apenas o áudio visual pode alcançar. Falo de Elis Regina lançando a canção de Milton Nascimento “Saudades dos Aviões da Panair”; dos velhos funcionários que anualmente se reúnem para celebrar as glórias do passado; dos documentários de época em que o locutor noticiava a compra de uma aeronave Constelation como se o país tivesse vencido uma guerra ou campeonato mundial de civilidade. É vergonhoso que aquele crime político, tão revoltante quanto a tortura dos cidadãos e a censura aos meios de comunicação, seja tão pouco conhecido pelas gerações que se seguiram ao período da ditadura. Alguns antigos funcionários entrevistados declaram que não entendem porque motivo os militares liquidaram a Panair do Brasil, não apenas a empresa mas também a sua imagem pública. No entanto o filme de Altberg mostra que, além de favorecer outra companhia alinhada ao regime de exceção, a idéia era eliminar aquela perigosa ponte do Brasil com o mundo livre e civilizado. Hoje é possível sentir na pele o resultado dessa tragédia institucional, cada vez que entramos em contado com as companhias herdeiras daquela espoliação: em geral gigantescos aglomerados de oportunismo e incompetência.
Panair do Brasil
2007 Brasil 71 min
estreia 07/11/2008
gênero documentário
distribuição Downtown Filmes
Direção Marco Altberg

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Uma viagem no tempo pelo túnel de um metrô

Meus caros!
Ainda não fui ver "O Sequestro do Metrô". Mas reli a crítica que escrevi há EXATAMENTE 34 anos sobre uma filmagem anterior da mesma história. Ela foi publicada no dia 18 de setembro de 1975, no "Jornal da Tarde" que, na época era o mais chique do país, com Murilo Felisberto como redator chefe e Maurício Kubrusly como editor de cultura. Foi lá que eu comecei esta trajetória de crítico, em 1972. É, no mínimo, um atestado de "senioridade" neste ofício que me proporcionou o prazer de ver tantos filmes e a oportunidade de refetir sobre eles. Confesso que não tive o cuidado de contar quantos títulos assisti de lá para cá, mesmo porque sempre prestei mais atenção em qualidades e menos em quantidades.
Naquele filme, Walter Mathau tinha o papel que agora é do Denzel Washington. E, no lugar do John Travolta, estava Robert Shaw. A ênfase era mais no humor do que no suspense. O que eu proponho a vocês é me ajudarem na comparação entre os dois filmes. E vejam em que medida a análise de 1975 se aplicaria (ou não) à versão de 2009. Por minha conta, deu para perceber o quanto eu mudei em termos de estilo e forma de abordar um filme, ao longo dessas 3 décadas e meia criticando o trabalho dos outros. Tomara que as mudanças tenham sido positivas. Após o cartaz de 1974, segue o texto da crítica de 75, com um tipo de letra diferente. Aguardo os seus comentários sempre tão pertinentes.
Quando os diretores não confiam no suspense da história que devem filmar, geralmente tentam adicionar outros ingredientes. Em "Juggernaut" (*) , por exemplo, Richard Lester tinha consciência de estar pisando num terreno onde somente Polanski ou Hitchcock podem caminhar à vontade. Por isso, contou a história do resgate de um transatlântico da maneira mais irônica possível. Neste filme, em que os seqüestradores passam para o "underground", o diretor Joseph Sargent mostra-se incapaz, tanto de suspense, quanto de ironia. O máximo que consegue é misturar momentos de tensão com amenas palhaçadas.
A tensão fica a cargo de Robert Shaw, que comanda o bando de sinistros sequestradores. Walter Matthau faz o policial que tenta negociar com os bandidos. Ele lidera o resto do elenco que, em sua totalidade, se encarrega das palhaçadas. Como num programa humorístico de televisão, todas as frases ditas pelos personagens precisam conter uma piadinha. A quadrilha informa que quer um milhão de dólares para liberar os 17 reféns que mantém presos num vagão do "subway". Ao que Matthau, pelo rádio, responde: "Quero saber como é que vocês pretendem fugir daí. Só se pedirem para a população de Nova York fechar os olhos e contar até cem".
Robert Shaw avisa a polícia que, se não enviassem o dinheiro no prazo de uma hora, começaria a fuzilar os reféns. Inicia-se, então, uma batalha contra o tempo e contra a situação financeira da cidade, que não dispõe da quantia solicitada. A ação do filme transcorre quase em "tempo real" — o que aumenta ainda mais a semelhança com Juggernaut. Mas, enquanto Lester retirava humor das situações e dos acontecimentos, o diretor deste filme procura fazê-lo somente através das "jokes" ditas pelos personagens. Antes de ser metralhado, o chefe da estação do metrô ainda se lembra de perguntar aos bandidos: "Por que vocês não escolheram um avião como fazem os sequestradores normais?".

A história, além de previsível, apresenta-se mal montada: o espectador nunca sabe quando deve rir ou sentir medo. O suspense, portanto, fica sem efeito. E as piadas só têm graça quando ditas por Walter Matthau — um ator que não precisa dizer nada para sugerir o riso. Depois de uma hora e meia de perigo, terminado o sequestro, ainda há tempo para uma última brincadeira. Dentre os apavorados reféns, apenas uma pessoa não sentira medo: uma velhinha, bastante alcoolizada, que dormira o tempo todo. Quando o vagão estaciona, ela acorda e pergunta: "Já chegamos à rua 42?". Com um roteiro tão truncado, a figura da velhinha torna-se a mais coerente de todas. O seu sono deve ter inspirado muita gente da platéia e representa a única atitude possível diante do filme.

(*) "Juggernaut" - filme inglês de Richard Lester que foi lançado na mesma época, sobre o sequestro de um transatlântico, com Richard Harris e Omar Shariff.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Na semana que começa dia 18/09, a "Mostra de Cinema Mundial" e outras boas novidades

Até o dia 24 prossegue no Cinesesc, com entrada gratuita, a Mostra de Cinema Mundial que apresenta 37 filmes inéditos e independentes de 14 países. Entre os destaques, a retrospectiva da obra de Brillante Mendoza, o cineasta filipino que foi premiado como melhor diretor no último Festival de Cannes pelo drama "Kinatay" (acima). Trata-se de um cinema carregado de atualidade, que radicaliza a integração entre documentário e ficção. De uma trajetória que se inicia risonha e familiar, acompanhamos um jovem estudante recém casado numa noite de pesadelo. Quase por acaso, ele participa do assassinato de uma mulher, brutalmente torturada e esquartejada diante de seus olhos. O diretor não nos poupa (nem ao personagem) um só detalhe do sórdido espetáculo, como se estivesse empenhado em documentar a cena, do mesmo modo que um fotógrafo criminal o faria. Depois de alguns minutos de natural resistência, somos levados a partilhar a experiência com o protagonista. Sábado, dia 19/09, às 11 da manhã, Brillante Mendoza participa de um encontro com o público lá no Cinesesc.
Em matéria de estréias, a semana traz boas novidades, como a 2ª parte de “Che”, de Steven Soderbergh, com Benício de Toro (acima). O título é “A Guerrilha” e se mostra ainda mais frio e descritivo que o anterior. “A verdade nua e crua” é uma comédia romântica americana, carregada de erotismo e piadas sobre sexo. Mas não perde a elegância e é bastante engraçada, principalmente pela boa atuação de Katherine Heigl (abaixo).

E finalmente o drama independente “Goodbye Solo”, de Ramin Bahrani (foto abaixo) que, apesar do nome iraniano, foi considerado pelo célebre crítico Roger Ebert como “o novo grande diretor americano”. Esse é um filme de satisfação garantida para qualquer público.

Com “Goodbye Solo”, Ramin Bahrani injeta sangue novo no cinema americano

Nesta semana estréia o drama “Goodbye Solo”, de Ramin Bahrani. Apesar do nome iraniano, esse cineasta foi considerado pelo crítico Roger Ebert como “o novo grande diretor americano”. Com apenas 32 anos, e uma carreira de 3 filmes, ele é uma figura recorrente em festivais como Cannes e Sundance. Em Veneza 2008, “Goodbye Solo” foi premiado melhor filme pelos críticos. Sem procurar inovações de linguagem, Ramin Bahrani investe na expressividade do roteiro, que ele mesmo escreve. Trata-se de um filme construído a partir de personagens diferentes de tudo o que se costuma ver em Hollywood: um drama que atinge dimensões humanas de uma profundidade inesperada, para quem vê no cinema apenas um mecanismo de evasão. Na Carolina do Norte, um imigrante senegalês conduz um passageiro para o pico de uma montanha e, no caminho, percebe que seu cliente pretende se suicidar. E aí, sem a menor cerimônia interfere na vida do desconhecido, tentando fazê-lo mudar de idéia. O cineasta é, de fato, filho de iranianos e um jornalista lhe perguntou se “Goodbye Solo”era inspirado no cinema do Irã que, recentemente, adquiriu certa visibilidade no ocidente. Mas ele respondeu que a sua principal referência era um filme que Roberto Rosselini fez em 1950, com roteiro de Federico Fellini: “Francisco, o arauto de Deus”. Nele, Bahrani viu personagens que radicalizavam o princípio cristão de “amar ao próximo como a ti mesmo” e conseguiam amar o outro mais do que a si mesmos.
Goodbye Solo
EUA 2008 – 91 minutos
gênero drama / aventura
estréia 18 de setembro 2009
distribuição Imovision
Direção Ramin Bahrani
Com Souleymane Sy Savane, Red West,
Diana Franco Galindo, Lane 'Roc' Williams

O personagem é revolucionário, mas o filme é um docudrama dos mais ortodoxos.

Che 2 – A Guerrilha” é a continuação do filme de Steven Soderbergh produzido por Benício del Toro. Na primeira parte, intitulada “Che – o argentino” ainda havia a inserção de pensamentos do líder revolucionário, como uma voz em off na trilha sonora, além de trechos reconstituídos de seu pronunciamento na ONU. Mas aqui nada se coloca do universo interior do personagem. Nenhum conflito interno, nenhuma cogitação. Não vemos o que seria uma ação dramática, apenas a sua movimentação física. Isso porque a câmara se limita a registrar as atividades e as falas de fato pronunciadas por ele, durante a guerrilha na Bolívia − período em que se achava isolado de qualquer comunicação com o mundo exterior. Com exceção das cartas que trocava por meio dos raros e eventuais visitantes ao seu acampamento. Um dos únicos momentos de drama acontece quando ele critica um desses mensageiros, a russa Tânia, interpretada por Franka Potente. Apenas em duas ou três cenas a câmara se afasta do acampamento e revela o que acontecia fora dali. Numa delas, aparecem o presidente Barrientos da Bolívia e os militares americanos. E em outra, Fidel Castro, passando a receita de um prato típico. Mais até do que a primeira, portanto, esta segunda parte é exemplo de um trabalho em que a forma se impõe ao conteúdo. Ou seja, o estilo adotado para descrever a campanha boliviana de Che Guevara acaba por reduzir o alcance da obra como um todo.
Che 2 – A Guerrilha
Che: Part two
gênero drama histórico / docudrama
EUA/ França/ Espanha 2008 – 133 min
estréia 18 de setembro 2009
Distribuição Europa Filmes
Direção Steven Soderbergh
Com Benício del Toro, Franka Potente,
Joaquim de Almeida,Matt Damon, Demian Bichir

Lançado em DVD, “Dúvida” espetáculo tão teatral quanto cinematográfico

Autor de “Dúvida”, John Patrick Shanley é uma figura excepcional no meio cinematográfico. Ninguém lembrava de que, em 1987, ele ganhara o Oscar como roteirista de Feitiço da Lua. Agora quase duas décadas e meia dúzia de filmes depois, ele reaparece com Dúvida, uma peça teatral que, entre vários outros prêmios, ganha o Pulitzer e o Tony ao mesmo tempo. Em seguida, adapta o texto teatral para cinema e dirige o filme ele mesmo. A surpresa não é apenas a excelência do resultado, mas a maneira inusitada como ele conduziu a direção. Começa rompendo um dos preceitos básicos da dramaturgia que é revelar a carpintaria do drama: logo na primeira frase, um dos personagens verbaliza o tema central, que é justamente a dúvida. Ou seja, aquele estado de espírito experimentado por qualquer ser humano e que é inerente a todo o conflito interno, quase um pré-requisito para qualquer ação, principalmente a dramática. A partir dessa fala inicial, dita com precisão cirúrgica por um padre interpretado por Philip Seymour Hoffman, o público é fisgado pela força do texto e acompanha a trajetória da protagonista, a freira vilã vivida magistralmente por Meryl Streep. Mesmo sem prova alguma, ela tem certeza de que o padre molestara um dos coroinhas e nem pensa em dar-lhe o benefício da dúvida. Assim como os demais personagens, a professora Amy Adams assiste de camarote esse embate entre a razão e a força de vontade.
Dúvida
Doubt
2008 – EUA
Distribuição Disney
Direção John Patrick Shanley.
Com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman,
Amy Adams, Viola Davis

Na comédia "A verdade nua e crua” destacam-se o talento e o charme de Katherine Heigl

Os opostos se atraem − como atestam os físicos. “Vive la diference”, como dizem os franceses. E as aparências enganam... como todo o mundo sabe. O filme “A verdade nua e crua” não é documentário, nem filme pornô, embora os diálogos tenham até mais palavrão e piadas sexuais. Impressionante como o cinema americano se transformou nesse aspecto, desde o tempo da auto-regulamentação, que vigorou de meados dos anos 30 até o fim da década de 1970. Trata-se de uma comédia que leva o adjetivo de “romântica”, só porque o tema é um caso de amor. Entre um rapaz e uma moça que, aparentemente, nada têm a ver um com o outro. Ela uma elegante executiva de televisão e ele um cafajeste profissional. Ela, uma sonhadora que vive em busca de um par perfeito, e ele um realista totalmente convicto dos valores machistas. Ele é interpretado por Gerard Butler, o guerreiro espartano de “300” e ela é a princesinha Katherine Heigl de “Ligeiramente Grávidos”. Na primeira parte, o humor rasteiro de Robert Luketic, que dirigiu “Legalmente Loira”, chega a incomodar. Mas aos poucos o roteiro até apresenta algumas sutilezas e vai ficando engraçado. “A verdade nua e crua” não é indispensável, mas tem a sua graça. Não por Gerard Butler, que sempre entorta a boca quando fala um pouco mais depressa. Mas por Katherine Heigl, que já tinha mostrado ser uma boa atriz, agora prova que é uma excelente comediante.
A verdade nua e crua
The Ugly Truth
EUA - 2009 – 109 min.
estréia 18 de setembro 2009
Gênero Comédia / crítica de costumes / erotismo
Distribuição Columbia
Direção Robert Luketic
Com Katherine Heigl e Gerard Butler

domingo, 13 de setembro de 2009

Semana de 11 de setembro: Hollyood sequestrou a maioria das salas de cinema

Nesta semana as estréias de cinema estão travadas pelo fato da maioria das salas lançadoras já estarem ocupadas por dois ou três títulos: os desenhos animados “Força G” e “Altas Aventuras”, além do filme de suspense “O Sequestro do Metrô” (acima). Portanto só se arriscaram três produções de baixo calibre e interesse reduzido. “Falando Grego” (abaixo)é uma comédia estrelada pela canadense de origem grega Nia Vardalos, que ficou mais ou menos conhecida pelo filme “O Casamento Grego”. Aqui ela faz o papel de uma professora de história grega que trabalha como guia turística e perdeu a alegria de viver. É humor de baixa voltagem e de pretensões sentimentais.
Sentimental mesmo é “Uma Prova de Amor” (abaixo), sobre uma adolescente, vivida por Abigail Breslin, a jovem estrela de “A Pequena Miss Sunshine”, que foi posta no mundo apenas para ser a doadora de medula óssea para a irmã mais velha, que sofre de leucemia. É um conflito e tanto pra menina suportar. É só o que podemos dizer pra não estragar a surpresa sobre o que ocorre a seguir. O diretor é o talentoso Nick Cassavetes, que se revelou com “Alpha Dog” (2007) e é filho do lendário Johns Cassavetes. E finalmente “High Scholl Band”, aventura adolescente feita por uma uma equipe que nada tem a ver com a série “High School Musical”. A não ser a estrelinha Vanessa Hudgens, que fazia o papel da heroína Gabriela Montez e aqui interpreta uma figura diametralmente oposta.

Lançado em DVD, "Milk – A Voz da Igualdade", o Oscar de Melhor Ator para Sean Penn.

Neste filme de Gus van Sant, Sean Penn interpreta Harvey Milk, personagem histórico verdadeiro que, de fato, entregou (literalmente) a vida à luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais, em São Francisco. O foco é o intenso ativismo daquele líder, que se iniciou em 1972 quando ele já tinha 40 anos, e se estendeu até 1978, ano em que enfrentou políticos decididos a promulgar uma lei para impedir os acusados de homossexualismo de trabalharem como professores em escolas públicas. A narrativa segue a linearidade costumeira nestes filmes em que a dramaturgia serve apenas para disfarçar as intenções didáticas. Mas Gus van Sant tratou de evitar um tratamento linear e angelical para esse idealista que, em 1977, venceu uma eleição para o conselho municipal, a primeira conquistada por um homossexual nos EUA. E deixou bem claro que ele apenas começara aquela cruzada porque precisava criar condições sociais para que a sua loja de serviços fotográficos pudesse funcionar em paz e pagasse o aluguel. A partir daí, o roteiro vai descrevendo as peripécias partidárias do protagonista, aliás, trabalhado com requinte naturalista por Sean Penn. Até porque se trata aqui de interpretar uma pessoa real, e não um personagem literário. Ao contrário de seus filmes anteriores, marcados por personagens desprovidos de vontade própria, neste Milk Gus von Sant elabora uma homenagem à força de vontade humana.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"As Aventuras de Tom", Oscar de 1963: em DVD, um clássico da literatura e do cinema

Lançado em DVD um clássico do cinema baseado num clássico da literatura. Trata-se de "As Aventuras de Tom Jones", dirigido pelo inglês Tony Richardson em 1963, ano em que ganhou 4 Oscars: melhor filme, roteiro, música e direção. Estrelada por Albert Finney, é a adaptação de uma obra fundadora do romance moderno na Inglaterra do século 18, escrito por Henry Fielding em 1749. (capa abaixo) Mostra a odisséia de um jovem filho bastardo de um proprietário de terras que é injustamente expulso de casa e obrigado a tentar a sorte em Londres. E assim vive peripécias sociais e amorosas das mais variadas, ainda que só pense numa única amada. É, portanto, uma trajetória inspirada em Cervantes e no modo como ele tratava as narrativas medievais dos cavaleiros andantes, cujas aventuras, em Dom Quixote, serviam para mostrar ao leitor retalhos da realidade social que o escritor observava.
Do ponto de vista de cinema, Richardson introduz determinados procedimentos inovadores de metalinguagem quando, por exemplo, alguns personagens olhavam para a câmara e se dirigiam diretamente ao espectador. E não fazia isso para parecer moderno, mas para ser fiel à própria estrutura do romance. Para valorizar o DVD, entre os extras, há uma verdadeira aula sobre o romantismo inglês gravada pela prof. Sandra Vasconcelos, livre docente da USP na FFLCH. Eu até recomendaria que se assistisse essa intervenção antes do filme, para aproveitá-lo melhor. O mais curioso é que a única referência factual e históricamente documental do filme se refere ao Levante Jacobita de 1745, tema do filme "Culloden" (foto abaixo), que Peter Watkins faria no ano seguinte e que foi considerado o primeiro "docudrama" do cinema contemporâneo.

As Aventuras de Tom Jones
Tom Jones
Inglaterra 1963
gênero: odisséia cômica e histórica
Distribuição Versátil
Direção Tony Richardson
Com Albert Finney, Susannah York,
Hugh Griffith, Joan Greenwood

Com "UP" e o 3D, o faturamento do cinema americano vai às nuvens. Já o nosso...

A nova animação da Pixar/Disney “Up – Altas aventuras” foi lançado no Brasil em 331 salas, sendo 75 delas com projeção 3D. Dublado em português com a voz de Chico Anysio no papel principal, o filme já bateu o recorde da própria Pixar no Brasil. No primeiro fim de semana, a aventura do velhinho que viaja na própria casa presa a milhares de balões já levou ½ milhão de espectadores aos cinemas, faturando mais de R$ 5,5 milhões. Os executivos atribuem o sucesso à projeção 3D. Lembram que, a cada ameaça, Hollywood costuma inventar uma novidade tecnológica como atrativo para as salas de cinema. Assim como o cinemascope foi uma resposta à TV, o 3D seria um contra-ataque em relação ao home-theater, à internet e à pirataria. No ano passado, as salas "só" arrecadaram R$ 700 milhões de bilheteria. Mas em 2009, por causa do 3D, deverão alcançar R$ 1 bilhão.
Por sua vez, com a maioria das salas tomadas pelo cinema americano, o nosso cinema vive um triste e lamentável paradoxo: ou seja, a indústria cinematográfica brasileira está crescendo mais do que o seu próprio público. Entre 2001 e 2008, a produção cresceu 163%, enquanto o público dessas mesmas produções só aumentou em 6,6%. O melhor ano do período foi 2003, quando mais de 22 milhões de pessoas assistiram a filmes como “Carandiru” (acima) e "Lisbela e o Prisioneiro" (abaixo). Mas em 2008, os filmes brasileiros tiveram apenas 39% desse público. Não existe, portanto, efeito especial que possa recuperar essa perda de 60%...