Encontre o que precisa buscando por aqui. Por exemplo: digite o título do filme que quer pesquisar

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

De olho no Oscar e com a boca no microfone: uma avaliação ligeira dos premiados


A premiação do Oscar 2011 foi especialmente acertada, ainda que tenha sido uma das mais previsíveis dos últimos tempos, inclusive com a tradicional distribuição dos principais prêmios técnicos e artísticos entre os três favoritos. “A Rede Social”, sobre o criador do Facebook corria na frente, mas ficou apenas com três: roteiro adaptado, montagem e música. O 2º mais bem cotado “O Discurso do Rei” foi o grande campeão, com 4 prêmios "classe A" (ou seja, artística): roteiro original, ator, diretor e melhor filme. No meu entender, uma escolha mais do que justa, mostrando que, neste ano, a Academia teve mais lucidez do que muitos colegas da crítica que consideraram aquele filme com Colin Firth apenas correto, apesar de “quadrado”.

Esse filme sobre o rei Jorge 6º da Inglaterra lutando contra a gagueira provou ser muito mais: isto é, um ensaio dramático sobre as relações entre o poder político e a comunicação de massa na primeira metade do século XX – fruto de uma tradição essencialmente britânica desenvolvida pela BBC, de onde veio o diretor Tom Hooper (foto abaixo). Aliás teve gente que estranhou o fato de que, aos 39 anos ele seria um "iniciante" em cinema, mesmo tendo dirigido mais de 10 títulos, entre filmes e seriados para a TV inglesa, desde 1992.

Com a mesma quantidade de estatuetas, “A Origem”, que em muitas pesquisas também se achava à frente dos demais ficou com edição e mixagem de som, fotografia e efeitos visuais. Ou seja, os tais prêmios técnicos – o que não quer dizer que ele seja apenas uma superprodução e não uma metáfora (talvez a mais bem construída desta década) sobre o caráter onírico do próprio cinema, que nos permite sonhar acordado.
Perfeitas também foram as escolhas de Natalie Portman ("Cisne Negro") como atriz, e da dupla Christian Bale e Melissa Leo ("O Vencedor") como intérpretes coadjuvantes. Indiscutível também foram as vitórias da animação "Toy Story 3", do filme dinamarques "Um mundo Melhor" e do documentário “Trabalho Interno" – ainda que isso tenha significado a exclusão de "Lixo Extraordinário", a única pontinha brasileira nessa competição.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nossos comentários ao vivo pela rádio, na transmissão da Cerimônia do Oscar

Aviso aos leitores que eu e o André Sturm vamos comentar a transmissão da entrega do Oscar, ao vivo, pela Radio Bandeirantes. Alguns amigos informam que vão tentar ver a cerimônia pela TV e ouvi-la pela rádio.

Como apostar (e acertar) em quem deverá receber as estatuetas do Oscar em 2011?

Quais serão os resultados do Oscar? Mesmo quem não é cinéfilo está curioso porque, afinal, este é o mais poderoso fenômeno de marketing da indústria cultural no ocidente. Tanto é assim que chega a tomar ares de campeonato mundial do cinema quando, na verdade, é somente a premiação daquilo que se produz (ou co-produz) nos Estados Unidos − com uma brechinha para os filmes estrangeiros que conseguem ser exibidos por lá. Começou em 1929, quando – mesmo em plena crise financeira – essa produção começou a se firmar como indústria exportadora de filmes e tomar consciência de si mesma. Ou seja, assim como os produtores de gado de uma região qualquer sempre se reuniram para premiar as melhores reses – com o objetivo de estabelecer um padrão de qualidade – os de Hollywood passaram a distribuir estatuetas entre si.
BETTE DAVIS RECEBE PREMIO EM 1938

Essa atividade era o corolário de um código de ética estabelecido pela Associação dos Produtores Americanos (MPAA) e que vigorou entre 1934 e 1967: centenas de normas e proibições faziam do cinema americano um produto impossível de ser contra-indicado para o consumo geral das famílias. De um lado, essa forma explícita de autocensura determinava o que era proibido fazer. De outro, o Oscar indicava o que deveria ser feito, para que cada empreendimento obtivesse lucro. Assim, o profissional premiado conseguia mais trabalho e pagamentos mais elevados. Para qualquer empresário, o contrato com um técnico ou com um ator “oscarizado” era garantia de serviço bem feito e atrativo para o público. O conceito de “Oscar winner” se tornava portanto um distintivo que identificava aquele que chegara ao topo. Algo como a patente de marechal para os militares ou o PHD para os acadêmicos, só que muito melhor remunerado. Essa gente tem hoje o salário publicado na internet, sempre em números de no mínimo cinco dígitos.
GINGER ROGRES E JAMES STEWART EM 1941

Com aquilo que chamamos de globalização da indústria cultural, esse sistema de estrelas e dólares passava a funcionar também como principal ferramenta de divulgação e venda para o mercado internacional. Um mecanismo que, acima de tudo facilita as coisas: em vez de publicar o currículo do artista, resumir as suas melhores críticas e enumerar os resultados de bilheteria, basta informar que ele foi indicado para o Oscar. Quem atribui esse prêmio não é uma determinada pessoa – como o papa, que decide nomear este ou aquele bispo como cardeal. Nem um grupo de notáveis – como os jurados de um festival – mas a própria indústria norte-americana, por meio de seus representantes setoriais, isto é, os sindicatos e demais associações. São os roteiristas que indicam os melhores roteiros, os atores que escolhem as melhores interpretações e assim por diante.
SHIRLEY TEMPLE E CAROLE COLBERT

Isso significa que as principais decisões resultam da votação de um colegiado de mais de mais ou menos 6 mil pessoas, votando em dois turnos. Cada setor profissional escolhe os indicados e, em seguida, o conjunto dos “acadêmicos” determina os vencedores. Isso, com exceção das categorias de animação, documentário e filme estrangeiro, para as quais se formam diferentes grupos de jurados. Os críticos e jornalistas não fazem parte desse processo e, nos EUA, os estrangeiros que lá trabalham fazem valer suas opiniões em outro prêmio: o Globo de Ouro.
O NÚCLEO DURO DE 2011

Por isso é estranho alguém imaginar que a Academia age assim ou assado, que tem determinadas preferências ou linhas de conduta, como se fosse um ser vivo dotado de caráter, emoções e personalidade. Embora seja possível identificar tendências ou probabilidades − como fazem, por exemplo, os analistas dessa entidade complexa que é o mercado. Por isso, ao crítico cabe principalmente a tarefa de externar as suas análises e interpretações individuais, bem como observar de modo objetivo as referidas “tendências” que, a rigor, não devem ser tomadas como previsões. Dessa forma, pode-se dizer que nesta 83ª edição, no domingo 27 de fevereiro, a cerimônia tenta se despojar de alguns antigos preceitos, como os de que o apresentador não pode ser também um indicado à premiação e deva ser um humorista. Este será James Franco (“127 Horas”), com o luxuoso apoio de Anne Hathaway. Outra novidade é o “cenário virtual”, que o cômico Ben Stiller já tinha ridicularizado numa edição anterior. O que isso quer dizer só poderá ser entendido quando as cortinas se abrirem,
Desta vez vários intérpretes mais jovens estão em disputa. Na categoria de melhor atriz, temos três profissionais com menos de 30 anos: Michelle Williams (“Namorados para Sempre”), Jennifer Lawrence (“Inverno da Alma”) e Natalie Portman (“Cisne Negro”), a favorita em todas as bolsas de apostas. Na área de melhor ator, o preferido nas redes sociais é (e nem poderia deixar de ser) Jesse Eisenberg (“Rede Social”), com James Franco (“127 Horas”) correndo por fora. Eles são os representantes de uma nova geração enfrentando os tios Colin Firth (“O Discurso do Rei”) e Jeff Bridges (“Bravura Indômita”) – este com o maior índice de rejeição, por ter recebido a estatueta no ano passado. Poderíamos gastar milhares de caracteres em constatações como esta. Mas o que o comentarista pode oferecer de melhor e mais útil para os leitores são suas escolhas pessoais junto, porém, com as inevitáveis dúvidas e indecisões. Aliás, parece ser praticamente impossível comparar os melhores espetáculos em competição porque são filmes de diferentes naturezas, que partem de premissas específicas para chegar a resultados absolutamente diferenciados. Seguem abaixo minhas incertezas e decisões:

Melhor Filme: “O Discurso do Rei” ou “127 Horas”
Melhor Diretor: David Fincher (“A Rede Social”) ou Dany Boyle (“127 Horas”)
Melhor Ator: Colin Firth (“O Discurso do Rei”) ou James Franco (“127 Horas”)
Melhor Atriz: Natalie Portman (“Cisne Negro”)
Melhor Ator Coadjuvante: Christian Bale (“O Vencedor”)
Melhor Atriz Coadjuvante: Melissa Leo (“O Vencedor”)
Melhor Roteiro Original: Christopher Nolan (“A Origem”)
Melhor Roteiro Adaptado: Aaron Sorkin (“A Rede Social”)
Melhor Animação: Toy Story 3
Melhor Filme Estrangeiro: Em Um Mundo Melhor (Dinamarca)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lançada em DVD “Wall Street - o Dinheiro nunca Dorme”, de Oliver Stone sobre a crise.

A propósito do documentário "Trabalho Interno" sobre a crise de 2008, é bom saber que acaba de ser lançado em DVD, “Wall Street - o Dinheiro nunca Dorme” que é a continuação de “Wall Street – Poder e Cobiça” (1987). Além de mostrar o protagonista Gordon Gekko (Michael Douglas) 20 anos depois, Oliver Stone atualiza o ambiente financeiro em que ele se movimentava. Assim, vemos como o corretor de ações amadureceu após ter passado sete anos na cadeia e como se comportava a Bolsa de Valores de Nova York, no exato momento em que enfrentava a crise de 2008 – por muitos analistas, considerada até mais profunda do que foi a de 1929. Por isso, o maior problema aqui é acrescentar uma multiplicidade de dados acumulados pela realidade na trama desenvolvida no roteiro original. Isso se vê logo de início, na sequência da saída da prisão, em que se devolvem os objetos pessoais que o detento portava no primeiro dia da sua pena, entre estes um relógio Rolex e um telefone celular de dois quilos e meio. Ou seja, trata-se de estabelecer uma continuidade clara com a figura central do filme anterior, respeitando o seu caráter essencial, mas integrando-o no mundo de hoje. Agora ele é um pensador crítico do sistema financeiro, que já previa a crise que se avizinhava. Libertado um pouco antes dos primeiros sinais do desastre financeiro dos Estados Unidos, ele condena a onda de especulação imobiliária num discurso de poucos minutos, em que diagnostica a patologia estrutural do capitalismo e profetiza a gestação da crise. É uma oportunidade para comparar o alcance analítico da ficção com o do documentário.

Caso muito raro: uma semana com apenas três lançamentos...

Nesta semana de apenas 3 lançamentos, estréia mais um candidato ao Oscar, no caso a seis estatuetas. Trata-se de "127 HORAS" do inglês Danny Boyle, já vitorioso por sua co-produção indiana “Quem Quer ser um Milionário”. Estrelado por James Franco, e que também concorre o prêmio de melhor ator, o filme se baseia na vida real de um alpinista que ficou 5 dias preso numa rocha, com uma pedra sobre o braço. Franco é mais conhecido como o vilão dos últimos exemplares do “Homem Aranha” e, curiosamente, faz uma ponta (também como bandido) em outro título que também estréia nesta semana, "O BESOURO VERDE". Mas o seu trabalho e o do diretor vêm recebendo muitos elogios, principalmente por conseguirem manter interesse sobre um único personagem enfrentando a mesma e angustiante situação.
Muito mais leve e divertido é "O BESOURO VERDE", com direção de Michel Gondry – o cineasta francês conhecido por “Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças” (2004). BESOURO VERDE é, na verdade, um dos heróis mais antigos da cultura popular e juvenil americana. Surgiu no rádio em 1936, depois virou seriado de cinema e foi publicado em quadrinhos. Nos anos 1960, chegou à televisão, com Bruce Lee no papel do motorista e guarda-costas de um vigilante mascarado que era a identidade secreta de um playboy que herdara um dos maiores jornais de Los Angeles. O terceiro lançamento da semana é "TRABALHO INTERNO", um documentário narrado por Matt Damon, sobre a crise econômica de 2008.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Óperas de Nova York e balés de Moscou transmitidos ao vivo e exibidos nos cinemas.

A exibição de óperas e ballets nos cinemas criou um público específico, que lota as salas a cada exibição. Depois de "O Quebra-Nozes" e "Calígula", as próximas transmissões nos cinemas Kinoplex serão "Ifigenia em Tauris"(26 de fevereiro) e o balé "Don Quixote" (6 de março). No dia 26 de fevereiro a ópera "Ifigenia em Aulis" (foto acima) será transmitida ao vivo, direto de Nova York, no Cinema Leblon e no Kinoplex Fashion Mall, às 15h. A ópera conta a história de Agamenon que, antes de partir para a Guerra de Tróia, uniu-se ao exército grego no porto de Aulis. Ao consultar o oráculo da deusa Diana, ouviu que os ventos seriam pouco favoráveis para a viagem e que, para navegar com sucesso e destruir aquele país inocente, ele teria que sacrificar a própria filha.
Dia 6 de março será a vez do Bolshoi voltar às telas com "Don Quixote" (foto abaixo). O ballet será transmitido ao vivo, direto de Moscou, às 13h, no Cinema Leblon, Kinoplex Fashion Mall e Roxy, no Rio, e no Kinoplex Itaim, Kinoplex Vila Olímpia e Kinoplex D. Pedro, em São Paulo. Depois de ler romances e sonhar com cavaleiros e cavalarias, Don Quixote decide embarcar em uma viagem a fim de praticar grandes feitos e aventuras, para se tornar um herói. Os ingressos custam R$ 60,00 (com exceção do Kinoplex D. Pedro, onde o preço é R$ 50,00) e já estão à venda na bilheteria dos cinemas participantes.

Em Berlim, o diretor José Padilha avisa que não haverá um "Tropa de Elite 3"

Durante a sessão Panorama no Festival de Berlin, o diretor José Padilha descartou, na última sexta-feira, a possibilidade de rodar uma terceira sequência do filme "Tropa de Elite". Ele declara que já contou tudo o que queria dizer sobre a violência. De acordo com o diretor, a segunda parte "se complementa muito bem com a primeira, discute a corrupção dentro da Polícia brasileira de outro ponto de vista, porque ficam mais visíveis as manipulações políticas". "Se o primeiro filme descrevia as ligações entre a Polícia e os traficantes, a continuação vai além e conta as relações entre policiais e políticos, e como os políticos manipulam a Polícia para atingir seus interesses". Padilha esclarece que "não se trata de imaginação", porque "tudo o que está neste filme aconteceu na vida real: o que você vê é o que acontece nas ruas das grandes cidades brasileiras". Sobre a corrupção, Padilha afirmou que o ex-presidente Lula "fracassou completamente" na luta contra esta praga social, apesar de ter conquistado sucesso no âmbito econômico. O diretor brasileiro também teve a oportunidade de se mostrar satisfeito por voltar ao Festival de Berlim, onde recebeu um Urso de Ouro em 2008. Ele confessa: " Amo este festival e estava ansioso por projetar aqui meu filme". Padilha acrescentou que o Festival de Berlim é "o melhor de todos os eventos" porque permite a entrada de espectadores e não apenas do público especializado e jornalistas.

Entre diversas qualidades, "O Discurso do Rei" mostra origens da sociedade do espetáculo.

Com 12 indicações para o Oscar, “O Discurso do Rei” pode ser considerado como parte de uma tradição audiovisual britânica iniciada há meio século. Em meados dos anos 1960, as televisões públicas da Inglaterra e da Itália inauguravam um tipo de filme que procurava dramatizar os acontecimentos históricos, não apenas reproduzindo, mas também explicando os fatos. Essa explicação, porém, não deveria ser didática, mas cinematográfica. Esse novo gênero foi batizado de docudrama pelo seu pioneiro Peter Watkins, que pretendia diferenciá-lo tanto do entretenimento hollywoodiano “de época” quanto dos fantasiosos épicos italianos. O filme inaugural daquela nova linha foi “Culloden” (1964), sobre uma revolta escocesa do século 18, em que os atores eram "entrevistados", como num telejornal. Em seguida, o mestre Roberto Rossellini faria “A Tomada do Poder por Luis XIV” (1966) para a RAI, com o qual ele dissecava os procedimentos políticos pelos quais Luis Bourbon consolidou o absolutismo no século XVII, com um mínimo de diálogos.
Igualmente quase sem palavras, logo em suas magníficas sequencias iniciais “O Discurso do Rei” revela o doloroso constrangimento de um herdeiro ao trono inglês, ao exibir à totalidade de seu povo a incompetência para governá-los. Com a carreira pavimentada na BBC, o jovem diretor Tom Hooper mostrou-se o profissional adequado para levar avante este projeto que não visa enaltecer o medalhão histórico, mas ressaltar a contribuição do cidadão comum para as transformações históricas. Ou seja, daquele indivíduo que não entra para os manuais acadêmicos e cujo nome não precisa ser decorado pelos estudantes secundários. É possível que, em termos de ficção histórica, essa reflexão possa ter se iniciado com Bertolt Brecht em seu romance inacabado “Os Negócios do Senhor Julio Cesar”, escrito na Dinamarca por volta de 1938, exatamente na mesma época em que se passa o enredo deste filme. Naquele texto, o dramaturgo alemão reconstituía a complicada cena política da república romana sob a ótica de um escravo pessoal do ditador.
Em 1964, Rosselini nos mostrava como Luis XIV criou métodos e técnicas sofisticadas de controlar a nobreza e a França inteira, no século XVII. Mas agora, por meio de interpretações extremamente elaboradas de Colin Firth e Geoffrey Rush, presenciamos ao complexo espetáculo da luta de classes, tal como ele se manifesta no mundo atual. O enfrentamento entre o rei e o microfone, portanto, não se resume ao problema da gagueira, mas abrange toda a formação do monarca como personalidade pública e privada. Não apenas no significado cênico, como na prática efetiva do poder, o papel de rei numa monarquia constitucional de regime democrático acarreta uma infinidade de determinantes: desde a rígida etiqueta comportamental até as graves limitações éticas e legais de alguém que, ao mesmo tempo, representa a nação e é o chefe da igreja Anglicana. Numa piada, a rainha (Helena Bonham Carter) compara o exercício da realeza a uma espécie de escravidão. Reparem na família real ouvindo o noticiário pelo rádio...
No caso de “O Discurso do Rei”, temos um fonoaudiólogo, ou melhor, um professor de dicção (Geoffrey Rush) que ensina o Duque de York (Colin Firth) a falar em público. Justamente às vésperas dele herdar o trono real, com a ameaça de seu irmão Edward VIII (Guy Pearce) abdicar da coroa para se casar com uma americana duas vezes divorciada. O nobre necessita inventar seu próprio modo de relacionamento com esse plebeu australiano interpretado por Geoffrey Rush, como condição prévia para aprender a se comunicar com o grande público por meio do rádio. É nesse ponto que se encontra o requinte do trabalho do ator ao construir esse personagem, tão diversificado em termos de aspectos e nuances.
A propósito, o discurso de abdicação de Edward VIII representa a primeira manifestação midiática de importância verdadeiramente global do século 20. Ao ser transmitida ao vivo pelo rádio (na foto acima) para o mundo inteiro, a abdicação marcou a importância dessa mídia para o fortalecimento da democracia, na medida em que acentuava a proximidade do povo em relação às grandes decisões políticas. O roteiro do veterano David Seidler (“Tucker”, 1988), por sinal, nos oferece também a pouco comentada simpatia de parte da monarquia britânica e do governo do primeiro ministro Stanley Baldwin (Anthony Andrews) para com o nazismo, que viam como aliado contra os comunistas. O novo rei, por sua vez, precisaria demonstrar aos súditos porque o nazismo tinha se tornado o inimigo, ao contrário do comunismo soviético, e unir a nação contra a Alemanha. O futuro rei George VI da Inglaterra precisaria se fazer entender por meio da mídia durante a guerra, para comandar o país contra os nazistas e fascistas − que, aliás, já tinham percebido e experimentado com sucesso a prodigiosa força da propaganda política. “O Discurso do Rei”, portanto, também registra o ponto inicial daquilo que pensadores como Guy Debord chamam de “sociedade do espetáculo”.
O DISCURSO DO REI
The King's Speech
Inglaterra - 2010 – 118 min. – 12 anos
Gênero docudrama / história da mídia / política
estreia 11 02 2011
Distribuição Paris Filmes
Direção Tom Hooper
Com Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Boham Carter,
Derek Jacobi, Andrew Havill
Cotação
* * * *
ÓTIMO

domingo, 13 de fevereiro de 2011

S E R V I Ç O ! Uma semana de bons lançamentos: 11 de fevereiro de 2011


Neste dias que antecedem o Oscar, são lançados filmes de categoria. O melhor é O DISCURSO DO REI, com 12 indicações. O rei do título é Eduardo 6º, pai da Rainha Elizabeth, que era gago até ser coroado, às vésperas da 2ª Guerra. É um modelo de drama histórico, mostrando a interação entre os figurões da elite e os homens comuns. E descrevendo o terror de uma pessoa dioante do microfone.
BRAVURA INDÔMITA é a refilmagem de um clássico com John Wayne, dirigido pelos irmãos Coen, com 10 indicações e, no elenco Jeff Bridges e Matt Damon, à procura de um assassino interpretado por Josh Brolin. É uma história pra meninos, mas quem se destaca é uma menina vivida pela jovem Hailee Steinfeld.
BURLESQUE é um musical no estilo do clássico “Cabaret”, sem é claro o brilhantismo de Bob Fosse, e com o objetivo de veicular a controvertida imagem de Christina Aguilera, que é também a produtora do filme. No elenco a participação da veteraníssima Cher, com a garganta ainda em forma.
Também estréia o documentário O SAMBA QUE MORA EM MIM de Georgia Guerra-Peixe, a filha do maestro que foi diretor da Mangueira e estudou cinema na FAAP.
E finalmente, o tema de O Exorcista” revisitado num filme com o mesmo assunto. Trata-se de “O Ritual” dirigido pelo competente sueco Mikael Håfström, com a brasileira Alice Braga e Anthony Hopkins no elenco. Na verdade é mais um veículo para o astro de “O Silêncio dos Inocentes”.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"Cisne Negro", o palco montado para emoldurar o talento de Natalie Portman

A essência da personagem de Natalie Portman já vem explicitada no cartaz do filme “Cisne Negro”, mostrando o seu rosto com um tratamento gráfico escultural e rachado ao meio. Ela encara a câmara com um olhar enigmático, ao mesmo tempo firme e desesperado. A idéia de uma estátua de pedra que se quebra condiz com a figura da bailarina clássica por ela interpretada: um ser humano que se fragmenta por dentro, ao buscar a perfeição apolínea do corpo. Já vencedora no Globo de Ouro, Natalie Portman é a favorita para o Oscar de melhor atriz interpretando essa artista que perde o equilíbrio mental ao ensaiar o tradicional Lago dos Cisnes.
O diretor Darren Aronofsky (“O Lutador”, 2010) mantém os conflitos psíquicos na superfície: a moça é dominada pela mãe que vem a ser uma bailarina frustrada e cuida dela como se fosse um bebê. Com mais de 20 anos, ela se mantém virgem como uma vestal dedicada exclusivamente à arte. Mas o coreógrafo da companhia quer vê-la interpretando os dois cisnes do balé de Tchaicovski, o branco e o negro, e para isso a convida para liberar o lado escuro da sua personalidade: “Let it go!” − repete ele como um mantra. Talvez apenas como recurso didático, tenta seduzi-la, mas ela se encanta com a rival, que é o papel de Mila Kunis (ABAIXO). Ou seja, do ponto de vista psicológico a trama é simples, mas a sofisticação do filme se manifesta no modo de apresentá-la.
Para começar tudo é mostrado sob o ângulo pessoal da protagonista que, sem aviso para o público, transita da realidade para a alucinação, como quem muda de sapatilha. Até mesmo os personagens com os quais Natalie Portman contracena não passam de projeções de sua própria mente – e por isso se mostram às vezes caricaturais. Alguns colegas comparam o filme a “Repulsa ao Sexo” (Roman Polanski, 1965) e até a “O Gabinete do Dr. Caligari” (Robert Wiene, 1920), mas em ambos os casos, as alucinações recebiam um tratamento visual mais explícito e claro para o espectador. Já em “Cisne Negro”, a charada proposta pelo cartaz somente vai se desvelando pouco a pouco, à medida que se percebe a lógica da narrativa por trás da loucura narrada.
CISNE NEGRO
Black Swan
EUA - 2010 – 113 min. - 16 anos
ESTREIA 04 02 2011
gênero suspense psicológico / música / balé
Distribuição Fox Films
Direção: Darren Aronofsky
Com Natalie Portman, Mila Kunis,
Vincent Cassel, Winona Ryder e Barbra Hershey
COTAÇÃO
* * *
B O M

Em "O Vencedor", de David Russell, uma família de sujos, feios e malvados

As origens temáticas de “O Vencedor” nada têm a ver com a linhagem de “Rocky”, ou mesmo de James J. Braddock − o lutador historicamente verdadeiro e conhecido como o cinderella man em “A Luta pela Esperança” (2005) de Ron Howard. Naqueles filmes, além de sua própria determinação, os heróis do ringue se apoiavam nos amigos e parentes para pavimentar o seu caminho para a vitória. Chega a ser curioso o fato da Academia de Hollywood ter acolhido entre os finalistas ao Oscar uma obra em que a família do protagonista representa o principal obstáculo que ele precisa ultrapassar para alcançar seu objetivo. Todos sabem o quanto aquela instituição é importante para o cinema industrial americano.
Mas, neste o lutador de boxe interpretado por Mark Whalberg depende da própria família e, ao mesmo tempo, é sufocado por ela. É uma gente tosca e bizarra de uma cidade operária de Massachusetts, que lembra a parentalha de Nino Manfredi daquela favela romana em “Feios, Sujos e Malvados” (1976) de Ettore Scola, só que desenhados com cores fortes, sem qualquer elemento humorístico. O diretor David O. Russell é considerado um dos gênios da farsa autoral e sofisticada por seu trabalho “A vida é uma comédia” (2004), mas aqui ele se posiciona discretamente, como um observador dedicado a descrever a vida como ela é, num bairro pobre de imigrantes irlandeses, em que lucidez e solidariedade são apenas palavras ouvidas na missa.
O comando do clã cabe à obsessiva mãe (Melissa Leo – “Rio Congelado”, 2008) e o seu treinador é o irmão viciado em crack (Christian Bale – “Batman Begins”, 2005). Ambos são favoritos ao Oscar de melhores coadjuvantes, justamente porque trabalham no limite entre a caricatura e o registro naturalista, montando seus personagens com empenho e convicção. Aliás, Hollywood sempre admirou atores que se transformam fisicamente para a produção do filme e personagens que lutam por uma segunda chance.
O VENCEDOR
The Fighter
EUA / 2010 / 115 min / 14 anos
gênero / drama / boxe / crítica social
estreia 04 02 2011
Distribuição Imagem
Direção David O. Russell
Com Mark Whalberg, Christian Bale,
Amy Adams e Melissa Leo
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Enquanto "O Discurso do Rei" não estréia, temos Colin Firth em DVD: "Direito de Amar"

O grande favorito ao Oscar de melhor ator é Colin Firth, não apenas por seu trabalho em “O Discurso do Rei”, mas porque era ele quem tinha de ter recebido o prêmio no ano passado por sua atuação em “Direito de Amar” (A Single Man). Este filme dirigido pelo estilista Tom Ford é agora lançado em DVD. Desde o início, por meio de uma narração em off do protagonista, ficamos sabendo que ele pretende se suicidar, porque a pessoa amada morrera num acidente. E ele – um prestigiado professor universitário– nem teve o direito de comparecer ao enterro. Tratava-se de um relacionamento homossexual – o que era socialmente inaceitável no início dos anos 60, época em que a história é ambientada. Mas a proposta não é filmar os acontecimentos em si, e sim a subjetividade do personagem em relação a eles. As lembranças, os pesadelos e as distorções da realidade objetiva provocadas pelo desespero se harmonizam com o registro prosaico do cotidiano. Para cada uma dessas instâncias, Ford cria uma linguagem visual que as distingue das demais. Assim, as memórias aparecem granuladas, enquanto as alucinações são mostradas em câmara subjetiva, em super closes e sonorização explicitamente artificial. O roteiro cruza por todas essas transições sem perder a fluência ou escorregar para o melodrama. Finalmente, deságua num desfecho que, mesmo sem ser feliz para o personagem, mostra-se satisfatório do ponto de vista da narrativa, ao instaurar um elemento fantástico que vem para enriquecê-la.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

S E R V I Ç O ! As estreias desta semana: 04 de fevereiro de 2011

Hoje começa uma semana com alguns filmes interessantes. Há o brasileiro MALU DE BICICLETA (acima), dirigido pelo produtor Flávio R. Tambellini, que ultimamente não tem acertado nos projetos que também dirige. Mas desta vez ele se apóia no texto do escritor Marcelo Rubens Paiva, um bom observador do comportamento humano. O filme poderia ser resumido pela canção de Carlos Lyra, “Lobo Bobo”, que conta a história de um conquistador conquistado.
Indicado para 5 Oscars, estréia CISNE NEGRO (abaixo)de Darren Aronofsky (O Lutador), em que Natalie Portman interpreta uma bailarina que perde o equilíbrio mental ao ensaiar o Lago dos Cisnes. Já vencedora no Globo de Ouro, Natalie Portman é a favorita para o prêmio de melhor atriz.
Outro filmão é O VENCEDOR do excelente David O. Russell, indicado para 7 Oscars, com um elenco que também já conta com ganhadores do Globo de ouro: Christian Bale, e Melissa Leo. Mark Whalberg faz o papel de um rapaz que, apesar de pertencer uma família extremamente problemática, consegue disputar o campeonato mundial de boxe. Christian Bale eu já fez o Batman, agora interpreta um viciado em crack.
Produzido com capricho por James Cameron, SANTUÁRIO reconstitui com incrível precisão técnica uma perigosa expedição para explorar um conjunto de cavernas subaquáticas na Nova Guiné. É um filme de suspense que exagera um pouco na claustrofobia que provoca.
E finalmente A NOVA ESPÉCIE, um suspense de ficção científica sobre experiências desastrosas com o DNA humano em que a credencial é a presença de Adrien Brody e Sarah Poley no elenco.