terça-feira, 12 de abril de 2011
Oscar Wilde e Leon Tolstoi em filmes de ficção ainda em cartaz em São Paulo
Ainda está em cartaz “A Última Estação”, sobre os últimos dias de Leon Tolstoi - um autor cujos textos deram origem a mais de 150 filmes. Mesmo que a direção de Michael Hoffman não tenha despertado a emoção que o fato histórico mereceria, o roteiro selecionou aspectos da biografia do escritor que ainda provocam discussão nos dias de hoje. Como, por exemplo, a questão dos direitos autorais, que ele e seus companheiros desejavam tornar públicos − contra a vontade da esposa dele, interpretada com a competência de sempre por uma atriz que foi batizada como Ilyena Vasilievna Mironov – mais conhecida agora como Helen Mirren (que ganhou o Oscar por seu papel em “A Rainha” - 2009). Essa desavença permite um duelo de interpretações entre ela e o veteraníssimo Christopher Plummer, no papel de Tolstoi. Mas o grande duelo dramático do filme acontece com o habilidoso Paul Giamatti que faz o papel do principal aliado político de seu marido. Outro dado curioso é o tormento do escritor transformado em celebridade em sua velhice e cuja casa se acha sempre cercada de fotógrafos. Por sua vez, a maior parte de seus colaboradores aparece anotando tudo o que ele diz − como se estivessem elaborando a sua biografia. Infelizmente o diretor caiu na armadilha de criar discussões ruidosas e acaloradas para mostrar o caráter passional do povo russo. Mas ele se salva pelas pitadas de humor ao mostrar as diferenças entre a pessoa do romancista e as idéias que ele defendia. Continua em exibição “O Retato de Dorian Gray” que, mesmo sem ser uma obra prima, apresenta honestamente o texto de Oscar Wilde, o escritor irlandês que tanto marcou a cultura britânica de seu tempo (1854-1900). Além de uma produção cuidadosa, o filme traz atuações corretas como as de Ben Chaplin e Colin Firth. Recentemente o pensador franco-búlgaro Tzvetan Todorov, agora com 72 anos publicou um ensaio chamado de Os Aventureiros do Absoluto, sobre escritores que, como Oscar Wilde, não apenas aspirassem a uma forma de perfeição, mas que tivessem registrado por escrito esse projeto, além de tentar colocá-lo em prática. Para Todorov, o escritor surgiu aos olhos de seus contemporâneos como um “apóstolo da beleza”. E foi após a publicação de Dorian Gray (1890) que Wilde amplificou o seu programa de vida "bela e boa", adotando um bordão proposto por Ibsen: "Seja você mesmo". Como se sabe, por meio de um pacto diabólico, o personagem central se mantém jovem, enquanto o seu retrato pintado a óleo vai envelhecendo. Ou seja, ele não vive a própria vida, mas sim a de seu enganoso reflexo no espelho. A obra é, de resto, um retrato generoso da época vitoriana, apesar da narrativa fantasiosa que, curiosamente, utiliza uma trama sobrenatural para descrever com precisão quase jornalística os hábitos e a atmosfera intelectual daquele período histórico. Se recorresse aos seus escritos dos anos 1970, o próprio Todorov a consideraria o equivalente vitoriano a um conto de fadas.
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Um comentário:
Esta dica sobre o ensaio de Todorov em Wilde já valeu o meu dia. Vou atrás. Vou ver Dorian Gray, mas o clássico com Helmut Berger (1970) não vai ser batido tão facilmente.
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