Eduardo Coutinho só tinha 21 dias para rodar um longa-metragem. Decidiu, então, documentar o que um grupo de teatro de larga experiência cênica e profissional poderia fazer com o texto teatral "As Três Irmãs" de Tchekhov, naquele período de três semanas. Para tanto, os atores só souberam qual seria o texto no primeiro dia de filmagens. Coutinho teve o cuidado de deixar claro que estava interessado naquela experiência e não numa montagem acabada. Queria observar o caminho e não na chegada em si. Pode não ter sido exatamente esta a intenção do documentarista. Mas é, de fato, tudo o que vemos em "Moscou", seu último trabalho, programado para lançamento nos cinemas em julho próximo: a câmara acompanha os mineiros do Grupo Galpão, fundado há 25 anos, nesta ocasião dirigidos por Enrique Diaz. O resultado é um apanhado de fragmentos dos workshops, laboratórios, improvisações e ensaios de uma peça que talvez nunca seja encenada e apresentada ao público. Este é o 11º longa-metragem de Eduardo Coutinho, autor de "Cabra Marcado para Morrer" (1964-1984), "Santo Forte" (1999), "Edifício Master" (2002), "Peões" (2004) e "O Fim e o Princípio" (2005).
Às vezes, os exercícios se mostram surpreendentes, provavelmente para os que não se acham familiarizados com as rotinas de preparação dramática para o palco. Algumas falas ditas pelos atores olhando para a câmara, parecem depoimentos ou entrevistas - que são recursos estilísticos e táticos típicos do gênero documentário. São, no entanto, apenas exercícios em que os intérpretes procuram elementos para construir os personagens dentro de seus estoques pessoais de lembrança afetivas. Na maioria das tomadas, nada acontece de intenso ou extraordinário. Nenhuma revelação ou olhar inusitado sobre a aventura da encenação dramática, da imitação poética da existência, ou da plasticidade da memória, como vimos em "Jogos de Cena" (2007). Quem esperar de "Moscou" um espetáculo daquele nível pode se decepcionar.
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