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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Feliz 2012 aos leitores que seguem este blog!

Obrigado pela atenção!

Triste ironia: "Imortais" é a última estreia de 2011, a única e uma das piores.

Na última sexta feira do ano estreia um único filme, justamente um dos piores de 2011: "Imortais", com Mickey Rourke (foto acima), John Hurt e Frieda Pinto, de "Quem quer ser um milionário" (foto abaixo!?!). O diretor é Tarsem Singh, um indiano que estudou nos Estados Unidos, dedicou-se a fazer vídeos musicais e, em 2000, dirigiu "A Cela", um thriller de razoável sucesso comercial. Mas, "Imortais" é uma bobagem monumental inspirada na mitologia grega, com tantas idiotices, que justificaria uma retaliação qualquer daquele país contra os produtores. Apesar da pancadaria incessante, o filme é um sonífero infalível. Tomara que não seja um nefasto prenúncio para 2012.
IMORTAIS
War of God
estreia 30 12 2011
gênero aventura
EUA, 2011, 110 min, 16 anos
Distribuição Imagem
Direção Tarsem Singh
Elenco: Mickey Rourke, John Hurt, Henry Cavill e Freida Pinto
COTAÇÃO
*
R U I M

domingo, 25 de dezembro de 2011

70 filmes nacionais exibidos comercialmente em 2011: quais são os melhores?


Fiz uma seleção de melhores brasileiros, focando os 70 títulos nacionais de 2011: 40 de ficção e 30 documentários. Quase todos já tem comentários neste blog. É só acionar a ferramenta de pesquisa. Estão de fora alguns dos mais rentáveis, como "Cilada.com", "De Pernas pro ar", e "Bruna Surfistinha". E também alguns dos mais incensados pelos meus colegas, como "O Transeunte" e o documentário "Canções", que ainda não pude assistir. Fico feliz pelo fato de que, neste ano, o melhor em qualidade foi igualmente um dos campeões de renda, com mais de 1,4 milhões de ingressos.
1. O Palhaço (foto acima)
2. Amanhã nunca mais
3. Meu País
4. O Homem do Futuro
5. Eu Eu Eu José Lewgoy
6. O Céu sobre os Ombros
7. Os 3
8. Estamos Juntos (foto abaixo)
9. VIPs
10.Família Vende Tudo

Quais foram os melhores filmes estrangeiros exibidos no circuito comercial em 2011?


Fim de ano chegando, é temporada de balanço anual. Selecionei os 25 títulos estrangeiros de melhor qualidade. A lista está em ordem de importância e creio que a maioria deles já foi comentada aqui no blog. Tem para todas as preferências.
Bom Natal e excelente ano novo!
1. Melancolia
2. A Árvore da Vida (foto abaixo)
3. Em um Mundo Melhor
4. A Minha Versão do Amor
5. Meia-Noite em Paris
6. O Garoto da Bicicleta
7. A Pele que Habito
8. Um Sonho de Amor
9. Além da Vida
10. Um conto Chinês
11. Poesia
12. Estranhos Normais
13. Inverno da Alma
14. O Discurso do Rei
15. O Mágico
16. Tudo pelo Poder
17. Super 8
18. O Vencedor
19. O Planeta dos Macacos: A Origem
20. Rango
21. 127 Horas (foto acima)
22. Inquietos
23. Tudo pelo Poder
24. Bravura Indômita
25. Sem Limites

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Capitais do Nordeste e Rio de Janeiro prestigiam mais o cinema brasileiro do que São Paulo?


Pintou a seguinte discussão entre críticos pela internet. Pela percentagem do público para filmes brasileiros, concluiu-se que “capitais do Nordeste e do Rio de Janeiro prestigiam mais o cinema brasileiro do que São Paulo e os estados do Sul”. Vejam:

Cidade................................ Público para filmes brasileiros:
RECIFE................................19,50%
SALVADOR.........................19,00%
RIO.....................................17,30%
BH......................................15,60%
MANAUS...........................14,50%
BRASILIA............................13,50%
SÃO PAULO........................12,70%
CAMPINAS.........................11,50%
PORTO ALEGRE..................10,30%
CURITIBA..............................8,90%
Em função disso, ponderei que 20% da população de Recife significam 320 mil pessoas. Enquanto 12% da população de São Paulo representam 2 milhões e 400 mil pessoas. (quase 1 milhão a mais do que toda a população de Recife). No que o crítico Luiz Joaquim acrescentou que Recife tem 50 salas e São Paulo 300. De fato, tinha 260 em 2010 e é possível que agora possua algo perto disso. Em termos de público para o cinema brasileiro, portanto, aparece a seguinte distribuição:
50/320.000 = 6.400 (Recife)
e
300/2.400.000 = 8.000 (São Paulo)
Ou seja, nas salas paulistanas o público de cinema brasileiro é 20% maior. Afinal, além de imensa em matéria população, São Paulo também é enorme em termos de diversidade. Por exemplo, abriga o maior contingente de nordestinos fora do nordeste, assim como o de japoneses fora do Japão. E tem uma oferta extremamente mais ampla e variada de filmes e outras formas de lazer: 160 teatros, 184 casas noturnas, 80 shopping centers, 54 parques e áreas verdes, 39 centros culturais, 9 cineclubes e salas especiais de cinema...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“Missão Impossível – Protocolo Fantasma”: diversão agitada, com humor e tecnologia


Se fossemos levar a sério a idéia de gêneros cinematográficos, poderíamos dizer que o de “Missão Impossível – Protocolo Fantasma” não é a espionagem, mas a ficção científica. O seu principal assunto não é, na verdade, uma intriga internacional, mas a tecnologia. Tanto a que serve de tema, quanto a que se usa para produzir o filme. Personagens russos e americanos deixam claro que não são inimigos, ainda que um foguete do Kremlin esteja prestes a destruir a cidade de São Francisco. A essência da série Missão Impossível, o que faz o interesse dos agentes IMF, é o fato das técnicas por eles empregadas, até as mais mirabolantes, sempre se mostrarem quase plausíveis, ou logicamente viáveis.

Se, por exemplo, a caixa automática de um banco pode ler um cartão de crédito, é lícito imaginar o caminho inverso, ou seja, que um dia apareça um cartão capaz de decodificar todo o sistema computacional da instituição. Os limites do corpo humano na convivência com truques desse tipo também são alongados ao máximo. Como se os heróis da IMF fossem de carne e osso, mas ambicionassem funcionar como figuras de desenho animado. Outro exemplo: o agente interpretado por Tom Cruise precisa chegar ao topo do prédio mais alto do mundo, escalando-o pelo lado de fora, com o auxílio de luvas que possibilitam um poder de sucção equivalente ao do Homem Aranha. Mas, como toda máquina pode quebrar, o personagem tem a chance se mostrar acima dos super-heróis. O filme, aliás, é dirigido pelo talentoso Brad Bird (“Ratatouille”, 2007) que já brincou com essa dualidade em animações bem acima da média, como “Os Incríveis” (2004). Trata-se, enfim, de diversão certeira e bem cuidada, com sequencias de grande impacto visual e um humor bem dosado, a cargo de Simon Pegg, o competente comediante inglês de “Um Louco Apaixonado” (2008).
MISSÃO IMPOSSÍVEL – PROTOCOLO FANTASMA
Mission Impossible – Ghost Protocol
EUA, 2011, 132 min, 14 anos
estreia 16 12 2012
gênero aventura / ficção científica
Distribuição: Paramount
Direção: Brad Bird
Com Tom Cruise, Simon Pegg, Jeremy Renner, Paula Patton
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Noite de ano novo": uma boa diversão, com o charme noturno de Nova York

Ninguém espere uma obra prima com este "Noite de ano novo", dirigido pelo veterano Garry Marshall, que se tornou célebre com o romantismo pop de “Uma linda mulher”. Mas é possível esperar uma diversão leve e honesta, feita especialmente para acompanhar a chegada de 2012. Logo no início, numa narração em off, o diretor reconhece que isso de festejar a passagem do ano é apenas um ritual mágico coletivo que pretende atribuir um sentido quase místico e propiciatório ao fluxo contínuo do tempo: a introdução universal de um dado planejado num universo sempre imprevisível.

No roteiro, várias histórias se misturam para produzir uma salada de pequenos dramas e situações cômicas, quase todos de profundidade e voltagem medianas. Por exemplo, dois jovens casais se conhecem na sala de espera de uma maternidade e logo passam a competir pelo prêmio de 25 mil dólares oferecido pelo hospital aos pais do primeiro bebê que nascer ali em 2012. Há também casos mais tristes como o do personagem vivido por Robert de Niro que se encontra internado no mesmo hospital, só que sem qualquer esperança de emplacar o ano novo. Mesmo preso ao leito, este que pode ser considerado o mais novaiorquino dos atores de Hollywood, nos oferece a melhor atuação do filme que, de resto traz uma profusão de expressivos rostos femininos como os de Hillary Swank, Michelle Pfeiffer, Sarah Jessica Parker, Halle Berry e Jessica Biel. Como cereja no bolo servido depois desta salada, o filme oferece algumas boas surpresas em seu final. Devemos confessar que são todas imprevisíveis e de fato inesperadas, talvez para reforçar a idéia de que o ano novo sempre pode nos trazer boas novidades.

NOITE DE ANO NOVO
New Year´s Eve
EUA, 2011, 118 min, 10 anos
estreia 09 12 2011
gênero comédia
Distribuição Warner
Direção Garry Marshall
Com Robert De Niro, Hillary Swank, Michelle Pfeiffer
COTAÇÃO
* * *
B O M

O docudrama "O último dançarino de Mao" do veterano Bruce Beresford merece ser visto

"O último dançarino de Mao" é um exemplo feliz de docudrama. Essa palavra serve para designar filmes que, mesmo não pertencendo ao gênero documentário, contam uma história verdadeira. Nesse caso fica mais difícil dramatizar os fatos, ainda que isso seja necessário para que os espectadores se envolvam emocionalmente com o espetáculo. Essa dificuldade aumenta quando o tema possui natureza histórica e, por isso, muita gente já conhece a essência do seu desenrolar. Ou, quando o assunto principal é alguém ainda vivo, como nesta produção australiana em que o personagem central chega ao ponto de indicar o ator que deveria interpretá-lo.
Falamos de Li Cuxim, um afamado bailarino clássico nascido na China que ganhou uma bolsa para estudar nos EUA, em plena revolução cultural promovida por Mao Tse Tung e sua mulher – que, aliás, aparece no filme. Assim como seu ídolo, o russo Mikhail Barishnikov, ele decidiu romper com o regime, recusando-se a voltar para casa. Isso, por si só, é matéria-prima para uma base emocional que veio dar vida à narrativa elaborada pelo diretor – o competente Bruce Beresford, um dos primeiros cineastas australianos a conquistar notoriedade em Hollywood. Ela se inicia na infância miserável do artista, num tempo em que a ideologia revolucionária era mais importante do que o bem estar e a felicidade das pessoas. A saga termina junto com a Guerra Fria, quando Li Cuxim, além de ter se tornado celebridade internacional em seu ambiente artístico, ganha reconhecimento em sua própria terra natal. O papel do protagonista ficou para Chi Cao, justamente o filho de seu primeiro professor chinês de balé clássico. Como vemos, às vezes a vida real não cabe no ascetismo narrativo típico do docudrama e se transforma em puro melodrama.
O ÚLTIMO DANÇARINO DE MAO
Mao´s Last Dancer
estreia 09 12 2011
gênero drama / política / história
Austrália, 2011, 117 min, 14 anos
Distribuição Califórnia filmes
Direção Bruce Beresford
Com Chi Cao, Bruce Greenwood, Kyle MacLachlan
COTAÇÃO
* * *
B O M

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"Vídeo nas Aldeias": livro-vídeo sobre a experiência de filmes realizados por indígenas.

Na próxima segunda feira será lançado um livro sobre o projeto "Vídeo nas Aldeias", que comemora 25 anos de idade. Os próprios indígenas aprenderam a usar o vídeo como forma de expressão e registraram 37 povos nativos do Brasil, em 127 aldeias e já tiveram seus filmes premiados aqui e no exterior. Como “Bicicletas de Nhanderú”, imersão no cotidiano dos Mbaya-Guarani (RS), poderá ser visto no lançamento, no Itaú Cultural, em sessão seguida por debate com realizadores indígenas. É incrível como a tecnologia pode favorecer a preservação da memória dessas culturas tão antigas. Muito mais do que o cinema, que dependia de um tempo para a revelação, a possibilidade dos cineastas índios verificarem instantaneamente o que foi registrado fez toda a diferença, no processo de aprendizado.

Um bom exemplo do poder dessa ferramenta cultural foi o fato dos Nhambiquara (MT) resolverem realizar para ser filmada a cerimônia de furação de nariz e lábios, uma prática abandonada há mais de 20 anos. Ao logo do projeto foram produzidas 7 mil horas de vídeo e a série de DVDs “Cineastas Indígenas”, com 20 filmes distribuídos para três mil escolas brasileiras. A experiência do "Vídeo nas Aldeias" corresponde a um modelo indigenista que busca relações interculturais, de aproximação e convivência com os índios, diferente das políticas paternalistas adotadas no tempo da ditadura. Outro resultado é a criação de uma imagem mais fidedigna da realidade contemporânea dos povos indígenas brasileiros – o que é vital para a ciência e para a cidadania.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Uma primeira reflexão para dar início ao balanço deste ano de 2011 que já vai terminando

A concentração de público acontece de maneira gritante no âmbito do cinema brasileiro. Alguns filmes apresentam uma receita até equivalente aos grandes lançamentos internacionais, enquanto outros contam nos dedos os seus espectadores. Seria bom se esse fenômeno pudesse ser explicado por razões mais veementes do que a óbvia diferença entre os recursos disponíveis para a promoção e propaganda. Ou seja, um êxito de bilheteria que aconteça fora dos domínios das distribuidoras internacionais que começaram a investir no cinema nacional, por força dos incentivos fiscais. A qualidade do filme e o fato de ser ou não voltado para o grande público também não se bastam como explicação. Vejamos o que aconteceu com lançamentos das últimas semanas. O primeiro lugar entre os 20 filmes mais recentes é de "O Palhaço", que conquistou quase 1.300.000 espectadores. Esse não é um filme popularesco. Ao contrário, não traz nenhum apelo erótico ou sensacionalista, sendo muito mais poético e nostálgico do que cômico. Mas tem o global Selton Mello como diretor e ator principal. Será que esse seria um fator preponderante? Não creio, porque lá no 5º lugar, com apenas 40 mil ingressos está “Meu País”, um drama sério mas super movimentado e sentimental estrelado por Rodrigo Santoro, Debora Falabella e Cauã Raymond. (olhe a diferença do 1º para o 5º: de 1 milhão e 400 para 40 mil). Em segundo lugar vem “O Homem do Futuro”, quase empatado, com 1.208.000 pessoas. Bem, o papel central é do Wagner Moura. Mas a 3ª bilheteria desaba para 110 mil: “Família vende Tudo”, com vários globais como Lima Duarte, Caco Ciocler, Marisa Orth e Luana Piovani. O mais complicado é ver um dos melhores filmes do ano, "Amanhã nunca mais", estrelado por Lázaro Ramos, e mais um excelente elenco, com somente 15 mil espectadore. Vá entender...

BILHETERIAS

O Palhaço........................................................1.265.556
O Homem do Futuro.....................................1.208.000
Família vende Tudo..........................................110.575
Uma Prof. Muito Maluquinha...........................59.244
Meu País..............................................................39.335
Rock Brasilia.......................................................32.836
Palavra Cantada (3D)........................................22.785
Os Filhos de João (Gilberto).............................19.360
Os 3....................................................................17.724
Amanhã Nunca Mais.........................................15.417
Além da Estrada.................................................14.519
Jardim das Folhas Sagradas.............................12.531
O Mineiro e o Queijo............................................5.312
Reidy, a Constr. da Utopia..................................2.014
O Ceu Sobre os Ombros......................................1.606
Dawson Ilha 10 (Chile-BR).................................1.083
Prova de Artista......................................................248
Simples Mortais......................................................136
Leite e Ferro.............................................................54
Eu Eu Eu Lewgoy.....................................................49

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

"A chave de Sarah", um surpreendente docudrama histórico de mistério e suspense

“A Chave de Sarah” poderia ser apenas mais uma obra sobre o holocausto, se não se constituísse numa contundente mea culpa da nação francesa sobre o assunto e sob a forma deste diferenciado filme histórico francês, escrito e dirigido por Gilles Paquet-Brenner. Ele reconstitui um episódio impressionante e muito pouco divulgado na história da França, que foi a entrega em 1942, de cerca de 10 mil judeus para os invasores nazistas, promovida pelas autoridades policiais do país. Aquela iniciativa do governo colaboracionista se revestiu de aspetos particularmente desumanos ao prender por vários dias a maioria dos cidadãos parisienses de origem judaica num ginásio esportivo, antes de deportá-las para os campos de concentração alemães.

A história é apresentada pela ótica de uma jornalista inglesa radicada em Paris, assim como é a atriz que a interpreta, a excelente Kristin Scott Thomas. Enquanto ela investiga o trágico acontecimento, ficamos sabendo como ele se desenvolveu e as coincidências que envolvem a família de seu marido que, por caso, se instalara desde 1942 no mesmo apartamento que pertencia a uma família deportada. Foi ali que aconteceu o detalhe horripilante ligado à chave e à Sarah que aparecem no título do filme. Esse dado de mistério e suspense, sobre o qual nada podemos antecipar, introduz uma dose de adrenalina, garantindo uma tensão contínua em a toda a narrativa. No elenco, além de Kristin Thomas destaca-se o trabalho da atriz infantil Mélusine Mayance, que vimos em “Ricky”.

A CHAVE DE SARAH
Sarah´s key
França, 2010, 111 min, 14 anos
estreia 25 11 2011
gênero história / suspense
Distribuição Imagem Filmes
Direção Gilles Paquet-Brenner
Com Kristin Scott Thomas e Mélusine Mayance
COTAÇÃO
* * *
B O M

É um filme de ficção? Ou seria um documentário? Não! É "O Céu sobre os Ombros"

Somente agora entra em cartaz "O Céu sobre os Ombros" que foi premiado como melhor filme no Festival de Brasília de 2010. Essa demora deve-se provavelmente à dificuldade dos exibidores em definir a obra como ficção ou como documentário. Ela é assinada por Sérgio Borges, mas foi produzida por um grupo de Minas Gerais chamado de o “Coletivo Teia”. Por isso teve o escandaloso custo de 200 mil reais, dinheiro que seria insuficiente até para realizar uma reportagem de casamento e que, no entanto, obteve o máximo da qualidade técnica que um simples equipamento digital poderia alcançar. O mais curioso a respeito do filme é que podemos acreditar quando ele se apresenta como um “híbrido” entre ficção e documentário − mesmo que esse conceito não tenha consistência no campo da teoria do cinema. projeto tem como ponto de partida a pesquisa para um documentário sobre três indivíduos − “não-atores” − de Belo Horizonte que tivessem trajetórias de vida tão diferenciadas que parecessem personagens de ficção: um transexual intelectual que se prostitui em tempo parcial; um angolano que se considera escritor, mas não consegue concluir um texto sequer; e um devoto de Krishna que, além dos empregos de cozinheiro e atendente de telemarketing, participa de uma torcida organizada de futebol. Em seguida os escolhidos interpretam a si mesmos em seus cotidianos. Sabe-se que quem não é ator profissional tem tanta dificuldade para “fazer o papel” de si mesmo quanto o de Hamlet. Há momentos, porém, de uma impactante impressão de realidade. Quando por exemplo, o angolano brinca com seu filho, ou na cena em que o transexual conversa com um cliente na rua. Na apresentação do “Hare Krishna”, por outro lado, percebe-se que uma pessoa pode passar o dia inteiro sem pensar, isto é, quase em estado de meditação: quando não está entoando um mantra (no templo ou ao telefone), ele está fritando pastéis ou gritando pelo seu time num estádio, em comunhão mental com a massa.
O resultado é de fato impressionante porque, para garantir a aparência de uma narrativa ficcional, a edição final tenta eliminar uma das marcas menos óbvias ainda que mais importantes para caracterizar o gênero documentário. Segundo o teórico Bill Nichols, na ficção (e no filme de Sergio Borges) é mais comum a montagem em continuidade, que opera para tornar “invisíveis” os cortes entre as tomadas. Já no documentário, predomina uma montagem de evidência, em que os cortes seguem a lógica de uma argumentação e não se acham presos à necessidade de dar a impressão de uma unidade temporal e espacial. Em suma, O CÉU SOBRE OS OMBROS nos mostra o comovente retrato de três personalidades estranhíssimas, que chamam atenção pela diferença, mas que têm um pouco de cada um de nós.

O CÉU SOBRE OS OMBROS
Brasil, 2010, 72 min, 16 anos
estreia 18 11 2011
Distribuição Vitrine Filmes
Direção Sérgio Borges
Com Everlyn Bardin, Edjucu Moio,
Murari Krishna, Grace Passô
COTAÇÃO
* * *
B O M

Na Cinemateca Brasileira, uma indispensável retrospectiva dos filmes de Tomu Uchida

Até 04 de dezembro, a Cinemateca Brasileira promove uma mostra de com os oito principais filmes do diretor Tomu Uchida, um dos grandes mestres do cinema mundial. As cópias em película vêm diretamente Fundação Japão, em Tóquio. Apesar de sua importância como artista, Uchida é um dos autores japoneses menos conhecidos no Ocidente. Em São Paulo, alguns de seus filmes foram exibidos nas antigas salas do bairro da Liberdade, nos anos 1960, conquistando a admiração de críticos e cineastas paulistas. Nascido em 26 de abril de 1898, Uchida começou sua carreira cinematográfica no início dos anos 1920, trabalhando como assistente de câmera e de direção. No início da década de 1950, ingressou na produtora Toei e realizou alguns de seus mais célebres filmes, filmes de samurais, gangsters e dramas, ou seja obras sempre impregnadas de niilismo e desencanto. A mostra exibe o policial Condenado pela consciência; a trilogia de samurais raramente apresentada Espada diabólica, adaptada de um folhetim do escritor Kaizan Nakazato; Estranho amor, experimento visual notável reunindo animação, teatro kabuki e dança butô; Hishakaku e Kiratsune, clássico dedicado à máfia yakuza, penúltimo filme do mestre; A lança ensangüentada (foto abaixo), autêntico “road-movie” samurai, protagonizado por um guerreiro e seu lanceiro, e Tragédia em Yoshiwara, uma das obras-primas do realizador, adaptação de uma antiga história do teatro kabuki.

"Inquietos": poema de amor e morte feito com senso de humor por Gus van Sant

Inquietos” é o trabalho mais poético e tocante de Gus Van Sant, cuja obra anterior foi o drama político “Milk, a voz da igualdade”. É preciso competência e coragem para fazer um filme sobre um casal de adolescentes que começa a namorar depois que a moça revela ao rapaz que só tem três meses de vida. Essa personagem é interpretada com elegância e refinamento por Mia Wasikowska, que foi a “Alice de Tim Burton”, e a tônica do filme se diferencia por completo do dramalhão tipo “Love Story”. Aliás, os namorados se conheceram num velório de um colega de enfermaria da garota, que o rapaz estava acompanhando sem ter sido convidado, apenas porque tinha uma fascinação bastante mórbida por aquele tipo de cerimônia.
O filme se inicia assim, meio como uma comédia de humor negro, com toques de ironia e surrealismo, porque o melhor amigo dele é o fantasma de um japonês que fora kamikase na 2ª Guerra. Para quem não se lembra, os kamikases eram os jovens pilotos suicidas que lançavam seus aviões sobre os navios de guerra americanos. Mas aos poucos o roteiro vai mudando de tom e se mostrando mais conseqüente, sério e sentimental, ao informar que o protagonista estava no carro em que seus pais morreram num acidente. Ele permanecera em coma por vários dias e, portanto, não pôde estar presente no enterro deles. A partir daí, ele passara a conviver com o tal fantasma, que de resto funciona como coadjuvante e permite que o diretor faça diversas e temerárias piadas sobre a morte. As melhores, porém, são veiculadas pelo próprio casal de namorados que, entre outras maluquices, tentam ensaiar, com fundo musical e tudo, a cena da morte da moça que deveria acontecer a qualquer momento. O tema central do filme está contido num diálogo que diz: “morrer não é difícil, amar é que é difícil”.

INQUIETOS
Restless
EUA, 2011, 90 min, 12 anos
estreia 25 11 2011
Gênero drama / humor negro
Distribuição Columbia
Direção Gus Van Sant
Com Henry Hopper, Mia Wasikowska,
Ryo Kase, Schuyler Fisk
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

“O Garoto da Bicicleta” mostra que o cinema dos irmãos Dardenne segue em movimento

Para contrariar quem ainda acha que o cinema europeu carece de ação e envolvimento emocional, os cineastas belgas Irmãos Dardenne fizeram este admirável “O Garoto da Bicicleta”, um filme tão ágil que parece terminar assim que as linhas da história se apresentam. Eles prosseguem com uma de suas temáticas dominantes, que é a ambigüidade com a qual a espécie humana é capaz de tratar os seus rebentos, como vimos em “A Criança” (2005) e “O Silêncio de Lorna” (2008). Ou seja, um leque de afetos que vai do desprezo à veneração, passando pela crueldade. Assim como em outras ocasiões, seus personagens se movimentam como joguetes das circunstâncias até que o advento da maternidade modifica tudo.
Novamente eles constroem o roteiro apresentando as figuras centrais em pleno movimento e no ápice da agitação psíquica, para ir gradativamente dando-nos a conhecer de onde vieram e para onde querem ir. Neste caso, o protagonista absoluto, herói e condutor principal dos acontecimentos, é um garoto de 9 anos. Agressivo e insolente, ele foge do internato para encontrar o pai que o abandonara (Jérémie Renier) e acaba topando com a mãe que não esperava ganhar, interpretada pela luminosa Cécile de France. O moleque chega a ser antipático em sua agressividade e insistência, mas aos poucos vamos nos enternecendo com a sua força de vontade e entendendo as suas aparentes falhas de caráter. Inclusive, quando ele se envolve com a delinqüência, permitindo as surpresas preparadas para as sequencias finais.

O GAROTO DA BICICLETA
Le Gamin au Vélo
Bélgica/França/Itália, 2011, 87 min.
estréia 18 11 2011
gênero drama
Distribuição Imovision
Direção Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Elenco Cécile de France, Cyril,
Jérémie Renier, Fabrizio Rongione
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Os 3" de Nando Olival nos oferece um olhar desencantado sobre a juventude brasileira

Parece que foi ontem. Em 2001 Fernando Meirelles e Nando Olival dividiam a direção de “Domésticas” – o primeiro longa dramaticamente empenhado de Meirelles, que se tornaria mundialmente famoso com o seu trabalho seguinte, “Cidade de Deus”. E só agora, com o filme “Os 3”, Nando Olival voltou a dirigir. A idéia é boa, mas já apareceu quase igual numa realização mais bem resolvida. Ou seja, no longa experimental “O Amor Segundo B. Schianberg”, de Beto Brandt produzido no ano passado com apoio da TV Cultura. Os protagonistas de “Os 3” são uma moça e dois rapazes que estudam juntos e resolvem dividir um apartamento. Para os papéis, Olival escolheu intérpretes desconhecidos que, aliás, funcionam muito bem.
Um dos garotos se envolve afetivamente com a menina, até que um publicitário os convida para estrelar uma espécie de reality show mercadológico. Um conjunto de câmaras transmitiria ao vivo pela internet tudo o que os três fizessem ou deixassem de fazer no apartamento, no qual todos os objetos de cena estariam à venda. Este é quase o mesmo mote do filme de Beto Brandt: um ator profissional e uma artista plástica que não se conheciam são contratados para dividir um apartamento durante algumas semanas, enquanto várias câmaras aí escondidas registram tudo o que fazem ou deixam de fazer. Em seguida, o resultado desse registro foi editado para gerar o filme.
Na história de “Os 3”, por sua vez, tudo vai para o ar ao vivo, sem cortes – mas também sem script e, por isso, sem emoção e nem grende interesse. Até porque os “atores” só precisam sair do campo de visão das câmaras para viverem à vontade as suas vidas íntimas, que também não chegam a ser empolgantes. No começo a coisa vai bem, mas em pouco tempo a transmissão perde o atrativo. Então, para esquentar a audiência eles resolvem simular um relacionamento a três. E aí tudo começa a se complicar. O filme é correto e muito bem realizado do ponto de vista técnico, mas resulta frio e sem a adrenalina que se esperava de personagens tão jovens e descompromissados. Ou será que é justamente esse o recado de Olival? Num cenário armado para os três experimentarem o improviso da juventude, eles preferem a sensatez da maturidade. Ou seja, não conseguem agir sem um roteiro pré-estabelecido, como faziam os moços de outros tempos e lugares.



OS 3
Brasil, 2011, 79 min, 14 anos
estreia 11 11 2011
gênero comédia / drama / juventude
Distribuição Warner
Direção Nando Olival
Com Victor Mendes, Juliana Schalch,
Gabriel Godoy, Rafael Maia
COTAÇÃO
* * *
BOM

"Amanhã Nunca Mais" relata a odisséia de um homem comum em luta contra a metrópole

"Amanhã nunca mais" é o primeiro longa ficcional do multimídia Tadeu Jungle. O filme tem jeito de ter sido feito por um cineasta veterano porque de fato, desde os anos 1980, o diretor tem lidado com várias linguagens audiovisuais (vídeo clipes, comerciais, programas de TV, documentários, vídeo-arte etc) e agora estréia nessa modalidade pela porta da frente, numa produção de excelente nível. Em perfeita integração, a música tem a assinatura de André Abujamra e a fotografia de Ricardo della Rosa. O elenco tem Lázaro Ramos, Maria Luisa Mendonça, Luis Miranda, Milhem Cortaz e uma série de outros craques. O tema se resume ao período de algumas horas na vida de um anestesista preto e pobre, em sua luta para voltar pra casa com o bolo de aniversário da filhinha, numa cidade que parece ser São Paulo. Esse trajeto vira uma odisséia, porque ele precisa superar mais obstáculos do que aqueles 12 enfrentados por Hércules em toda a sua mítica existência.
Boa parte dos comentários afirma que o roteiro lembra “Depois de Horas”, porque a história se passa numa noite sem fim. E também “Sim Senhor” com Jim Carey e até “Acorrentados” (1958), com Sidney Potier, ou “Um dia de Fúria” (1993) com Michael Douglas. Quanto a isso (e inspirado pelo protagonista) só posso dizer não! Não é assim que se analisa um filme, buscando semelhanças com outros. O que este tem de específico é o estilo com o qual Tadeu constrói essa obra de suspense, tão angustiante quanto engraçada. Tanto que, num determinado momento começamos a achar que não haverá mais saída para o protagonista, e aí relaxamos, desejando que ele não consiga mesmo chegar ao seu destino. Afinal ele é um personagem muito menos dramático do que cômico – dada à sua forma quase mecânica e imutável de agir e à ausência da palavra “não” no seu vocabulário, em que, aliás, não existe duplo significado. Quando, por exemplo, ele quer saber em que trabalha uma moça que lhe pede carona, ela diz “eu faço programa” e ele pergunta “em que canal?”.
À primeira vista, a saga do médico que precisa lidar com mil probleminhas para entregar o bolo de aniversário na festa da filha, não tem nada de extraordinário: trânsito, chuva, carro sem gasolina, trombada com motoqueiro, colega mau caráter e chefe pior ainda são coisas que todo o mundo já encarou. Mas nunca todas assim, ao mesmo tempo. E principalmente por um personagem tipo “o bom caráter de plantão”, que apresenta enorme dificuldade em estabelecer limites em relação aos demais. Em função disso, (só para brincar também de caça às semelhanças) ele se parece um pouco com o inglês Jorge VI, de “O Discurso do Rei”, com gagueira e tudo. Mas o que identifica este filme é a linha construtivista adotada pelo diretor, explícita até no cartaz do filme, que só faz sentido depois de assisti-lo.
Tadeu Jungle já teve a fama de videomaker vanguardista e um tanto hermético, mas aqui ele revela a simplicidade e a paciência de uma mulher rendeira, ao bordar minuciosamente a sua trama, feita tanto de largas pinceladas quanto de figuras mínimas. Como é aquela minúscula pontinha de Lourenço Mutarelli, na cena em que aparece Paula Braun, com quem aquele autor e ator partilhou a tela de “O Cheiro do Ralo”. No enredo de "Amanhã nunca mais" não faltam private jokes e pistas falsas inseridas com sutileza quase subliminar, como o abaixo assinado que o herói assina sem ler, ou o som de gente fazendo sexo (ou seria de um filme pornô?) na casa da doceira onde ele passa para apanhar o melhor da festa. Tomara que esta experiência não seja apenas mais uma das freqüentes aventuras midiáticas de Tadeu porque, amanhã e daqui para frente, sim. Queremos mais!

AMANHÃ NUNCA MAIS
Brasil, 2011, 77 min, 12 anos
estreia 11 11 2011
gênero comédia / social
Distribuição Fox
Direção Tadeu Jungle
Com Lázaro Ramos, Maria Luíza Mendonça,
Fernanda Machado, Milhem Cortaz e Luis Miranda

COTAÇÃO
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ÓTIMO

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

“A pele em que habito” é Almodóvar em sua melhor forma, rimando horror e humor.

Com “A pele em que habito” Pedro Almodóvar, se lança candidato ao rótulo de mais brasileiro dos cineastas espanhóis. Não por causa da sua obsessiva admiração pelo Brasil, especialmente pela MPB, mas por sua conduta assumidamente antropofágica – no sentido que Oswald de Andrade atribuía à palavra. Desta vez, ele nos induz a devorar iguarias das mais diversas e disparatadas, algumas até meio indigestas. O primeiro prato ofertado é um clima de ficção científica, com Antonio Banderas dando tudo de si no papel de um cirurgião plástico, em pausadas sequencias que parecem os velhos pseudo-documentários de Jean Manzon. Com a dignidade aparente de Montgomery Clift em “Freud Além da Alma” (John Huston, 1962), Banderas passa pelas costumeiras cenas de conferência na universidade e detalhes de um laboratório high tec, onde ele fabrica uma pele humana transgênica desenvolvida a partir do couro de porco.
Por trás disso já se insinua como prato principal o sarcasmo servido ao molho de ironia, tão própria do diretor ao armar anedotas e reviravoltas que só farão sentido na segunda parte do filme. Só aí será possível perceber o verdadeiro sabor de algo que, sem saber, estávamos mastigando desde o início. Da mesma maneira, para não estragar surpresas, diremos apenas que o roteiro trabalha com os limites da ciência e da ética em relação à transexualidade e a transgênese. Nesse ponto, o banquete vai ficando sombrio, enquanto vemos que o brilho e a limpeza no mundo exterior do médico é apenas uma couraça apolínea para esconder o seu espaço interior, cheio de ódios e desejos recalcados.
Os film-noir dos anos 1940 se aprofundavam nessa contradição, mas saíram de moda antes que os cineastas pudessem atingir os abismos mais secretos da alma humana. É justamente o que pretende fazer Almodóvar, acrescentando mais temperos ao caldeirão. Ele abocanha e engole referências da literatura clássica e gótica, imaginando uma integração de um mito do tempo antigo (Pigmalião) com uma lenda moderna (Frankenstein), num enredo que esbarra em figuras-chave do romantismo como o Conde de Monte Cristo e o Máscara de Ferro. Logo de início se percebe que o personagem de Banderas é mais monstro do que médico, porque há anos mantém uma bela mulher presa em sua clínica – alguém que, depois de retiradas as ataduras do rosto, se mostra idêntica à esposa do cirurgião, morta num acidente. Para não enlouquecer naquela prisão aparentemente elegante, ela pratica yoga no estilo Ayengar que aprende pela TV e recusa as doses de ópio que o dono da casa lhe oferece – mostrando que está empenhada em adquirir autocontrole e equilíbrio.
Em geral os professores de roteiro desaconselham os flashbacks por interromperem o fluxo da narrativa. Mas Almodóvar está cima das técnicas de redação e a trama central vai se revelando por meio de dois flashbacks orquestrados com mão de mestre. O primeiro deles desperta o interesse para o segundo, como se fossem dois capítulos de novela, ainda que cada um dos dois seja construído a partir do ponto de vista de personagens diferentes. Em sua espinha dorsal, o roteiro adota uma estrutura de filme de horror e suspense. Na verdade, porém, o repertório desses gêneros serve de material básico para este pot-pourri, ou melhor, dessa paella de paródias preparada por Almodóvar. Por exemplo: por meio do melodrama, ele brinca com o humor de Hitchcock, devolvendo-lhe uma piada – ao inverter a própria inversão estilística de “Psicose” (1960), pela qual o assassino se transforma em protagonista.
E desta vez, não apenas ouvimos uma canção brasileira incorporada à trama, mas a adoção do nome Vera Cruz para designar a prisioneira e a ação de um personagem nascido no Brasil. Trata-se de um bandido que cresceu numa favela e é interpretado por um ator se esforçando para falar espanhol com sotaque carioca. Outro dado curioso é a obscura canção chamada Pelo Amor, cantada num português incompreensível. Ela foi tirada de “Os Bandeirantes”, um filme praticamente desconhecido que Marcel Camus fez no Brasil dois anos depois de “Orfeu Negro”. Junto com a desconcertante surpresa final, eis a sobremesa nesta comilança antropofágica de Almodóvar.


A PELE QUE HABITO
La piel que habito
Espanha, 2011, 133 min, 16 anos
estreia 04 11 2011
gênero drama / fantasia / suspense
Distribuição Paris filmes
Direção Pedro Almodóvar
Com Antonio Banderas, Elena Anaya,
Marisa Paredes, Jean Cornet
COTAÇÃO
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ÓTIMO