A escolha do filme "Lula, o Filho do Brasil" para se candidatar ao Oscar de melhor filme estrangeiro pelo MinC provocou indignação e revolta entre a maioria dos críticos e cineastas. Até o veterano diretor Roberto Farias, que fez parte da comissão de seleção declara que “a escolha não foi direcionada ao melhor filme dentre os inscritos, nem ao mais artístico, nem ao mais popular”. Segundo ele, o filme conta uma história que não é só do Lula, mas de milhares de brasileiros que saíram do campo para buscar vida melhor nas grandes metrópoles. E justifica a escolha dizendo que “a figura do Lula é mais conhecida no exterior que qualquer ator brasileiro”.
Já o crítico Rubens Ewald Filho disse que “a primeira sensação que tive ao ouvir a notícia foi de vergonha... Não posso acreditar que um comitê de seleção, supostamente qualificado tenha cometido uma atrocidade dessas.” E continua: “é incrível que tenham nomeando um filme que o próprio público rejeitou e detectou como uma propaganda descarada, deformando fatos.” Segundo ele "5 X Favela", "Bróder", ou "É Proibido Fumar"... qualquer um deles seria mais indicado para o prêmio. Ewald afirma que vai ser um vexame internacional. Ele acredita que “vai ser um choque para as pessoas no exterior quando se derem conta de que estamos parecendo a Itália fascista de Mussolini, quando fazemos filmes de propaganda do nosso presidente”.
Bem, o que eu acho do filme? Foi isso o que escrevi em janeiro, na época do lançamento:
“Lula-o filho do Brasil” parece enfeixar dois filmes sob um único título. A primeira parte emociona com a luta pela sobrevivência daquela família de nordestinos conduzida em seu deslocamento para São Paulo por uma mulher. Há momentos marcantes e bem colocados em termos de linguagem de cinema, como por exemplo a sequência em que a personagem de Glória Pires recebe uma carta do ex-marido, lida por um dos filhos interpretando o texto conforme seus interesses. Em seguida, gradativamente a narrativa se concentra sobre Lula e seu esforço para se casar e afirmar-se como trabalhador. A dramaticidade do filme se encerra quando ele alcança esse objetivo, porque a atividade de sindicalista aparece depois disso, como uma espécie de hobby ao qual ele, por acaso, passa a se dedicar. A partir daí, o roteiro se limita a descrever friamente os acontecimentos, como quem desenha o perfil oficial de um político, sem jamais se intrometer no mundo interior do protagonista. O retrato que o filme apresenta, aliás, se mostra aqui bem diverso do que vimos em documentários como "Peões" (Eduardo Coutinho - 2004).
Quanto a Gloria Pires, ela faz um bom trabalho, ainda que não seja melhor do que nos mostra em "É proibido Fumar". Em suma, com essa estrutura assim fragmentada, o filme poderá ser rejeitado em Hollywood e toda essa discussão terá sido inútil.
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