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domingo, 24 de abril de 2011

“Minha Versão do Amor”: pérola do cinema canadense, o melhor da temporada

Ainda que este seja ainda o 2º trimestre 2011, “Minha Versão do Amor” já está na minha lista de melhores do ano, por diversos motivos. Primeiro porque nos dá a chance de admirar desempenhos antológicos como os de Dustin Hoffman e Paul Giamatti – no auge da sua técnica. Ele parece nos desafiar a não nutrir simpatia para com o tipo que ele interpreta: Barney, um sujeito beberrão e rabugento, daqueles que preferem perder um amigo a perder uma piada. Alguém mais chegado ao uísque e aos charutos do que às regras sociais ou à própria saúde e capaz de sacrificar qualquer coisa por uma partida de hóquei. Hóquei? Bem, o filme é canadense e faz questão de sublinhar essa origem, adaptando um livro de Mordecai Richler, falecido em 2001 aos 70 anos: um dos mais bem sucedidos roteiristas daquele país, autor de filmes ainda importantes para o entendimento do mundo atual, como “As Loucuras de Dick & Jane” (2005).
Numa sutileza do diretor Richard Lewis, alguns dos mais conhecidos cineastas do Canadá – como David Cronenberg, Denys Arcand, Ted Kotcheff e Atom Egoyam – fazem pontas em determinadas cenas. Outra sutileza: Dustin Hoffman interpreta o pai de Barney e seu filho Jake Hoffman faz o papel de filho dele. Uma proeza adicional de Giamatti é “rejuvenescer” uns 30 anos, para caracterizar o personagem agora e nos anos 1970. O tema é a história de uma vida atribulada e cheia de emoção, ainda que considerada pelo seu protagonista como um formidável fracasso. Por sua vez o filme também assume essa mesma falta de coerência interna, em termos de foco: a proposta é provocar o riso ou o desalento? Vamos divertir o público ou levá-lo a constatar o patético da existência humana?
Logo na primeira cena, por exemplo, temos uma piada em que o assunto é um ataque cardíaco. Mais adiante, o roteiro nos leva a sorrir sem culpa diante de um de um assassinato, em que Barney é o principal suspeito. Talvez o modo canadense de fazer cinema esteja em construção a partir desse tipo de sincretismo entre estilos tão diversos quanto o melodrama clássico de Hollywood e o neo-realismo italiano, o grafismo das séries televisivas e as reflexões existencialistas de algumas cinematografias européias.
As cenas rodadas em Roma dão a impressão de que embarcamos numa farsa de Mario Monicelli, mas, nos momentos finais experimentamos uma densa dose de angústia que remete a Ingmar Bergman do tempo de “Morangos Silvestres” (1957). Além da cativante e quase líquida movimentação da narrativa − capaz de saltar sem solavanco de uma passagem poética, para um qüiproquó de farsa teatral renascentista − a grande qualidade (de Barney e do próprio filme) é o senso de humor. Uma comicidade esperta como a de Woody Allen e cortante como a de Groucho Marx. Ou seja, aquela capacidade de produzir ironia e sarcasmo em tiradas nas quais ele mesmo é o alvo preferencial.



MINHA VERSÃO DO AMOR
Barney´s Version
Direção: Richard J. Lewis
estreia 22 04 2011
EUA - 2010 – 134 min. – 14 anos
Gênero: Comédia / drama / costumes
Distribuição California
Elenco: Paul Giamatti, Dustin Hoffman, Minnie Driver
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE

Em “Ricky”, o diretor François Ozon desafia rótulos e convenções das platéias

“Ricky” é dirigido pelo francês François Ozon, que gosta muito de brincar com a maneira de estruturar a narrativa. Em “Amor em cinco tempos” (2004), por exemplo, ele literalmente monta um relato de trás para frente, de tal modo que o filme se inicia com um caso de amor chegando ao fim e, em seu encerramento, assistimos ao desabrochar daquela relação. Talvez ali ele estivesse testando a validade de um hábito arraigado no consumo de cinema segundo o qual, não se deve revelar o fim de uma história para não “estragar” a surpresa. Em geral, depois que os enamorados se casam o filme acaba porque perde o interesse, que residia justamente na incerteza, liquidada pela informação de que eles passam a viver felizes para sempre.
Mas, recentemente o “final feliz” tornou-se algo cinematograficamente incorreto e Ozon nos propõe o seguinte quebra-cabeça: começa o filme por um final − não necessariamente pelo momento derradeiro do enredo, mas por um desfecho que o espectador pode situar mentalmente tanto no fim quanto no meio da trama. E para cada uma dessas decisões temos um espetáculo diferente, ainda que os fatos relatados sejam os mesmos: ou seja, uma operária passa a viver com um colega de fábrica, engravida, tem um filho e este manifesta no corpo uma característica não humana. Não vou adiantar qual seja, para não ser acusado de “spoiler”, que é justamente o que o próprio diretor assume ser desde o primeiro fotograma.
Esse contraste entre o estilo realista com que Ozon descreve o cotidiano dos personagens e o advento do extra-ordinário, aliás, é a essência do chamado “realismo fantástico” que chegou a marcar a literatura latino-americana, mais ou menos dos anos 1960 a 1980. A propósito, a escolha do ambiente social dos personagens e dos atores escolhidos para interpretá-los fortalece essa estratégia de estranhamento. Há até um livro de Gabriel Garcia Marques com o título de “Um senhor muito velho com umas asas enormes” – que parece apontar exatamente para um possível futuro do personagem Ricky.
RICKY
estreia 22 04 2011
EUA - 2009 – 90 min. – 12 anos
Gênero Drama / antasia / suspense
Distribuição California
Direção François Ozon
Com Alexandra Lamy, Sergi López, Mélusine Mayance
COTAÇÃO
* * *
B O M

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O melhor da comédia italiana numa mostra (gratuita) de 26 filmes bem escolhidos

A partir de hoje e até o fim do mês a Caixa Cultural, exibe de graça as mais engraçadas comédias italianas de todos os tempos. São 26 filmes produzidos entre 1950 e 70 na mostra “Comédia a la Italiana”, lá na Praça da Sé 111. Quem não se lembra de ter se divertido com pelo menos uma comédia daquele período? Ou seja, feita a partir do final os anos 1950. Em 1958 a Itália começava a viver o "milagre econômico". Foi o ano de "Os eternos desconhecidos" ("I soliti ignoti"), dirigido por Mario Monicelli, considerado como o primeiro grande filme deste ciclo cinematográfico chamado de "commedia all'italiana". É um estilo fundamentado nas tradições literárias e teatrais tipicamente peninsulares, que vão de Boccaccio à commedia dell'arte. Foram selecionados filmes produzidos entre as décadas de 1950 e 1970, formando um leque diversificado de linhas estéticas e problemáticas sociais. Nessa diversidade, porém, se destacam os chamados "mestres da comédia": Mario Monicelli, Dino Risi, Pietro Germi, Ettore Scola, Lina Wertmüller e Luigi Comencini. Nesse grupo há também outros nomes menos conhecidos do público brasileiro como Alessandro Blasetti, Antonio Pietrangeli, Franco Brusati e Gian Luigi Polidoro. Tão importantes quanto os diretores, são os artistas que deram corpo e voz aos seus personagens. Os atores mais característicos − verdadeiros representantes daquele tipo de cinema foram Vittorio Gassman (abaixo), Nino Manfredi, Monica Vitti, Stefania Sandrelli, Alberto Sordi, Ugo Tognazzi, Giancarlo Giannini, Gina Lollobrigida (acima), Sophia Loren, e, claro, Marcello Mastroianni.

Em DVD, "O Pequeno Nicolau": primor do humorismo francês, por Coscinny e Sempé

Lançado em DVD, "O Pequeno Nicolau" uma comédia leve esperta, a ponto de reavivar a esperança na sobrevivência do humor cinematográfico francês, ultimamente abalado em face dos tristes exemplos que vêm sendo apresentadas no mercado brasileiro. Resultado da colaboração entre René Goscinny (1926-1977) – o impecável criador de Asterix – e o cartunista Jean-Jacques Sempé, o roteiro coloca em pauta qualidades que deveriam ser obrigatórias em qualquer texto que pretenda despertar o riso. Falo de concisão, originalidade, presteza, senso crítico e, principalmente, empatia com o público. São ingredientes tão indispensáveis que grandes cômicos, como Chaplin e Jacques Tati jamais os ignoravam.
Trabalhando com a memória das suas próprias infâncias, os dois autores partilharam as páginas de publicações semanais francesas, como o Sud-Ouest Dimanche e já foram lançadas em livro no Brasil, em 1986. Portanto, Nicolau é um garoto de sete ou oito anos que se movimenta nos anos 1950 e nos traz o sabor irremediavelmente superado da vida escolar e familiar naquela época. Mas assim mesmo consegue ser atemporal em seu encanto infantil, a um só tempo sarcástico e inocente. O personagem foi comparado com o "Menino Maluquinho" de Ziraldo, porém tem muito mais a ver com “Mafalda” desenhada por Quino, com “Calvin” de Bill Waterson, ou até com “Peanuts” de Charles Schultz. Ou seja, em todos esses casos as crianças dos quadrinhos não se referem apenas à infância em si, mas ao próprio mundo adulto. Esse é na verdade o alvo desse tipo de humor que, no caso de Nicolau revela o universo patético dos pais e professores. É possível que as crianças de hoje não morram de rir, como aquelas que estão escondidas dentro de cada um de nós adultos.
O PEQUENO NICOLAU *Le Petit Nicolas * França, 2009, 91 min, livre. *gênero infantil / comédia / história *Distribuição Europa Filmes *Direção Laurent Tirar *Com Maxime Godart, Valérie Lemercier e Sandrine Kiberlain *C O T A Ç Ã O * * * * Ó T I M O

"Antes que o diabo saiba que você está morto", derradeiro filme de Sidney Lumet

No último dia 9 de abril, perdemos Sidney Lumet – aos 86 anos, ele foi um dos mais importantes diretores da história do cinema. Em seu legado temos mais de 60 filmes, 40 deles rodados em Nova York, incluindo obras primas como "Um Dia de Cão" e "Serpico" (ambos com Al Pacino) e "O Homem do Prego" (com Rod Steiger). "Antes que o Diabo Saiba que você está Morto", seu último e sensacional trabalho está disponível em DVD. Como sempre, ele convoca atores de ponta, para representarem numa linha de atuação contemporânea, como era o caso de Steiger e Pacino. Agora ele tem o talentoso jovem Phillip Seymour Hoffman contracenando com o veteraníssimo Albert Finney ("Tom Jones" - 1963), ao lado de Ethan Hawke e Marisa Tomei, numa trama pesadíssima, que focaliza uma família de negociantes de jóias, em que os filhos se colocam contra os pais. O roteiro começa com a tensão de uma série de TV, mas vai se adensando até alcançar a profundidade de uma tragédia grega. Todos os intérpretes se esmeram e o resultado é um dos dramas mais cortantes do cinema atual, principalmente porque acontece com pessoas com as quais a gente pode esbarrar no dia-a-dia. "Antes que o Diabo Saiba que você está Morto" já se coloca como um dos melhores do década, com o mestre Sidney Lumet colocando no bolso a maioria dos gênios do cinema que se consagraram nos últimos anos. Ele brinca com a estrutura narrativa, ao reciclar e renovar a técnica elaborada por Akira Kurosawa em "Rashomon" (1950), isto é, mostrar uma mesma situação de diferentes pontos de vista, apenas para sublinhar o seu estilo nervoso e amargurado de filmar. Antes que o Diabo Saiba que você está Morto *Before the Devil Knows You Are Dead *USA - 2007 - 117 min *gênero drama / crime *Distribuição Europa Filmes *Direção Sidney Lumet *Com Phillip Seymour Hoffman, Albert Finney, Ethan Hawke e Marisa Tomei *COTAÇÃO * * * * * EXCELENTE

terça-feira, 12 de abril de 2011

Oscar Wilde e Leon Tolstoi em filmes de ficção ainda em cartaz em São Paulo

Ainda está em cartaz “A Última Estação”, sobre os últimos dias de Leon Tolstoi - um autor cujos textos deram origem a mais de 150 filmes. Mesmo que a direção de Michael Hoffman não tenha despertado a emoção que o fato histórico mereceria, o roteiro selecionou aspectos da biografia do escritor que ainda provocam discussão nos dias de hoje. Como, por exemplo, a questão dos direitos autorais, que ele e seus companheiros desejavam tornar públicos − contra a vontade da esposa dele, interpretada com a competência de sempre por uma atriz que foi batizada como Ilyena Vasilievna Mironov – mais conhecida agora como Helen Mirren (que ganhou o Oscar por seu papel em “A Rainha” - 2009). Essa desavença permite um duelo de interpretações entre ela e o veteraníssimo Christopher Plummer, no papel de Tolstoi. Mas o grande duelo dramático do filme acontece com o habilidoso Paul Giamatti que faz o papel do principal aliado político de seu marido. Outro dado curioso é o tormento do escritor transformado em celebridade em sua velhice e cuja casa se acha sempre cercada de fotógrafos. Por sua vez, a maior parte de seus colaboradores aparece anotando tudo o que ele diz − como se estivessem elaborando a sua biografia. Infelizmente o diretor caiu na armadilha de criar discussões ruidosas e acaloradas para mostrar o caráter passional do povo russo. Mas ele se salva pelas pitadas de humor ao mostrar as diferenças entre a pessoa do romancista e as idéias que ele defendia. Continua em exibição “O Retato de Dorian Gray” que, mesmo sem ser uma obra prima, apresenta honestamente o texto de Oscar Wilde, o escritor irlandês que tanto marcou a cultura britânica de seu tempo (1854-1900). Além de uma produção cuidadosa, o filme traz atuações corretas como as de Ben Chaplin e Colin Firth. Recentemente o pensador franco-búlgaro Tzvetan Todorov, agora com 72 anos publicou um ensaio chamado de Os Aventureiros do Absoluto, sobre escritores que, como Oscar Wilde, não apenas aspirassem a uma forma de perfeição, mas que tivessem registrado por escrito esse projeto, além de tentar colocá-lo em prática. Para Todorov, o escritor surgiu aos olhos de seus contemporâneos como um “apóstolo da beleza”. E foi após a publicação de Dorian Gray (1890) que Wilde amplificou o seu programa de vida "bela e boa", adotando um bordão proposto por Ibsen: "Seja você mesmo". Como se sabe, por meio de um pacto diabólico, o personagem central se mantém jovem, enquanto o seu retrato pintado a óleo vai envelhecendo. Ou seja, ele não vive a própria vida, mas sim a de seu enganoso reflexo no espelho. A obra é, de resto, um retrato generoso da época vitoriana, apesar da narrativa fantasiosa que, curiosamente, utiliza uma trama sobrenatural para descrever com precisão quase jornalística os hábitos e a atmosfera intelectual daquele período histórico. Se recorresse aos seus escritos dos anos 1970, o próprio Todorov a consideraria o equivalente vitoriano a um conto de fadas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Finalmente aquele "Rio" brasileiro na batata aparece de verdade num desenho animado

A gente nem lembra, mas, conforme a tradição hollywoodiana o desenho animado é um gênero essencialmente musical. Por isso, o filme “Rio”, do carioca Carlos Saldanha, teve a felicidade de contar com a colaboração de músicos bem brasileiros, como Sergio Mendes, Jorge Bem e Carlinhos Brown. O mesmo aconteceu nos anos 1940, quando Walt Disney fez aqueles filmes com o Zé Carioca − igualmente ambientados no Rio de Janeiro, como “Alô Amigos” (veja no Youtube). Havia o Ary Barroso, a Carmem Miranda, o Bando da Lua, mas o som produzido, e também a imagem desenhada sobre ele resultaram pasteurizados e sem vida, ou seja, aquele triste “samba de americano”, num Brasil totalmente falso e idealizado pela política de "boa vizinhança". De fato, os artistas da Disney não precisariam ter estilizado o visual do Rio, para embelezá-lo. Mas com Carlos Saldanha as coisas mudam e, logo de cara, temos um balé de pássaros na floresta da Tijuca se esbaldando ao som de uma batucada. Em seguida vemos imagens belíssimas e, ao mesmo tempo realistas, de um jogo de futebol, da praia de Ipanema, do bairro de Santa Tereza e até de uma favela. A história se baseia num tema ecológico: como a arara azul é uma espécie em extinção, um cientista brasileiro vai buscar um macho nos Estados Unidos para acasalar com uma fêmea no Rio de Janeiro. Aqui eles são raptados por um traficante de animais, mas recebem a ajuda de um tucano e de um buldogue, misturando-se a um desfile de escola de samba. A cena de maior impacto visual acontece quando uma personagem de nacionalidade americana desaba por acaso como destaque num carro alegórico em pleno no desfile na Sapucaí e, então, ela aprende a rebolar na marra. Assim como o arara americano, que não sabia voar porque passara a vida toda numa gaiola, precisa bater as asas para sobreviver. Se houvesse aqui uma "moral da história", poderia ser a de que a civilização só presta quando não aniquila o instinto. Ou, traduzindo para o mundo do cinema, o artista só se torna universal (como o animador Carlos Saldanha) quando não se esquece do cantinho onde nasceu.

RIO

EUA - 2011 - 105 min. – Livre

estreia 08 04 2010

Gênero Animação

Distribuição: Fox Films

Direção Carlos Saldanha

COTAÇÃO

* * * * *

EXCELENTE

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Na Cinemateca em abril, uma retrospectiva completa da história do cinema baiano

Começando dia 6 e durante o mês de abril, a Cinemateca Brasileira promove uma retrospectiva do cinema baiano. Desde clássicos em cópias restauradas pela própria Cinemateca, a filmes representativos da produção baiana nos anos 2000, passando pelo Ciclo do Cinema Baiano (1959-1964) e pela produção de vanguarda das décadas de 1960 e 1970. Entre muitas outras atrações, teremos Bahia de Todos os Santos (1960), de Trigueirinho Neto, marco do Ciclo do Cinema Baiano, e raiz do cinema novo; O Mágico e o Delegado (1983), deliciosa comédia de Fernando Coni Campos; do célebre cineasta Roberto Pires teremos Redenção (1959), A Grande feira (1961), com Antônio Pitanga, Luiza Maranhão e Helena Ignez (foto acima); e Tocaia no asfalto (1962), fotografado pelo mestre Hélio Silva. Glauber Rocha comparece com Barravento (1961), seu primeiro longa-metragem, e as obras-primas Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969) – dois clássicos do cinema mundial. Pérolas do underground baiano surgem filmes como Meteorango Kid – Herói intergalático (1969), de André Luiz Oliveira, um retrato da juventude baiana em plena ditadura militar no Brasil. Além de contar também com um programa de curtas realizados nos anos 1990 e 2000, a mostra apresenta os longas Cidade Baixa (2005), de Sérgio Machado, com Alice Braga, Lázaro Ramos e Wagner Moura (foto abaixo), Prêmio da Juventude no Festival de Cannes de 2005, e Eu me lembro (2005), de Edgar Navarro, grande vencedor do Festival de Brasília de 2005.

Atenção para "Cópia Fiel", mas cuidado com o excesso de credenciais e de elogios...

Permanece em cartaz “Cópia Fiel”, um filme que foi avaliado com 4 e 5 estrelas por alguns jornais de grande circulação. Com todo o respeito pela opinião dos colegas, alerto os leitores para determinadas características deste trabalho do iraniano Abbas Kiarostami estrelado por Juliette Binoche. Por meio dele, ela foi merecidamente premiada no Festival Cannes do ano passado, provavelmente por seu sobre-humano esforço para atribuir vida a uma figura irrevogavelmente literária. Mas o que foi ótimo para a atriz, não é para o espectador, que precisa suportar uma hora e quarenta e minutos desse palavrório sem o menor interesse para qualquer pessoa, além da dupla posicionada diante da câmara. Ou seja, um efeito bem diferente do que Ingmar Bergman brilhantemente obteve em 1973 com “Cenas de um Casamento”. Apesar de a ficha técnica enumerar nove personagens, eles são na verdade meros figurantes, porque o roteiro se resume a um único diálogo entre ela e o coadjuvante, interpretado pelo barítono inglês William Shimell. Ironicamente, o exímio roteirista Jean-Claude Carriére é um desses figurantes. O projeto parece uma espécie de confraria internacional de artistas reunida em torno de Kiarostami, talvez em função de sua importância política, que cresceu muito após a condenação de Jafar Panahi pelo regime do Irã. A quantidade de atores em cena não é, de fato, critério para dimensionar a qualidade de uma peça dramática. No entanto, o texto foi construído para um filme em que as divagações filosóficas se misturam penosamente com frases banais e confissões íntimas. Não há intensificação dramática e as falas se sucedem meio que trafegando em círculos, à espera da surpresa final. Esse diálogo é filmado num trajeto entre duas cidades na Toscana, mas poderia perfeitamente acontecer num único cômodo, que o significado permaneceria inalterado: uma tediosa discussão acerca da frase “uma boa cópia pode ser melhor que o original”. Como vemos, o principal tema desse bate-papo é a já superada questão estética da dicotomia cópia versus original que, aliás, já foi abordada muito mais profundamente em 1989, por Wim Wenders, na abertura de “A Identidade e Nós mesmos”. Juliete viaja quilômetros para mostrar a William a reprodução de uma pintura renascentista exposta num museu. Bastaria, porém, mostrar-lhe uma cópia Xerox dessa imitação. Ou seja, a gracinha final que remete ao universo de Eugene Ionesco e à comicidade de “A Cantora Careca” apenas amplifica a inutilidade do esforço cinematográfico de colocar o casal em movimento físico, provando que chegaria aos mesmos resultados, se os dois personagens ficassem sentados num banquinho, em frente a um fundo neutro. Mas nesse caso não haveria filme, e nem premiação no Festival de Cannes.


CÓPIA FIEL

Copie Conforme.

Irã/ Itália/França - 2010 – 106 min. - 14 anos.

estreia 18 03 2011.

Gênero Drama.

Distribuição Imovision.

Direção Abbas Kiarostami.

Com Juliette Binoche e William Shimell.

COTAÇÃO.

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REGULAR