Encontre o que precisa buscando por aqui. Por exemplo: digite o título do filme que quer pesquisar

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"Guerra ao Terror" contundente manifesto anti militarista por meio do suspense

Em Guerra ao Terror, sob o sol incandescente do Iraque, um homem enverga uma armadura que parece construída com o casco de um tanque blindado. Seus dedos trabalham nervosos para desarmar um artefato terrorista. Em volta e à distância, os soldados se protegem e apontam suas armas para os cidadãos, cada um deles um terrorista em potencial. Há um traço de Roma Cidade Aberta (Rosselini – 1945) no DNA deste Guerra ao Terror, só com o sinal inverso. Em vez dos nazistas agredindo os romanos, temos os ocupantes ocidentais do Iraque aterrorizados pelos nativos que não aceitam o fim da guerra e espalham armadilhas explosivas por todo o lado. A história é escrita por Mark Boal − o mesmo roteirista de No Vale das Sombras (2007) dirigido por Paul Haggis que, até este Guerra ao Terror, era o mais contundente libelo anti-militarista feito pelo cinema nos Estados Unidos, após o 11 de setembro. Um militar aposentado investigava a morte do filho que acabara de voltar da guerra no Iraque.
Se no filme de 2007 o gatilho da trama era o mistério, agora a palavra de ordem é o suspense. Suspense e mistério − dois pólos opostos, como ensinava Hitchcock. Um dos exemplos que ele gostava de dar, aliás, era exatamente o da bomba prestes a explodir: qualquer movimento equivocado pode detonar o explosivo. Estrelado por Jeremy Renner (abaixo), essa incerteza percorre por inteiro o filme de Kathryn Bigelow, que vai mostrando horrores a cada cena mais insuportáveis.
Não há qualquer discussão política ou ideológica em Guerra ao Terror. E isso permite que possa ser visto como um mero filme catástrofe. Que catástrofe? O maior desastre capaz de acontecer com o ser humano, que é justamente a perda de sua humanidade. A guerra teoricamente já acabou, e os protagonistas são soldados cuja missão é desativar as minas e os torpedos que os rebeldes deixam para arrebentar na cara dos invasores ingleses e americanos. Mais técnicos (ou lixeiros) do que guerreiros, eles lidam com o pior que pode existir num conflito militar, que é o medo elevado à sua expressão mais aguda: o pavor que se encontra exposto a cada centímetro quadrado daquele território. O filme é todo desenvolvido a partir do ponto de vista deles.

Nem precisava a produção ter contratado os famosos Ralph Fiennes, David Morse e Guy Pearce (acima) para reforçar o elenco. O personagem de Jeremy Renner que concorre ao Oscar exprime no rosto o drama todo do filme. Ele encarna sozinho e por inteiro uma das supremas contradições da nossa espécie que é a obrigatória convivência da racionalidade com a loucura. Só uma personalidade doentiamente desprovida de qualquer receio pode se concentrar na lógica deste quebra-cabeça que é uma bomba relógio construída por um terrorista. Enquanto isso, num sentido contrário, o roteirista Mark Boal e a diretora Kathryn Bigelow vão armando a verdadeira crueldade do filme, que estoura como petardo na reflexão final de Guerra ao Terror.

GUERRA AO TERROR
The Hurt Locker
Direção Kathryn Bigelow
EUA - 2008 – 131 min
estreia 05/ 02/ 2010
Gênero Guerra/Ação
Distribuição: Imagem Filmes
Com Jeremy Renner, David Morse,
Guy Pearce e Ralph Fiennes

Nenhum comentário: