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domingo, 24 de abril de 2011

Em “Ricky”, o diretor François Ozon desafia rótulos e convenções das platéias

“Ricky” é dirigido pelo francês François Ozon, que gosta muito de brincar com a maneira de estruturar a narrativa. Em “Amor em cinco tempos” (2004), por exemplo, ele literalmente monta um relato de trás para frente, de tal modo que o filme se inicia com um caso de amor chegando ao fim e, em seu encerramento, assistimos ao desabrochar daquela relação. Talvez ali ele estivesse testando a validade de um hábito arraigado no consumo de cinema segundo o qual, não se deve revelar o fim de uma história para não “estragar” a surpresa. Em geral, depois que os enamorados se casam o filme acaba porque perde o interesse, que residia justamente na incerteza, liquidada pela informação de que eles passam a viver felizes para sempre.
Mas, recentemente o “final feliz” tornou-se algo cinematograficamente incorreto e Ozon nos propõe o seguinte quebra-cabeça: começa o filme por um final − não necessariamente pelo momento derradeiro do enredo, mas por um desfecho que o espectador pode situar mentalmente tanto no fim quanto no meio da trama. E para cada uma dessas decisões temos um espetáculo diferente, ainda que os fatos relatados sejam os mesmos: ou seja, uma operária passa a viver com um colega de fábrica, engravida, tem um filho e este manifesta no corpo uma característica não humana. Não vou adiantar qual seja, para não ser acusado de “spoiler”, que é justamente o que o próprio diretor assume ser desde o primeiro fotograma.
Esse contraste entre o estilo realista com que Ozon descreve o cotidiano dos personagens e o advento do extra-ordinário, aliás, é a essência do chamado “realismo fantástico” que chegou a marcar a literatura latino-americana, mais ou menos dos anos 1960 a 1980. A propósito, a escolha do ambiente social dos personagens e dos atores escolhidos para interpretá-los fortalece essa estratégia de estranhamento. Há até um livro de Gabriel Garcia Marques com o título de “Um senhor muito velho com umas asas enormes” – que parece apontar exatamente para um possível futuro do personagem Ricky.
RICKY
estreia 22 04 2011
EUA - 2009 – 90 min. – 12 anos
Gênero Drama / antasia / suspense
Distribuição California
Direção François Ozon
Com Alexandra Lamy, Sergi López, Mélusine Mayance
COTAÇÃO
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B O M

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