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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Uma apreciação acerca de "Escravas da Vaidade", um excelente filme chinês.


Como a minha entrevista na abertura do filme “Escravas da Vaidade” na TV Cultura (10 de junho, às 22:15) foi praticamente abortada (por um problema técnico) antes mesmo de começar, me identifiquei com as vítimas do enredo. Depois que o Leon Cacoff me convidou pra falar a respeito, dei uma pensada sobre este filme que publico agora, só... para não deixá-la cair na vala do esquecimento. Com a bela Bai Ling (foto mais abaixo) o chinês Fruit Chan fez este filme para lançar junto com os do coreano Park Chan Wook e do japonês Takashi Miike. A idéia era uma trilogia transcultural em termos de extremo oriente, chamada “Três Extremos”. Não vi os outros dois, mas o mote do canibalismo tem a ver com o do vampirismo que o Park Chan Wook abordou em “Sede de Sangue” (2009), e mais ainda com a célebre cena de “Old Boy” (2003) na qual o protagonista devora um polvo vivo, com o bicho ainda enrolando os tentáculos no braço do sujeito.

A imagem da Madame Lee engolindo um pastel cozido recheado com carne de fetos humanos causa o mesmo efeito, até porque no lugar dos tentáculos, ouvem-se sons de ossinhos triturados misturados à música da trilha. A carne humana não serve no filme para alimentação, mas para transmitir energia vital, numa crença mágica semelhante à dos tapuias e demais indígenas que devoravam os guerreiros vencidos para absorver a sua coragem. E nessa “lógica” os embriões carregam uma vitalidade mais próxima à própria origem da vida, porque são seres que ainda nem nasceram e, assim, constituiriam uma quinta essência do canibalismo. Assim como no mundo ocidental há uma idéia acerca dos poderes alimentícios dos brotos de feijão que, ironicamente, andam provocando uma peste na Europa. O marido da Madame Lee comia ovos de galinha fecundados para angariar mais energia sexual, mas o horror vem da inclusão do próprio ser humano na cadeia alimentar. Essa proximidade entre os costumes milenares e as práticas mágicas dos povos orientais, geralmente horripilantes para o ocidente, aparecem em outros filmes que vêm de lá, como “Madeo – a Busca da Verdade” de Jun Ho Bong. O macabro da narrativa se mostra ainda mais perturbador, com a elegante fotografia de Christopher Boyle (“Amor à Flor da Pele” e “Ondina”) e a delicada encenação de Fruit Chan (52 anos), aqui em seu 12º longa-metragem, como diretor e detentor de 22 prêmios internacionais. Este “Escravas da Vaidade”, inclusive, apresenta uma inquietante âncora no mundo real que é a imensa quantidade de abortos praticados na China, por conta das leis que proibiam os casais de terem mais de um filho. Além disso, pode ser visto como um potente manifesto em favor do vegetarianismo.

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