Em “Ervas Daninhas” (Les Herbes Folles), Alain Resnais (1922 – França) ensaia novas formas de linguagem. Com quase 90 anos ele continua preocupado em inovar, como em 1961, com “O Ano Passado em Marienbad”. Desta vez ele realiza uma adaptação radical de obra literária, ao estender essa característica à própria estrutura do filme. Logo de cara rompe com a filiação do roteiro cinematográfico em relação à dramaturgia teatral. No palco cênico, de modo geral, a representação acontece por conta da ação física, em que um ator imita alguém. Ele interpreta um determinado “eu”, em cuja trajetória interage com outros “eus”, basicamente pelos diálogos. É neles e com eles que as intenções e desejos de cada um se manifestam. Essa dialogia cênica também predomina no cinema, mesmo quando os protagonistas precisam agir em silêncio. No recente “Instinto Secreto” (“Mr. Brooks” – 2007), por exemplo, Kevin Costner interpretava um assassino serial que era visto em ação apenas pelas próprias vítimas. Para dotá-lo de uma “escada”, ou seja, de outra figura com quem ele possa conversar sobre essa atividade secreta, o diretor criou um “amigo imaginário”. Mas “Ervas Daninhas” é narrado na 3ª pessoa, pela voz de um narrador fora de cena, que titubeia e hesita, como qualquer personagem do filme e aparenta ter menos certezas sobre o que está contando do que nós os espectadores. Mesmo com uma trama esgarçada e pouco significativa, esse curioso procedimento garante o interesse do filme, todo montado em função do estilo de Christian Gailly, escritor do texto em que o filme se baseia.
A longevidade de Alain Resnais (
foto abaixo) que, aos 88 anos, lança “Ervas Daninhas” pode levar as pessoas a procurarem uma conexão temática entre seus filmes anteriores, em busca de uma lógica para talvez “explicar” a carreira do cineasta. Não me parece, porém, que essa procura possa render frutos palpáveis, mesmo porque Resnais, como ele próprio declara, sempre se esforçou para diferenciar cada uma de suas obras de todas as demais.
Para a FSP ele disse: “fazemos o primeiro filme para superar o segundo e o terceiro para superar o segundo. Minha ambição, evidentemente, é jamais me repetir, mas isso talvez não seja possível.” Alguns analistas tentam associar "Ervas Daninhas" ao experimento que ele fez com “Meu Tio da América”, em 1980 sobre as teorias comportamentais de Henri Leborit. Numa entrevista recente, aliás, o cineasta afirmou que “a maior parte das nossas ações são intuitivas”. Mas intuição nada tem a ver com a idéia de instinto, com a qual Laborit trabalhava. O que temos enfim de distintivo neste “Ervas Daninhas” é a escolha de um desenho para a narrativa que é o de um relato em terceira pessoa. Ou seja, um roteiro em que a voz do narrador é tanto ou mais fundamental quanto o diálogo entre os personagens. Essa posição se esclarece logo de início, quando o narrador informa que a personagem estava comprando sapatos numa rua que ele não se lembra qual seja e a câmara nos mostra as arcadas da Rivoli – que é talvez a rua mais conhecida de Paris.
Ervas DaninhasLes Herbes Folles
Direção Alain Resnais
estreia 25/12/2009
França - 2009 – 104 min.
Gênero comédia / mistério
Distribuição: Imovision
Com Sabine Azéma, André Dussollier,
Emmanuelle Devos, Mathieu Amalric
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