E mesmo sendo de ficção, Praça Saens Peña apresenta fragmentos documentais em seu interior. Aos outros longas de ficção concorrentes coube apenas prêmios “de consolação”, ainda que justos: fotografia para o paranaense Mystérios e música para o baiano Estranhos. Mais que meramente distribuir troféus, portanto, o CinePE confirmou uma tendência que se manifesta atualmente na cinematografia brasileira: a ascensão desse estilo de narrativa cinematográfica definido pelo inglês John Grierson − um de seus primeiros teóricos − como “o tratamento criativo da realidade”. Mesmo como obra fictícia, Praça Saens Peña se debruça sobre a “realidade social” carioca. Focaliza a crise doméstica que afeta uma família de classe média residente na zona norte do Rio de Janeiro − no local que corresponde ao título do filme.
Um professor secundarista de literatura arranja um serviço extra e se descuida afetivamente da esposa. Ainda que banal e rotineiro, esse ponto de partida poderia render um drama familiar de interesse humano, se fosse mais elaborado, em termos de construção narrativa. O protagonista escreve um livro sobre a Tijuca e, talvez com o objetivo de ampliar a impressão de autenticidade, o roteiro interrompe o desenvolvimento da trama, para inserir discussões teóricas do personagem com seu editor. Mais adiante, a narrativa simplesmente estaciona para que ele possa entrevistar o compositor Aldir Blanc, um dos moradores ilustres do bairro, de modo excessivamente demorado.
O efeito dessa estrutura dramática entrecortada por intervenções “documentais” é, de certo modo, equivalente ao que acontecia nas chanchadas carnavalescas nas quais o desenrolar da história se interrompia para que a platéia assistisse a um número musical. Seria possível atribuir esse procedimento equivocado, do ponto de vista da fluência narrativa, a uma provável fascinação atual pelo documentário? Quem sabe...
Um professor secundarista de literatura arranja um serviço extra e se descuida afetivamente da esposa. Ainda que banal e rotineiro, esse ponto de partida poderia render um drama familiar de interesse humano, se fosse mais elaborado, em termos de construção narrativa. O protagonista escreve um livro sobre a Tijuca e, talvez com o objetivo de ampliar a impressão de autenticidade, o roteiro interrompe o desenvolvimento da trama, para inserir discussões teóricas do personagem com seu editor. Mais adiante, a narrativa simplesmente estaciona para que ele possa entrevistar o compositor Aldir Blanc, um dos moradores ilustres do bairro, de modo excessivamente demorado.
O efeito dessa estrutura dramática entrecortada por intervenções “documentais” é, de certo modo, equivalente ao que acontecia nas chanchadas carnavalescas nas quais o desenrolar da história se interrompia para que a platéia assistisse a um número musical. Seria possível atribuir esse procedimento equivocado, do ponto de vista da fluência narrativa, a uma provável fascinação atual pelo documentário? Quem sabe...
A rigor um procedimento como este poderia até enriquecer uma obra, como ocorre em A Rainha (The Queen, Stephen Frears - 2006), em que a ficção se mistura de modo funcional a um abundante material de arquivo − ainda que de cinejornais e não de documentário. Outros exemplos notáveis de convivência entre documento e ficção no mesmo filme mostram soluções mais adequadas, ao situar o segmento documentário no encerramento, ou no início da matéria ficcional. É o caso do clássico Um Dia Muito Especial (Una Giornata Particolare, Ettore Scola – 1977) e do mais recente O Reino (The Kingdom, Peter Berg – 2007). De qualquer maneira, a trama de Praça Saens Peña se revela prosaica e mal costurada. Em seu desfecho, por exemplo, o filme termina como se ainda faltasse um pedaço para a conclusão, deixando para a voz de um personagem fora de cena enunciar a maneira como o conflito central se resolveu. Se nem a esposa e a filha do personagem principal suportam o tédio de conviver com ele, imagine-se a platéia...
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