“As coisas não deram muito certo para mim na Vanity Fair, também porque eu era ingênuo a respeito do que significava ser um jornalista em Nova York. Eu tinha assistido filmes como ‘Jejum de Amor’ (“His Girl Friday”, 1949 – de Howard Hawks) e ‘Núpcias de Escândalo’ (“The Philadelphia Story”, 1940 – de George Cukor) e esperava encontrar os corredores da Vanity Fair cheios de senhores elegantes e inteligentes trocando observações pertinentes enquanto bebericavam de suas garrafas de bolso. Na verdade era uma sociedade cheia de regras – muito mais controladora do que a sociedade de onde eu vinha. Existe essa idéia de que os EUA são um lugar extremamente informal onde as pessoas são livres para serem quem elas realmente são. Na verdade, Londres é muito assim, enquanto Nova York não é nada assim. Nova York é muito parecida com o que Londres era há 100 anos, e eu me senti quase como um Austin Powers vindo dos libertários anos 60 e tele-transportado de volta à era vitoriana”.
Na versão hollywoodiana da história, foi preciso uma mudança de tom, como explica o experiente e ousado produtor inglês Stephen Wooley (que realizou vários filmes de Woody Allen): “Descobrimos uma espinha dorsal para a história – um romance – para que além de Young se apaixonar por Nova York, algum personagem da cidade, que gostasse dele, percebesse que a indústria jornalística pode, no fundo, corromper”.
Essa afirmação, aliás, amplia o interesse numa discussão sobre o filme. Tinha que ser uma comédia e Robert Weide, o diretor escolhido (especialista no humor de Groucho Marx e Lenny Bruce) fez uma leitura do protagonista na linha da comicidade ácida. Mas o ator Simon Pegg (ganhador do “Prêmio Peter Sellers” por seu trabalho na TV britânica) o temperou com doses de figuras célebres de Sellers, como o inspetor Clouseau (“A Volta da Pantera Cor de Rosa”, 1975 - de Blake Edwards) e Hrundi Bakshi (“Um Convidado Bem Trapalhão”, 1968, do mesmo diretor). É também interessante estabelecer um paralelo com os personagens típicos de Woody Allen, que combinavam fragilidade existencial e física com uma insistente arrogância intelectual.
1. O título original parodia o nome de um livro publicado em 1937 e que foi um dos grandes best sellers do século 20. Será que a comparação entre o autor daquele que foi, talvez, um dos primeiros do gênero “auto-ajuda” e o personagem central do filme diz alguma coisa?
2. O que enuncia o roteiro sobre a modalidade jornalística hoje denominada “de celebridades” e como coloca a sua vizinhança com o jornalismo cultural? Há algum caso brasileiro semelhante ao do filme?
3. Como mostra o estilo de trabalho na chamada “grande imprensa”, comparado à “imprensa alternativa”, que por aqui já foi denominada de “nanica”? Há alguma crítica nessa apresentação?
4. O filme comprova a opinião do seu produtor, pela qual “a indústria jornalística pode, no fundo, corromper”? No caso, quem seria corrompido por quem: o público, os jornalistas, os "relações públicas" ou os entrevistados?
5. Qual a visão do filme, ou de seus personagens, no que se refere à “massa” dos leitores e das pessoas (artistas, intelectuais e celebridades) que formam o campo de interesse da revista “Sharps”, uma caricatura da Vanity Fair? Nota-se aí algum efeito "narcotizante"?
6. Como descreve os conflitos e as tensões internas de uma publicação industrial. entre as quais ocorre a ascensão profissional do protagonista, em contraponto com os editores e o “publisher”? O conteúdo do que é publicado resulta diretamente da vontade do proprietário da publicação?
7. Que tipo de “parentesco” eles apresentam com outras figuras verdadeiras e fictícias do jornalismo? Como o repórter Hildy Johnson e o editor Walter Burns de “A Primeira Página”, 1974 de Billy Wilder – este também presente em “Jejum de Amor”?
8. Que distância, ou aproximação, estes apresentam com o mundo real do jornalismo?
Espero que as respostas a essas indagações possam ser brevemente aqui publicadas.
Um Louco Apaixonado
How to Lose Friends & Alienate People
2009 - EUA
estréia 27/03/2009
Direção de Robert Weide
Com Simon Pegg, Danny Huston,
Jeff Bridges, Kirsten Dunst, Megan Fox
Jeff Bridges, Kirsten Dunst, Megan Fox
Um comentário:
Olá professor, recebi o endereço da sua análise do "Into the Wild".
Gostei muito da análise. Quando vi o filme, várias foram os pensamentos que me vieram à mente.
Tentarei ver este filme este fim de semana.
Bom fim de semana, até quarta. Bruny Marques.
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