Porém, essa figura aparentemente ingênua tem muito mais aspectos do que podemos revelar para não estragar as surpresas do roteiro. Ao levar para o cinema esse inacreditável personagem de um livro de não-ficção, o diretor utiliza recursos narrativos da comédia com excelentes resultados. E o cineasta chega a brincar com o gênero de cinema documentário ao colocar na boca do protagonista a frase “eu queria ser uma mosca na parede para ver a cara dele”. A expressão "mosca na parede" se refere ao posicionamento da câmara nos documentários da linha "cinema direto", que se praticava nos anos 60 nos Estados Unidos. É como se Soderbergh nos dissesse: "já tratei histórias fictícias ("Bubble", "Confissões de uma garota de programa") como se fossem verdadeiras e agora filmo uma história real como se fosse uma comédia".
Na estrutura do roteiro, destaca-se a comicidade oferecida pela narração em off na primeira pessoa. Ela permite que observemos o que o passa pela mente do informante enquanto está agindo. E nem sempre o que ele pensa tem relação lógica com o que faz. Essas frases são tão absurdas e engraçadas que aparecem como ilustração sonora no site oficial do filme. Aliás, o compositor do fillme Marvin Hamlisch está em seu terreno preferido que é o humor. Foi ele o pianista que Croucho Marx convidou para acompanhar as suas históricas apresentações como "stand up comic" no Carnegie Hall. Ele se diverte pontuando a trilha sonora com impagáveis comentários musicais sobre a história, recorrendo a citações e paródias de melodias amplamente conhecidas. É um show à parte que, desde já, o credencia para um terceiro Oscar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário