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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Michael Bay retoma os "Bad Boys" em "Transformers - O Lado Oculto da Lua"

"Transformers - O lado Oculto da Lua" é dirigido por Michael Bay que, em 2005, fez "A Ilha", um filme de ficção científica tão sofisticado que não obteve público que merecia. E, por isso, ele foi obrigado a encarar essa série dos Transformers que, no fundo, retoma a linha daquilo que ele fizera anteriormente de melhor, do ponto de vista da indústria. Ou seja, as aventuras dos "Bad Boys" (com Will Smith e Martin Lawrence) em 1995 e 2003, oferecendo aquela sequencia de pancadaria e desastres de automóveis em grande escala. Aliás, a ligação entre essas duas griffes pode ser o personagem do bad boy Will Smith que, além de policial criativo, era um exímio corredor de automóvel, apaixonado pelo seu carro. A mesma relação afetiva acontece entre o protagonista de "Transformers" interpretado por Shia LaBeouf e o seu autobot particular, cujo nome é Bumblebee.
Na verdade, o filme significa uma impressionante exibição de tecnologia de filmagem. Não me refiro apenas aos efeitos especiais que operam constantes mudanças na aparência dos personagens do título, ou seja, os transformers – seres mecânicos capazes de se modificar fisicamente por vontade própria. Mas principalmente às sofisticadas técnicas de captação e edição de som e imagem que permitem a esses seres destruir a cidade de Chicago, palco de uma batalha entre eles e os transformers do mal, chamados decepticons. Como sempre, para evitar que o filme se resuma a uma briga de marmanjos e brinquedos mecânicos enfurecidos, Michael Bay coloca uma bonequinha feminina no roteiro que, ao contrário de Bumblebee e seus companheiros, jamais muda de expressão ao longo do filme. No lugar de Megan Fox do espisódio anterior, temos aqui a modelo Rosie Huntington-Whiteley, que ele descobriu filmando um comercial para a Victoria Secret. E ela parece chefar disposta a apanhar para si o bastão de Angelina Jolie.


TRANSFORMERS – O LADO OCULTO DA LUA
Transformers: Dark of the Moon
EUA, 2011, 154 min, 10 anos
estreia 01 07 2011
gênero aventura / fantasia
Distribuição Paramount
Direção Michael Bay
Com Shia LaBeouf, Josh Duhamel,
Rosie Huntington-Whiteley, John Malkovich
COTAÇÃO
* *
REGULAR

domingo, 26 de junho de 2011

Em DVD , o faroeste “Terra Bruta” um dos grandes filmes de John Ford nos anos de 1960


Lançado em DVD pela Versátil, “Terra Bruta” um faroeste que John Ford fez em 1961, portanto, no período final da sua vida. Os anos de 1960 correspondem à piora nas condições de saúde de Ford. Aos 67 anos, ele enxergava mal e tinha a necessidade de mais assistentes trabalhando ao seu redor. Ele que era o grande mestre do gênero se achava naquela década no auge de seu talento e pela primeira vez trabalhava com James Stewart, outro ícone daquele tipo de filme que mais marcou o cinema americano. Naquele período final de sua obra, entre 1960 e 1973, Ford dirigiu alguns de seus filmes mais elogiados pela crítica atual, entre os quais este Terra Bruta. O tema é a reunião de dois desajustados que invadem o território comanche para resgatar colonos que eram reféns da tribo rebelde. Stewart faz o papel de xerife, velho, bêbado e grosseiro que se associa a um pistoleiro interpretado por Richard Widmark. Este se apaixona pela personagem de Linda Cristal no papel de uma mexicana cativa que fora mulher de um chefe comanche, mas, mantém algo de sua educação aristocrática católica. O ritmo do filme difere da maioria do filmes de Ford, apresentando poucas cenas de ação e investindo no humor e nas discussões éticas a respeito. Há aqui uma profunda crítica aos preconceitos de raça e cultura porque, depois de resgatados do cativeiro com os índios, os brancos tem dificuldade em aceitar os ex-prisioneiros de volta ao seu convívio. Naquele início da década de 1960, a luta contra o preconceito racial era principal bandeira levantada por aqueles que ansiavam por mudanças nos EUA.

sábado, 25 de junho de 2011

Com “Potiche – Esposa Troféu”, François Ozon traz esperança para a comédia francesa

A personagem de Catherine Deneuve é a típica mulher-objeto. Especificamente um objeto de decoração – o que daria uma tradução mais correta do título original: “Potiche – Esposa Troféu”. De fato, o diretor François Ozon (“Ricky” - 2009) começa o filme atribuindo-lhe a função de peça decorativa, ao descrever o açucarado cotidiano de uma dondoca de meia idade, ao som de uma trilha sonora no estilo das fantasias românticas de Jacques Demy (“Os guarda-chuvas do Amor” - 1964). Talvez por ironia, o marido dela (Fabrice Luchini) dirige uma fábrica de guarda-chuvas e enfrenta sérios problemas com os operários, instigados pelo prefeito comunista da cidade (Gerard Depardieu).
A história se passa no final dos anos de 1970 e é apresentada como uma farsa que lembra as comédias sofisticadas de Ernst Lubitsch nas quais os opostos se atraíam. No caso, Deneuve e Depardieu que, apesar da idade formam uma simpática e inusitada dupla amorosa. Eles que, em 1980 interpretaram um inesquecível casal de apaixonados em “O Último Metrô”, de François Truffaut. Ao longo do filme essas figuras vão se modificando mutuamente: o militante abranda um pouco as suas reivindicações e a dona de casa acaba assumindo o controle da fábrica e do próprio destino. Toda a constelação familiar dos personagens envolvidos também se altera em função disso, num ritmo de humor que vai se acelerado até o encerramento. Os papéis de apoio,por sua vez, estão bem estruturados e interpretados por gente habilidosa, como Fabrice Luchini, Karin Viard e Jérémie Renier. Em suma, com esse trabalho, François Ozon recupera a comédia francesa que, há algum tempo, se achava na UTI


POTICHE – ESPOSA TROFÉU
Potiche
França, 2010, 103 min, 12 anos
estreia 23 06 2011
Gênero comédia / social / história
Distribuição Imovision
Direção François Ozon
Com Catherine Deneuve, Gérard Depardieu,
Fabrice Luchini, Karin Viard
COTAÇÃO
* * *
B O M

quinta-feira, 23 de junho de 2011

"Venus Negra": aprimoramento estético de uma forma inaugurada nos anos de 1960

"Venus Negra" é aquilo que podemos chamar de um docudrama em primeira pessoa, isto é, a dramatização dos fatos documentados de uma determinada biografia, a partir do ponto de vista do biografado. Mais ou menos, como um aprimoramento estético na forma como trabalhava Roberto Rosselini nas obras desse gênero que dirigiu para a TV italiana entre 1966 e 1976: menos investimento na descrição no ambiente histórico do que na abordagem conceitual do tema. A protagonista se acha presente em todas as cenas, mesmo na inicial em que vemos apenas um pedaço de seu corpo preservado em formol e observamos a sua aparência física registrada em desenhos e num molde de gesso. E na penúltima em que seu corpo é dissecado no Instituto de História Natural de Paris, em 1815. Porque a última, de caráter documental e contemporâneo, mostra o presidente da África do Sul recebendo festivamente os restos mortais de Saartjes Baartman − o verdadeiro nome da personagem conhecida como Venus Hotentote. Em 1808 ela era apresentada em Londres, como atração de circo: uma mulher-fera de nádegas descomunais.
A sociedade britânica processou o empresário e este se mudou para Paris, onde o espetáculo desandou e ela foi obrigada a se prostituir para sobreviver. Essa dolorosa narrativa se estende por 180 minutos, dividida em longas sequencias − como o espetáculo londrino e o julgamento, filmadas quase em tempo real. Por vezes, a ligação entre elas não se faz de modo aristotélico, ou seja, em termos de uma linha dramática. As coisas mudam de repente e sem explicações no diálogo, como por exemplo, o seu ingresso na prostituição. De fato, o que unifica todas as cenas é o rosto da atriz Yahima Torres, quase sempre exprimindo tristeza, desânimo e um constante estupor alcoólico. Mesmo quando sai às compras, bem vestida e acompanhada por dois valetes a seu serviço. No único momento em que verbaliza contrariedade, ela diz que sente falta de beleza naquilo que faz e exprime essa revolta cantando uma canção de sua terra.
Saartjes bebe demais porque não consegue de adaptar ao mundo europeu e nem sonha em voltar para o seu país porque todos os seus parentes estão mortos e, provavelmente, os valores da cultura abandonada já não fazem sentido. Estamos falando, no entanto, de uma construção cinematográfica e não da Saartjes real, sepultada no século XIX. Na passagem do julgamento, se percebe a astúcia do diretor Abdellatif Kechiche (“O Segredo do Grão” - 2007) ao enfatizar o procedimento de encenação, produzindo um efeito equivalente àquilo que Bertolt Brecht chamava de “afastamento”. A personagem afirma que não é uma escrava e recebe salário. Aquilo que parece um ato de degradação é, na realidade, uma farsa que ela interpreta para ganhar dinheiro.

Ela repete várias vezes que é uma atriz e está interpretando, de modo a que isso fique bem claro – para os demais personagens e para nós, que nos compadecemos da moça e somos levados a condenar todos os que no filme a exploram como aberração da humanidade. Não apenas os responsáveis pelo show, mas também os cientistas que a utilizam para – décadas antes de Darwin publicar a teoria da evolução – apontar semelhanças corporais mais marcantes entre os humanos e os símios. Sabiamente o cineasta se exime de julgar aquelas figuras do passado. Talvez porque, além de ser esta uma tarefa inútil, ele esteja mais interessado em que façamos a nossa própria assimilação do que revelou, e encontremos as possíveis ligações entre a exclusão tal como era há dois séculos e as formas pelas quais se manifesta atualmente.

VÊNUS NEGRA
Vénus Noire
Bélgica/França/Itália, 2010, 164 min, 16 anos
estreia 17 06 2011
gênero docudrama / história
Distribuição Imovision
Direção Abdellatif Kechiche
Com Yahima Torres, Andre Jacobs,
Olivier Gourmet, Elina Löwensohn
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Meia Noite em Paris": leve, divertido e complexo, como só Woody Allen sabe fazer

Saudosista, nostálgico, passadista, oldfashioned, tradicionalista e assim por diante, todas essas qualificações se aplicam a Woody Allen − tanto à sua produção cinematográfica quanto ao seu gosto pessoal. Todos sabem que ele prefere Nova York a Los Angeles, mas, e quanto a Paris? Qual delas teria sido a que o autor de (“Manhattan” - 1979) elegeu para mais esta tentativa de filmar em uma metrópole, tratando-a ao mesmo tempo como ambiente e personagem do roteiro. Logo no início de “Meia-Noite em Paris” ele declara seu encantamento para com a cidade, investindo mais de cinco minutos num documentário, quase uma reportagem sobre a cidade tal como é hoje em dia − uma suntuosa sequencia de imagens quase fixas, nas quais se misturam paisagens típicas de cartão postal com enquadramentos inéditos e inesperados.
Assim que a cena começa, entretanto, por intermédio de seu alter ego da vez − Owen Wilson, no papel de Gil Pender, um roteirista de Hollywood em viagem de turismo com a noiva (Rachel McAdams) – Allen questiona “imagine como seria este lugar nos anos de 1920”. Ou seja, naquele tempo a cidade das luzes devia ser ainda melhor para ele, porque abrigava figuras centrais de seu panteão particular, como Scott Fitzgerald, Cole Porter e Ernst Hemingway – não por acaso todos americanos. Imitando o modo de falar e gesticular do próprio diretor, esse personagem encontra por acaso um portal que se abre para o passado sempre à meia noite. E assim viaja de fato para um ponto qualquer daquela “década de ouro”, sendo apresentado para Pablo Picasso e sua amiga, a também americana Gertrude Stein (Kathy Bates). Mostra para ela os originais do romance que está escrevendo, antes de passá-lo ao próprio Hemingway, em busca de um palpite. Como esses dois brigaram em 1927, pode-se deduzir que a cena se ambienta em algum momento anterior. Na casa da escritora na Rua Fleurus, Gil fica fascinado por Adriana (Marion Cotillard) que, assim como ele, é obcecada pelo passado parisiense, no caso a “belle époque” de Toulouse Lautrec e Dègas. A moça seria uma discípula de Coco Chanel e fora namorada de Modigliani e também de Picasso.
Ela se afasta ao saber que o rapaz está noivo, mas, ao retornar a 2010, num “bouquiniste” às margens do Sena, Gil acha um livro de memórias que Adriana teria publicado. Ao lê-lo, ou melhor, ao pedir a uma guia de turismo (Carla Bruni) para traduzi-lo, ele fica sabendo se a beldade de 1927 gostava dele ou não. Temos, portanto, o livro como objeto mágico que serve de chave para viajar no tempo – peça fundamental nessa saga do personagem em busca de sua verdade mais íntima, isto é, do tesouro que constitui o seu ser em estado primordial. Colocando de outro modo, Woody Allen cria um personagem para representar ele mesmo enquanto redige um texto autobiográfico e atravessa o oceano e as décadas para submetê-lo à apreciação de seus ícones intelectuais antes de publicá-lo. Trata-se, portanto, de uma intrincada operação ficcional que permite ao narrador locomover-se no tempo e no espaço sem tirar os pés de casa. Uma idéia que só o talento de Allen seria capaz de colocar num espetáculo, aparentemente leve e humorístico como este, capaz até de atrair o grande o público. Não é possível identificar de onde surgiu esse lampejo, mas vale especular a respeito de sua origem, que pode ter brotado há cerca de 40 anos.
Em 1972 John Barth (foto acima) ganhou o National Book Award for Fiction nos Estados Unidos com o livro “Quimera”, uma novela considerada pós-moderna, formada por três contos conectados por uma proposta de “meta-ficção”, porque nela o próprio autor interfere na narrativa, interagindo com os seus personagens míticos e históricos. O primeiro deles tem como protagonista a lendária Sherazade. Para quem não se lembra, numa Pérsia mítica, o rei Shariar se descobre traído pela esposa e, para evitar uma nova traição, casa-se todas as noites com uma virgem diferente que manda matar no dia seguinte. Isso durante três anos, até encontrar a contadora de histórias Sherazade. Na véspera da sua primeira (e provavelmente última) noite com o monarca, ela pronuncia sem querer uma fórmula mágica e um gênio aparece diante dela: um sujeito careca e sem barba, de pela clara com uma rodela de vidro diante de cada olho. Trata-se do próprio Barth que, a cada tarde passa a contar-lhe uma história tirada de um livro que Sherazade ainda não conhecia chamado “As mil e uma noites”, para entreter o sultão e salvar-lhe a vida.
Essa provavelmente pode ter sido a fonte de inspiração para Woody Allen que, neste filme, trabalha com uma fórmula igualmente mágica ao permitir que seu herói (um redator-operário de cinema que quer se dedicar à alta literatura), penetre por uma fissura temporal e conviva com os ídolos de sua formação estética, em plena Paris dos anos de 1920: Fitzgerald, Porter, Picasso, Stein, Hemingway – por ordem de entrada em cena e puxando uma longa fila de celebridades na qual se destacam T. S. Elliot, Salvador Dali, Man Ray e o cineasta Luis Buñuel. Para este (afinal um colega de profissão), o personagem/autor oferece a idéia para um filme: um grupo de pessoas fúteis e elegantes se acha reunido num jantar, mas, quando termina a festa, ninguém consegue sair do local e, aos poucos, todos acabam se comportando como animais. Trata-se do enredo de “O Anjo Exterminador” que o diretor espanhol filmaria em 1962. O livro que Gil Pender carrega enquanto escreve é simultaneamente o seu tesouro e a chave para ultrapassar a porta que o prende à vazia futilidade em que vive. Temos, então, o mesmo estratagema “meta-fictício” de John Barth, resumido nas “palavras mágicas” que Sherazade pronunciara antes de romper os diques do tempo: “a chave para o tesouro é o próprio tesouro”.

MEIA NOITE EM PARIS
Midnight in Paris
estreia 17 06 2011
gênero comédia / fantasia / história
EUA/Espanha, 100 min, 12 anos.
Distribuição Paris filmes
Direção Woody Allen
Com Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams
COTAÇÃO
* * * * *
EXCELENTE

segunda-feira, 13 de junho de 2011

“Estamos Juntos”, o empenhado trabalho de Toni Venturi continua em cartaz

Sete anos depois de “Cabra Cega”, Toni Venturi apresenta um novo longa-metragem de ficção: “Estamos Juntos”. Sete anos é um ciclo de vida, um período em que muita coisa pode acontecer – como, no caso dele, diversos documentários. Ocorre que esses dois filmes parecem ter sido feitos por pessoas diferentes. Em lugar da objetividade histórica do primeiro, no qual Venturi focalizava o relacionamento de um guerrilheiro com os companheiros que o escondiam, temos aqui uma narrativa quase fantástica que nos permite visualizar certas coisas imaginadas pela protagonista interpretada por Leandra Leal. Há um misterioso personagem que dialoga com ela (Lee Taylor), apenas quando se encontra a sós, e que talvez sirva para sublinhar a sua solidão. Ou para que a personagem não seja constrangida a falar sozinha.
O peso da realidade contemporânea, no entanto, está bem presente no roteiro porque ela faz o papel de uma médica que trabalha como voluntária para um movimento de sem-teto e se descobre mortalmente enferma. Uma moça do interior, pobre e solitária em cujo horizonte nada parece dar certo. Seu único amigo é um DJ (Cauã Raymond) cujas preferências e ritmo de vida nada têm a ver com os dela. Relaciona-se afetivamente com homens errados e se agarra ao trabalho voluntário como um náufrago a uma tábua esburacada. Como personagem, nem chega a apresentar algum traço de caráter que nos leve à identificação com ela, o que constitui um desafio para habilidade da atriz Leandra Leal. Ainda que seguro e competente como diretor, Toni Venturi não resistiu à tentação de abrir na narrativa uma vertente social que prejudicou um pouco sua fluência. Ou seja, aproveitando imagens reais que ele mesmo produzira para o documentário “Dia de Festa” (2006), com cenas documentais da ocupação de um prédio desabitado no centro de São Paulo, ele toca em assuntos que, mesmo interessantes em si, desviam o foco da trama central. Mas, pode ser até que esse fato não seja tomado como defeito, e sim como qualidade.

ESTAMOS JUNTOS
Brasil 2010 – 96 min. – 14 anos
estreia 03 06 2011
Gênero drama / social
Distribuição Imagem filmes
Direção Toni Venturi
Com Cauã Reymond, Leandra Leal, Lee Taylor

Uma apreciação acerca de "Escravas da Vaidade", um excelente filme chinês.


Como a minha entrevista na abertura do filme “Escravas da Vaidade” na TV Cultura (10 de junho, às 22:15) foi praticamente abortada (por um problema técnico) antes mesmo de começar, me identifiquei com as vítimas do enredo. Depois que o Leon Cacoff me convidou pra falar a respeito, dei uma pensada sobre este filme que publico agora, só... para não deixá-la cair na vala do esquecimento. Com a bela Bai Ling (foto mais abaixo) o chinês Fruit Chan fez este filme para lançar junto com os do coreano Park Chan Wook e do japonês Takashi Miike. A idéia era uma trilogia transcultural em termos de extremo oriente, chamada “Três Extremos”. Não vi os outros dois, mas o mote do canibalismo tem a ver com o do vampirismo que o Park Chan Wook abordou em “Sede de Sangue” (2009), e mais ainda com a célebre cena de “Old Boy” (2003) na qual o protagonista devora um polvo vivo, com o bicho ainda enrolando os tentáculos no braço do sujeito.

A imagem da Madame Lee engolindo um pastel cozido recheado com carne de fetos humanos causa o mesmo efeito, até porque no lugar dos tentáculos, ouvem-se sons de ossinhos triturados misturados à música da trilha. A carne humana não serve no filme para alimentação, mas para transmitir energia vital, numa crença mágica semelhante à dos tapuias e demais indígenas que devoravam os guerreiros vencidos para absorver a sua coragem. E nessa “lógica” os embriões carregam uma vitalidade mais próxima à própria origem da vida, porque são seres que ainda nem nasceram e, assim, constituiriam uma quinta essência do canibalismo. Assim como no mundo ocidental há uma idéia acerca dos poderes alimentícios dos brotos de feijão que, ironicamente, andam provocando uma peste na Europa. O marido da Madame Lee comia ovos de galinha fecundados para angariar mais energia sexual, mas o horror vem da inclusão do próprio ser humano na cadeia alimentar. Essa proximidade entre os costumes milenares e as práticas mágicas dos povos orientais, geralmente horripilantes para o ocidente, aparecem em outros filmes que vêm de lá, como “Madeo – a Busca da Verdade” de Jun Ho Bong. O macabro da narrativa se mostra ainda mais perturbador, com a elegante fotografia de Christopher Boyle (“Amor à Flor da Pele” e “Ondina”) e a delicada encenação de Fruit Chan (52 anos), aqui em seu 12º longa-metragem, como diretor e detentor de 22 prêmios internacionais. Este “Escravas da Vaidade”, inclusive, apresenta uma inquietante âncora no mundo real que é a imensa quantidade de abortos praticados na China, por conta das leis que proibiam os casais de terem mais de um filho. Além disso, pode ser visto como um potente manifesto em favor do vegetarianismo.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Em São Paulo, "6ª Mostra Mundo Árabe de Cinema": filmes novos do milenar oriente


De amanhã dia 16 a 29 de junho, o Cinesesc, o Centro Cultural e Cinemateca exibem 15 filmes de países como Tunísia, Egito, Síria, Emirados Árabes, Iraque, Argélia, Marrocos e Palestina. É a 6ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, promovida pelo Instituto da Cultura Árabe, em parceria com o Sesc e a Prefeitura de São Paulo. A seleção inclui filmes premiados de diretores jovens, que compõem o que há de mais representativo no mundo árabe atual, todos inéditos no Brasil. Estamos acompanhando a chamada Primavera Árabe, que tem sacudido o Oriente Médio. Observam-se naqueles países movimentos populares e mudanças na vida das pessoas, que influenciam o planeta de um modo geral. Somam-se aos acontecimentos contemporâneos toda uma tradição cultural, que se manifesta também na área do cinema. A mostra é uma excelente representação desse quadro, porque traz filmes de diversos países, em produções recentes elogiadas em vários festivais. A seleção inclui produções premiadas como "Caindo por Terra" (2008), de Chadi Zenedine; "Filho da Babilônia" (2009), de Mohamad Al Daradji, nomeado em 2010 pela Revista Variety como o Cineasta do Ano do Oriente Médio; "Microfone" (2010 - foto abaixo), de Ahmad Abdallah, primeiro filme egípcio a receber o prestigioso prêmio The Golden Tanit do festival de Cartago 2010; e "Fora da Lei" (2010), de Rachid Bouchared, filme indicado ao Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro.

“X Men – Primeira Classe”: a origem dos heróis mutantes e seu contexto histórico

A cultura dos quadrinhos carrega mais de um século de turbulenta existência e, portanto, já merece ser analisada e investigada em suas articulações internas, como acontece com qualquer modalidade artística. Assim como a literatura e o próprio cinema, seus mitos e enredos mais importantes adquiriram o direito de serem trabalhados e recriados para ocupar espaço em outras mídias e contextos culturais. Isso para dizer que “X Men – Primeira Classe” pode ser visto como uma elaboração ficcional e dramática acerca de sua origem editorial e histórica. Do ponto de vista cinematográfico, a proposta tem pertinência e seriedade equivalentes a uma pesquisa acadêmica, porque relaciona a essência dos personagens e seu surgimento nas bancas de revistas com os acontecimentos históricos verdadeiros.
Essa equipe de mutantes do bem comandados pelo professor Charles Xavier apareceu em setembro de 1963 num gibi da Marvel Comics − criada por Stan Lee e Jack Kirby e aproveitando uma leve onda de preocupação geral com a possibilidade dos artefatos nucleares terem permitido o nascimento de seres geneticamente diferenciados. Seria evidentemente um efeito secundário da Guerra Fria que, no roteiro da talentosa Jane Goldman para o filme dirigido pelo inglês Matthew Vaughn (“Nem tudo é o que parece” – 2004), ganha importância central. A ação se passa durante a crise internacional protagonizada pelo presidente John Kennedy, por ocasião do envio de mísseis russos para proteger a ilha de Cuba. Seus depoimentos reais gravados para a TV se misturam aqui com as peripécias inventadas para a movimentação dos mutantes, cujos conflitos internos se enredam com os confrontos entre o socialismo soviético e o capitalismo norte-americano.
A trama central de “X Men – Primeira Classe” se inicia no encerramento da Segunda Guerra Mundial, exatamente num campo de concentração, no qual um menino se descobre dotado de poderes mentais sobre-humanos, enquanto outro jovem mutante prisioneiro é vítima daquelas criminosas experiências biológicas praticadas na época pelos nazistas. Temos, portanto, uma definição étnica nada habitual para as figuras de quadrinhos. Sabemos, por exemplo, que o Super Homem veio do planeta Krypton, mas pouco se conhece acerca das raízes familiares do Batman ou do Homem Aranha. As primeiras imagens de “X Men – Primeira Classe” lembram cenas de obras neo-realistas ou de filmes poloneses sobre ocupação alemã. Outra novidade é a ação do tempo sobre os personagens.
O poderoso Thor, o Capitão Marvel ou a turma do Quarteto Fantástico se apresentam sempre a mesma idade. Mas aqui o professor Xavier e seu antagonista Magneto chegam à década de 1960 com mais ou menos 30 anos e, assim como os líderes radicais daquele tempo, formam seus próprios partidos para enfrentar o sistema. O grupo de Magneto não se prende a princípios éticos e atua como um precursor dos atuais terroristas, enquanto os seguidores de Charles Xavier adotam uma postura liberal e agem conforme a lei. Mas é bom esclarecer que isso tudo é construído num tom ao mesmo tempo culto e bem humorado, sob a condução de Matthew Vaughn, um diretor que se tornou respeitado pela originalidade com que tratou temas de narrativas policiais e fantásticas em filmes como “Stardust – O Mistério da Estrela” (2007) e “Snatch – Porcos e Diamantes” (2000). Ou seja, uma espécie de mutação cinematográfica oferecendo divertimento e reflexão no mesmo pacote.

X MEN – PRIMEIRA CLASSE
X-Men: First Class
EUA, 2011, 132 min, 12 anos.
estreia 03 06 2011
gênero fantasia / história / quadrinhos
Distribuição Fox Films
Direção Matthew Vaughn.
Com Jennifer Lawrence, Rose Byrne, James McAvoy

COTAÇÃO


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B O M

quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Todo o mundo tem problemas sexuais” é de fato teatro filmado... do melhor.

Permanece em cartaz, "Todo o mundo tem problemas sexuais”, uma comédia de Domingos de Oliveira que, além do humor, vale como um projeto experimental em termos de linguagem cinematográfica. Na linha do que ele mesmo batizou como BOAA, isto é, "baixo orçamento e alto astral". É uma realização modesta, que não esconde a sua origem teatral nem a simplicidade dos equipamentos de filmagem e sonorização utilizados. Logo de início o diretor aparece na tela para assumir que estamos diante daquilo que os críticos de cinema sempre classificaram pejorativamente como “teatro filmado”. Só que ele acrescenta a proposta de “emprestar ao cinema alguns poderes que o teatro tem, quem sabe por ser mais velho”.
O roteiro é a adaptação de uma peça que teve imenso sucesso no Rio de Janeiro e que, por sua vez, se baseia em um conjunto de relatos de alguns pacientes a um psicanalista. Mas, ao longo da montagem se confirma a promessa inicial e a narrativa surpreende por se estilhaçar em cinco episódios e intercambiar vários modos de narração: trechos gravados da própria cena no teatro se intercalam com filmagens em locação, cenas de ensaio e comentários do elenco e do próprio diretor. Sem qualquer aviso, ele entra em quadro para refletir irônica e filosóficamente a respeito das situações e dos personagens (foto abaixo). Isso tudo sem a menor cerimônia ou preocupação para com as diferenças de som e imagem entre um momento e outro. Impossível não ficar à vontade diante de tamanha levaza e descontração.
Às vezes até entram letreiros informando em que teatro determinada passagem foi filmada, mas o que vale mesmo é a graça das situações e o trabalho dos atores, todos simpáticos e muito empenhados. No conjunto, porém, destacam-se os midiáticos Claudia Abreu e Pedro Cardoso. É inevitável relacionar essa esfuziante brincadeira de Domingos de Oliveira ao profundo ensaio ontológico sobre a natureza da encenação de Eduardo Coutinho, em "Jogos de Cena". Mas é preciso confessar que ambos os filmes são igualmente sérios e, cada um ao seu modo, muito importantes para o cinema brasileiro.

Todo o Mundo tem Problemas Sexuais
Brasil, 2008, 63 min
estreia 13 de maio 2011
gênero comédia / teatro
Distribuição Playarte
Direção Domingos de Oliveira
Com Claudia Abreu, Pedro Cardoso,
Preicula Rozenbaun e Domigos de Oliveira
COTAÇÃO
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B O M