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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"O planeta dos macacos - A Origem": um dos melhores filmes de ação deste ano. SEGUNDA VERSÃO AUMENTADA

Este é o “Planeta dos macacos” de número 7, lançado com o subtítulo de “A origem”. A série baseada num livro de Pierre Boulle começou em 1968, com uma história ambientada no mundo do ano 3000, em que gorilas, chipanzés e orangotangos são as espécies dominantes. Atualmente, junto com o homo sapiens, essas variedades formam um grupo de primatas chamados símios – termo que se traduz em inglês pela palavra “apes” – tal como aparece no título original, Planet of apes. Eles são do gênero homo e pertencem a uma mesma família, a dos hominídeos. Aliás, macacos − que em inglês se diz “monkeys” − estão incluídos naquela outra família da qual fazem parte micos e sagüis. Ou seja, a tradução correta seria “Planeta dos Símios”, não dos macacos. É o que, aliás, um dos personagens sublinha para o próprio protagonista, no princípio do filme.
Mas essa questão extra-cinematográfica de terminologia, aponta justamente para o esquema ficcional criado para atribuir plausibilidade à trama e, assim, incluí-la no gênero chamado de ficção científica. Dele fazem parte histórias que não apenas tratam de temas ligados à ciência, mas que também apresentem alguma possibilidade – apoiada em conceitos científicos – de acontecerem de fato no mundo real. A ficção científica também se dedica a imaginar mundos que, apesar de diferentes, sejam representações deste em que vivemos. Nesse sentido se aproxima das fábulas de Esopo e La Fontaine, que já escreviam contos em que animais exibiam características humanas em seu comportamento.
Os símios são, na realidade, os primatas fisiologicamente mais próximos aos humanos. E, provavelmente, os melhores candidatos a sofrerem uma mutação que os permita desenvolver cultura. Por isso, é aceitável para o público de cinema que um símio aprenda a se comportar como um ser humano e a incorporar todas as suas contradições como, por exemplo, a capacidade amar e de odiar, ou o dom de viver em sociedade e, no entanto, desenvolver conflitos de classe, raça e religião. Quando neste filme, Cesar − o primeiro chimpanzé adquire uma inteligência equivalente à humana − não deixa de ser visto e tratado como um animal. De fato, as normas culturais aprendidas com a linguagem não anulam, mas se somam ao seu instinto natural. E por isso se revolta furiosamente contra aqueles que o protegem e alimentam, mas que também o prendem com coleiras, escondem-no no sótão, e o obrigam a viajar no bagageiro do automóvel.

Uma das cenas mais carregadas de significado mostra a primeira vez que Cesar se defronta com um cão preso a uma coleira. O pastor alemão não para de latir para ele, tentando intimidá-lo, como faria com qualquer bicho. Mas, após alguns instantes de surpresa, Cesar toma uma decisão, faz uma careta e solta um rugido que leva o cachorro a colocar o rabo entre as pernas assustado. Do mesmo modo como faria um ator, ele tinha interpretado o personagem de macaco raivoso, revelando-se capaz de desempenhar outros papéis sociais e até de constituir uma nova sociedade.

Acidentalmente, portanto, um gênero meramente literário se defronta neste filme com um gênero biológico. Um se refere à ciência e o outro à ficção. Um tem força de lei natural, outro não passa de convenção, arbitrária e mutável como todas as criações humanas. Entre elas, a própria tecnologia que recentemente permitiu a geração de seres vivos transgênicos ou que teria dado origem a uma epidemia mundial, tal como vemos atualmente com a AIDS que, aliás, aparece metaforizada no encerramento e na "coda" que é inserida após o inicio dos letreiros finais.
Em termos de espetáculo, “O Planeta dos macacos – a origem” pode também ser considerado transgênico porque realiza a integração final entre duas linguagens: o cinema e a computação gráfica. O filme mostra o começo de tudo o que já vimos nos demais exemplares da série, quando o primeiro símio inteligente é criado em laboratório, educado por uma família humana (como um Tarzan às avessas) e, em seguida, se revolta para liderar sua espécie no enfrentamento aos humanos. Diferentemente dos seis episódios anteriores da série, o herói antropóide e seus companheiros não são interpretados por atores vestindo máscaras simiescas, mas a produção usa a técnica chamada “captura de performance”, em que a figura do ator depois de filmada é trabalhada digitalmente. Esse recurso já foi usado antes, em filmes como “Avatar”, “King Kong” e “Senhor dos Anéis”. Mas esta foi a primeira vez em que se realizou a captura no mesmo set de filmagem, junto com os demais atores.
A par dessa novidade tecnológica que nos coloca no meio da ação, o filme se destaca pela qualidade do roteiro que nos leva a acompanhar os acontecimentos pelo ponto de vista dos primatas. James Franco está bem em seu papel de cientista que luta contra o mal de Alzheimer e provoca toda essa alteração num chipanzé cuja mãe lhe servira de cobaia em seu laboratório antes de morrer. Adota-o como filho e, mais tarde, quando ele se recusa a voltar pra casa, não vemos duas espécies, mas duas gerações em conflito. Porém, o que impressiona mesmo é a sofisticada atuação do inglês Andy Serkis, que já fez o papel de King Kong (2005) e que só tem o gestual e a expressão dos olhos para construir um personagem tão complexo.

PLANETA DOS MACACOS - A ORIGEM
Rise of the Planet of the Apes
EUA, 2011, 106 min, 12 anos
estreia 26 08 2011
gênero ficção científica
Distribuição Fox Films
Direção Rupert Wyatt
Com James Franco, Andy Serkis,
Freida Pinto, John Lithgow
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

domingo, 21 de agosto de 2011

Refilmagens. Será essa uma futura tendência?

Previsto para chegar aos cinemas em 2014, o clássico brasileiro "Dona Flor e Seus Dois Maridos" ganhará um remake, segundo informou o ator e diretor Reginaldo Faria durante o último Festival de Gramado. Seu filho, o ator Marcelo Faria, interpretará o papel que anteriormente foi de José Wilker, o Vadinho. Em sua versão original, o filme foi produzido por Luis Carlos Barreto e dirigido por seu filho Bruno Barreto. O roteiro é baseado em um best-seller de Jorge Amado, que retrata Salvador da Bahia nos anos de 1940. O filme será provavelmente dirigido por Pedro Vasconcelos, que é o diretor da novela global "Morde & Assopra". Na primeira versão, Dona Flor é vivida por Sônia Braga. Mesmo após 20 anos, até a chegada de "Tropa de Elite 2" no ano passado, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" ainda liderava o ranking das bilheterias nacionais.
A refilmagem de títulos importantes é hábito nas cinematografias industrializadas e poderia muito bem ser mais praticado no Brasil, ainda que seja inútil mexer em certos filmes que são perfeitos do jeito que foram realizados, como “O grande momento”, “Deus e o diabo na Terra do Sol”, “Noite Vazia”, “O pagador de promessa” e tantos outros. Mas talvez não fosse má idéia retomar a essência de grandes bilheteria do passado, na tentativa de repetir o sucesso já alcançado. Poderiam, por exemplo, ser refeitos “Bonequinha de Seda” de 1936, (acima)“O ébrio” de 1946 (abaixo), ou “Absolutamente Certo”, de 1956...

S E R V I Ç O: os lançamentos da semana.

O melhor lançamento da semana é o italiano UM SONHO DE AMOR em que Luca Guadagnino, um diretor da nova geração, faz um filme na linha de Visconti, mas procurando atualizar o tom do espetáculo. Centralizada numa atuação surpreendente da escocesa Tilda Swinton, o roteiro narra um drama que transtorna uma tradicional família de industriais de Milão. No extremo oposto, mais um exemplar da safra americana de comédias consideradas politicamente incorretas. É PROFESSORA SEM CLASSE, com Cameron Diaz no papel de uma professora sem vocação para o ofício e sem um pingo de educação. É dirigida pelo talentoso Jake Kasdan, que fez “A Vida é Dura”, uma comédia tão inteligente que no Brasil só foi lançada em DVD.
Para os fãs de quadrinhos LANTERNA VERDE, a origem de um herói da DC Comics. É bem feito, mas não tanto quanto o Cap América e outros sucessos da Marvel. O diretor é o prestigiado neo zelandês Martin Campbell que fez dois 007, mas o astro é o sofrível Ryan Reynolds.
E finalmente uma simpática comédia brasileira ONDE ESTÁ A FELICIDADE? Com direção de Carlos Alberto Riccelli, escrito e estrelado por Bruna Lombardi. Ela faz o papel de uma apresentadora de TV que perde o marido e o emprego ao mesmo tempo e resolve ir para a Espanha fazer o caminho de Santiago, mas à maneira do brasileiro.

Lançado em DVD "A rainha Margot", memorável trabalho de Isabelle Adjani e Virna Lisi.

Nesta semana, o massacre da noite de São Bartolomeu completa 439 anos. Aconteceu em Paris entre os dias 23 e 24 de agosto de 1572. Aquele foi um período complicadíssimo na França – os estertores do regime feudal que ainda fragmentava o país, às vésperas de se consolidar como uma monarquia nacional e absolutista. Numa pintura de época, vemos o registro do horror, captado de perto pelo filme, escrito e dirigido por Patrice Chéreau, mais reconhecido na França como diretor de teatro do que de cinema.
Só naquela noite foram assassinados quase seis mil protestantes calvinistas, os chamados huguenotes, que consistiam num setor na burguesia em ascensão e numa ala da aristocracia francesa. Nos meses seguintes, os assassinatos continuaram, chegando a dezenas de milhares. Por ser particularmente impressionante para pessoas mais sensíveis e espiritualizadas, o fato foi tema de livros de Allan Kardec e da canção “Guerra Santa”, de Gilberto Gil.
A matança só terminaria em 1594, por vontade do rei Henrique IV. Na pele de Daniel Auteuil (acima), esse monarca aparece no filme “A Rainha Margot” que a Versátil acaba de lançar em DVD. Isabelle Adjani (acima) ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes em 1994, por sua atuação no papel da filha da maquiavélica florentina Catarina de Medicis que foi obrigada a se casar com o líder dos protestantes, ou seja, o futuro rei Henrique IV, que conseguiria pacificar o país. Baseado em livro de Alexandre Dumas, o roteiro narra em detalhes a noite de São Bartolomeu, atribuindo o mando daquele crime coletivo à pérfida rainha mãe Catarina de Medicis, interpretada com brilhantismo e empenho por Virna Lisi (abaixo)
Em termos históricos, o filme é impecável, ainda que o texto de Dumas tenha carregado nos aspectos romanescos da narrativa. Na imagem abaixo, uma pintura de Margarida de Valois (Margot), tal como devia ser na realidade.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Um Sonho de amor" é uma homenagem ao cinema italiano dos áureos tempos

"Um Sonho de amor" é o título brasileiro do italiano Io sono l'amore, ou seja, “eu sou o amor”. De fato, o filme coloca esse sentimento como o motor do roteiro: uma força da natureza, tão poderosa quanto a da gravidade, mas sempre imprevisível como um tsunami ou um vulcão, livre da moral e também da imoralidade. A protagonista que carrega essa energia é a escocesa Tilda Swinton, no papel de uma russa casada com um dos chefes de uma tradicional família de industriais de Milão. Ela não percebe que o filho tem um lado homossexual e se apaixona logo pelo melhor amigo dele, um cozinheiro com o qual o rapaz planejava montar um restaurante. O caso de amor entre a dama e o cozinheiro se inicia quando ela experimenta uma de suas criações culinárias, mas em seguida desagua na simplicidade do sexo. A atuação de Tilda Swinton é como sempre intensa e, neste caso, extremamente sofisticada, superior até ao seu trabalho em “Conduta de Risco” (2007) que lhe rendeu um Oscar.
Aliás, a idéia de requinte e sofisticação já está inscrita na proposta central do espetáculo que é filmar do mesmo modo como Luchino Visconti faria se estivesse vivo e fosse o encarregado deste projeto. Uma proeza para o diretor Luca Guadagnino, um cineasta da nova geração que até agora tinha apresentado uma trajetória irregular, oscilando entre documentários e o sensacionalista “Melissa P”, um drama juvenil escandalosamente erótico. A verdade é que ele se sai muito bem da tarefa, ainda que, à procura da elegância de Visconti, em alguns momentos ele tenha encontrado a crueza de Rossellini, como em "Stromboli" (1950), e o sentimentalismo de Bertolucci de "La Luna" (1979). Enfim, o resultado representa um surpreendente retorno aos tempos de grandeza e glória do cinema italiano.

UM SONHO DE AMOR
Io sono l'amore
Itália, 2009, 120 min, 12 anos
estreia 19 08 2011
gênero drama / social
Distribuição Paris filmes
Direção Luca Guadagnino
Com Tilda Swinton, Flavio Parenti,
Edoardo Gabbriellini, Alba Rohrwacher
COTAÇÃO
* * * *
Ó T I M O

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Palma de Ouro em Cannes, "A Árvore da Vida" leva um drama familiar à origem do universo

A árvore da vida tem traços comuns ao excelente Foi apenas um sonho (2008). Por meio de uma tragédia familiar se abatendo em meados dos anos de 1950, sobre um casal de classe média, Sam Mendes flagrava o nascimento de uma cultura, que é norte-americana e em larga medida universal. Um modo de viver e pensar o mundo que se formou a partir do pós-guerra, sustentado por um sistema econômico que só agora entra em crise e que se propagou de modo amplo – principalmente por intermédio do cinema, da indústria fonográfica e da televisão. Mas, enquanto Sam Mendes dissecava aquele contexto utilizando a dramaturgia tradicional, Terrence Malick rompe com a forma costumeira de filmar uma trama e constrói um sistema narrativo bastante original, provavelmente em busca de uma retórica mais expressiva e impressionante.
Em primeiro lugar, reduz a história que se resume no conflito entre pai (Brad Pitt) e filho (Sean Penn, quando adulto) à sua formulação mais simples. Apesar da participação da mãe e do irmão – com quem nutria uma relação de amor e ódio – é nessa dualidade que ele concentra a fissura principal daquele mundo.
Em seguida, extrapola esse cenário para o universo inteiro e para outras eras do passado, ou talvez do futuro. Há, por exemplo, imagens de planetas explodindo e de um dinossauro perdido na amplidão de um pântano. Evitando recorrer à computação gráfica atual, Malick trabalhou com o veterano Douglas Trumbull (1042), que cuidou dos efeitos especiais de 2001 – uma odisséia no espaço (1968) e Blade Runner (1982).
Finalmente, percebe-se que a dicotomia pai/filho abrange o universo inteiro e o discurso de Malick passa a abarcar o próprio binômio criador/criatura. No prólogo do filme, ouve-se um versículo bíblico do livro de Jó que remete ao drama da criação. Isso atribui um determinado sentido aos personagens de Brad Pitt e Sean Penn, cujo nome é o mesmo – Jack O’Brien, com as iniciais formando JOB (Jó, em inglês). Nos diálogos, além dessas referências veladas e principalmente nas falas da mãe (Jessica Chastain) são inúmeras as menções à divindade. Ao morrer o seu filho mais novo de 19 anos, o padre afirma que “agora ele está nas mãos de Deus”. Ao que ela questiona: “mas ele não estava lá o tempo todo? E ensina os filhos: “há dois caminhos na vida, o da natureza e o da graça; a natureza só deseja satisfazer a si mesma e promove a infelicidade, enquanto o amor sorri em todas as coisas”.
Quando regressa com a câmera ao plano da família, Malick se recusa a mostrar as situações de modo corriqueiro e filma, em ângulos inusitados, gestos e atitudes dos personagens que seriam desprezadas na edição da maioria dos filmes já vistos. O filme tem sido qualificado de pretensioso porque procura ampliar ao extremo um simples drama familiar, relacionando-ao com cenas que se referem à origem do universo e ao espaço sideral. Mas não há como negar a beleza, a exuberância e o poder sugestivo dessas imagens que devem ter contribuído para que o filme fosse o ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano.

A ÁRVORE DA VIDA
Tree of Life
EUA, 2011, 138 min, 10 anos
estreia 12 08 2011

gênero drama / família / religião
Distribuição Imagem filmes
Direção Terrence Malick
Com Sean Penn, Brad Pitt,Jessica Chastain
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE

Finalmente am DVD, "Lenny", o histórico trabalho de Bob Fosse feito em 1974

Lançado em DVD pela Versátil, “Lenny” − filme que Bob Fosse dirigiu e Dustin Hoffman interpretou em 1974, sobre a vida e a morte de Lenny Bruce, o mais inteligente e engraçado standup comic americano de todos os tempos. O filme concorreu a seis Oscars, mas não levou nenhum e nem teve grande bilheteria, porque tinha cara de filme europeu, claramente influenciado por Fellini, Antonioni e Peter Watkins, o criador do docudrama. Mas Valerie Perrine ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes e Fosse foi premiado pela associaçãodos roteiristas nos EUA. Foi um dos primeiros produtos de Hollywood a se abrir para mudanças estruturais e de conteúdo. Em 1974, auge da ditadura, nem se cogitou em importar o filme para o Brasil. Essa obra, portanto, vale como documento histórico para o cinema e para a cultura ocidental. Aproveito para reproduzir trechos do ensaio que eu escrevi na Folha de São Paulo em 1980, quando o filme foi lançado no Brasil.
“No começo dos anos 60, Bruce ficou famoso por ser um dos primeiros comediantes a dizer palavração em cena, chegando a ser preso por causa disso. Transformado em bandeira viva da liberdade de expressão no show business, não conseguiu manter o precário equilíbrio numa existência dividida entre o papel de rebelde e a necessidade de enfrentar inúmeros problemas de ordem pessoal. Só que Lenny Bruce não vale apenas como mártir da contra cultura, ainda que seus processos judiciais servissem para ampliar os limites do bom comportamento em todos os palcos da América, inclusive no cinema."

Abaixo, o verdadeiro Lenny Bruce em sua primeira prisão
"As gravações de seus monólogos revelam um humorista completo, com total domínio de cena, imensa flexibilidade vocal e capacidade para colocar em termos populares complexas reflexões sobre religião e moral.Dustin Hofman realiza um trabalho magistral personificando Lenny. Chega a recriar até a voz e a aparência do cômico. Se em alguns momentos parece exagerado, isso se deve à própria exacerbação emocional e ao clima patético em que Lenny viveu. Isso, ao som de uma belíssima trilha, com peças de Thelonious Monk e Miles Davies.”

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

"Quero matar meu chefe" é uma comédia bem mais inteligente do que parece

"Quero matar meu chefe" é uma comédia americana bastante satisfatória, dotada até de conteúdo social, porque tem como pano de fundo algo que os americanos talvez nunca suspeitassem que fossem sentir um dia, que é o medo do desemprego. Três amigos sofrem os abusos, assédios, injustiças, perseguições e demais efeitos colaterais e desumanos de uma relação de trabalho. Mas têm que engolir o sapo, porque nenhum deles é bom profissional e todos precisam muito do emprego. A saída então seria parodiar, ou melhor, copiar pra valer o esquema proposto por Hitchcock em "Pacto Sinistro" (1951), arquitetando um esquema no qual cada um se propõe a matar o chefe do outro, para não levantar suspeitas.
Mas, paródia mesmo é o que o filme faz com os três amigos, colocando-os como adaptações para o mundo atual dos "Três Patetas", aquela trinca de palhaços que fez comédias de pastelão, desde a década de 1930 até os anos de 1960. Aliás, foram eles os grandes inspiradores dos brasileiros Trapalhões, de grande sucesso na TV. Neste filme, apesar de simpáticos, os protagonistas se mostram tão idiotas e incompetentes que parecem merecer os patrões que têm. A propósito, o melhor do filme é a atuação destes: Colin Farrel, Kevin Spacey e Jennifer Aniston, detestáveis em seus papéis de demônios em forma de gente.
Cada um deles é desenhado com precisão e, assim, ganham os melhores diálogos do roteiro que, aliás, se esmera em ironia, com a inclusão de um "deus ex-machina" assumido para consertar a bagunça armada pelo três patetas. Aliás, esse gracejo requintado até destoa do restante do filme. No teatro da Grécia antiga, chamava-se de "deus ex-machina" a voz de uma divindade que, por meio de um megafone interferia na trama, quando não havia mais saída para os personagens. Neste filme, temos a voz de um aparelho de GPS que acaba exercendo a mesma função.


QUERO MATAR MEU CHEFE
Horrible Bosses
EUA, 2011, 98 min, 14 anos
estreia 05 08 2011
gênero comédia
Distribuição Warner
Direção Seth Gordon
Com Jason Bateman, P.J. Byrne, Steve Wiebe,Jamie Foxx
Colin Farrel, Kevin Spacey e Jennifer Aniston
COTAÇÃO
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B O M

sábado, 6 de agosto de 2011

O retorno da histórica revista "Filme Cultura" e nova chamada da "Programadora Brasil"

O Ministério da Cultura e a Petrobras já anunciaram o resultado da edição 2011 da Ação Cultural que prevê a distribuição de R$ 14,5 milhões entre dez iniciativas, por meio da Lei Rouanet. Um dos projetos contemplados dá continuidade à publicação da revista Filme Cultura, pelo Centro Técnico Áudiovisual da Funarte. Serão editdos mais seis números. A volta da Filme Cultura, publicação histórica do cinema brasileiro, foi um dos projetos realizados pelo saudoso Gustavo Dahl(abaixo), enquanto esteve à frente do Centro Técnico. Também está previsto a difusão da publicação, com envio gratuito dos exemplares para bibliotecas, universidades e pesquisadores, além da promoção de debates e lançamentos com registro audiovisual e da produção de conteúdos exclusivos para publicação em website. O projeto terá investimentos de R$ 600 mil.
Até o dia 15 de agosto, representantes de filmes e vídeos, com duração mínima de cinco minutos e máxima de trinta minutos, poderão inscrever seus trabalhos na Programadora Brasil. As obras podem ser de qualquer gênero e ano de realização, desde que possuam o Certificado de Produto Brasileiro, emitido gratuitamente pela Agência Nacional de Cinema. Quase 35% do conteúdo oferecido pelos associados volta-se para o público infantil e em faixa escolar. Atualmente, são cerca de 1500 pontos de exibição audiovisual associados à Programadora Brasil. Eles estão em mais de 800 municípios brasileiros, nas 27 unidades da federação, e podem ter acesso a 700 filmes e vídeos nacionais de domínio público. Os associados cedem os direitos gratuitamente e em troca recebem divulgação. Para alguns pode ser interessante...

A expedição do Barão Langsdorff pode ser o tema da primeira co-produção Brasil-Rússia

O governo russo decidiu investir uma parte maior de sua verba destinada ao setor cinematográfico na construção de novas salas de cinema. Com isso, o dinheiro para produção de filmes russos diminuiu. A situação na Rússia é bem semelhante à do Brasil, onde faltam incentivos à expansão do mercado exibidor e à formação de público. Os governos locais historicamente favorecem a produção em detrimento à exibição, e a participação de mercado do cinema nacional no circuito é mais ou menos a mesma. Investir em novas salas exibidoras, especialmente nas periferias e pequenas cidades, com preços acessíveis de ingresso, parece fazer mais sentido do que financiar mais filmes. A democratização do equipamento audiovisual facilitou a produção de conteúdo, mas construir e gerebciar uma sala exibidora é ainsa algo mais complicado e que, somente com ajuda estatal, vem sendo realizada em território russo.
Essa notícia, porém, tem um lado desfavorável que é o fato dessas novas medidas trazerem algum risco para a iniciativa de produtores russos e brasileiros, no sentido de colocar em prática um acordo de co-produção de filmes que foi assinado no ano passado. Já existe até um primeiro projeto em andamento, coordenado pela Câmara Brasil-Rússia que é um épico reconstituindo a incrível expedição do Barão Langsdorff ao Brasil no século 19, financiada pelo império russo: uma viagem científica que percorreu o país a pé, de São Paulo até o Amazonas. Esse texto está ilustrado com imagens ligadas àquela expedição. A abertura, uma aquarela de Adrien Taunay, o desenhista francês que morreu afogado no trajeto. A imagem retrata o rio Cubatão, perto de Santos, tal como era em 1825. Na figura acima, um trabalho de seu substituto Hercules Florence, documentando os apiacás (hoje apenas um nome de rua no bairro de Perdizes, em São Paulo). Abaixo, um selo comemorativo de 1992, mostrando a efígie do barão e o trajeto que ele percorreu. Que filme sensacional essa aventura daria!

Filmes mudos, com música ao vivo, na JORNADA BRASILEIRA DE CINEMA SILENCIOSO

Em agosto, até o dia 14, a Cinemateca Brasileira promove a quinta edição da JORNADA BRASILEIRA DE CINEMA SILENCIOSO, evento dedicado aos filmes produzidos desde o final do século XIX até aproximadamente 1930, com a chegada do som. A mostra privilegia o cinema silencioso da Itália, que despontou em 1910. Luca Giuliani, diretor do Museo Nazionale del Cinema fará conferência inaugural do evento que também celebra os 150 anos de nascimento de Georges Méliès ("Viagen à Lua", na foto abaixo), considerado o criador do espetáculo cinematográfico, com a exibição de alguns filmes de sua autoria, dois filmes franceses e dois alemães. A programação inclui ainda dois filmes silenciosos amadores realizados no Rio Grande do Sul, já após o advento do cinema sonoro, ambos restaurados pela Cinemateca Brasileira. O evento inclui ainda a realização de palestras e mesas de debate e uma sessão especial, no sábado, dia 6, às 20h00, do filme “Os Últimos dias de Pompeia” (acima), que será projetado na fachada do Auditório Ibirapuera, ao ar livre, com acompanhamento musical da Banda Jazz Sinfônica de Diadema. Todos os filmes da Jornada serão exibidos com acompanhamento musical ao vivo. A curadoria musical do evento é, mais uma vez, do compositor Livio Tragtenberg, que convidou, dentre outros artistas, a banda Violeta de Outono, Max de Castro, Michelle Agnes, Fabio Tagliaferri, Dino Barioni, Antonio Loureiro e Laércio de Freitas. Confira mais informações no site www.cinemateca.gov.br/jornada

“Não se preocupe, nada vai dar certo” é uma comédia em que, de fato, nada dá certo

Está bem que Hugo Carvana seja uma instituição no Cinema Novo, embora tenha começado trabalhando em chanchadas. Que dedicou a vida ao cinema, ainda que tenha feito mais novelas do que filmes. E que seja um respeitável senhor de 74 anos, extremamente simpático e bem intencionado, mas o filme “Não se preocupe, nada vai dar certo” é fiel ao próprio título e fracassa no mais difícil dos projetos artísticos que é o de fazer rir. O veterano Tarcísio Meira e o novato Gregório Duvivier interpretam pai e filho que percorrem o país com um show de humor na linha dos standup comics – uma espécie de “caravana rolidei” em homenagem ao clássico “Bye bye Brasil”, de Cacá Diégues. No começo, o filme tem algo de “Gaviões e Passarinhos” do Pasolini, e Duvivier se esmera em reproduzir um estilo de piadas na esteira de Woody Allen, mas depois a comicidade não engata. Os dois se separam quando o mais novo é contratado para se passar por um guru indiano, num serviço que ultrapassa a malandragem e chega ao estelionato. Revoltado por ter sido abandonado, o pai dá o troco e complica tudo, com a ajuda do próprio Carvana que se finge de padre para descolar donativos. Mas o maior crime deles todos é não terem a menor graça. Quanto às boas intenções, o filme critica o abandono aos idosos e a crescente corrupção no país. Se salva, porém, Tarcísio Meira que ganhou a vida como galã e que na verdade é um excelente ator cômico.

NÃO SE PREOCUPE NADA VAI DAR CERTO
Brasil, 2011, 99 min, 12 anos
estreia 05 07 2011
gênero comédia
Distribuição Imagem filmes
Direção Hugo Carvana
Com Ângela Vieira, Tarcísio Meira,
Gregório Duvivier, Flavia Alessandra
COTAÇÃO
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FRACO

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

“Melancolia”, de Lars Von Trier é uma prova de que o cinema ainda vive e se transforma

Hoje em dia os filmes de horror viraram piada, porque nada se compara com o sangue que brota todo o dia nas manchetes de jornal. Dráculas e outros monstros se transferiram para títulos românticos consumidos por adolescentes. O suspense também perdeu o interesse porque todo o mundo sabe que, no final, tudo dá certo. Mas o cinema ainda guarda a capacidade de emocionar as platéias. O problema é o tipo de emoção que os filmes despertam, algumas bem mais sutis do que outras. Digo isso a propósito de “Melancolia”, o filme mais triste dos últimos tempos que, misteriosamente, foi maculado no seu lançamento em Cannes pelo próprio diretor Lars Von Trier. O blues, a voz de Billie Holiday, os poemas de Byron induzem a esse sentimento cujo nome está no títuki do filme, intangível porque não se explica e incurável porque não tem origem conhecida.
O impacto, literalmente falando, já se antecipa logo na seqüência de abertura, com impressionantes painéis pictóricos fotografados em câmara lenta e os plangentes acordes do prelúdio de Wagner em “Tristão e Isolda”. Aliás, esse é praticamente o único tema musical do filme a se repetir a cada aproximação do final anunciado, fazendo crescer a aflição do público e de alguns personagens. Há um parentesco entre este e outro filme dinamarquês do conterrâneo fundador do movimento do "dogma", Thomas Vinterberg, que é “Festa de Família” (1998). Porque tudo se passa durante a festa de casamento da protagonista interpretada por Kirsten Dunst, com justiça premiada em Cannes como melhor atriz. Aliás, é a segunda artista a quem o diretor abre o caminho para o mesmo prêmio em dois anos. A outra é Charlotte Gainsbourg, que trabalhou em “Anticristo” (2009) e que também está no elenco de “Melancolia”, junto com intérpretes de primeira linha, como Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling e Stellan Skarsgard.
Todos estão reunidos para festejar o casamento que se inicia alegremente, mas aos poucos a noiva é atacada por aquele mal de que falamos e passa a arruinar a festa passo a passo, até que o enlace é cancelado. Tudo isso é mostrado de modo ágil, com a câmara na mão, menos nos momentos em que a personagem se relaciona com as estrelas e nota o brilho de uma delas em especial. Trata-se de um planeta que vem se aproximando da Terra e que, segundo os astrônomos, deverá passar ao largo, ainda que na internet as postagens mais numerosas anunciem o fim do mundo. A nós só resta compartilhar com eles essa dúvida e as maneiras como cada um reagem a ela. É de fato uma narrativa simples, mas que possibilita diversas leituras. Alguns mencionam uma reinterpretação do mito medieval de Tristão e Isolda, em que o amor se realiza só (ou até) na morte. Outros falam em metáfora das experiências de perda que, por todo o mundo, vêm superando as de crescimento e conquista. E há os que identificam aí aquela mesma premonição de abismo, aquele sabor de amargura sugerido pela certeza de tudo está sempre por um fio.



MELANCOLIA
Melancholia
Franca/ Alemanha, 2011, 136 min, 14 anos
estreia 05 08 2011
gênero drama / fantasia
Distribuição: California Filmes
Direção: Lars Von Trier
Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland
COTAÇÃO
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EXCELENTE