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sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Salt" é Angelina Jolie competindo com Mulher Maravilha, Homem Aranha e James Bond

"Salt" traz Angelina Jolie no papel de uma super agente secreta da CIA. Super mesmo, do tipo que se joga de um viaduto de 15 metros de altura sobre um caminhão em movimento e, de lá, salta para um trem de carga, sofrendo apenas um arranhão que ela cura com uma gota de mertiolate. Tudo isso de baixo de bala e cercada por uma multidão de atiradores profissionais. Essa mal descrita cena é uma das centenas que constituem a trajetória de uma heroína que faria inveja à “Mulher Maravilha” (aquela que Linda Carter filmou em 1975) ou ao próprio Batman – o qual, numa direção contrária, vem se humanizando a cada filme.
Trata-se de uma superprodução que aposta no estrelismo total da atriz que, apesar de seu físico mais para modelo do que para guerreira, acaba matando a tapa centenas de bandidos e salvando o mundo de uma guerra total. O diretor é o australiano Phillip Noyce que, em 2003, foi aplaudido por “O Americano Tranqüilo”, um filme de espionagem especialmente sofisticado, a partir de um livro de Graham Greene. Mas aqui a sofisticação é confundida com complicação e a espiã troca de lado com a mesma facilidade com que muda a cor de cabelo.
Ninguém poderá reclamar que a personagem é unidimensional porque, na verdade, ela parece um cruzamento de Houdini, o mestre das fugas imposíveis, com o velho Lon Chaney, o ator das “mil caras”. Chega a ser constrangedora a sequencia em que Angelina se finge de homem e “ninguém percebe”. Mas a culpa é do roteirista Kurt Wimmer que, depois de “Ultravioleta” (2006), adotou um estilo pop em que tudo é permitido para a protagonista. A estatura financeira do projeto obrigou-o a maquiar a história com a pretensiosa e já desgastada idéia de uma conspiração neo-soviética que teria se iniciado com o assassinato de Kennedy.
SALT
Salt
EUA - 2010 – 101 min. - 16 anos
Estréia 30 07 2010
Gênero Ação/ Suspense / Política internacional
Distribuição Columbia
Direção Phillip Noyce
Com Angelina Jolie, Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor
COTAÇÃO
**
R E G U L A R

domingo, 25 de julho de 2010

Algo de muito errado no bem amado reino de Sucupira, de Guel Arraes com Marco Nanini

A adaptação cinematográfica de "O Bem Amado", com Marco Nanini no papel que era do Paulo Gracindo só vale para quem não viu a versão clássica da TV. Mesmo com direção de Guel Arraes e elenco competente, o filme decepciona e se arrasta perdendo graça a cada minuto. Nem parece que foi feito pela mesma turma de “Lisbela e o Prisioneiro” (2003). Noventa e cinco por cento das vezes, Marco Nanini acerta no que faz. Mas, infelizmente, estamos diante daqueles 5% em que o astro prova que é gente como a gente e erra na dose. Desde a primeira cena até o encerramento, ele interpreta Odorico Paraguaçu dois ou três tons acima do que seria aceitável.
Ou seja, o prefeito de Sucupira grita demais e o tempo todo. Quem quiser pode comparar com fala saborosa e musical de Paulo Gracindo, que ainda pode ser ouvida na rádio CBN, toda sexta feira às 9:30 da manhã no programa do Heródoto Barbeiro. Quase todos os intérpretes também exorbitam. Exceção seja feita às atuações de José Wilker como Zeca Diabo e a de Matheus Nachtergale como Dirceu Borboleta, que se acham à altura da versão original. Ao contrário de Nanini e Tonico Pereira, eles sabem que não estão num palco de teatro, mas numa imensa tela de cinema. A tentativa de situar historicamente a gestão de Odorico entre a renúncia de Jânio e o golpe de 64 é razoável, mas não salva o filme

O Bem Amado
estreia 23 07 2010
Brasil - 2010 – 110 min. - 12 anos
Gênero Comédia / farsa / política
Distribuição Columbia
Direção Guel Arraes
Com Marco Nanini, Maria Flor, Caio Blat, José Wilker
COTAÇÃO
* *
REGULAR

"Vincere" de Marco Bellochio: a incontestável vitória de um grande cineasta dos anos 60

Aos 71 anos, Marco Bellochio é aquele mesmo que, nos anos 1960, inspirava a onda da contra cultura com “De Punhos Cerrados”, citado pela nouvelle vague e pelo cinema marginal brasileiro. Depois de passar algum tempo em sanatórios, voltou com força à carreira, ganhando um urso de prata em Berlim (1991) com “A Condenação”. Nesta semana estréia “Vincere”, seu último trabalho, com o qual inclusive concorreu à Palma de Ouro em Cannes: uma obra no mínimo deslumbrante, do ponto de vista dramático e visual.
Ela mostra a ascensão do ditador fascista Benito Mussolini, narrada do ponto de vista de sua primeira mulher e financiadora Ida Dalser, encarnada de modo comovente por Giovana Mezzogiorno, cujo rosto nos remete à "madonas" da pintura renascentista. Pelo filme vemos que o ditador iniciou a carreira como líder socialista e, depois, traiu os seus ideais em nome do poder. Porém, a protagonista é Ida, que insiste em ter seu filho reconhecido pelo Duce e, exatamente por isso, passou 11 anos de sua vida em manicômios.
A chave do roteiro é justamente essa: ela não era louca, mas por sua vez o país inteiro perdera a razão, na trilha de seu líder megalomaníaco e desequilibrado. Este aparece interpretado por Filippo Timi e também em pessoa, nos trechos de documentários que se misturam de modo especialmente harmônico com a ficção. A maestria de Bellochio na direção de atores se evidencia no trabalho de Timi, que parece um bicho feroz na pele de Mussolini e um rapaz gentil quando interpreta o filho que ele teve com Ida Dalser. Na verdade "Vincere" é uma experiência que concilia na mesma narrativa uma vertente intimista e outra épica, com massas em movimento, muito claro-escuro, e uma trilha sonora substantiva e quase operística. Propositalmente, para contrastar com Mussolini, a personagem não tem conflitos internos e segue até o fim fiel a seus princípios.

VINCERE
Vincere
estreia 23 07 2010
gênero docudrama / história / política
Itália/França , 128min, 35mm, 2009. (16 anos)
Distribuição Imovision
Direção de Marco Bellochio
Com Giovana Mezogiorno, Filippo Timi e Pier Giorgio Bellochio
C O T A Ç Ã O
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Ó T I M O

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Atores, música e texto de qualidade no DVD “Coração Louco” , ganhador de 2 Oscars

Lançado em DVD “Coração Louco”, que é mais um filme de ator, no sentido em que todo ele foi montado para colocar em evidência a atuação do protagonista. O esforço compensou, porque o desempenho de Jeff Bridges (“Starman – O homem das Estrelas” – 1984) lhe valeu a conquista do último Oscar de melhor ator. O personagem é um astro da música country de meia idade que, antes de conhecer o apogeu em sua área, entra em declínio por causa da bebida. Pelo rosto de Jeff Bridges passa todo o tormento causado pela decadência, o vício, a velhice e a proximidade da morte.
Poderia ser uma espécie de versão musical de “O Lutador”, com Mickey Rourke, que também concorria ao Oscar no ano passado, nessa mesma linha de um artista fracassado que tenta se redimir e busca uma segunda chance − o que constitui aliás, uma especialidade típica do cinema americano. Mas aqui a produção é bem mais caprichada, não só pelo virtuosismo do intérprete, mas pela composição de belas canções feitas especialmente para o próprio Bridges interpretar – uma delas é "The Weary Kind” que também arrebatou o Oscar. Pena que os nossos compositores "sertanejos" não se guiem por esse padrão musical, que não exclui o bom gosto ao pensar um universo interiorano e rural.
No elenco de apoio, “Coração Louco” coloca atores de alto gabarito, como Robert Duvall, Maggie Gyllenhaal e Colin Farrel, um irlandês fazendo papel de caipira americano. O roteiro investe, como se costuma, na figura de uma mulher para arrancar o cantor do fundo do abismo em que se encontra. Só que além do encontro amoroso, o herói repara melhor nos artistas com quem trabalha e observa um traço de solidariedade além da competição. É daí que se origina a força para a superação do personagem e, também, a originalidade do filme. Para o diretor Scott Cooper, aqui em seu primeiro filme, este é o sinal aberto para largar a timidez e tocar pra frente.
CORAÇÃO LOUCO
Crazy Heart
EUA - 2009 – 112 min. – 14 anos
Gênero Drama / musical
Distribuição Fox Films
Direção Scott Cooper
Com Jeff Bridges, Maggie Gyllenhaal e Robert Duvall
COTAÇÃO
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B O M

domingo, 11 de julho de 2010

“Guerra e Paz” e “Paris Vive à Noite”: boas indicações de lançamentos em DVD

Lançada a mais completa transposição para a linguagem audiovisual do clássico romance “Guerra e Paz” de Léon Tolstoi: o monumental romance que narra a invasão do Império russo pelas tropas de Napoleão, nas primeiras décadas do século XIX. Essa história já foi várias vezes filmada, tanto na Rússia quanto nos Estados Unidos, onde ganhou uma suntuosa versão assinada por King Vidor, em 1956, com Audrey Hepburn e Henry Fonda. Anos mais tarde, em 69, o soviético Bondarchuck ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro com uma superprodução sobre esse drama que focaliza cinco famílias da nobreza russa na época da invasão napoleônica.
Mas agora poderemos ver a trama histórica mais ampliada, tal como foi exibida pela TV européia em 2007. Ela abrange cenas que somam oito horas de duração e que, evidentemente são para serem vistas em episódios. A figura mais conhecida do elenco é a do inglês Malcolm McDowell ("Laranja Mecânica"), mas a música é composta pelo polonês Jan Kaczmarec, que fez a trilha sonora do “Drácula de Bram Stocker” de Francis Coppola. A direção coube ao experiente romeno radicado em Hollywood Robert Dornhelm que, em 1977, foi indicado para o Oscar por um documentário sobre a escola russa Kirov de balé da Rússia. Aliás, o famoso Balé Bolshoi de Moscou também participa dessa mini-série que a Versátill lança em 4 DVDs, incluindo um precioso making off dessa obra que apresenta uma dimensão mais coerente com a complexidade do texto imortal de Leon Tolstói.
Um raro exemplo de fusão entre documentário e ficção é “Paris Vive à Noite” (Paris Blues), com uma história ambientada em 1961, mosytrando músicos americanos de jazz que trabalham nos esfumaçados clubes noturnos parisienses, onde se reuniam os boêmios, os beatnicks e a intelectualidade existencialista. Além do astro francês Serge Reggiani (foto acima), eles são interpretados por Paul Newman (no trombone) e Sidney Poitier (no saxofone), evidentemente dublados e por músicos do quinteto de Miles Davis, sob a luxuosa supervisão de Duke Ellington, (foto abaixo) que assina a trilha sonora. Mas o filme ainda tem a participação de grandes ícones do jazz, como a cantora Diahann Carrol, o baterista Max Roach e o imortal Louis Armstrong. Ele faz um papel dramático na trama, colocando em pauta a questão do racismo, que na época ocupava o centro das discussões políticas. O diretor é o competente Martin Ritt (1914-1990), principal parceiro de Paul Newman e sempre lembrado por trabalhos densos como “Norma Rae” (1967) e “O Espião que saiu do Frio” (1979). Mas o interessante é que o filme é produzido pela empresa de Don Alan Pennebacker, cinegrafista do célebre “Primárias” − um dos filmes fundadores do cinema direto americano e também autor de documentários musicais inesquecíveis, como “Don’t Look Back” (1967) sobre Bob Dylan, e “Monterey Pop”, documentando o célebre festival de rock de 1968. “Paris Vive à Noite” é um presente para quem gosta de boa música.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A estreante Sophie Barthes se revela como autora de talento em “Almas à Venda”


“Almas à Venda” talvez possa ser classificada como uma comédia de ficção científica, porque gira em torno de uma máquina capaz de extrair a alma da pessoa. Depois de separada do corpo, ela pode ser armazenada e até comercializada, ou... roubada. No filme, uma atriz sem talento se apodera da alma de um grande ator de teatro e consegue um papel numa novela de TV. Evidentemente esta é uma trama alegórica, que acaba funcionando como ironia feroz contra todas as teorias que visam corporificar a criação artística, passando ao largo de seu caráter intangível e da sua imponderabilidade. O que a torna ainda mais interessante é que a roteirista e diretora, Sophie Barthes dá a essa história absurda e improvável um tratamento naturalista. Tanto que o tal grande ator que tem a alma roubada é ninguém menos que Paul Giamatti, interpretando ele mesmo e ampliando assim a estranheza do filme. A cineasta é uma francesa de trinta e quatro anos radicada em Nova York que reconhece a admiração pelo teatro de Gogol e Ionesco e pelo surrealismo de Buñuel. E confessa ter sonhado com essa idéia depois de ter lido O Homem Moderno em Busca de uma Alma, de Jung. Parte da ação se passa na Rússia porque é lá que vai parar a alma surrupiada de Paul Giamatti que, aliás, consegue a difícil façanha de se superar, trabalhando como o poeta fingidor de Fernando Pessoa. Ou seja, fingindo tão completamente, que finge ser verdadeiro o homem que realmente é.

ALMAS À VENDA
Cold Souls
EUA/ França - 2009 – 101 min. - 10 anos
estreia 09 julho e 2010
gênero: comédia / fantasia
Distribuição: Europa Filmes
Direção de Sophie Barthes
Com Paul Giamatti, Emily Watson e David Strathairn
COTAÇÃO
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Ó T I M O

domingo, 4 de julho de 2010

Porque não podemos ver "Amor Estranho Amor", com cópia nova e restaurada?

Entre os absurdos que se acumulam em nosso país, um deles atinge o mundo do cinema de modo revoltante, porque ressuscita a censura. Aquela forma de violar dois direitos ao mesmo tempo: o do artista de divulgar seu trabalho e do público de se informar a respeito. É aquela mesma violência típica da ditadura que visava proteger o regime de exceção e que, agora, regressa para resguardar o interesse de particulares. Falo de um desembargador do estado do Rio negando pedido de suspensão de uma liminar da Sétima Vara Cível que impede, vejam os senhores, impede o relançamento do memorável Amor Estranho Amor, filme produzido em 1982 por Aníbal Massaini Neto, um dos mais importantes da prestigiada filmografia de Walter Hugo Khoury, com Tarcício Meira e Mauro Mendonça. E sabem por quê? Porque o filme traz diversas cenas de Xuxa Meneghel sem roupa e fazendo sexo com um garoto de 11 anos.
Aliás, ela já aparece pelada logo no cartaz do filme que, evidentemente, foi feito antes dela se tornar a rica e poderosa apresentadora da Rede Globo, a assim chamada “rainha dos baixinhos”. Aliás, o Massaini e os herdeiros do Khoury se acham duplamente lesados porque esse abuso despertou a curiosidade do público e algumas cópias piratas do filme se espalharam pela internet. Todas de baixa qualidade técnica e que não mostram o filme como na realidade é: um drama que revisita a história política e moral de São Paulo e que, por uma irônica coincidência, termina com o início da ditadura do Estado Novo.

"O Pequeno Nicolau": primor do humorismo francês, por Coscinny e Sempé.

"O Pequeno Nicolau" é realmente muito bom, a ponto de reavivar a esperança na sobrevivência do humor francês, últimamente abalado em face das tristes comédias que vêm sendo apresentadas no mercado brasileiro. Resultado da colaboração entre René Goscinny (1926-1977) – o impecável criador de Asterix – e o cartunista Jean-Jacques Sempé, o roteiro coloca em pauta qualidades que deveriam ser obrigatórias em qualquer texto que pretenda despertar o riso. Falo de concisão, originalidade, presteza, senso crítico e, principalmente, empatia com o público.

Trabalhando com a memória das suas próprias infâncias, os dois autores partilharam as páginas de publicações semanais francesas, como o Sud-Ouest Dimanche e já foram lançadas em livro no Brasil, em 1986. Portanto, Nicolau é um garoto de sete ou oito anos que se movimenta nos anos 1950 e nos traz o sabor irremediavelmente superado da vida escolar e familiar naquela época. Mas assim mesmo consegue ser atemporal em seu encanto infantil, a um só tempo sarcástico e inocente.
O personagem foi comparado com o "Menino Maluquinho" de Ziraldo, porém tem muito mais a ver com Mafalda, desenhada por Quino, com Calvin de Bill Waterson ou Peanuts de Charles Schultz. Ou seja, em todos esses casos as crianças não se referem apenas à infância em si, mas ao mundo adulto. Esse é na verdade o alvo desse tipo de humor que, no caso de Nicolau revela o universo patético dos pais e professores. É possível que as crianças de hoje não morram de rir, como aquelas que estão escondidas dentro de cada um de nós adultos.

O PEQUENO NICOLAU
Le Petit Nicolas
estreia 02 julho 2010
França, 2009, 91 min, livre.
gênero infantil / comédia / história
Direção Laurent Tirar
Com Maxime Godart, Valérie Lemercier,
Kad Merad e Sandrine Kiberlain
C O T A Ç Ã O

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B O M