Uma das mais elevadas ambições do cinema documentário é a de criar conhecimentos novos sobre o mundo e não se limitar a somente divulgá-los. Agora disponível em DVD, “Panair do Brasil” de Marco Altberg chegou aos cinemas junto com o livro “Pouso Forçado” do jornalista Daniel Sasaki. Ambos revelam uma das histórias mais brutais e escabrosas do regime militar, que foi a destruição daquela empresa, símbolo de eficiência e modernidade no Brasil dos anos 50. O ensaio histórico e jornalístico de Sasaki é primoroso, mas o filme atinge dimensões que apenas o áudio visual pode alcançar. Falo de Elis Regina lançando a canção de Milton Nascimento “Saudades dos Aviões da Panair”; dos velhos funcionários que anualmente se reúnem para celebrar as glórias do passado; dos documentários de época em que o locutor noticiava a compra de uma aeronave Constelation como se o país tivesse vencido uma guerra ou campeonato mundial de civilidade. É vergonhoso que aquele crime político, tão revoltante quanto a tortura dos cidadãos e a censura aos meios de comunicação, seja tão pouco conhecido pelas gerações que se seguiram ao período da ditadura. Alguns antigos funcionários entrevistados declaram que não entendem porque motivo os militares liquidaram a Panair do Brasil, não apenas a empresa mas também a sua imagem pública. No entanto o filme de Altberg mostra que, além de favorecer outra companhia alinhada ao regime de exceção, a idéia era eliminar aquela perigosa ponte do Brasil com o mundo livre e civilizado. Hoje é possível sentir na pele o resultado dessa tragédia institucional, cada vez que entramos em contado com as companhias herdeiras daquela espoliação: em geral gigantescos aglomerados de oportunismo e incompetência.
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