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terça-feira, 30 de abril de 2013

No Cine PE, a oportuna redescoberta de Mazzaropi pelo documentário



O Programa Cinema Falado está aqui em Recife acompanhando o 17º Cine PE, o maior festival de cinema do país, colocando em competição até o dia 02 a mais recente e inédita safra de filmes brasileiros. Em matéria de documentário, até agora vimos duas obras concebidas e dirigidas por jornalistas: “Orgulho de ser brasileiro”, de Adalberto Pioto, e “Mazzaropi” do crítico de cinema Celso Sabadin. Com todo certeza o melhor entre os dois é este que se volta para o cinema brasileiro, analisando a contribuição daquele que foi ao mesmo tempo cômico e empresário – um dos mais bem sucedidos de todos os tempos, o caipira paulista Amácio Mazzaropi. Entre os entrevistados muita gente que traballhou ou tinha amizade pessoal como o criador do Jeca, como Selma Egrei, Hebe Camargo e Ronie Von (foto abaixo).
 

Algumas avaliações se apressam em classificar como “clássico” este primeiro longa de Sabadin como documentarista. Na verdade, ele se diferencia muito daquele estilo que se formou já na década de 1920 (com cineastas como Flaherty e Grierson) e se manteve quase inalterado até os anos de 1960, quando a tecnologia trouxe a portabilidade, ao diminuir o tamanho do equipamento para captação do som e da imagem. “Mazzaropi” é, de fato, um trabalho autoral (assim como é autoral uma tese acadêmica) construído a partir de uma pesquisa histórica, seguido de uma infernal caçada em busca das melhores imagens de arquivo, neste país que não cuida da sua memória e de uma criteriosa escolha dos depoimentos mais significativos. Isso, além de um exercício de modéstia e elegância ao se posicionar, assim como os célebres cineastas do “cinema-verdade”, à sombra dos entrevistados, sem tentar impor seu ponto de vista, nem aparecer à custa deles. 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

No Cine PE, uma comédia engraçada e inteligente: "Vendo ou Alugo", de Betse de Paula


O Programa Cinema  Falado está em Recife, acompanhando o 17º Cine PE, o maior festival de cinema do país, colocando em competição até o dia 02 a mais recente e inédita safra de filmes brasileiros. Com uma plateia de mais de 2 mil pessoas, é possível perceber de modo imediato a receptividade de cada filme junto ao público. Em matéria de ficção, até agora vimos duas comédias: “Giovani Improtta” de José Wilker e “Vendo ou Alugo”, de Betse de Paula. Sem a menor sombra de dúvida, o melhor deles é o dessa talentosa diretora brasiliense, irmã de Marcos Palmeira, e produzido por Marisa Leão que tem se mostrado vitoriosa em praticamente todas as iniciativas – desde épicos políticos dos anos de 1980, como “O Homem da capa preta” e os blockbusters cômicos da atualidade, como “De pernas pro ar”. 
Desta vez a ousadia de Marisa é enfrentar as evidentes dificuldades de uma comédia montada sobre o movediço terreno dos indicadores sociais contemporâneos – como a violência urbana, que inclui a chamada guerra contra o tráfico  e construída a partir de personagens extraídos diretamente do mundo real e que, mesmo assim, sejam capazes de provocar o riso de qualquer um. Esta é, aliás, a essência das tradicionais chanchadas dos anos 1940 e 1950 que Marisa Leão recupera neste projeto do qual, sabiamente, ela participa também como roteirista junto com a diretora, para focalizar com o máximo de humor e senso crítico as encrencas de uma família de quatro mulheres interpretadas por Marieta Severo e Sílvia Buarque (mãe e filha na vida real), além de Natália Timberg e a jovem Bia Morgana (filha da diretora na vida real). Ou seja, temos sim vida inteligente na comédia brasileira.

No Cine PE, lembramos de Paulo Vanzolini


Acompanhando o 17º Cine PE, o maior festival de cinema do país, que coloca em competição a mais recente e inédita safra de filmes brasileiros. Todo o mundo por aqui está consternado com a morte de PauloVanzolini, também porque o compositor foi uma das estrela no Cine PE de 2009, quando “O Homem de Moral” (disponível em DVD) foi lançado e premiado. Esse "Um Homem de Moral" do título é Paulo Vanzolini. Ricardo Dias é o diretor desse documentário sobre o autor de "Volta por Cima", "Ronda" e "Boca da Noite". Entre as 52 canções que o zoólogo compôs, o filme apresenta 27, a maioria delas desconhecidas do público. Todas lindas e emocionantes, concebidas numa linha só dele, que se aproxima de Noel e Adoniran. Numa entrevista de arquivo, o criador de "Trem das Onze", declara que o Vanzolini faz música parecida com a dele, "só que mais fina e intelectual". A coluna mestra do documentário são as gravações dessas músicas, a cargo de diversos cantores. Alguns mais famosos que outros, como Chico Buarque, Paulinho da Viola, Miucha, Paulinho Nogueira, Martinho da Vila e Inezita Barroso. Mostra-se uma espécie de making of de cada uma e ouve-se o pensamento do compositor sobre elas, ou uma curiosidade que tenha acompanhado a sua concepção. Mas o que faz esse trabalho ultrapassar a dimensão de show musical ilustrado são as imagens que Ricardo Dias desenvolveu para comentar algumas delas, com destaque para fotografias inéditas de Thomas Farkas e surpreendentes sequências da cidade de São Paulo, mostrada pelo cinegrafista Carlos Ebert de ângulos nunca antes revelados. O filme foi elaborado num período de 10 anos e representa uma oportunidade para entrar em contato direto com a poesia e a imaginação de Vanzolini. Essas nunca vão desaparecer da memória do povo
 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

"Coração do Brasil": um documentário sobre o Brasil e a passagem do tempo sobre ele


Frequentemente o gênero documentário gera obras tão empolgantes quanto as mais elaboradas peças de ficção. Alinhavando os fatos documentados com suspense e fartas surpresas, esse é o caso do longa-metragem "Coração do Brasil" de Daniel Solá Santiago. Protagonista do filme, o sertanista Sérgio Vahia de Abreu (na foto abaixo, à esquerda) é um ancião que, por meio do cinema, viveu uma das mais vibrantes aventuras que um homem contemporâneo poderia experimentar. O filme refaz uma expedição dos irmãos Villas-Bôas ao centro geográfico do Brasil, realizada há mais de 50 anos. À frente dessa aventura se acham três integrantes da jornada original: o já citado Sérgio Vahia de Abreu, o cacique Raoni, que em 1958 era apenas um guia da selva, e o documentarista inglês Adrian Cowell, que morreu ano passado.
O centro geográfico do país se localiza no Mato Grosso, no Parque Nacional do Xingu, que é uma das principais conquistas dos já falecidos irmãos Orlando e Cláudio Villas-Bôas. A tentativa de retorno àquele local tão simbólico é empreendida com o apoio de mapas, além de informações históricas e orais. Imaginem um velho explorador se locomovendo de bengala pela selva, em busca de seu passado e encontrando uma forte resistência dos índios da região a esse novo contato com os brancos. Os nativos chegam a impedir que determinados rituais sejam filmados pela equipe e outros exigem pagamento em dinheiro. Repleta de emoção e descobertas, a estrutura de “Coração do Brasil” combina imagens da expedição atual com filmagens da viagem original – o que faz do tempo e sua implacável passagem o principal tema do filme
CORAÇÃO DO BRASIL 

Brasil – 2012 – 86 min. – Livre
gênero documentário
esreia 19 04 2013 
Distribuição Pandora Filmes
Direção Daniel Solá Santiago 
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

terça-feira, 16 de abril de 2013

Decepção com novos títulos de horror e de ficção científica: "Mama" e "Oblivion"


Estão em cartaz dois novos filmes de gênero. Histórias que seguem os cânones, ou seja, as linhas costumeiras de determinadas modalidades consagradas pelo mercado. Um deles é “Mama” (acima e abaixo), uma produção espanhola que tem o aval do produtor Guillermo Del Toro, o respeitado criador de “O Labirinto do Fauno”, obra que marcou com sua qualidade o cinema fantástico atual. Mas, neste caso, o desempenho de Jessica Chastain de “A Hora mais Escura” é o melhor que “Mama” tem para oferecer. Ele começa bem, apresentando, com um clima macabro bastante sugestivo, duas meninas, de 10 e de 7 anos que há 5 se achavam perdidas numa floresta. Mas em pouco tempo, apesar da competente direção de arte, o roteiro vai sendo preenchido com tantos clichês que se transforma numa historia de fantasmas, das mais banais. 

As limitações de “Oblivion”, estrelado por Tom Cruise (abaixo) são de natureza semelhante. O desenho de produção de Darren Gilford, que desenhou “Tron” de 210, causa impacto inicial positivo, ao mostrar o nosso planeta já devastado por uma guerra interplanetária e habitado somente por guardiões que vivem em torres que se erguem até a estratosfera. Eles têm a função de defender as naves que sugam a água do planeta para enviar a uma lua de Saturno para a qual os terrestres foram obrigados a migrar. O perigo reside nos saqueadores alienígenas que ainda se acham na Terra abandonada por seus habitantes. E nas lembranças do passado que insistem em se manifestar. O adjetivo "científica" não aparece atoa na designação do gênero. "Oblivion", porém, parte da absurda premissa de que a cultura, ou seja, o comportamento apreendido e o conhecimento adquirido possam ser transmitidos geneticamente, como ainda acreditam alguns racistas.

domingo, 14 de abril de 2013

Lançada em DVD coleção de três obras fundamentais do mestre Howard Hawks


Falecido aos 81 anos em 1977, Howard Hawks é um dos mais elogiados diretores da historia do cinema americano, ainda que não tenha sido premiado pela Academia. Os críticos internacionais, especialmente os franceses do “Cahiers du Cinema”, o colocam no mesmo nível de John Ford e Orson Welles. Brilhava tanto na densidade dos drama policiais quanto em comédias sofisticadas,  verdadeiras pérolas de criatividade e leveza. Sua imensa versatilidade lhe permitiu se exercitar em quase todos os gêneros e, talvez justamente por isso, foi considerado mais um artesão do que um autor. Formado em engenharia mecânica, ele lutou na 1ª Guerra na Força Aérea, antes de começar a trabalhar em cinema atuando em quase todas as áreas de produção e criação, até se iniciar na direção, ainda em 1926 ainda na época do cinema mudo. 
Hawks fez 47 filmes, mas a Versátil acaba de lançar uma caixa com algumas de suas obras mais significativas. Com elas podemos ter uma ideia do seu impressionante ecletismo: “À Beira do Abismo” (acima) de 1946, policial clássico com Humphrey Bogart e Lauren Bacall – argumento de Raymond Chandler e roteiro de ninguém menos que William Faulkner. 
De 1952, “O Rio da Aventura” (acima) é um faroeste de primeira linha, com Kirk Douglas numa expedição montada para desbravar o rio Missouri que, em 1832, era habitado por índios hostis. E finalmente “Terra dos Faraós” de 1955, um drama épico ambientado no antigo Egito, em que as batalhas se entremeiam às intrigas palacianas na trajetória de um monarca que constrói uma pirâmide onde pretende ser enterrado, junto com o seu tesouro. Uma coleção indispensável. 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

"Sob a Névoa da Guerra", exibição e debate dia 09 de abril, no MIS-SP


Em harmonia com o Festival Internacional de Documentários "É Tudo Verdade" que acontece na cidade até o dia 14, o 1º Ciclo de Cinema e Política promovido pelo Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas e pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, será exibido e debatido no Museu da Imagem e do Som de São Paulo SOB A NÉVOA DA GUERRA, Oscar de melhor documentário em 2004. Hoje ás 7 da noite, com entrada franca, o filme será debatido por Sergio Adorno, diretor da FFLCH da USP, e Antonio Pedro Tota, professor de História Contemporânea da PUC-SP, com mediação minha e participação de J A Moisés
The Fog of War: Eleven Lessons from the Life of Robert S. McNamara

(EUA, 2004, 107 min. 12 anos)
Direção de Errol Norris. 
Oscar de melhor documentário; Melhor documentário pela National Film Board (USA),
Debatedores: Sérgio Adorno (coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP)
e Antonio Pedro Tota (professor de História Contemporânea da PUC-SP
Personagem central deste documentário, Robert McNamara foi secretário de Defesa dos governos John Kennedy e Lyndon Johnson. Presenciou, portanto, algumas das crises políticas internacionais mais agudas e cruciais do século XX. Com esse filme somos levados a encarar o fato de que na democracia contemporânea, gravíssimas decisões ficam perigosamente a cargo de poucos indivíduos. Neste caso, o protagonista revela como o mundo escapou de uma 3ª guerra mundial e nuclear “por mera sorte” e não por conta da racionalidade da diplomacia ou da política norte-americanas.  
Com trilha sonora original de Philip Glass, o filme ganhou o Oscar de melhor documentário. A expressão "névoa da guerra", popularizada por Carl von Clausewitz em seu livro Da Guerra(1832) indica a nuvem de incerteza que envolve um conflito complexo como é uma guerra, logo antes de eclodir. O filme mostra a trajetória de Robert Mcnamara, secretário de defesa dos Estados Unidos entre 1961 e 1968, por meio de imagens de arquivo, de gravações da Casa Branca e, principalmente, de uma entrevista com McNamara aos 85 anos de idade. A entrevista aborda a participação de McNamara como um dos "Whiz Kids" durante a Segunda Guerra Mundial e como presidente da Ford. O destaque, porém, é para o seu envolvimento na Guerra do Vietnam, enquanto secretário de defesa dos presidentes John  Kennedy e Lyndon Jonhson . Dessa época, são mostrados impressionantes trechos de gravações de reuniões secretas no salão oval da Casa Branca. 
Durante uma palestra na universidade de Berkeley na California, Morris disse que teve inspiração para criar o filme após ler o livro de 2001 escrito por McNamara “Reduzindo o risco de conflito, matança e catástrofe no século 21”. A ideia de organizar o filme em “11 lições” se originou do livro de McNamara In Retrospect: The Tragedy and Lessons of Vietnam, de 1996 (“Em retrospecto: a tragédia e as lições do Vietnam”). Morris estruturou o filme em função das lições que McNamara menciona durante aquela entrevista, que durou mais de 20 horas. Essas lições atribuem uma estrutura a “Sob a névoa da guerra”. Elas, no entanto, não foram explicitamente criadas por McNamara e, após a conclusão do filme, McNamara respondeu a Morris complementando as 11 lições do filme com outras 10 lições escritas por ele próprio. 
McNamara conta como se destacou na escola e a sua habilidade para cálculos e mensurações estatísticas. De como graças a isso ele e a equipe de calculistas sob o comando do Major-General  Curtis Lemay melhoraram a eficiência do bombardeio ao Japão durante a IIª Guerra Mundial, calculando uma melhor altura de voo para o lançamento das bombas incendiárias que em 1945 devastaram Tóquio e outras cidades. Depois da guerra McNamara foi para a presidência da Ford, onde usou seus conhecimentos matemáticos para melhorar o desempenho da produção e das vendas da companhia. Entrou para o governo no posto de Secretário da Defesa em atenção a um convite do presidente Kennedy. Dessa época McNamara fala da crise com Cuba, no início dos anos de 1960, e afirma que Fidel Castro  lhe confidenciara, décadas depois, que já havia mísseis atômicos na ilha, não detectados pelos americanos.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Será "A Hospedeira" de Stephenie Meyer o crepúsculo do gênero ficção-cientifica?

Não que isso seja uma característica objetiva e desejável, mas a ficção científica tem se apresentado como uma modalidade literária masculina, até porque a imensa maioria de seus escritores é constituída por homens, apesar de uma das fundadoras do gênero ter sido Mary Shelley, a autora de “Frankenstein” (1831). Depois de ter colorido de rosa as histórias de vampiros e lobisomens na série “Crepúsculo”, Stephenie Meyer tenta reproduzir essa proeza ao publicar “A Hospedeira”. A mentalidade que preside a organização dessa trama parece proveniente dos romances franceses de Madame Delly, pseudônimo dos irmãos Jeanne Marie e Frédéric Petitjean de la Rosiére. Eles publicaram mais de uma centena de livros de leitura fácil, muito populares numa época em que o hábito da leitura começava a ganhar espaço entre as mulheres jovens de classe média também no Brasil. Esses livros foram lançados entre 1930 e 1960, na coleção chamada Biblioteca das Moças. 
Ou seja, se baseiam num ponto de vista supostamente feminino que – no mínimo há meio século – nada mais tem a ver com as jovens de hoje. A ideia do filme veio, no entanto, do clássico “Vampiros de Almas” (1956) de Don Siegel, no qual invasores alienígenas se apossavam dos corpos dos humanos: um dos filmes mais apavorantes na história do gênero. No começo do filme, os invasores interplanetários já tinham praticamente atingido a meta de conquistar a humanidade, mas, alguns terráqueos resistiam à ocupação. Uma dessas rebeldes permaneceu viva, mesmo depois de ser possuída por uma alma extra-terrestre. Ou seja, as duas ocupam o mesmo corpo e estabelecem um conflito, amenizado pelo fato de terem se apaixonado por dois rapazes diferentes. A cenografia kitsch que lembra a do brasileiro “Nosso Lar” e oferece momentos de comicidade, com certeza involuntária.


A HOSPEDEIRA 

The Host
EUA, 2013, 125 min, 12 anos
estreia 29 03 2013
gênero romance/ fantasia
 Distribuição: Imagem Filmes
Direção: Andrew Niccol
Com Diane Kruger, Saoirse Ronan e William Hurt
COTAÇÃO
* *
REGULAR

O trabalho de Bryan Singer em “Jack – o caçador de gigantes" não impressiona


É quase impossível reconhecer a presença de Bryan Singer na direção de “Jack – o caçador de gigantes” – uma tentativa de fazer um filme de cinema a partir de um conto de fadas de irlandês amplamente conhecido: a história de João e o pé de feijão, na qual feijões encantados geram uma árvore que dá acesso a um mundo de gigantes instalado acima das nuvens. Mesmo sem ter uma temática ou um estilo que o identifique em termos de autoria, esse realizador de 48 anos já mostrou um trabalho maduro e inteligente em títulos como “Os Suspeitos” (1995), “Operação Valkíria” (2008) e a própria série “X Men” (2003 e 2011) baseada nos quadrinhos de Stan Lee e Jack Kirby. 

Agora ele se comporta mais como diretor de trânsito, lutando para fazer com os atores de carne e osso consigam contracenar com centenas de figuras de animação que dominam a tela. Apesar do empenho de atores como Stanley Tucci, perfeito como vilão, e Ewan McGregor movendo-se com entusiasmo sob uma armadura de cavaleiro medieval, ao enredo faltam dinamismo e concisão. Algumas passagens importantes da história original foram cortadas, provavelmente, para reduzir a duração do filme. Isso se percebe pela cena em que o herói entra num quarto em que o gigante guarda a riqueza produzida pela galinha dos ovos de ouro, bem como a harpa mágica, que aparece de relance. 

Mas há um aspecto curioso nesta história à qual o roteirista de quadrinhos Bill Willingham tem dado a devida importância, na série “João das Fábulas”, já nas bancas de jornal. O protagonista é tratado por ele como um malandro sem escrúpulos nem moral, porque consegue vencer o gigante seduzindo a sua esposa e roubando-lhe a galinha e a harpa mágicas antes de assassiná-lo.

JACK – O CAÇADOR DE GIGANTES
Jack, the Giant Slayer
EUA, 2013, 114 min, 10 anos
estreia 29 03 2013
gênero aventura/ fantasia
Distribuição: Warner Bros.
Direção: Bryan Singer 
Com Nicholas Hoult, Ewan McGragor, Stanly Tucci, Eleanor Tomlinson 
COTAÇÃO
* * 
REGULAR

Em "A Caça", o dinamarquês Thomas Vinterberg discute o mito da inocência infantil


Injustamente, uma garotinha acusa de assédio sexual um adulto que, em seguida, tem a sua vida destroçada. Em “A Caça”, o personagem é interpretado por Mads Mikkelsen, ganhador do prêmio de melhor ator em Cannes com a atuação neste filme do dinamarquês Thomas Vinterberg, indicado para a Palma de Ouro em 2012. O mesmo tema ocupa posição central em “Desejo e Reparação”, do inglês Joe Wright, vencedor do BAFTA e do Globo de Ouro em 2008. Naquele mesmo ano, “Dúvida” do americano John Patrick Shanley abordava assunto semelhante e concorria a cinco Oscars. Na verdade, a figura do inocente injustiçado aparece em muitos outros enredos de cinema. O fato de Hitchcock ter usado a rotina do “innocent bystander” em dezenas de roteiros comprova uma potencialidade dramática que remonta à base da cultura judaico-cristã, na imagem do cordeiro de Deus. 
O cinema de Thomas Vinterberg, entretanto, permanece integrado a uma opção estética explicitada desde sua participação no Dogma95, como um dos fundadores daquele movimento que recusava esquemas cristalizados de dramaturgia, bem como qualquer forma de artificialismo. Em “Festa de Família” (1998) que foi o primeiro sucesso de público obtido pelos “monges cineastas”, ele já desnudava o mito da harmonia social na civilização nórdica, ao revelar a podridão escondida na elite do país. Em “A Caça”, no lugar de um vasto grupo de personagens, ele concentra o foco nos parcos habitantes de uma vila do interior, como quem recorre a uma maquete para deixar mais claro determinados aspectos de uma construção. 
É que vemos também em o “Amante da Rainha”, outro projeto recente com o mesmo Mads Mikkelsen: drama político e sentimental sobre o Reino da Dinamarca, tal como aquela nação atravessou o período do despotismo esclarecido, na segunda metade do século XVIII. Se acrescentarmos a estes títulos outros exemplos, como “Em um mundo melhor”, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2011, poderemos concluir que o cinema do país de Hamlet, em lugar da ideia do “bom selvagem” proposta por Jean-Jacques Rousseau, optou pela metáfora do homem como “lobo do homem”, criada pelo dramaturgo romano Plauto (século III A.C.) e popularizada pelo filósofo Thomas Hobbes (século XVII).

A CAÇA 
Jagten 
Dinamarca, 2012, 115 min, 14 anos
estreia 22 03 2013
gênero drama/ social/ psicológico
Distribuição Califórnia Filmes
Direção Thomas Vinterberg
Com Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp
COTAÇÃO
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ÓTIMO