Pode não ter sido exatamente esta a intenção do documentarista que, assim como em “O Fim e o Princípio”, não tinha uma idéia clara do que o filme iria se tornar. Mas é, de fato, tudo o que vemos em "Moscou”: a câmara praticamente se limita a acompanhar os mineiros do Grupo Galpão, fundado há 25 anos, nesta ocasião dirigidos por Henrique Diaz. (acima, com Coutinho)
O resultado é um apanhado de fragmentos dos workshops, laboratórios, improvisações e ensaios de uma peça que talvez nunca seja encenada e apresentada ao público. Nenhuma revelação ou olhar inusitado sobre a aventura da encenação dramática, da imitação poética da existência, ou da plasticidade da memória, como vimos em "Jogos de Cena" (2007). Quem esperar de "Moscou" um espetáculo daquele nível pode se decepcionar.
Na aparência e na essência, “Moscou” documenta o processo de trabalho do Grupo Galpão, em Belo Horizonte. O filme se limita a registrar as leituras e ensaios de "As Três Irmãs", de Tchekhov. Às vezes, essas práticas mostram surpreendentes, provavelmente para os que não se acham familiarizados com as rotinas de preparação dramática para o palco. Algumas falas ditas pelos atores olhando para a câmara parecem depoimentos ou entrevistas − que são recursos estilísticos e táticos típicos do gênero documentário. São, no entanto, apenas exercícios em que os intérpretes procuram elementos para construir os personagens dentro de seus estoques pessoais de lembrança afetivas. Mostram-se tão interessantes quanto podem ser os solfejos de aquecimento do mais talentoso dos tenores.
Se, de fato, foi essa a posição de Eduardo Coutinho, para ele “Moscou” é um verdadeiro regresso às origens. Como em 1960 ele estava estudando cinema em Paris, quando o antropólogo Jean Rouch lançava o seu "Crônicas de um Verão", é possível que ele tenha se encantado com a novidade do cinema "en directe". Em entrevista, Coutinho confessou que não tinha a menor idéia do que fazer com o material filmado e foi o produtor João Moreira Salles que deu uma forma à edição final: "Foi penoso olhar 70 horas de imagens em duas câmeras, fazer uma versão de quatro horas e depois de três meses de montagem ouvir pessoas dizendo que naquele material não havia um filme".
Moscou
Brasil - 2009 – 78 min
gênero documentário
distribuição Videofilmes
Direção Eduardo Coutinho
Com os integrantes do Grupo Galpão
Um comentário:
Como vai meu caro?
Gosto muito de "Moscou" e arrisco dizer que Coutinho vai além sim de sua proposta em "Jogo de Cena". Em breve, escreverei também sobre o filme.
abraços
Bruno
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