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domingo, 8 de fevereiro de 2009

“Foi Apenas um Sonho”: mais que drama, uma inesperada tragédia existencial

O filme só compete pelos Oscar de direção de arte, figurino e ator coadjuvante (Michael Shannon). Mas é melhor do que muitos dos indicados e inclusive ganhou o USC Libraries Scripter Award de 2008, que é oferecido pela associação nacional das bibliotecas americanas para o melhor roteiro adaptado de uma obra literária. Não conhecia o romance “Revolutionary Road” de Richard Yates, mas o roteiro de Justin Haythe é sensacional, ainda que não tenha sido escolhido para concorrer ao Oscar. Sob a capa de um pequeno drama familiar (casal entra em crise após o fracasso do plano de se mudar de Connecticut para Paris) ele elabora um raro exemplar de tragédia existencial cinematográfica. De tão acurada, a trama poderia ser assinada por Jean Paul Sartre − só para aquilatar a sua profundidade sócio-psicológica.
A protagonista é vivida por Kate Winslet, já premiada por este papel no Globo de Ouro. Ainda bem que os jornalistas estrangeiros em Hollywood, que escolhem aquele prêmio, não deixaram passar em branco essa evidência − apesar de não terem agraciado o filme e nem o diretor Sam Mendes, o talentoso cineasta inglês de Beleza Americana (1999). Poucas vezes o cinema conseguiu demonstrar tão sinteticamente os impasses culturais de um período da história americana como este Foi Apenas Um Sonho. Focaliza um casal que se une logo após o fim da Segunda Guerra e cujo casamento coincide com a consolidação do sistema econômico que só agora vemos entrar em crise nos Estados Unidos.
A monótona vidinha de classe média – definida pelo lúcido lunático interpretado por Michael Shannon, como “the hopeless emptyness” (o vazio desesperador) – incomoda o vaidoso personagem de Leonardo DiCaprio, mas é a esposa quem concebe a idéia de se mudar para a Europa e “passar a viver de fato”. No entanto, os obstáculos a essa meta se mostram tão intransponíveis quanto insidiosos, ou seja, se encontram em tudo, em todas as coisas e pessoas. Exatamente como era a expressão dos desígnios divinos, na tragédia clássica. Insistindo na comparação, o filme também tem um coro (os vizinhos e amigos), um mago portador da verdade (o já citado maluco de Michael Shannon), sem falar na sangrenta catarse do final.
Os personagens simbolizam os pais da geração que se encontra atualmente transtornada pela crise econômica: dessa gente que atravessou a adolescência nos anos 60, experimentou a rebeldia e depois se integrou ao sistema, chegando agora à aposentadoria. Na pele da heroína, a encantadora rebelde que todos queríamos ter sido, Kate Winslet verbaliza a consciência do filme na frase: “ninguém se esquece da verdade, apenas se aprende a mentir melhor”.

Foi Apenas Um Sonho
Revolutionary Road
estréia 13 de fevereiro de 2009
(2008 – EUA / Inglaterra)
Direção Sam Mendes
Com Kate Winslet, Leonardo DiCaprio,
Michael Shannon, Katy Bates

2 comentários:

crocomila disse...

Oi Lu, aqui é a Didi. Queria assistir esse filme na quinta passada, mas o Samuel achava que o filme seria uma "comédinha romantica". Também, com essa tradução do título do filme e estrelando o casal Titanic... Entrei no seu blog pra ver o que vc falava dele, uma pena vc ainda nao tinha postado essa resenha... Mas eu fui assistir mesmo assim! Adorei, o filme é mto bom. Uma pena mesmo a tradução do título. Revolucionary Road era um ótimo título. Muita gente vai olhar aquele poster do casal se beijando com o título "Foi apenas um sonho" e vai achar que é um filmezinho de amor... coitados!
Bom mas o que eu queria comentar mesmo, é que achei o filme feminista, e de um feminismo delicado. A tragédia final simboliza, pra mim, tudo o que aquelas mulheres donas de casa, presas nos lares, escravas domésticas, obrigadas a serem mães dedicadas e perfeitas não aguentavam mais.

Lucas Ravelli disse...

A Kate estava fabulosa nesse papel assim como em O leitor><