Numa entrevista para O Estado de São Paulo, o diretor Pablo Larraín se mostra bravo com os críticos que reclamaram da ausência de fundamentação psicológica para o personagem. Defende-se com um clichê revelador dos fundamentos ideológicos da elaboração do roteiro, tachando o ataque de “leitura burguesa” do filme. O protagonista foi construído mais ou menos como se faz atualmente nas graphic novels em quadrinhos, nas quais não há tempo e nem espaço para aprofundar as origens e intenções dos personagens. Lacônico, quase como uma figura de cinema mudo, ele se define pela ação e, assim, adquire um valor quase alegórico. Representa o povo do Chile no que ele tinha de pior, aceitando a passivamente a ditadura e assimilando com voracidade as mercadorias produzidas pela indústria da cultura norte americana, como o blockbuster com Travolta (na foto abaixo). Simboliza toda uma nação colonizada e embrutecida, que se entrega aos milicos e aos sonhos de consumo destinados à manutenção do sistema.
Esperamos que essa linguagem típica dos primeiros discípulos da Escola de Frankfurt esteja mais ao agrado de Dom Pablo Larraín. Com os prêmios obtidos por “Tony Manero”, o segundo título da sua curta carreira na direção, ele deve estar almejando um posto na nomenclatura internacional do cinema – ainda que o seu primeiro filme (“Fuga” – 2006) também não tenha sido aprovado plenamente pela crítica chilena. Somente o ator Alfredo Castro foi elogiado sem restrições. Apesar de sua intensa atuação em teatro, ele é cinematograficamente perfeito, trabalhando com concisão e economia de recursos. Tome-se como exemplo a cena em que ele se inscreve no concurso da TV e sufoca de vergonha ao confessar sua idade e a situação de desempregado. Dá até raiva, mas, naquela passagem a excelência do intérprete nos obriga a sentir compaixão por aquele repulsivo assassino, sem qualquer caráter, uma versão maligna e vampiresca de Macunaíma.
Um comentário:
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