Produzido pela BBC, o filme se concentra no período em que Darwin já tinha concebido a sua teoria, mas ainda faltava finalizar o texto e entregá-lo a um editor. Vemos que ele relutava em dar esse passo, porque enfrentava a oposição dos religiosos com quem se relacionava e da própria esposa, interpretada com firmeza por Jennifer Connely. O ator britânco Jeremy Northman atribui uma surprendente fragilidade emocional ao personagem que, para agravar a luta que travava interiormente consigo mesmo, sofria profundamente pela perda da filha de 10 anos. Nos momentos de maior angústia, nós e alguns personagens do filme, vemos o cientista conversando e interagindo com a filha morta, sem que o diretor Jon Amiel (“O Núcleo – Missão ao Centro da Terra – 2003) elabore uma definição clara do significado dessa personagem: na estrutura do roteiro, seria ela uma alucinação ou um fantasma? Darwin estaria fantasiando ou seria o que hoje se chama de medium?
Isso é o aspecto mais curioso do filme, que é lento, delirante, fragmentado e ignora a polêmica criada após a publicação do livro. Mas ele pode estar propondo uma pertinente alusão ao fato de que a teoria evolucionista darwiniana é uma das bases doutrinárias centrais do espiritismo kardecista, tão divulgado no Brasil por Chico Xavier. Os principais escritos de Allan Kardec (1804-1869), aliás, foram elaborados e difundidos logo após a publicação da Origem das Espécies. Nesse sentido, este “Criação” funciona como inusitada introdução ao filme de Daniel Filho, a ser brevemente lançado.
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