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sábado, 30 de janeiro de 2010

Em "Nine", Rob Marshall homenageia um filme de Fellini por meio de Bob Fosse

Mesmo que em "All That Jazz" ("O Show deve Continuar") de 1979, Bob Fosse já tenha se apoiado em “8 e ½” como principal referência, Rob Marshall ("Chicago" - 2002 ) resolveu filmar um musical da Broadway chamado “Nine” que, nos anos 80, adaptava aquela obra-prima de Fellini. O trabalho de Bob Fosse, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, é infinitamente superior por ser original, ainda que apresente um tema semelhante ao proposto por Fellini: ou seja, um artista em meio a uma atribulação íntima e pessoal. "All That Jazz" era um filme autobiográfico sobre um diretor de teatro musical e os números de canto e dança que vemos na tela pertencem ao espetáculo que ele ensaiava. Outras referências ao clássico de 1963 de Federico Fellini também podem ser encontradas, como homenagens criativas, nos filmes “Memórias” de Woody Allen e “8 Mulheres e Meia” de Peter Greenaway. Já o de Rob Marshall é uma paródia simplificadora, de interesse essencialmente anedótico, ou seja, é curioso ver Daniel Day Lewis no lugar de Marcelo Mastroianni, Nicole Kidman em vez de Claudia Cardinale e Marion Cottillard na posição de Anouk Aimée.

O papel que era de Sandra Milo fica para Penélope Cruz (acima) e, aí sim, saímos lucrando. Enfim, são sete mulheres importantes na vida do protagonista e, para cada uma, fica reservada uma participação musical. Inclusive para Sofia Loren interpretando a mãe do personagem. O elenco ainda traz Fergie (do grupo de rap Black Eyed Peas), no papel de Saraghina, Judy Dench como a melhor amiga, e Kate Hudson fazendo uma reporter americana. Destacam-se os números de Marion Cottillard e de Judy Dench, enquanto os demais são apenas bem produzidos. Já o de Fergie mergulha no universo kitch. Nas coroegrafias, é inegável a influência estilística do próprio Bob Fosse, que escreveu e dirigiu a versão original de "Chicago" para a Broadway em 1975. Os conflitos de Fellini ficam reduzidos a uma crise conjugal mal resolvida e a trilha é um pastiche, quase um quodlibet, dos temas inesquecíveis de Nino Rotta.
NINE
Nine
EUA/ Itália 2009 – 119 min
Gênero Musical / história / drama
Distribuição Columbia
estréia 29/01/2010
Direção Rob Marshall
Com Daniel Day Lewis, Marion Cottilard, Penelope Cruz,
Judy Dench, Sofia Loren, Kate Hudson

"Invictus": de como um esporte violento ajudou a promover a paz interna num país

Na antiguidade romana os políticos criaram a expressão “Pão e Circo” para designar dois elementos adequados ao controle das massas populares. O povo sempre precisa de alimento para o corpo e para a mente. A fórmula permanece, ainda que as sociedades humanas venham se tornando cada vez mais complexas. Integrante do conceito de circo, o esporte tem sido usado de diferentes formas. Como uma espécie de narcótico coletivo, no Brasil da ditadura, ou como fator de coesão nacional no filme “Invictus”, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman no papel de Nelson Mandela e o uso que ele deu ao rugby na primeira fase de seu governo na África do Sul. A tese do roteiro é simplesmente que, por meio desse esporte, Mandela "construiu uma nação".
O país saía da condição de sociedade estamental e se encaminhava para se reinventar como nação democrática. E Mandela teve a visão de fazer do esporte um ponto de convergência entre negros e brancos, que passavam a ser concidadãos. E conseguiu isso sem decretos nem dotações orçamentárias, apenas com aquilo que se costuma chamar de vontade política. E com a ajuda de um poema do inglês William Ernest Henley (1849 - 1902) que dizia em seu desfecho "I am the master of my fate: I am the captain of my soul." ("Sou o mestre do meu destino, o capitão da minha alma"). Na imagem abaixo, o verdadeiro Mandela, cumprimentando o jogador François Pienaar, interpretado no filme por Matt Damon.
A iniciativa do projeto é do próprio Morgan Freeman, na qualidade de seu produtor executivo. Ainda na sinopse, ele comprou os direitos do livro em que o jornalista John Carlin conta essa história ("Playing the Enemy: Nelson Mandela and the Game that Made a Nation"). Por sua vez, na direção deste docudrama acima de tudo educativo, Clint Eastwood se aproxima da grandeza de Roberto Rosselini. Cineasta maduro e consagrado que, depois 35 de filmes de sucesso, foi para RAI fazer “A Tomada do Poder por Luis XIV”, o primeiro de uma série de 15 filmes destinados a ensinar história. O mesmo modo espartano de registrar os acontecimentos, evitando o sentimentalismo fácil e, justamente por isso despertando emoção. “Invictus” nos leva a perceber que, apesar de tudo, a grandeza das nações depende da ação política.
INVICTUS
Invictus
EUA - 2009 – 134 min
Gênero docudrama / político / história
estréia 29/01/2010
Distribuição: Warner Bros
Direção Clint Eastwood
Com Morgan Freeman, Matt Damon e Scott Eastwood

"Tyson" parece um auto-retrato, mas é um perfil autoral do pugilista por James Toback

Um diretor e roteirista respeitado e experiente como James Toback não iria trapacear neste documentário sobre Mike Tyson, fazendo-o recitar um texto ensaiado. Mesmo porque poucas pessoas tiveram tanta exposição quanto esse ex-campeão de boxe e, portanto, seria fácil perceber se ele estivesse representando um papel. Tyson se destacava pela eficiência e crueldade, criando em torno de si uma mitologia que se ampliou depois dele ter sido condenado por estupro e passado alguns anos na prisão.
Fugindo da reportagem televisiva cuja fórmula envolve diversos depoimentos para compor o perfil do personagem, Toback se concentrou numa única entrevista com o lutador. As únicas vozes que ouvimos além dessa são as dos locutores que irradiavam as lutas, ou ancoravam os programas de TV dos quais participou. Num desses talk shows, aparece a solitária exceção que é a primeira esposa, ao lado dele, se queixando em público da vida conjugal. Mas não se trata de um documentário na primeira pessoa porque, por trás do longo depoimento percebe-se o trabalho de edição. Principalmente no início do filme, o diretor recorre à fragmentação e à sobreposição das falas, para nos colocar sensorialmente em presença de uma personalidade complexa e fraturada. A essência da obra é a divulgação do que não tinha aparecido nas matérias transmitidas pela mídia, especialmente a carreira de delinqüente juvenil até os 20 anos, quando Tyson conquistou o campeonato mundial. O inesperado sentimento que provoca este guerreiro derrotado pela vida é compaixão.

TYSON
Tyson
EUA - 2009 – 90 min
documentário
Distribuição Califórnia
Direção James Toback
Com Mike Tyson

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"José de Anchieta - Poeta e apóstolo": minha homenagem ao aniversário da cidade.

Em 2004 publiquei uma novela histórica sobre o fundador de São Paulo: "José de Anchieta - Poeta e apóstolo". Passados 456 anos da fundação da cidade, a lembrança do Padre José de Anchieta pode até ter esmaecido com o tempo. Mas a sua importância histórica permanece inabalável, por mais que oscile o foco da historiografia brasileira. Confesso que escrevi o livro pensando numa adaptação para o cinema e agora, que estou trabalhando numa segunda edição, adoraria receber comentários dos leitores e amigos. Se ele já estiver esgotado nas livrarias ou na Editora Paulinas, podem me solicitar uma cópia, por aqui ou por e-mail (vazramos@terra.com.br).

Em 1617, apenas 20 anos depois de seu falecimento, iniciou-se a campanha por sua beatificação. Os primeiros biógrafos, como Quirício Caxa e Simão de Vasconcelos, tinham acesso aos documentos do processo, no qual as pessoas que o conheceram testemunhavam sob juramento. Por isso, seus textos se acham repletos de prodígios e acontecimentos sobrenaturais que ocorriam, às centenas, ao longo da vida do Padre José. Já os fatos de natureza política e cultural, por exemplo, aparecem relegados a um papel secundário.
Nesta que é a primeira biografia de Anchieta elaborada fora dos quadros da Companhia de Jesus, a ênfase fica invertida: sem ignorar os assombrosos dotes intelectuais de Anchieta, nem omitir os seus milagres mais conhecidos, são suas ações concretas, como homem de cultura e líder religioso, que assumem o primeiro plano da narrativa. Os aspectos políticos da sua trajetória ganham o merecido destaque.

Uso a palavra política numa acepção ampla. Se naquele tempo ainda não havia partidos e nem um aparelho estatal consolidado, certamente já se manifestavam conflitos de interesses: uma verdadeira "guerra de signos" em que se chocavam diferentes idiomas, princípios religiosos, valores morais e estilos artísticos.
No Brasil do século XVI, vivendo peripécias repletas de perigos e emoções, além de elaborar a primeira gramática da língua tupi (capa acima), Anchieta criou métodos para difundir o evangelho que se harmonizavam com a cultura indígena. E assim, superando incontáveis e tremendos obstáculos, ele trouxe milhares de nativos para o cristianismo, protegendo-os assim da escravatura colonial. Era, sem dúvida, o que hoje chamamos de uma “política cultural” clara e definida. Nesse combate, as armas do beato Anchieta eram a firmeza religiosa, a inocência poética com que enfrentava todas as dificuldades e a irrestrita dedicação aos humildes. Anchieta só assumiu o comando dos jesuítas no Brasil em 1578, mas talvez a sua mais ousada realização no campo da diplomacia tenha sido a paz estabelecida com os tamoios em 1563, muito antes de ser ordenado sacerdote.
Anchieta foi também o fundador do teatro no Brasil. Em suas peças interagiam personagens que falavam espanhol, com outros que se expressavam em latim, em português ou em tupi. Mitos indígenas dividiam a cena com figuras da tradição católica e personagens históricos. Além de divertir e passar recados políticos junto com lições de vida, aqueles textos transmitiam valores religiosos e noções de moral. (acima e abaixo, Anchieta na visão de Cândido Portinari)

Mas este é apenas um dos aspectos do significado histórico de seu trabalho que, ao fomentar a difusão cultural, promovia a paz e a mútua aceitação entre os diversos grupos sociais do cenário colonial brasileiro: colonos portugueses, militares espanhóis, indígenas convertidos e pagãos. É até possível estabelecer uma conexão entre esse trabalho e a forma como se consolidou a diversidade étnica deste país, notável pela tolerância cultural e religiosa.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"Astro Boy": um personagem japonês que quer ser adotado pelo mundo inteiro

Astro Boy é um desenho animado que, acima das suas qualidades cinematográficas representa um caso a ser estudado. Antes de tudo, é a adaptação para longa metragem de uma série com mais de 190 episódios de ½ hora para a televisão que simplesmente deu origem ao que hoje chamamos de mangá e animê. Iniciada em 1963, essa série inaugurava a moda japonesa de exagerar no tamanho dos olhos dos personagens. (foto abaixo) Apesar de falecido em 1989, com 61 anos de idade, o nome de seu criador Osamu Tezuka aparece como roteirista do longa. Também faz uma "figuração", sob a forma de caricatura, como um dos personagens anônimos do filme. Entre outros trabalhos que inspiraram animadores do mundo inteiro, foi ele quem criou Kimba o Leão Branco, mais tarde copiada pela Disney sob o título de O Rei Leão, jamais sendo creditado pela companhia americana.
Agora o personagem “Astro Boy” personifica uma procura de aceitação global pela indústria japonesa de animação. Reconhecida e reverenciada mundialmente, a obra chega ao cinema numa co-produção entre americanos, japoneses e chineses. O diretor, por sinal, é um inglês, David Bowers, o mesmo da animação “Por Água Abaixo”. Assim, a história e seu ritmo de desenvolvimento se aproximam muito do estilo ocidental, situados entre as linhas da Disney clássica e da moderna Pixar.
A primeira aproximação é com Wall-e, porque tudo acontece num mundo pós-apocalíptico em que a humanidade pode construir robôs perfeitos, mas ainda não sabe eliminar a poluição do planeta. E a segunda é com o clássico Pinóquio, porque Astro Boy é um robô construído por um cientista à imagem e semelhança do filho que perdera. A semelhança está inclusive na estrutura, porque, antes de tornar-se o herói da história, o protagonista passa um tempo "perdido" numa espécie de circo. Assim como acontecia com a criatura de Collodi popularizada por Walt Disney. O charme do roteiro é que o personagem julga ser um menino de carne e osso e, mesmo depois de descobrir a sua verdadeira origem, continua agindo como tal. O resto é pura ação, dosando humor e reflexões de ordem moral que tendem para universalidade.
Astro Boy
Gênero Animação
2009 - Hong Kong /Japão / EUA - 94 min
estreia 22/01/2010
Distribuição Paris Filmes
Direção David Bowers
Criação Osamu Tezuka

Em "Hanami – Cerejeiras em Flor", amor, morte e um inesperado misticismo

Corra porque talvez ainda dê tempo para ver Hanami – Cerejeiras em Flor, da alemã Doris Dörrie (Hannover – 1955). Essa é uma pessoa notável, escritora de best-sellers de ficção, diretora de filmes premiados na Europa e ainda não conhecidos entre nós. Escreveu crítica de cinema enquanto estudava em Munique, fez pós-graduação em drama em Nova York e desde 2001 dirige óperas em Berlim. Este seu último trabalho quase levou o Urso de Ouro no Festival de Berlim e ganhou 7 outros prêmios internacionais. Trata-se de um drama que tem a ousadia de encarar de frente o tema da morte anunciada de uma pessoa com quem se divide a existência. Na casa dos 70 anos de idade e com os filhos já adultos, uma dona de casa recebe a notícia de o marido deverá morrer em breve. Sem lhe contar nada sobre isso, ela então o convence a viajar, para aproveitar do melhor modo possível o tempo que sobra.
Para não estragar a surpresa do espetáculo, isso é praticamente tudo o que se pode revelar sobre a história. Mas, cabe uma reflexão sobre os misteriosos caminhos do cinema, em sua capacidade de ligar universos culturais extremamente distantes. Navegando nas correntes do inconsciente coletivo, a história de Hanami – Cerejeiras em Flor faz uma ligação com o candomblé afro-brasileiro, religião que a antropologia classifica como fetichismo animista. Por meio da dança e da roupa que vestem no momento do culto, as “filhas de santo” incorporam as entidades sagradas. Um processo equivalente ocorre com os personagens do filme. Só vendo para acreditar.
Hanami – Cerejeiras em Flor
Kirschblüten – Hanami
2008 - Alemanha / França 127 min
Gênero drama
estréia 25/12/2009
Distribuição Filmes da Mostra
Direção Doris Dörrie
Com Elmar Wepper, Hannelore Elsner, Aya Irizuki

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Chega aos cinemas paulistas "Praça Saens Peña", diretamente da Zona Norte carioca

Praça Saens Peña” foi considerado pela crítica o destaque do último CinePE, Festival Áudio Visual de Recife, realizado em abril de 2009. Do júri, recebeu os prêmios de direção (para Vinicius Reis), de ator (Chico Diaz), atriz (Maria Padilha) e atriz coadjuvante (Isabella Meirelles). Mas perdeu o de melhor filme para “Alô, Alô Terezinha”, de Nelson Hoineff, numa passagem inesperadamente triunfal do gênero documentário. Um Homem de Moral, de Ricardo Dias, sobre a obra poético-musical de Paulo Vanzolini mereceu o Prêmio Especial do Júri.
E mesmo sendo de ficção, Praça Saens Peña apresenta fragmentos documentais em seu interior. Aos outros longas de ficção concorrentes coube apenas prêmios “de consolação”, ainda que justos: fotografia para o paranaense Mystérios e música para o baiano Estranhos. Mais que meramente distribuir troféus, portanto, o CinePE confirmou uma tendência que se manifesta atualmente na cinematografia brasileira: a ascensão desse estilo de narrativa cinematográfica definido pelo inglês John Grierson − um de seus primeiros teóricos − como “o tratamento criativo da realidade”. Mesmo como obra fictícia, Praça Saens Peña se debruça sobre a “realidade social” carioca. Focaliza a crise doméstica que afeta uma família de classe média residente na zona norte do Rio de Janeiro − no local que corresponde ao título do filme.
Um professor secundarista de literatura arranja um serviço extra e se descuida afetivamente da esposa. Ainda que banal e rotineiro, esse ponto de partida poderia render um drama familiar de interesse humano, se fosse mais elaborado, em termos de construção narrativa. O protagonista escreve um livro sobre a Tijuca e, talvez com o objetivo de ampliar a impressão de autenticidade, o roteiro interrompe o desenvolvimento da trama, para inserir discussões teóricas do personagem com seu editor. Mais adiante, a narrativa simplesmente estaciona para que ele possa entrevistar o compositor Aldir Blanc, um dos moradores ilustres do bairro, de modo excessivamente demorado.
O efeito dessa estrutura dramática entrecortada por intervenções “documentais” é, de certo modo, equivalente ao que acontecia nas chanchadas carnavalescas nas quais o desenrolar da história se interrompia para que a platéia assistisse a um número musical. Seria possível atribuir esse procedimento equivocado, do ponto de vista da fluência narrativa, a uma provável fascinação atual pelo documentário? Quem sabe...
A rigor um procedimento como este poderia até enriquecer uma obra, como ocorre em A Rainha (The Queen, Stephen Frears - 2006), em que a ficção se mistura de modo funcional a um abundante material de arquivo − ainda que de cinejornais e não de documentário. Outros exemplos notáveis de convivência entre documento e ficção no mesmo filme mostram soluções mais adequadas, ao situar o segmento documentário no encerramento, ou no início da matéria ficcional. É o caso do clássico Um Dia Muito Especial (Una Giornata Particolare, Ettore Scola – 1977) e do mais recente O Reino (The Kingdom, Peter Berg – 2007). De qualquer maneira, a trama de Praça Saens Peña se revela prosaica e mal costurada. Em seu desfecho, por exemplo, o filme termina como se ainda faltasse um pedaço para a conclusão, deixando para a voz de um personagem fora de cena enunciar a maneira como o conflito central se resolveu. Se nem a esposa e a filha do personagem principal suportam o tédio de conviver com ele, imagine-se a platéia...
Praça Saenz Peña
Brasil 2009
gênero comédia / drama / social
estréia 22/01/2009
Distribuição Filmes do Estação
Direção Vinicius Reis
Com Chico Diaz, Maria Padilha e Isabella Meirelles

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Tom Hanks fez "A Mente que Mente" para o filho, mas John Malcovich roubou.

John Malkovich está em excelente forma no papel de um mágico de palco em A Mente que Mente. Ele cria um personagem verdadeiramente cinematográfico, que foge aos estereótipos e transmite credibilidade. Mas a história mostra interesse reduzido e serve apenas de veículo para o novo astro Colin Hanks − por coincidência filho de Tom Hanks, que produz o filme e até faz um papel: justamente o do pai do protagonista. Colin (na foto abaixo, com Emily Blunt e Malcovich) interpreta um estudante de direito que larga a faculdade para se tornar escritor e, enquanto não consegue, trabalha como assessor do ilusionista. É um drama cômico bem ao gosto de Hollywood, em que um profissional em ascensão se cruza com outro em decadência e ambos desempenham algumas rotinas de gato e rato, um pouco na linha de “O Diabo veste Prada”.
Escrito pelo próprio diretor Sean McGinly, esse roteiro tem jeito de ser autobiográfico, e o mérito de exercitar um olhar crítico em relação ao show business americano, no qual o inegável profissionalismo nem sempre corresponde ao talento dos artistas. O alvo aqui são as celebridades de segundo escalão, como o mágico cuja página mais rica do currículo é ter aparecido 60 vezes no programa de Johnny Carson. O mais engraçado dessa comédia, porém, aparece como um inesperado coelho na cartola. Nesta produção feita para promover o jovem Hanks, que já trabalhou em mais de 25 filmes e ninguém notou, quem brilha de verdade, até por contraste, é o veterano Malkovich.
A MENTE QUE MENTE
The Great Buck Howard
estréia 15/01/2010
EUA - 2008 – 90 min.
Gênero Comédia / drama
Distribuição Europa Filmes
Direção Sean McGinly
Com John Malkovich, Colin Hanks,
Tom Hanks e Emily Blunt

sábado, 9 de janeiro de 2010

"O Homem que Engarrafava Nuvens": filme sobre o compositor de “Asa Branca”

Finalmente entra em cartaz O Homem que Engarrafava Nuvens de Lírio Ferreira. O ponto de partida é a atriz Denise Dumont (na foto abaixo com Lírio Ferreira) percorrendo fisicamente o mundo que fora habitado pelo pai Humberto Teixeira, à procura da “verdade” sobre ele. O cineasta comanda essa busca, oferecendo uma profusão de dados captados com requinte visual pelo fotógrafo Walter Carvalho. Por vezes trabalhado graficamente, esse abundante material de arquivo se associa a depoimentos, interpretações e releituras de suas músicas. E até à própria fala gravada de Teixeira que conduz, ela mesma, grande parte da narrativa.
A tela se incendeia em Nova York, quando ela entrevista a mãe, para tentar entender porque ela abandonara o “doutor do baião”, para fugir com o jornalista Luis Jatobá. Mas este é um documentário essencialmente musical. Não apenas pela natureza de seu objeto, mas pela estrutura, que não obedece rigorosamente à elementar ordenação de começo, meio e fim. Nem às partes de um discurso, conforme as divisões da retórica clássica. A montagem opera mais por aproximação, a chamada “montagem de evidência”, no dizer do teórico Bill Nichols. Salta de um subtema a outro (a família, a atividade musical, a visão de mundo etc) e recorre aos números musicais que funcionam como refrão e leitmotiv para pontuar a narrativa. Pela presença de Luiz Gonzaga ao lado de outras expressivas figuras da cultura popular, e também pelos saborosos momentos de poesia que proporciona, o filme é um espetáculo superlativo de cinema.
O Homem que Engarrafava Nuvens
2009 – Brasil – 100 min
estréia 15/01/2010
gênero documentário / musical
Distribuição Filmes do Estação
Direção Lírio Ferreira

“Amor Extremo”: um pedaço da vida de Dylan Thomas durante a Segunda Guerra

Um dos personagens de “Amor Extremo” é tão importante que o cantor e compositor Robert Zimmerman prestou-lhe uma homenagem no nome artístico adotado por ele. Trata-se do poeta galês Dylan Thomas, falecido em 1953, um dos artistas que fizeram a cabeça de Bob Dylan. No entanto, sob a direção de John Maybury, um cineasta inglês experiente, mas pouco popular, o filme não se aprofunda na biografia do escritor. Coloca-o como um dos namorados da protagonista, uma cantora vivida por Keira Knightley (acima). Durante a segunda Guerra ele tinha 26 anos e estava casado com uma aventureira interpretada por Sienna Miller (abaixo).
No filme, os três vivem um conturbado caso de amor, antecipando as experiências que se multiplicariam nos anos 60. O espetáculo começa com impacto, num abrigo subterrâneo em Londres, em que Keira Knightley canta e as figuras da narrativa brotam da sua boca. É um painel muito rico sobre a época, mas, no qual o excessivo formalismo sufoca a emoção. Parece uma encenação teatral, na linha intimista do alemão Fassbinder, com muita luz contrastada, se chocando com fotos de arquivo e reconstituição de imagens documentais. Nas cenas de amor, por exemplo, há um excesso de fusões e sobre fusões, resultando numa impressão de maneirismo rococó. Em outra seqüência acompanhamos um parto e uma cena de batalha, em montagem paralela. E pairando sobre tudo, a multicolorida trilha sonora de Angelo Ballamenti. Pena que ficou faltando a poesia de Dylan Thomas...

Amor Extremo
The Edge of Love
estréia 15/01/2010
2008 – Inglaterra – 110 min
gênero drama / história / biografia / Guerra
Distribuição Imagem
Direção John Maybury
Com Keira Knightley, Sienna Miller,
Matthew Rhys, Cillian Murphy

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A versão atualizada de "Sherlock Holmes", o mais clássico de todos os detetives

Um diretor ligado à cultura pop como Guy Ritchie, só podia dar uma fisionomia diferenciada a Sherlock Holmes, um detetive do final do século 19 que deu material para mais de 220 títulos, a maioria deles na linha gótica dos filmes de horror. Foi o que fez esse ex-marido da Madonna, cujo filme anterior era “Rockanrolla – A grande Roubada”, sobre um bandido roqueiro. Começa por escalar Robert Downey Jr e Jude Law para os papéis de Sherlock e Dr. Watson, atores mais talhados para a comédia do que para a ação física.

Observem a mudança na caracterização atual, em relação à imagem padronizada do personagem de Conan Doyle, da qual faziam parte a figura aquilina do ator Basil Rathbone e a roupa que usava. Olhando para esta foto, porém, nota-se a semelhança entre ele e Mark Strong, que faz o vilão no filme de Guy Ritchie.
Acima, Mark Strong
Abaixo, Basil Rathbone

No entanto, sem desrespeitar a fama da sua imensa capacidade mental, neste filme ele é mostrado como alguém “bom de briga” − o que abre espaço para uma das várias firulas cinematográficas da montagem. Antes de cada luta, por exemplo, vemos como ele planeja meticulosamente os golpes que o levam à vitória. Por outro lado, para introduzir a pitada cômica, o herói se mostra totalmente desprovido de inteligência emocional e se deixa enganar como um patinho pela noiva (Rachel McAdams) , uma aventureira tão maquiavélica quanto deveria ter sido Mata Hari. A produção é primorosa e parte da encenação acontece na ponte sobre o Tâmisa ainda em construção. Aliás, esse dado cenográfico simboliza o resto do roteiro, em que as futuras conquistas da tecnologia, como a comunicação sem fio, são mostradas como se fossem obras de magia negra. O vilão é um gênio do mal que lembra Hitler, mas apenas prepara o terreno para o terrível Professor Moriarty, a ser interpretado por Brad Pitt no 2º filme da série. Atração à parte é a música de Hans Zimmer, com o detalhe que no filme Holmes não toca violino. Também não usa drogas, e seu cachimbo, geralmente apagado, não é curvo.
Sherlock Holmes
2009 - EUA - 128 min
estreia 08/01/2010
distribuição Warner
gênero aventura / mistério / fantasia
Direção Guy Ritchie
Com Robert Downey Jr, Jude Law,
Rachel McAdams, Mark Strong