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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

"Quem Quer Ser Um Milionário": pontos em favor do grande premiado no Oscar 2009

A rotina se repete: basta o filme ser colocado no topo do pódio, para começar a ser apedrejado. Mas é preciso reconhecer os principais pontos positivos do filme:
1. Uma estrutura narrativa pouco usual: combina o suspense natural à competição em que o protagonista se acha envolvido (será que o favelado consegue se tornar um milionário?) com o mistério sobre o seu passado que vai se desvendando aos poucos (de onde ele veio?). Do mesmo modo, articula o realismo brutal de algumas lembranças (a miséria e o conflito étnico na favela) com a transfiguração poética dessa realidade (encontro com a menina que ama) para “explicar” como ele pode ter dado as respostas certas para cada pergunta (como, por exemplo, o nome dos Três Mosqueteiros);
2. A escolha de intérpretes desconhecidos: pelo menos no Ocidente, porque alguns deles são veteranos profissionais que já filmaram nos EUA, como Irrfan Khan que fez o papel de inspetor de polícia e, recentemente, vimos em Viagem para Darjeeling, Nome de Família e O Preço da Coragem. Outros são celebridades na Índia, como a super-modelo Frieda Pinto (foto acima) e Anil Kapoor (na foto superior e abaixo). Este, no papel de apresentador de TV, pertence a uma verdadeira dinastia de atores de sucesso e, aos 50 anos, já trabalhou em mais de 100 produções. Esse contraste tem o efeito de ampliar a impressão de realidade a ser transmitida pelos atores infantis − um recurso que, aliás, foi inaugurado por Hector Babenco, ao filmar Pixote (1981). Naquele filme, jovens intérpretes amadores, como Fernando Ramos da Silva, contracenavam com Marília Pêra, Beatriz Segall, Rubens de Falco e Jardel Filho.
3. A opção por um misticismo assumido, em que a religião ocupa um papel central na trama. Assim como em seu filme anterior Caiu do Céu, em que alguns santos católicos, como Santa Clara e São José conversam com o protagonista, neste filme, o personagem central tem uma clara visão de Vishnu (uma das três manifestações da suprema divindade, ao lado de Bhrama e Shiva). O que é curioso, porque ele é muçulmano e justamente por isso, sua mãe morrera queimada num conflito com hinduístas. Mais curioso ainda é ver a academia de Hollywood e, por extensão todo o povo americano, aplaudindo de pé um filme em que o herói é devoto de Maomé. Ponto para Danny Boyle!
4. Nos anos 30, para combater o desânimo da crise, os filmes populistas de Frank Capra pregavam a excelência do sistema, em que os profissionais esforçados e competentes seriam recompensados. Aqui, Danny Boyle mostra um homem que é premiado diretamente pela providência divina − por sua índole pacífica e sua capacidade de amar. Fala, portanto, de valores mais universais, que se referem à humanidade como um todo, e não apenas aos agraciados que vivem na sede do capitalismo.
5. Toma um livro de autor indiano e vai filmá-lo lá, na periferia do sistema, interagindo criativamente com os criadores locais, especialmente os músicos, que ajudaram a revestir o espetáculo de franqueza e autenticidade. Assim, o projeto lança pontes entre continentes, linguagens, simbologias, culturas e economias.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Uma nova Academia em Hollywood? Haverá um novo enfoque para o Oscar?

Na Rádio Bandeirantes, comentando a premiação do Oscar enquanto ela acontecia, na madrugada de 22/02, as pessoas se surpreenderam com a quantidade de acertos da pesquisa que levei para o estúdio. Praticamente, o único premiado que não coincidiu com o favorito foi Sean Penn (Milk), melhor ator em vez de Mickey Rourke (O Lutador). Provavelmente, nesse ponto, a pesquisa de opinião não acreditou na mudança de foco que a Academia viria promovendo nos últimos anos. A escolha de Rourke estaria mais de acordo com a preferência tradicional dos votantes, que é a de recompensar os indivíduos que dão a volta por cima e se superam, apesar das dificuldades. Falo do ator envergando a aura de seu personagem. Mas, entre os dois competidores, o colégio eleitoral preferiu destacar o profissional mais competente e, que além disso, representava uma corrente grupal da sociedade. De resto, a previsibilidade dos resultados foi tão assustadora quanto surpreendente, a ponto de motivar a piada: “no ano que vem não precisaremos ficar acordados até essa hora porque, com essa pesquisa do Luciano, vamos poder deixar os comentários gravados”.
Apesar da ausência de espetáculos inteligentes, como Che (Soderbergh), Foi Apenas Um sonho (Mendes) e Queime Depois de Ler (Coen), venceram os filmes que tinham o que dizer e não se limitavam a divertir. Até Batman, O Cavaleiro das Trevas pagou caro por sua origem no universo dos comics e foi para o limbo, em companhia de O Homem de Ferro, Hell Boy e O Procurado. A confirmar essa tendência, logo veremos as estatuetas se afastaram completamente dos títulos que alcançarem melhores resultados de bilheteria. Neste ano, pela primeira vez, boa parte dos títulos indicados sofreu diminuição na renda das bilheterias. Vamos observar o que acontecerá agora, depois da premiação.
Outra novidade é o filme feito sob medida para o Oscar, contrastando com os já existentes filmes planejados para ganhar festivais. Refiro-me a Quem Quer ser Um Milionário, de Danny Boyle, que levou oito troféus, justamente os mais importantes: filme, direção, montagem, fotografia, roteiro adaptado, trilha sonora, canção e som. O espetáculo é vibrante e funcionam como uma exortação à esperança e a fé na providência divina, mais ou menos como era Caiu do Céu (2004), filme anterior do inglês Danny Boyle. Mas parece se originar de uma receita: produção realizada num país emergente, com talentos e técnicos locais; personagens muito humildes, a cargo de atores desconhecidos. Além de tudo, o protagonista é um pobre garoto órfão muçulmano (foto acima) prestes a ganhar milhões num programa de perguntas e respostas que já tinha derrubado os intelectuais mais cultos do país. A polícia e a produção da TV desconfiam de fraude e prendem o rapaz. Após torturas que incluem choques elétricos, ele conta a sua vida para o inspetor e, assim, o roteiro consiste num longo flashback em que o favelado se revela um protegido do destino, ou das forças celestiais. Ao mesmo tempo, como ele se tornara uma celebridade nacional, reaparecem figuras de seu passado que ele não via há anos. A narrativa se conclui com a última etapa do concurso, coincidindo com o enfrentamento daqueles conflitos que ele carregava desde a infância. Assim como aconteceu com Cidade de Deus − ao qual muita gente atribui a grande inspiração de Boyle – Quem Quer ser Um Milionário também vem sendo acusado de estilizar a miséria.

Quem Quer ser Um Milionário
Slumdog Millionaire
(2009 - Inglaterra)
Direção Danny Boyle
Com Dev Patel, Anil Kapoor,
Freida Pinto, Irrfan Khan

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Com "Rio Congelado", a competente veterana Melissa Leo concorre ao Oscar

Sabemos que a crise econômica começou com o colapso do mercado imobiliário dos EUA. Coincidência ou não, o filme se inicia com uma mulher de meia idade em pleno desespero porque o marido fugira de casa com as economias destinadas a pagar a segunda parcela de uma casa nova. Trabalhando meio período num mercado do Alasca, ela não encontra alternativa senão se associar a uma índia mohawk para transportar imigrantes ilegais chineses e paquistaneses para o país. Eles eram trazidos no porta-malas de seu carro, atravessando um rio congelado que é uma fronteira nacional com o Canadá. Mesmo a 30º abaixo de zero, a travessia sobre o gelo oferece um risco considerável, que inclui uma possível barreira policial. À primeira vista o filme, escrito e dirigido pela cineasta iniciante Courtney Hunt (Memphis, 1964) é apenas o triste relato de um problema social que se manifesta em todo o planeta. Mas o que vemos é uma pungente recriação da vida, por meio do trabalho da competente Melissa Leo que recentemente vimos em 21 Gramas (2003) e concorre ao Oscar de melhor atriz. Pouco conhecida entre nós, Melissa já trabalhou em quase 80 filmes. Juntas, ela e a diretora surpreendem com um dos momentos mais comoventes do cinema contemporâneo, quase uma tentativa de encenar um milagre de natal acontecendo naquele pedaço esquecido do planeta. É uma produção modesta, com orçamento inferior a US$ 1 milhão, provando que a criatividade vale mais que qualquer efeito especial.
Frozen River
Rio Congelado
(2008 - EUA)
Direção de Courtney Hunt
Com Melissa Leo, Misty Upham e Michael O'Keefe

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

“O casamento de Rachel” é fonte de ar fresco no cinema de um veterano

Aos 65 anos, Jonathan Demme é um diretor que filma de tudo. Famoso por obras intensas, como Filadélfia (1993) e Silêncio dos Inocentes (1991), ele tem realizado primorosas refilmagens de antigos clássicos, como Sob o Domínio do Mal (2004) de The Mandchurian Candidate, e O Segredo de Charlie (2002) de Charade. Sem falar de um documentário recente sobre Jimmy Carter. A nova surpresa é este O Casamento de Rachel, o primeiro roteiro escrito por Jenny Lumet, filha e discípula do mestre Sidney Lumet, de Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (2008): mais uma demonstração daquela perspectiva sintetizada por Mario Monicelli no título de Parente Serpente (1992).
O que surpreende é a linha do roteiro, quase que determinada diretamente pelo tempo real dos acontecimentos que envolvem uma cerimônia de casamento. Ao contrário do que fez Robert Altman em 1978, no filme com esse nome, ele não mostra a encenação por meio de múltiplos pontos de vista. Coloca a sua câmara no meio dos convidados e, discretamente, vai captando as coisas importantes que acontecem no meio de banalidades, como uma competição de lavagem de louça, evidentemente improvisada.
O diretor se comporta mais ou menos como um dos convidados que deixa a sua câmara caseira permanentemente ligada. Com algo dos cineastas ligados ao Dogma, portanto, Jonathan Demme nos coloca lá dentro da festa, para ir tomando contato com os personagens à medida que vão se colocando: a protagonista não é a Rachel que se casa, mas a irmã dela, vivida por Anne Hathaway, no papel mais sério da sua carreira que não para de crescer. Presa numa clínica de reabilitação de viciados há mais de dez anos, ela só sai para participar do casamento. Deixemos que o motivo dessa prisão, e o modo como cada figura se relaciona com ele, seja descoberto pelo espectador. Esse é o verdadeiro encanto dessa experiência que dá ao diretor veterano a leveza de um cineasta iniciante

Rachel Getting Married
O Casamento de Rachel
estréia 13/02/2008
(2008 – EUA)
Direção de Jonathan Demme
Com Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Debra Winger,

“Milk – A Voz da Igualdade” tem as qualidades e os defeitos usuais das biografias

O filme anterior de Gus van Sant era Paranoid Park (2007), que vinha recheado de não-personagens, isto é, de figuras desprovidas de sentido dramático e levadas como folhas secas pelo vento dos acontecimentos aleatórios propostos pelo encenador. Agora, em Milk – A Voz da Igualdade, aquele vazio é trocado por um herói firmemente fincado em seus objetivos de caráter político. Uma figura extraída da realidade histórica e que, de fato, entregou a vida (literalmente) à luta pelo reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais, em São Francisco. O foco é o intenso ativismo de Harvey Milk, que se iniciou em 1972 quando ele já tinha 40 anos, até 1978, ano em que enfrentou políticos decididos a promulgar uma lei para impedir os acusados de homossexualismo de trabalharem como professores em escolas públicas.
A narrativa segue a linearidade costumeira nestes filmes em que a dramaturgia serve apenas para disfarçar as intenções didáticas. Como Gus van Sant não é ingênuo, porém, tratou de evitar um tratamento angelical para esse idealista que, em 1977, venceu uma eleição para o conselho municipal, a primeira conquistada por um homossexual nos EUA. E deixou bem claro que ele apenas começara aquela cruzada porque precisava criar condições sociais para que a sua loja de serviços fotográficos pudesse funcionar em paz e pagasse o aluguel. A partir daí, o roteiro vai descrevendo as peripécias partidárias do protagonista, aliás, trabalhado com requinte naturalista por Sean Penn. Até porque se trata aqui de interpretar uma pessoa real (foto acima), e não um personagem literário. É interessante notar a semelhança entre a estrutura narrativa deste filme com Fale Comigo, que acaba de ser lançado em DVD. Da mesma maneira, ainda que contando com menos recursos de produção, também descreve a luta de um ativista pelos direitos civis de outra minoria − como veremos a seguir, nem tão minoria assim nos EUA.

M I L K
Milk − A Voz da Igualdade
estréia 20 de fevereiro de 2009
(2008 – EUA)
Direção de Gus van Sant
Com Sean Penn, James Franco, Josh Brolin, Emile Hirsch

domingo, 15 de fevereiro de 2009

"Fale Comigo" mostra um real combatente pelos direitos dos afro-americanos

Em 1997, após mais de 30 filmes como atriz, Kasi Lemmons (Saint Louis, 1961) começou a dirigir filmes, com o elogiado Amores Divididos. Agora sai, apenas em DVD, o seu último trabalho: Fale Comigo, a biografia de Ralph “Petey” Greene, um dos combatentes menos conhecidos na luta contra a segregação racial nos EUA. Ex-condenado, nos anos 60, ele foi o primeiro grande astro afro-americano do rádio a usar o veículo como um meio de defender os direitos humanos de sua comunidade. Sediado na emissora WOL de Washington, é claro que ele usou a crescente popularidade do Rythm & Blues para difundir suas propostas ideológicas.
Ele era um disc jockey que realizava uma espécie de talk show direto, com o povo da cidade, pelo telefone, sem nenhuma trava de comunicação, comentando alguns dos acontecimentos mais explosivos da história americana, como a morte de Martin Luther King. Juntamente com o cantor James Brown, uma noite após a tragédia do assassinato do líder, ele comandou um grande espetáculo ao ar livre para a despedida de King, em Washington, que poderia ter se transformado numa carnificina, não fossem os apelos pacifistas do radialista. Mas apesar (ou mesmo por causa) de seu afiado senso de humor, ele não chegou a se projetar na mídia em escala nacional. Sua linguagem era considerada ultrajante e ofensiva, afugentando patrocinadores e produtores. No filme é interpretado com o máximo de entusiasmo por Don Cheadle (Hotel Ruanda), apoiado por um grande elenco em que se destacam Chiwetel Ejiofor, Taraji P. Henson, Martin Sheen e Cedric the Enterteiner. Falando desse herói de seu povo que combateu “à sombra”, a diretora Kasi Lemmons mostra que chegou no ofício para ficar.

Fale Comigo
Talk to Me
(2007 - EUA)
Direção Kasi Lemmons
Com Don Cheadle, Taraji P. Henson, Chiwetel Ejiofor,
Martin Sheen e Cedric the Enterteiner.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O desenho animado "Coraline" não é para crianças e, talvez, nem para adultos

É o maior e mais caro longa-metragem de animação filmado em stop motion e o primeiro rodado em 3D. Ou seja, foi todo feito com bonecos de silicone, espuma de látex e resina. A computação gráfica só entra para os efeitos especiais. A pré-produção consumiu dois anos e a filmagem levou 18 meses. Tudo por conta de um escritor famoso munido de uma boa idéia que, no entanto, se perdeu no percurso de um caminho tão longo e tortuoso. Mais ou menos como o túnel que separa o “mundo real” do mundo paralelo em que a heroína transita.
Coraline se muda para uma casa velha e os pais não lhe dão a atenção que ela necessita, porque se acham exageradamente mergulhados em trabalho. Até aí nada de novo ou incomum. Mas, por acaso, ela descobre uma porta secreta se abrindo para um túnel que a conduz a uma outra casa, mais ou menos igual à sua, onde encontra réplicas dos pais, só que melhores: mais carinhosos e interessados nela. A história foi publicada em 2002 pelo inglês Neil Gaiman e entregue para o animador e diretor Henry Selick, de O Estranho Mundo de Jack. Na idéia central do autor, nem sempre as pessoas que mais nos amam nos dedicam a atenção que a gente pede. E que, por outro lado, às vezes, aqueles que mais tentam nos agradar são justamente as figuras das quais precisamos fugir. Em 1940, Walt Disney dizia a mesma coisa em Pinóquio.

Gaiman é uma celebridade do universo dos quadrinhos, no qual se destaca pela série Sandman, especialmente barroca e confusa. Talvez isso explique a vacilação no ritmo dos acontecimentos que fazem a trajetória de horrores vivida pela protagonista de 11 anos: a leitura de uma revista se resolve em poucos minutos, mas o filme dura uma hora e quarenta. E aos previsíveis episódios dessa aventura sombria falta sedução gráfica, tornando-os mais grotescos do que apavorantes.
C o r a l i n e
(2009 - EUA)
Direção Henry Selick
Estréia 13/02/2009

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Em "Operação Valquíria" pode-se ver e sentir o modo com os fatos históricos acontecem

A excelência ou a pobreza de um plano não explicam o sucesso nem o fracasso de uma batalha. Isso é o que neste filme mostra o diretor Bryan Singer, atualmente marcado por filmes sobre heróis de quadrinhos, como X Men (2000) e Super Man – O Retorno (2006). Desta vez ele fala de um herói de verdade, ou melhor, de um grupo de militares alemães que, de fato, tentaram executar Hitler, no final da Segunda Guerra. Foram todos fuzilados porque, como se sabe, o atentado fracassou, ainda que tivesse sido matematicamente planejado. Essa é a prova da competência dos realizadores: mesmo conhecendo o final do filme, é muito difícil que a platéia se distraia um só minuto. O diretor Bryan Singer (Nova York, 1965) não filma um único plano sem necessidade e, assim, somos levados a entender a mecânica da história, na qual múltiplas decisões são sempre tomadas ao mesmo tempo.
A bomba que explodiu perto do ditador não o matou, mas, mesmo assim, a operação teria derrubado o regime nazista − não fosse a atuação de personagens anônimos que permaneceram fiéis a ele, como os operadores do telégrafo que noticiaram o malogro da tentativa de eliminar Hitler. Esse episódio já foi tema de filme mais de quinze vezes, sendo a mais famosa A Raposa do Deserto (1951), de Henry Hathaway. O líder da conspiração foi o coronel Klaus Von Stauffenberg, interpretado com dignidade e comedimento por Tom Cruise. Se tudo tivesse dado certo, o novo presidente da Alemanha seria o General Beck, encarnado por Terence Stamp. O resto do elenco é de primeira, com destaque para Tom Wilkinson, Bill Nighy e Carice van Houten.

Operação Valquíria
V a l k y r i e
(2008 – EUA / Alemanha)
Direção de Bryan Singer
Com Tom Cruise, Tom Wilkinson, Terence Stamp,
Kenneth Brannagh, Bill Nighy e Carice van Houten
estréia 13 de fevereiro de 2009

O tema de "O Lutador" não pode ser confundido com a trajetória típica de "Rocky"

O Lutador (estréia 13/02/2009) é dirigido por Darren Aronofsky (Nova York, 1969), cujo último filme lançado no Brasil foi A Fonte da Vida (2006), um roteiro instigante, porém confuso, sobre um homem em busca da eternidade, numa trajetória desenvolvida em três diferentes épocas. Desta vez, a trama é bem mais simples, com uma narrativa em estilo quase documental sobre um profissional de luta livre que, nos anos 80, era um grande astro dessa modalidade e que agora se encontra em dolorosa decadência. Continua se apresentando em arenas de quinta categoria e, para sobreviver, cumpre tarefas temporárias num supermercado perto de sua “casa” na periferia de New Jersey: um modesto trailer cujo aluguel nem sempre consegue pagar. Mickey Rourke (Nova York, 1952) empresta a este tipo tristonho um pouco da sua própria aura de fracassado que tenta voltar ao estrelato como ator.
Caso raro nesse ambiente, ele que na juventude já lutara boxe como amador, tornou-se profissional em 1991, depois de ter chegado a protagonizar filmes de grande sucesso, como Nove Semanas e ½ de Amor (1986) de Adrian Lyne. Quando se aposentou em definitivo do ringue, em 1994, seu rosto se achava irreconhecível, devido a uma série de fraturas e cirurgias. A carreira no cinema derrapou com vários papéis sem importância em produções baratas, até chegar esta oportunidade que ele soube honrar, trabalhando com todo o empenho para dar credibilidade e interesse humano ao personagem. Há, de fato, algumas passagens comoventes, como aquela em que ele tenta se reconcilar com a filha de quem se afastara. À primeira vista, o roteiro parece repetir a típica rotina da série Rocky, em que ele se prepara para uma luta quase impossível contra um antigo oponente, o que lhe faria famoso outra vez.
Na verdade, esta não é uma “história de superação”, mas de reencontro de um homem consigo mesmo. Nessa busca pela identidade perdida, o lutador tem a companhia de uma dançarina de strip-tease que pretende voltar a ser mãe de família, interpretada com sensibilidade e amargura por Marisa Tomei. Ambos concorrem ao Oscar e, aliás, as apostas em torno da candidatura de Rourke cresceram 50% na última semana.
O Lutador
The Wrestler
(2008 - EUA / França)
Direção de Darren Aronofsky
Leão de Ouro no Festival de Veneza 2008
Com Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood

domingo, 8 de fevereiro de 2009

“Foi Apenas um Sonho”: mais que drama, uma inesperada tragédia existencial

O filme só compete pelos Oscar de direção de arte, figurino e ator coadjuvante (Michael Shannon). Mas é melhor do que muitos dos indicados e inclusive ganhou o USC Libraries Scripter Award de 2008, que é oferecido pela associação nacional das bibliotecas americanas para o melhor roteiro adaptado de uma obra literária. Não conhecia o romance “Revolutionary Road” de Richard Yates, mas o roteiro de Justin Haythe é sensacional, ainda que não tenha sido escolhido para concorrer ao Oscar. Sob a capa de um pequeno drama familiar (casal entra em crise após o fracasso do plano de se mudar de Connecticut para Paris) ele elabora um raro exemplar de tragédia existencial cinematográfica. De tão acurada, a trama poderia ser assinada por Jean Paul Sartre − só para aquilatar a sua profundidade sócio-psicológica.
A protagonista é vivida por Kate Winslet, já premiada por este papel no Globo de Ouro. Ainda bem que os jornalistas estrangeiros em Hollywood, que escolhem aquele prêmio, não deixaram passar em branco essa evidência − apesar de não terem agraciado o filme e nem o diretor Sam Mendes, o talentoso cineasta inglês de Beleza Americana (1999). Poucas vezes o cinema conseguiu demonstrar tão sinteticamente os impasses culturais de um período da história americana como este Foi Apenas Um Sonho. Focaliza um casal que se une logo após o fim da Segunda Guerra e cujo casamento coincide com a consolidação do sistema econômico que só agora vemos entrar em crise nos Estados Unidos.
A monótona vidinha de classe média – definida pelo lúcido lunático interpretado por Michael Shannon, como “the hopeless emptyness” (o vazio desesperador) – incomoda o vaidoso personagem de Leonardo DiCaprio, mas é a esposa quem concebe a idéia de se mudar para a Europa e “passar a viver de fato”. No entanto, os obstáculos a essa meta se mostram tão intransponíveis quanto insidiosos, ou seja, se encontram em tudo, em todas as coisas e pessoas. Exatamente como era a expressão dos desígnios divinos, na tragédia clássica. Insistindo na comparação, o filme também tem um coro (os vizinhos e amigos), um mago portador da verdade (o já citado maluco de Michael Shannon), sem falar na sangrenta catarse do final.
Os personagens simbolizam os pais da geração que se encontra atualmente transtornada pela crise econômica: dessa gente que atravessou a adolescência nos anos 60, experimentou a rebeldia e depois se integrou ao sistema, chegando agora à aposentadoria. Na pele da heroína, a encantadora rebelde que todos queríamos ter sido, Kate Winslet verbaliza a consciência do filme na frase: “ninguém se esquece da verdade, apenas se aprende a mentir melhor”.

Foi Apenas Um Sonho
Revolutionary Road
estréia 13 de fevereiro de 2009
(2008 – EUA / Inglaterra)
Direção Sam Mendes
Com Kate Winslet, Leonardo DiCaprio,
Michael Shannon, Katy Bates

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

"Dúvida" é baseado em peça premiada com o Pulitzer e o Tony, dirigido pelo próprio autor

John Patrick Shanley (Nova York, 1950) é uma figura excepcional no meio cinematográfico. Quase ninguém se lembrava de que, em 1987, ele ganhara o Oscar como roteirista de Feitiço da Lua. Agora quase duas décadas e meia dúzia de filmes depois, ele reaparece com Dúvida, uma peça teatral que, entre vários outros prêmios, ganha o Pulitzer e o Tony ao mesmo tempo. Em seguida, adapta o texto teatral para roteiro de cinema e dirige o filme ele mesmo. A surpresa não é apenas a excelência do resultado em termos de cinema, mas a maneira inusitada como ele conduziu a direção. Começa rompendo um dos preceitos básicos da dramaturgia que é revelar a carpintaria do drama: logo na primeira frase, um dos personagens verbaliza o tema central, que é justamente a dúvida. Ou seja, aquele estado de espírito experimentado por qualquer ser humano e que é inerente a todo o conflito interno, quase um pré-requisito para qualquer ação, principalmente a dramática.
A partir dessa fala inicial, dita com precisão cirúrgica por um padre interpretado por Philip Seymour Hoffman, o público é fisgado pela força do texto e acompanha a trajetória da protagonista: a freira vilã vivida magistralmente por Meryl Streep. Mesmo sem prova alguma, ela tem certeza de que o padre molestara um dos coroinhas e nem pensa em dar-lhe o benefício da dúvida. Assim como os demais personagens, a professora Amy Adams (na foto acima) assiste de camarote esse embate entre a razão e a força de vontade. Pano de fundo: começo dos anos 60, quando as mazelas sociais como racismo e intolerância começavam a ruir.
Dúvida
Doubt (2008 – EUA)
Dir John Patrick Shanley.
Com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman,
Amy Adams, Viola Davis.
Estréia 06/02/2009

"O Leitor" de Stephen Daldry ("As Horas"): um espetáculo no mínimo indispensável

Direção, interpretações e reconstituição de época impecáveis valorizam uma dramaturgia com a vergonha e o perdão como temas centrais. O livro (O Leitor) parcialmente autobiográfico do professor de direito Bernard Schlink foi lançado no mercado brasileiro junto com o filme. Inclusive porque a leitura, como atividade que separa os seres humanos em duas categorias inconciliáveis, é tema central do enredo. Kate Winslet interpreta uma mulher madura, solitária e analfabeta que trabalha como cobradora de bonde em Berlim, após a Segunda Guerra.
Por acaso, ela encontra um estudante de 16 anos com quem se envolve afetivamente. De um lado ela lhe proporciona uma iniciação sexual repleta de carinho e atenções. De outro ele lê de tudo para ela: da Odisséia às Aventuras de Huck. E, assim, ela dá-se ao luxo de visitar diariamente o encantador mundo dos livros, mesmo sem poder lê-los. E ele experimenta as delícias do amor carnal, ainda sem ter idade e nem licença para desfrutá-lo. Assim se passa a primeira metade do filme, que termina um pouco triste com o dia em que ela desaparece sem explicações.
Oito anos mais tarde, já estudante de direito, ele a encontra num tribunal, entre as acusadas de crimes de guerra praticados pelo nazismo: ela tinha trabalhado como guarda num campo de concentração. O promotor e as ex-colegas tentam incriminá-la por meio de um relatório que ela teria escrito. Em todo o planeta, apenas o ex-amante teria meios para salvá-la da condenação. Com esse dilema, o filme cresce em dramaticidade, preparando para o admirável e comovente desfecho do terceiro ato. Impossível perder.
"O Leitor" -
The Reader (2008 – EUA / Alemanha)
Dir Stephen Daldry.
Com Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross,
Florian Bartholomäi, Lena Olin, Bruno Ganz
estréia 06/02/09

Andréa Beltrão é "Verônica", personagem maior que o filme de Maurício Farias

Como em qualquer atividade, no cinema nem sempre as boas intenções garantem o resultado. Também não bastam nomes famosos no elenco, para garantir bilheteria. A celebrada Andréa Beltrão − em teatro, televisão e cinema, com mais de 15 filmes no currículo − interpreta uma professora estressada da rede municipal carioca: separada do marido e louca para se aposentar com vinte anos de serviço. Quando a mãe de um aluno de oito anos não vem buscar o garoto, ela resolve levá-lo para casa, na favela. Ao chegar, vê que os pais dele foram assassinados. Como o menino também corre perigo, foge com ele para escondê-lo. Inclusive dos policiais que o procuram para “queimar o arquivo”. Os momentos mais dramáticos e envolventes deste trabalho de Maurício Farias − justamente o diretor de Grande Família, O Filme (2007) − acontecem na frenética busca da professora por ajuda, lembrando a adrenalina de Glória (1980) , de John Cassavetes, com Gena Rowlands, que apresentava um tema, aliás, muito semelhante. Além da atuação do estudante Matheus de Sá (nas fotos com Andréa), outro mérito é o trabalho da própria Andréa Beltrão (Rio de Janeiro, 1964) que atribui vida real à personagem, representante dessa categoria profissional tão desrespeitada pela sociedade brasileira, aviltada pelo estado, ignorada pelas elites econômicas e esquecida pelo cinema. Farias dirige corretamente, com segurança nas seqüências de ação e suspense. O único ponto fraco de Verônica (estréia 06/02/2009) está mesmo na dramaturgia, que não consegue encontrar um desfecho para a trama à altura da maneira como foi aberta, levantando tantas questões tão importantes para o país.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Angelina está brava em "O Procurado", filme que veio de quadrinhos da pesada

Como O Espírito ainda vai demorar um pouco para chegar aos cinemas, vamos torcer para que O Procurado seja lançado logo em DVD. Esse filme com Angelina Jolie em fúria ficou pouquíssimo tempo em cartaz. Aparentemente O procurado é mais um filme baseado em histórias em quadrinhos, como Batman e Hulk. Digo aparentemente porque a novela gráfica em que se baseia O procurado é uma obra de autor e nada tem a ver com os super-heróis, que são produtos de massa. O estúdio Universal comprou os direitos para o cinema dos criadores Mark Millar e J.G. Jones, quando a série de seis edições ainda estava no segundo número. De fato, a primeira impressão que tive quando abri a revista em 2004 foi que aquela narrativa tinha tudo para um grande espetáculo de ação, com uma surpresa a cada página e uma aura de estranheza do começo ao fim.
Deve ter sido por isso que o estúdio contratou o russo Timur Bekmambetov para dirigir o projeto. Ele que fazia filmes de vampiros muito esquisitos, como Guardiões da Noite, em que parecia se inspirar no estilo visual de Tarkovsky e que, inexplicavelmente fizeram sucesso no mundo todo. Interpretado por James McAvoy (foto abaixo, no espelho retrovisor), de Desejo e Reparação, o herói é um fracassado e deprimido que descobre ser o filho de um matador profissional pertencente a uma poderosa irmandade de assassinos que existe a mais de mil anos. Seu líder atual é Morgan Freeman e a sua mentora na organização é Angelina Jolie. Os quadrinhos eram mais fantasiosos, porque se passavam num universo paralelo. Mas, apesar de ambientado numa Chicago de hoje, O Procurado tem um lado místico muito original.