O tema ainda hoje é pouco explorado pelo cinema, na medida em que fala de um mundo praticamente já sob o controle de alienígenas, ainda que os personagens centrais não saibam disso. E, assim, se afasta da maioria dos roteiros do gênero, que costumam colocar o conflito antes ou durante a chegada dos extraterrestres. De “Vampiros de Almas” (The Invasion of the Body Snatchers – 1956) a “Guerra dos Mundos” (War of Worlds – 2005), em geral o herói luta para evitar a iminente ocupação da terra pelos invasores.
Numa linha diferente, porém, “A Caixa” é uma fábula moral construída com o cuidado de se colocar em seu contexto primordial que é a própria ficção científica, tal como se encontrava no momento em que foi imaginada por Richard Matheson, um dos mais importantes autores dessa modalidade literária. Ou seja, o ano de 1976, quando a NASA enviou a primeira sonda espacial para outro planeta, que no caso era Marte. Na verdade, a trama se inspira na passagem bíblica de Sodoma e Gomorra, em que os humanos são testados por forças superiores.
Como um requinte a mais, toda a ambientação, a montagem e a sonorização de “A Caixa” recuperam o estilo e o ritmo das obras de suspense daquela época, muito marcada por uma tradição hitchcockiana. Além de contar uma história, portanto, o diretor exercita e homenageia um modo atualmente old fashioned de fazer cinema, inclusive em termos de efeitos especiais. Em 2006, Richard Kelly foi indicado para a Palma de Ouro em Cannes, com o filme “Southland Tales - o fim do mundo”, que só foi lançado em DVD no Brasil. Com 35 anos de idade, o cineasta tem juventude e ousadia suficientes para reverenciar aquilo que muitos consideram hoje descartável. Vale até tentar rever o seu primeiro longa, o controvertido e cultuado “Donnie Darko” (2001), considerado pelos admiradores uma alucinante obra-prima da produção independente.
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