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domingo, 2 de maio de 2010

Em cartaz a melhor comédia de Woody Allen nesta década: “Tudo pode dar Certo”.

“Tudo pode dar Certo” é o título brasileiro deste último filme de Woody Allen. Mas, de fato é uma afirmação enganosa, a não ser no cinema deste humorista que é capaz de explorar o lado cômico de qualquer coisa. Como é o caso deste protagonista que, novamente, representa uma projeção explícita da sua própria personalidade. Desta vez, um tipo intragável, egocêntrico, autodestrutivo e desesperançado, que se considera um gênio incompreendido, por ter sido indicado em vão para o Prêmio Nobel de física. Depois de abandonar a profissão, bombardear o próprio casamento e tentar o suicídio, ele vive de dar aulas particulares de xadrez para crianças. É assim que o encontramos envelhecendo em Manhattan, interpretado pelo cômico de TV Larry David, das séries “Seinfield” e “Segura a Onda”. O personagem é uma espécie de reencarnação de Groucho Marx (Nova York, 1890-1977) que, nos filmes do grupo “Os Irmãos Marx”, sempre vivia cômico um tipo cujo maior prazer era ridicularizar verbalmente a todos, inclusive amigos e alunos.

Sendo ele mesmo um instrumentista amador, para Woody Allen a música é um universo precioso e carregado de significação. Assim, ao lado da 5ª Sinfonia de Beethoven, alguns acordes de Stan Getz tocando bossa nova e uma canção de Fred Astaire merecem menção na trilha sonora. A presença mais destacada, porém, é ouvida antes do início do filme, junto com os créditos de abertura – que consistem apenas em letras brancas sobre a tela negra. Trata-se de “Hello, I must Be Going”, o primeiro número musical cantado por Groucho, no segundo filme dos Irmãos Marx, “Os Galhofeiros” (Animal Crackers) de 1930. A música é tão identificada com o cômico que seu título coincide com o da sua autobiografia e foi a escolhida para abrir o lendário recital que ele fez no Carnegie Hall em 1972. Veja a cena no You Tube, por meio do seguinte link:
http://noolmusic.com/youtube_videos/groucho_marx_-_hello_i_must_be_going.php

Groucho Marx é, de fato, a matriz para a criação do rabugento personagem vivido por Larry David. Woody Allen já tinha homenageado Groucho, posando como ele para a capa da revista “Vanity Fair” em 1983 e principalmente em seu musical “Todos Dizem Eu Te Amo”. Há uma cena no filme de 1996 em que os atores se vestem com a casaca e o bigode pintado típicos daquele comediante, para dançarem ao som de “Hooray for Captain Spaulding”, também de “Os Galhofeiros”. Em 1972, Woody Allen escreveu o que pensava dele, nas notas do disco “An Evening with Groucho”, com gravação do seu show de retorno no Carnegie Hall:
“Há alguns anos atrás, depois de uma infância de preocupação com a comédia, que me levou a observar os estilos de todos os grandes comediantes, eu cheguei a conclusão que Groucho Marx era o melhor comediante que os Estados Unidos já produziram. Agora eu estou mais convencido que nunca. Não consigo pensar em outro comediante capaz de combinar uma concepção totalmente física com um ataque verbal do mesmo calibre. Ele é simplesmente único, do mesmo modo que Picasso ou Stravinsky. E eu acredito que seu desrespeito ultrajante e pouco sentimental pela ordem será igualmente engraçado no próximo século”.
Como uma lâmina sempre afiada, o humor verbal de Groucho não perdoava nada e ninguém. Mas essa esperteza era invariavelmente neutralizada em cena pela estupidez de Chico Marx e pela inocência de Harpo Marx. De maneira análoga, em “Tudo pode dar Certo”, o intelectualmente refinado, pretensioso e ranzinza ex-cientista é derrubado pela ingenuidade quase infantil de uma garota interiorana, cuja vida se cruza por acaso com a dele. O papel é de Evan Rachel Wood (“Across the Universe”), mas a comicidade se amplia com a presença de Patricia Clarkson (“Vicky Cristina Barcelona”), fazendo a mãe que aparece para resgatá-la do físico que quase ganhou o Nobel (de melhor filme, como diz a filha). Ele se diferencia das demais figuras do filme porque, volta e meia, se dirige para a câmera e dialoga com os espectadores. Talvez brechtiano, esse recurso de afastamento garante um mínimo de aproximação conosco, que afinal estamos ali por causa dele. Pelas mãos habilidosas de Woody Allen, esse homenzinho insuportável ganha uma sobrevida ao se relacionar com o essencial da paisagem humana de Nova York, ou seja, a imprevisibilidade dos encontros e relacionamentos. Nesse caos urbano, ele se refugia da angústia e reencontra a graça de viver, permitindo que o filme termine melhor do que começara e obedecendo à máxima contida no título original “Whatever Works”, isto é, “Qualquer coisa que funcione”.

TUDO PODE DAR CERTO
(Whatever Works)
estréia 30 04 2010
EUA / França - 2009 – 90 min. - 12 anos
Gênero Comédia / drama
Distribuição: California filmes
Direção Woody Allen
Com Larry David, Patrícia Clarkson, Lyle Kanouse

COTAÇÃO
* * * *
Ó T I M O

3 comentários:

Paloma Rodrigues disse...

Eu amei esse filme! Estava sentindo falta desse lado do Allen.
Abraços.

Celina Bodenmüller disse...

Oi, Luciano, como vai?
Meu nome é Celina, tenho uma livraria na Vila Clementino (www.livrariapanapana.com.br). Matias José Ribeiro me deu seu endereço de e-mail. Mandei uma mensagem para você ontem, mas não sei se foi.
Quero convidar vc a se unir a um grupo de pessoas no próximo dia 21/05 - sexta-feira - 20h. O encontro será numa residência, na Barra Funda. Mensalmente este grupo se reúne, definimos um tema e chamamos pessoas da área. Já tivemos alguns encontros, com convidados que mostraram trabalhos bem bacanas. Entre comidinhas e bebidinhas, fazemos e revemos amigos. No dia 21 o tema será música de cinema. Seria muito bom ter você conosco. É necessário confirmar presença, aí eu mando o endereço. Aguardo seu retorno, torcendo muito por sua vinda. Abraços, Celina.
11 9230 8955 celina.muller@terra.com.br

Celina Bodenmüller disse...

Em tempo: também adorei este filme!