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segunda-feira, 20 de abril de 2009

“Paulo Gracindo, o Bem Amado”: diversas vidas e estilos de viver numa só existência.

O documentário abre com material de arquivo, mostrando imagens de Maceió nos anos 20, sob uma narração em primeira pessoa. De início imagina-se que a voz seja do próprio Paulo Gracindo (1911-1995), mas, apesar da semelhança, logo se percebe que ela pertence a Gracindo Jr, o produtor e diretor do filme (foto abaixo). Essa confusão resultará até benéfica ao entendimento do documentário, porque, no meio dele o filho confessa que a sua persona por várias vezes se confundiu com a do pai. Além das ocasiões em que os dois viverem o mesmo personagem, como na novela “O Casarão” (1976), de Lauro Cesar Muniz, ao longo da carreira, o mais jovem precisou se esforçar para afirmar sua individualidade artística e definir-se como identidade autônoma, mais do que mera extensão do mais velho.
Entre os materiais brutos empregados na confecção deste memorial, encontra-se muita coisa de Paulo Gracindo interpretando direto para a câmera, como o poema “Cântico Negro”, de José Régio. Ou a canção “Não Quero Ver Você tão Triste Assim”, de Roberto Carlos, que recita em dueto com o cantor. E depoimentos bem escolhidos de observadores privilegiados da alma desse ícone da radiodifusão brasileira em sua empolgante trajetória: aqueles com quem contracenou, como Lima Duarte, José Wilker, Bibi Ferreira e Fernanda Montenegro. E aqueles que o dirigiram ou escreveram para ele: Daniel Filho e Arnaldo Jabor, além de outros diretamente do arquivo, como os geniais formatadores da teledramaturgia Walter Avancini e Dias Gomes.
É justamente nessa “escalação” de vozes que Gracindo Jr. voa mais alto do que a saudade pode nos conduzir, mostra um documentarista de verdade. Por exemplo: da entrevista com Mauro Alencar, estudioso apresentado como “doutor em teledramaturgia”, ele aproveitou apenas as falas em que aquele pesquisador se mostra um fã entusiasmado do intérprete de Odorico Paraguaçu, sem sombra de análises talvez semiológicas. E assim caminha o roteiro, fazendo interagir retalhos de lembranças emotivas, com informações preciosas sobre a história da radiodifusão no Brasil.
Sim porque, antes de brilhar nas novelas de TV e no teatro, nos anos 40, Paulo Gracindo foi apresentador de programas de auditório na Rádio Nacional (foto acima). Por meio desse personagem único e das imagens dos trechos selecionados de seu trabalho, percebe-se uma continuidade cultural e estética entre os dois veículos. Assim como se revela a severa ruptura tentada pelo cinema. Parece até que são atores diferentes: um nas novelas e outro nos filmes de Glauber Rocha, Leon Hirzman e Arnaldo Jabor.
Paulo Gracindo o Bem Amado
Brasil - 2007
Estreia 01/05/2009
Direção e Roteiro de Gracindo Jr
Documentário

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