Enquanto Zelito Viana (
Bela Noite Para Voar) ressuscita Juscelino, Ron Howard (
A Troca) revive Nixon. Assim, o público brasileiro pode ver ambos na tela, o médico e o monstro, um em cada filme. A brincadeira com a profissão de JK antes dele entrar para a política se harmoniza aqui com aquilo em que o presidente Watergate se tornou, depois de ter irritado o planeta inteiro com a insistência em continuar com a Guerra do Vietnam. Apesar de todo o horror que sua imagem provocou, faltava mostrá-lo como gente de carne osso, quem sabe até mais humano do que no filme de Oliver Stone. Era assim que ele aparecia na portentosa peça teatral de Peter Morgan, em que Frank Langella se transfigurava naquele político republicano, justamente porque não tinha qualquer física semelhança com ele. Seu trabalho de caracterização interiorizada é notável. Raras vezes visto no cinema, que também vive de semelhanças visuais. No Brasil, por exemplo, ainda que numa linha cômica, poucos conseguiram o que Matheus Nachtergaele obteve com a imagem de Mazzaropi, em
Tapete Vermelho.
Mas, além do trabalho dos atores, o filme vale pela dramaturgia. De um lado, o presidente que quatro anos antes renunciara e, desde então, não pedira desculpas ao povo americano pelo crime que cometera e nem concedera qualquer entrevista. De outro um apresentador inglês de
talk shows que, acima do jornalismo colocava o espetáculo e seus dividendos financeiros. Exatamente por isso, foi escolhido por Nixon para cuidar desta que seria a primeira entrevista após a renúncia. Ainda que esperto e experiente, o radialista precisaria de muita coragem e força dialética para evitar que a entrevista se transformasse numa conversa amena, inofensiva para o matreiro político aposentado. E, assim, não frustrasse a incalculável audiência que conquistou com aquele programa: eram 400 milhões de pessoas a espera de uma confissão.
Leia a seguir o comentário sobre o filme no qual JK é personagem principal.
Frost / Nixon
2009 – EUA, Inglaterra, França
Estréia 06/03/2009
distribuição Universal
Direção Ron Howard
Com Frank Langella, Michael Sheen,
Kevin Bacon, Janneke Arent
2 comentários:
Professor, adorei a proposta do blog. As críticas são muito interessantes. Muito bem escrito!! Adorei. Vou procurar a crítica referente ao filme " Into the wild" que você escreveu.
Caso você encontre pode encaminhar o link para o meu blog que ainda está em construção, e fala sobre o que o tempo me mostrou e tem também algumas matérias que publiquei.
http://www.osversosdotempo.blogspot.com/
Espero que goste.
Abraços, Bruny. (pos-graduação- jornalismo cultural)
Excelente filme, obrigado pela crítica.
Postar um comentário