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terça-feira, 17 de novembro de 2009

"Os Substitutos" trabalha com um tema essencial no imaginário da ficção científica

O tema do substituto aparece em Alexandre Dumas, com “O Máscara de Ferro” (1847) − o herdeiro trocado por um usurpador. Antes disso, Pöe colocava a idéia num plano metafísico no conto "William Wilson" (1839), talvez um desdobranento do doppelgänger narrado por Shelley em 1822. Em “O Principe e o Mendigo” (1882), Mark Twain recicla a mesma idéia. No cinema, Carlitos se coloca no lugar de uma paródia de Hitler em “O Grande Ditador” (1940) e, agora no Brasil, Daniel Filho alcança o mais amplo sucesso explorando o tema sobrenatural do intercâmbio de corpos entre marido e esposa. Num registro digamos, materialista, Kurosawa leva o assunto para a esfera da ação política em "Kagemusha" (1980- ACIMA), em que um sósia, "o duplo" do samurai toma o seu lugar nas batalhas.
Mas é na ficção científica que o esquema do surrogate tem uma ressonância mais próxima ao cerne do gênero, que consistiria em ficcionar em torno da viabilidade técnica de produção consciente e intencional de clones para os indivíduos. Isaac Asimov já fala de uma sociedade em que não existiriam mais contatos físicos ou imediatos: para se relacionar com os outros, as pessoas dispensam a presença física e se limitam a transmitir uma imagem de si. No recente filme “Gamer” (2009 - ACIMA) de Neveldine e Taylor, alguns humanos recebem um implante, para que outras pessoas neles conectadas fiquem à distância experimentando tudo o que de fato vivem, com relativa autonomia. Mais ou menos o que um jogador de videogame faz com os personagens que tenta manipular.
No filme “Os Substitutos”, em cartaz na cidade, baseado numa HQ de Robert Venditti e Brett Weldele, o mundo de 2017 é habitado por robôs (ACIMA) construídos à imagem e semelhança de operadores (ABAIXO) que permanecem em casa, olhando o que eles vêm e fazendo tudo o que eles deveriam ou gostariam de praticar. É, portanto, um discurso sobre a idealização de uma vida por intermédio. Um relato que toca em temas atuais como as questões da identidade e da responsabilidade. É claro que a diferença entre o personagem de Bruce Willis e seu clone vai muito além de um ter cabelo e outro não. Um filme interessante, porque mostra a exploração capitalista dos clones e, ao mesmo tempo, as comunidades rebeldes que não aceitam o seu uso, considerando-o uma espécie de dependência desumanisadora, semelhante ao que as drogas podem causar. Com o detalhe de que esses grupos marginais são manipulados por empresários dissidentes da empresa que "monopoliza" o comércio de substitutos. Tudo permanece equilibrado até que entra em cena o típico herói do gênero: um homem amargo e solitário que geralmente trabalha para o sistema e que, por um motivo afetivo e pessoal resolve virar a mesa, aproveitando a sua proximidade do núcleo que detem o poder.
OS SUBSTITUTOS
Surrogates
gênero fantasia / ficção científica / ação
EUA - 2009 - 88 min
estreia 23/10/2009
distribuição Buena Vista
Direção Jonathan Mostow
Com Bruce Willis e Radha Mitchell