O ambiente cultural da cena é Los Angeles em 1962 − exatamente, portanto, no momento que antecede o início da chamada “revolução sexual”, com o país ainda transtornado pela presença soviética em Cuba. Espelhando os dilemas da época como poucos filmes conseguiram, em “Direito de Amar”, o diretor iniciante se movimenta com firmeza em situações de fronteira entre o cômico e o trágico, entre o patético e o sublime, entre os impulsos de amor e de morte. Um dos personagens se pergunta: "se não estamos gostando do presente, o que nos faz pensar que o futuro será melhor?"
Desde o início, por meio de uma narração em off do protagonista, ficamos sabendo que ele pretende se suicidar, porque a pessoa amada morrera num acidente. E ele – um prestigiado professor universitário de literatura inglesa – nem teve o direito de comparecer ao enterro. Era um caso de amor quase secreto porque, ainda que tivesse durado mais de 15 anos, tratava-se de um relacionamento homossexual – o que era socialmente inaceitável no início dos anos 60, época em que a história é ambientada. Mas a proposta não é filmar os acontecimentos em si, e sim a subjetividade do personagem em relação a eles. Nesse sentido, impressiona e comove a longa sequencia em que o metódico professor ensaia meticulosamente todas as etapas do suicídio, desde a posição em que empunharia o revolver, até o terno que deveria vesti-lo no caixão.
As lembranças, os pesadelos e as distorções da realidade objetiva provocadas pelo desespero, pela mistura de álcool com tranqüilizantes, ou pela proximidade da morte se harmonizam com o registro prosaico do cotidiano. Para cada uma dessas instâncias, Ford cria uma linguagem visual que as distingue das demais. Assim, as memórias aparecem granuladas, enquanto as alucinações e os insights são mostrados em câmara subjetiva, em super closes e sonorização explicitamente artificial. Nesta, música e ruídos ganham a mesma importância. O roteiro cruza por todas essas transições sem perder a fluência ou escorregar para o melodrama. Finalmente, deságua num desfecho que, mesmo sem ser feliz para o personagem, mostra-se poético e satisfatório do ponto de vista da narrativa, ao instaurar sutilmente um elemento fantástico que vem para enriquecê-la.
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