Parece mais uma figura de fábula, ou o Sisifo do mito grego, ou seja, seres simbólicos, que não possuem vida própria. Apenas representam determinadas características humanas. Chico Buarque aparece no final, pedindo para o personagem de Leonardo Medeiros autografar o livro que ele mesmo escrevera. Quem representa quem? Qual seria a “moral” da história? Talvez o criador anseie por experimentar um trago de anonimato, e aí então percorrer o caminho de sua criatura. Talvez pretenda, como sugeriu um crítico de literatura, mandar seu próximo romance para a editora sem assinatura e só revelar a identidade do autor depois do trabalho ser aceito.
O filme é no fundo uma reunião de curiosidades: uma co-produção Brasil/Hungria, metade filmada em Budapeste, que é uma cidade visualmente deslumbrante; essa metade é falada em húngaro, idioma do qual só se conhece a palavra “goulasch”; lá em Budapeste, a habilidosa e experiente produtora e roteirista Rita Buzzar encontra (de verdade) uma estátua em homenagem ao “escritor desconhecido”, que é a idéia central da história; o samba “Feijoada Completa” é cantado em húngaro; numa barcaça, uma imensa estátua de Lenin desce desmontada pelo rio Danúbio... Seria a mesma que por ali deve ter passado há mais de 20 anos? Ou teria sido feita de papelão, por uma escola de samba local? Enquanto a voz em off do protagonista decreta “devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira”, me defendo: isso não é deboche, é só brincadeira...
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