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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"O Milagre de Santa Luzia": documentário musical sobre os sanfoneiros de todo o Brasil

Parece uma orquestra andando e tocando ao mesmo tempo. Mas é apenas o acordeão de Dominguinhos, produzindo todos os efeitos de ritmo, harmonia e fraseado melódico que um único instrumento pode oferecer. Esse é apenas o começo de um documentário musical, em que a sanfona e a música popular brasileira são os temas principais. A arte de músicos como Sivuca e Borghetinho estão no primeiro plano.
Ao contrário do que acontece nos filmes de ficção, não é necessário que os personagens de documentário carreguem uma ação dramática. Mas é essencial que eles possam partilhar conosco esse milagre de presenciar uma mesma experiência real. Por mais que a música interpretada diante da máquina de filmar já esteja escrita e ensaiada, cada execução de uma peça musical é única inteiramente original. É isso que faz a força desse novo gênero em que cada tomada é ao mesmo tempo encenada, como no documentário clássico, e necessariamente imprevisível, como no cinema-verdade.

Neste trabalho de Sérgio Roizenblit, Dominguinhos é o guia de uma viagem em que visitamos todos os maiores sanfoneiros do país, em seus ambientes naturais e humanos. O ponto de partida é o mundo de Luiz Gonzaga e a devoção pernambucana à Santa Luzia, em cujo dia 13 de dezembro ele nasceu. Dia de um antigo ritual descrito como tragédia por Patativa do Assaré, também personagem do filme. Na verdade, este documentário opera sucessivos milagres de encantamento poético e transe musical, cada um deles equivalente à magia cinematográfica conjurada por mestres do documentário, como Jean Rouch.
Milagre de Santa Luzia
gênero documentário musical
estreia 28/8/2009
Brasil 2008 104 min
Distribuição Miração Filmes
Direção de Sergio Roisenblit
Com Dominguinhos, Sivuca, Patativa do Assaré,
Borguetinho, Mario Zan, Oswaldinho

Lars von Trier diz que "Anticristo" é seu melhor trabalho e talvez tenha razão

“Anticristo” é um filme perturbador, comparável a “O Iluminado”, que Stanley Kubrick fez em 1980. Ponto de contato entre eles é a colocação de um casal numa montanha, incomunicável em relação ao mundo externo. E junto deles o filho pequeno. Se na obra de Kubrick, o menino está vivo e interfere na trama, no filme do dinamarquês Lars Von Trier ele só aparece na primeira cena, mas provoca tudo o que acontece a seguir.
Isolados assim do resto da humanidade, os dois personagens passam a representar homem e mulher de modo geral, ao mesmo tempo empenhados em conviver e a levar adiante a chamada de guerra entre os sexos, tal como foi trabalhada por August Strindberg. Para Von Trier, esse dramaturgo sueco (1849-1912) forneceu alguma inspiração, assim como os relatos sobre o medo das bruxas e a sexualidade feminina como expressão do mal. Nessa batalha entre Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, Von Trier perdeu a Palma de Ouro e ela ganhou o prêmio de melhor Atriz em Cannes.

Mas o essencial na produção do mal estar que o filme causa se encontra na dimensão formal, especificamente na montagem. Assim como fez Stanley Kubrick, inicialmente Von Trier oferece ao espectador uma certeza que vai se dissolvendo no decorrer do enredo. Isso numa atmosfera visual sombria e angustiante, como nas novelas góticas de May Shelley, Bram Stocker e Edgar Poe. “Anticristo” não usa computação gráfica, mas vai fundo na construção do horror, na linha de F.F. Coppola, em “Drácula” (1992).

Anticristo Antichrist
Dinamarca/Alemanha/França/Suécia
estreia 28/08/2009
2009 – 110 minuntos
Gênero horror / suspense
Distribuição California Filmes
Direção Lars von Trier
Com Willen Dafoe e Charlotte Gainsbourg
Prêmio de Melhor Atriz em Cannes 2009

"Amantes", com Joaquin Phoenix é um dos melhores filmes até agora exibidos em 2009

No meio do cotidiano, surge um drama de proporção pequena, que quase ninguém percebe. A não ser talvez a mãe do protagonista, que desconfia de uma coisa muito perigosa acontecendo com o filho. Ele, Joaquin Phoenix e ela Isabela Rosselini, interpretando pessoas de classe média no bairro nova-iorquino do Brooklin. Com quase 40 anos, ele ainda mora com os pais e volta e meia tenta se matar, porque há alguns anos perdera a mulher que amava. Apenas esse fato nos leva a duvidar da aparência de equilíbrio em suas emoções. Mas fora isso, é uma pessoa até simpática e bem humorada, ainda que apenas superficialmente. Só nós os espectadores sabemos que, para ele, a vida não tem mais sentido.
Quando o acaso lhe oferece uma espécie de bilhete premiado, ela tenta jogar fora, mas não consegue. Porque, além de rica, bonita e sensual, a moça que se apaixona por ele é de uma família que pretende incluí-lo como herdeiro. Mas como advertia Carlos Drumonnd de Andrade, é quase impossível enfrentar “o sem sentido apelo do não”. E assim, só para negar a sua própria natureza, esse herói às avessas se entrega a uma paixão completamente fora de hora e lugar por uma vizinha interpretada por Gwyneth Paltrow: a mais completa reunião de inconvenientes que uma moça pode oferecer. Neste que é dos filmes mais inquietantes do ano, o diretor John Gray (“Fuga Para Odessa” – 1994) mostra que o pior dos nossos inimigos pode estar escondido dentro gente.

Amantes
Two Lovers
EUA 2008 - 110 minutos
estreia 28/08/2009
gênero drama
distribuição Play Arte
direção John Gray
com Joaquin Phoenix, Isabela Rosselini
Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw

"Os Normais 2" funciona como um episódio da série, só que mais longo e mais engraçado

Há certa antipatia contra os filmes produzidos pela Globo Filmes. São bem produzidos, bem acabados e costumam atrair grande público. Afinal, são promovidos e divulgados pela própria TV Globo. Mas isso tudo não determina que sejam sempre de nível baixo e não mereçam atenção. “Os Normais 2” é, no mínimo, diversão garantida para adultos de qualquer idade.

O casal cômico Fernanda Torres e Luis Fernando Guimarães inegavelmente funciona. E sempre equilibrado, sem as rotinas que marcam muitas duplas do cinema, como Oscarito e Grande Otelo, ou O Gordo e o Magro, que seguem a herança medieval do palhaço branco e do augusto, na qual um dos dois é dominante. Ambos são igualmente desajustados, ainda que plausíveis como caricaturas das pessoas comuns.

Na tentativa de apimentar um noivado que já dura 13 anos, eles decidem experimentar o chamado “ménage a trois” e passam o filme tentando viabilizar a ideia. Mas o que valoriza a trama é a variedade de estratégias humorísticas empregadas pelo casal de roteiristas, Fernanda Young e Alexandre Machado. Eles oferecem um pouco de tudo, em matéria de comicidade: jogos de mal entendidos, trocadilhos verbais, piadas na linha pastelão, como na cena da banheira com Claudia Raia, e até qüiproquós no estilo Feydeau, como na sequencia do hotel.
Caetano Veloso dizia que, de perto ninguém é normal. Muito menos “Os Normais” que simplesmente acumulam uma vasta coleção de pequenas loucuras que todo o mundo apresenta, só que em menor escala.

Os Normais 2
estreia 28 de agosto 2009
Brasil 2009
Distribuição Imagem
gênero comédia
Direção José Alvarenga Jr
Com Luis Fernando Guimarães, Fernanda Torres,
Claudia Raia, Drica Morais, Daniel Dantas

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

28 de agosto de 2009: nesta semana nota-se que o gênero do horror ainda não morreu

Na semana passada foi lançado um filme de horror chamado “Arraste-me para o Inferno”. As passagens supostamente apavorantes eram tão grotescas e exageradas, que chegavam a ser engraçadas. Aliás, o diretor era Jason Reitman, um especialista em comédias ("Obrigado por Fumar"). E cheguei até a lamentar a hipótese do cinema de horror ter sido engolido pela comédia. Mas a lamentação durou até hoje, quando estréia um filme horror pra valer e que vem causando polêmica desde que foi lançado no último Festival e Cannes e no qual a protagonista Charlotte Gainsbourg (acima com Willen Dafoe) foi premiada como melhor atriz. O filme é Anti Cristo e o diretor é o dinamarquês Lars Von Trier.
Estreia também "Amantes", um drama psicológico extremamente perspicaz, muito bem escrito e dirigido por John Gray (“Fuga Para Odessa” – 1994) com Joaquin Phoenix no papel central, ao lado de Gwyneth Paltrow e Ninessa Shaw. Desde já podemos dizer que este pode ser um dos melhores deste ano naquele gênero. O tema central é um personagem que Milton Nascimento reconheria como "um caçador de si mesmo".
Agora quem quiser dar risada, pode ir sem susto ver "Os Normais 2", com Fernanda Torres e Luis Fernando Guimarães, claro, e mais Claudia Raia, Drica Moraes, Claudia Raia etc. É como se fosse um dos episódios da dupla na TV, só que mais longo e mais engraçado. A temática é um pouco mais apimentada do que a telinha permitiria, com os normais procurando viabilizar um menage à trois. Mas, sem dúvida o grande espetáculo da semana, daqueles que lavam a alma, é um documentário: "O Milagre de Santa Luzia", sobre os sanfoneiros de todo o Brasil. O Dominguinhos nos apresenta a arte de mestres como Sivuca, Borguetinho (abaixo), Mario Zan, Oswaldinho e muitos mais. Imperdível!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

semana 21 de agosto: gosto de ficar em casa

Nesta semana, as estréias se mostram particularmente desinteressantes. Com exceção de “A Teta Assustada”, filme peruano que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlin, dirigido por Claudia Llosa, sobrinha do escritor Maria Vargas Llosa. O enredo remete à época dolorosa da luta contra os guerrilheiros do Sendero Luminoso.
Estréia também o segundo colocado naquele festival, a comédia romântica uruguaia “O Gigante”, sobre o segurança de um supermercado que se apaixona por uma faxineira, por meio das câmaras de vigilância instaladas na loja. Dois filmes latinos premiados estreando ao mesmo tempo fazem desta semana um caso raro.
Outro que dá para assistir, é a comédia adolescente francesa “Rindo a toa”, dirigida por Liza Azuelos, filha da atriz Marie Laforet, que foi uma das musas da nouvelle vague. Além desses três, os demais talvez não compensem sair de casa. Ainda mais agora que é possível pedir um DVD como se pede uma pizza. Ou até alugar arquivos digitais de vídeo que chegam, via internet, direto para o nosso computador. A Saraiva é a primeira a operar o sistema, implantado há poucas semanas, no Brasil. Basta escolher os filmes no site da Livraria, pagar, e baixar o filme Depois que o usuário o executa pela primeira vez, ele tem 24 ou 48 horas para assistir quantas vezes quiser. Ao fim desse prazo o arquivo fica bloqueado pelo sistema. O problema vai ser que filme escolher dentre os 650 títulos disponíveis no site.
Mas será um problema apenas para quem não tiver à mão um exemplar deste livro....

domingo, 16 de agosto de 2009

O que pensariam os pais do docudrama, Rossellini e Watkins, de "Maria Antonieta"?

Como o cinema costuma tratar os reis as rainhas? Lembremos "Maria Antonieta", de Sofia Coppola, Oscar de Melhor Figurino. Numa ótica reducionista, a diretora retrata a esposa de Luis XVI como apenas uma adolescente irresponsável. Para descrevê-la, ela se inspira nos jovens de hoje. Tanto que, para espanto de todos, coloca rock muita música pop na trilha sonora. Por sorte já foi lançado o DVD de "Ao Balanço da Horas", de 1956, que tem como tema a 1ª banda de rock da história: “Bill Halley e seus Cometas”. A aparência dos jovens daquela época surpreende, porque eles pareciam fisicamente mais maduros que os dos tempos atuais. Podemos concluir, portanto, que há 50 anos, as pessoas amadureciam mais cedo. Imagine-se, então, há 220 anos.

O principal problema de Sofia Coppola não é ter abordado somente o lado mundano dos monarcas. Mas o de ser igualmente superficial ao comentar a Revolução Francesa que transformou radicalmente a história mundial no século XVIII. A participação da França na guerra de Independência do EUA ao lado dos americanos, por exemplo, é reduzida a uma mera aventura do rei. Já a etiqueta da corte é vista pela entediada rainha como “uma mania ridícula”, mesmo sendo um dos pilares do sistema político da monarquia.
O cinema de Roberto Rosselini mostra isso em "A Tomada do Poder por Luis XIV" (1966), o primeiro que ele realizou para a RAI, que infelizmente ainda não temos em DVD. (foto acima) Era um verdadeiro "docudrama", curiosamente contemporâneo à experiência de Peter Watkins na BBC, com "Culloden" (1964), considerado um marco inicial desse gênero que se situa a meio caminho entre a ficção eo documentário. (foto abaixo) Como vemos, a televisão pública foi o ventre que gerou os dois rebentos quase ao mesmo tempo: um na Inglaterra, outro na Itália.

Jogo de caça aos erros históricos: é o que permite a Elizabeth I de Cate Blanchet

Revisando o tema do filme histórico que focaliza chefes de estado, econtrei este comentário sobre "Elizabeth: A era de ouro" (distribuição Paramount - na foto abaixo) que pode ser encontrafdo em DVD. É o segundo título de uma trilogia planejada para descrever o governo absolutista de Elizabeth I, que reinou entre e 1558 e 1603. Descrever é, de fato, o objetivo dessa série que permanece na superficialidade dos manuais didáticos. Mesmo assim, com o 1º episódio, lançado em 1998 ("Elizabeth" - na foto acima), Cate Blanchett foi indicada para o Oscar -- ela que recebera a estatueta de coadjuvante um ano antes por seu trabalho em "O Aviador". E com o segundo retrato da Rainha Virgem, repete a proeza com este filme do mesmo diretor, o paquistanês Shekhar Kapur, que também esteve na disputa de melhor figurino. Realmente o filme vale pelo requinte dos aspectos visuais e não pela dramaturgia, ou seja, impressiona pelos elementos exteriores e não pelos conflitos íntimos da protagonista. Comparando a atuação de Cate Blanchet na mesma personagem desenvolvida há 10 anos, ela se acha agora mais sedutora e enigmática, talvez pela própria complexidade trazida pelo passar do tempo. Mas o roteiro não ajuda e nos oferece uma sucessão apenas linear dos acontecimentos, mas que beira a falsidade, quando a guerra contra os espanhóis é colocada como uma defesa da liberdade de pensamento, contra o fundamentalismo católico. E quando atribui a Walter Raleigh méritosque eram, de Francis Drake e responsabiliade demais na destruição da Invencível Armada da Espanha. As raras ousadias adotadas pela direção têm caráter duvidoso, como a cena em que a Rainha Virgem aparece fumando haxixe, e a aparência atribuída a Felipe 2º da Espanha. Ele era de origem germânica, mas aparece com o rosto barbudo e moreno de um muçulmano. Os que estudam a história do absolutismo podem consultar a versão wikipédia e se deliciar com "licenças dramáticas" descobertas nos dois filmes da real franquia. Have a good time!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

"Se Nada Mais der Certo" da série: os melhores filmes que esqueci de comentar em 2009

O filme abre com a seguinte frase de Jean Jacques Rousseu que resume a posição do pensador suiço sobre a ligação entre a igualdade de direitos sociais e a desigualdade econômica: "uma sociedade só é democrática quando nela ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém." Esse pensamento deve ter orientado a criação do filme que, por meio de seus personagens, se aprofunda na patologia social do capitalismo, tal como se manifesta no Brasil e especialmente em São Paulo.

José Eduardo Belmonte nasceu em São Paulo, mas cresceu e se formou no Distrito Federal. Em seu filme "A Concepção", de 2006, ele retratou em profundidade o ambiente cultural de Brasília. E fez isso por meio de personagens jovens, mesmo porque a cidade tinha apenas 45 anos de idade. Este último filme já se passa em São Paulo, mas ele permanece focalizando aquela mesma faixa etária, com algumas diferenças. No trabalho anterior, os protagonistas eram da elite, filhos de diplomatas sempre fora do país e que enlouqueciam por falta de identidade social e referências éticas.
Neste, os personagens centrais também são jovens, só que massacrados pelo achatamento da classe social a que pertencem: um jornalista sem vínculo empregatício (Cauã Reymond), um motorista de taxi sem veículo próprio (João Miguel) e uma menina da noite que faz a ponte entre eles e a marginalidade (Caroline Abras). É um filme sobre o desespero e os efeitos que ele pode causar, realizado numa linha estilística de baixo orçamento, com equipe reduzida, filmagem em locação e iluminação natural. Um aspecto importante do roteiro é a conexão disso tudo com a corrupção na política e demais esferas da vida pública. Aguardamos o lançamento em DVD deste trabalho tão importante, um dos melhores de 2009.

Se Nada Mais Der Certo
Se Nada Mais Der Certo
estreia 14/08/2009
gênero: Drama / social / política
Brasil / 2008 / 120 min
Direção José Eduardo Belmonte
Com João Miguel, Cauã Reymond ,
Leandra Leal, Caroline Abras , Luíza Mariani

Só agora estreia "Confissões de uma Garota de Programa", de Steven Soderbergh

A foto acima não pertence ao filme: é a Sasha Grey fora de cena, ela que é desconhecida no meio artístico, ainda que seja uma estrela no universo da indústria pornográfica.
O filme é indispensável como documento comportamental da crise econômica e já foi comentado na minha postagem de 26 de julho de 2009. Bom passeio...

"Bruno": comédia que faz sátira e humor fingindo ser um documentário de verdade


Quem gostou “Borat”, que o inglês Sacha Baron Cohen (Londres, 1971) lançou em 2007, deve estar esperando outra dose cavalar de palhaçadas com este “Bruno”. Assim como o anterior, o filme apresenta uma enxurrada de quadros cômicos montados numa linha semelhante. O protagonista vivencia uma série de situações que, em sua maioria, lembram uma entrevista, ou um falso-documentário. “Borat” era um repórter do Cazaquistão que veio fazer uma reportagem nos Estados Unidos. E “Bruno” apresenta de um programa austríaco de TV sobre moda que cai em desgraça na Europa, e vem procurar trabalho em Los Angeles.
Radicalmente gay e despudorado, na busca de espaços na mídia, ele ignora toda e qualquer regra de compostura. Esse esquema narrativo permite desenvolver a linha de trabalho sempre politicamente incorreta de Sacha Baron Cohen que consiste em colocar o personagem em confronto com gente comum. A graça é obtida a partir do espanto dessas vítimas que julgam estar lidando com alguém de verdade e não com uma figura de comédia. Nesse sentido e, se esses cidadãos estivessem de fato iludidos, estaríamos diante de um gênero que mistura humorismo e documentário. A foto acima se refere à cena mais engraçada do filme: um programa de TV, tipo Oprah, em que Bruno leva o garoto que adotara como filho, para imitar as demais celebridades de Hollywood.

Mas, diferentemente do que vemos em “Borat”, algumas dessas pessoas são famosas, como Paula Abdul, Elton John, Harrison Ford, além dos cantores Sting e Bono Vox. E isso leva a supor que as desconhecidas também estejam recebendo cachê. Em resumo aquilo que, em “Borat, era uma novidade absoluta, parece se transformar agora em algum tipo de maneirismo.


Bruno
Brüno
estreia 14 de agosto 2009
Gênero: Comédia
Distribuição: Columbia

EUA - 2009 – 79 min
Direção: Larry Charles
Sacha Baron Cohen, Paula Abdul, Gustaff Hammarsten

“Veronika Decide Morrer” tenta nos oferecer auto-ajuda em forma de filme

Uma moça tenta se matar, mas não consegue. Ao despertar, recebe a notícia de que está condenada a morrer a qualquer momento, por causa de um aneurisma prestes a arrebentar no cérebro. Toda a trama se baseia nessa idéia de uma morte anunciada, ainda que sem hora para chegar, exatamente como em “Moinhos de Vento” − mini-série que eu, Daniel e Mas e Leilah Assunção escrevemos para Walter Avancini (foto abaixo) em 1983. Mas não estamos falando de plágio, apenas coincidência. Mesmo escrito por dois profissionais, o roteiro de “Veronika Decide Morrer” é lamentável.
A começar pela personagem do título, os personagens não tem consistência e são mal construídos. Como o da competente Melissa Leo, que vimos em “Rio Congelado” (2008). A clínica psiquiátrica em que a suicida se acha internada ora é apresentado como um lugar elegante, em que os internos têm um piano de cauda à disposição; ora é mostrado como um hospício comum, em que os as pessoas são tratadas com violência e drogas pesadas. O personagem do garoto com quem a suicida se envolve e por causa de quem ela volta a ter interesse pela vida é tão primário que os roteiristas o deixam mudo durante o filme todo, economizando o trabalho de escrever falas para ele. Além de tudo, o personagem principal não é a paciente Veronika, mas o médico que cuida dela. O enredo se resume ao relato de uma terapia, em que o psiquiatra é o único elemento ativo.
Veronica decide Morrer
estreia 14 de agosto 2009
EUA - 2009
Distribuição Imagem
gênero drama
Direção de Emily Young
Com Sarah Michelle Gellar, Melissa Leo, Jonathan Tucker

Ainda que não seja inteiramente um filme teatral, "Tempos de Paz" é teatro filmado.

Nada contra a direção de Daniel Filho. Mesmo tendo assinado dois "Se Eu Fosse Você", desde que co-produziu “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias”, ele sonhava em fazer um filme nessa linha. Muito menos contra a produção, perfeita em todos os aspectos, em especial na música de Egberto Gismonti e a direção de arte de Marcos Flaksman. Ponto para a sequencia de abertura que é montada como um documentário sobre o fim da guerra. Tudo bem quanto ao texto teatral de Bosco Brasil, já testado nos palcos: um diálogo tenso e equilibrado, capaz de sustentar todo um espetáculo.
Ao fim da 2ª Guerra, um polonês interpretado por Dan Stulbach chega ao Brasil, eufórico e falando português. Como é que pode? Nesse ponto já se abre a oportunidade para a criação de personagens especialmente concebidos para o filme; Como o preso político interpretado pelo próprio Daniel Fillho e um policial que estranha o fato e comenta com o chefe: um especialista em soltar a língua de presos políticos vivido por Toni Ramos. Com o abrandamento da ditadura Vargas, durante a qual fora bastante ativo, este torturador se acha meio encostado na alfândega, porém, com a incumbência de ficar de olho na possível chegada de um foragido nazista.
O polonês torna-se suspeito, ao declarar-se “agricultor”ainda que não apresente calos nas mãos. Desde o início, a propósito, Dan Stulbach interpreta num tom acima do que seria adequado para a lente do cinema. Segue-se o longo diálogo que consiste na peça original e que tem como desfecho uma homenagem à profissão de ator -- que é, aliás, o que salva o imigrante de um triste destino. Mas, este personagem se mostra mais consistente que o de Toni Ramos que, na adaptação para o cinema, não ganhou motivação suficiente para fundamentar a sua conduta de inquisidor. É que o roteiro do filme foi escrito pelo próprio autor da peça, sem o necessário apoio de um roteirista de cinema.

Tempos de Paz
estreia 14 de agosto 2009
Brasil - 2009 – 82 min.
Gênero: Drama / História
Distribuição Downtown
Direção Daniel Filho
Com Tony Ramos, Dan Stulbach,
Daniel Filho, Louise Cardoso, Ailton Graça

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Semana 14 de agosto: o tema geral na maioria das estreias é o desespero

Nesta sexta estréiam filmes de diversas procedências e estilos, mas impulsionados pelo mesmo tema, ou seja, a desesperança proporcionada pelas condições econômicas e sociais do presente. Nos Estados Unidos a crise financeira desvenda a fragilidade do sistema e provoca baixa estima entre gente que se considerava a nata da humanidade e que agora se percebe sem aquela importância que acreditava possuir. Esse é o substrato de “Confissões de Uma Garota de Programa”, (acima) de Steven Soderbergh. O filme não tem cenas de sexo, mas mostra personagens se vendendo uns aos outros. Esse filme tem parentesco com o brasileiro “Se Nada Mais der Certo” (acima), de José Eduardo Belmonte, grande vencedor o último Festival do Ceará. É um filme sobre o desespero e seus efeitos. Os personagens são jovens massacrados pelo achatamento da classe média: um jornalista desempregado (Cauã Reymond), um motorista de taxi sem veículo próprio (João Miguel) e uma menina da noite que faz a ponte entre eles e a marginalidade (Caroline Abras).
Falando em desespero, esse é também o mote da nova comédia do inglês Sacha Baron Cohen, que fez “Borat”. Trata-se de “Bruno” (acima), apresentador de um programa austríaco de TV cai em desgraça na Europa e vem procurar trabalho em Los Angeles. Radicalmente gay e despudorado, na busca de espaços na mídia, ele ignora toda e qualquer regra de compostura. E também com a crise imobiliária como pano de fundo uma quase comédia de horror, “Arraste-me para o Inferno" (acima), de Sam Raimi que fez o já clássico “A Morte do Demônio” em 81. Uma gerente de banco não aceita o atraso na prestação no financiamento da casa de uma bruxa e, em troca recebe, uma maldição.Qualquer um desses dá pra assistir, menos o “Veronika Decide Morrer” baseado em livro de Paulo Coelho. (abaixo)