Há 10 anos, nem os mais esperançosos poderiam imaginar que, depois de reduzida à zero na época Collor, a produção nacional estaria hoje deslanchando. Depois do fenômeno Dois Filhos de Francisco, assistido por 5 milhões em 2005, veio Tropa de Elite que arrastou mais de 2 milhões de pessoas para as salas de cinema em 2007. Sem falar nos incontáveis milhares que o assistiram em discos piratas. Agora em 2008, no topo da lista, temos Meu Nome não é Johnny, de Mauro Lima, superando a marca de 2,1 milhões de espectadores. Descontando o incontável “público pirata”, o resultado se aproxima de Tropa de Elite. Os críticos e pesquisadores ainda não decifraram inteiramente os motivos de tamanho sucesso.
Meu nome não é Johnny é baseado num personagem de verdade: o produtor musical carioca João Estrella que, em 95, foi preso como um dos maiores traficantes de cocaína do Brasil. O espantoso era que não se tratava de um favelado, mas do filho de um diretor de banco. Depois de alguns meses preso, foi condenado a permanecer por dois anos num manicômio judiciário. Em 98 foi libertado e hoje, além de ter virado tema de filme financiado por uma multinacional, está estreando como cantor e compositor. Como se explica isso? Numa versão oficial dos fatos, ele conseguiu convencer a justiça de que não passava de um dependente, que vendia a droga para sustentar o vício. Nunca usara armas e, por algum motivo, os tribunais não consideraram a sua ligação com os fornecedores que traziam o tóxico da Bolívia como uma manifestação de crime organizado. E o filme quer que acreditemos nessa versão, assim como o protagonista conseguiu fazer com a juíza vivida no filme por Cássia Kiss. Com apoio de Cleo Pires, fazendo a namorada, e de Julia Lemmertz no papel da mãe, Selton Mello trabalha com o empenho e a eficiência que o caracterizam. Escrito pela produtora Marisa Leão, o roteiro de Meu nome não é Johnny, vale pela fluência e pelo colorido dos personagens. Curioso o fato de que, antes, ela produzia filmes sobre grandes figuras da história, como Antonio Conselheiro, Lamarca, Tenório Cavalcanti e Zuzu Angel. Mas em seu longa de estréia, como roteirista de ficção, escolheu um personagem digamos, mais sintonizado com o mundo de hoje.
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