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sábado, 18 de abril de 2009

“Presságio” vai além de mero filme-catástrofe e propõe uma experiência mística

Este é um filme difícil de ser comentado de modo analítico, sem que se revele ao leitor a surpresa que provoca em sua meia hora final. Pensando bem, no entanto, ele vale menos como espetáculo de suspense do que como exercício de construção ficcional de transposição de uma narrativa para outra, que flui de modo paralelo à original. Ou seja, como a curiosa e inventiva elaboração de uma paródia, no sentido nobre da expressão, que vem do grego clássico: uma “ode paralela”.
Trata-se de uma produção complexa, cara e ambiciosa, dirigida pelo mesmo Alex Proyas, que em 2004 fez “Eu, Robô”, baseado no célebre livro de Isaac Asimov. Afastada a cautela inicial, adianto que o texto aqui parodiado é o Apocalipse de São João, associado ao livro de Ezequiel, do Antigo Testamento, tal como foi interpretado pelo orientalista Michael S. Heiser. Segundo ele, a célebre roda vista pelo profeta Ezequiel era uma espaçonave e os seres que nela navegavam eram querubins, isto é, anjos do céu. No filme (fotos acima e abaixo), eles lembram os anjos de Wim Wenders (“Asas do Desejo” – 1987), antes de se revelaram como seres de pura luz.

Na trama, Nicolas Cage é um viúvo, professor de astrofísica que, logo de início, vemos discutindo com os alunos sobre o que chama de "determinismo" em confronto com o "acaso", como elemento gerador da vida humana. E declara não acreditar no criacionismo, ou seja, na idéia de que o áparecimento do universo seja fruto da vontade divina. Admite a possibilidade de vida em outros planetas, mas garante ao filho de oito anos que, no espaço celeste, só existem as estrelas. Não o paraíso, onde o garoto supõe que sua falecida mãe se encontre.
O menino estuda numa escola em que, há 50 anos, os alunos enterraram uma “cápsula do tempo”: uma caixa de metal contendo desenhos referentes ao que eles imaginavam para o futuro, que é hoje o nosso tempo presente. Mas uma das crianças preencheu a página apenas com números referentes às datas, os locais e a quantiade de pessoas mortas nas catástrofes acontecidas aconteceram nas últimas cinco décadas. Ele conclui que algumas das tragédias previstas no documento (foto acima) ainda não ocorreram e que o planeta será destruído em poucos dias.
Apesar dessa história parecer um enredo de ficção científica, é toda construída sobre temas teológicos, como o do Juízo Final. Quem decidir partilhar dessa experiência mística com os personagens verá que a trama parece colocar em discussão a questão do processo de “eleição” daquelas almas a serem salvas e, portanto, merecerem a vida eterna no paraíso divino.
Os personagens de "Presságio" são todos pessoas de bem, honestos e bem intencionados. Mas apenas alguns, pouquíssimos serão escolhidos pelos enviados celestiais. Aos demais (fotos abaixo), caberá perecer sob as bestas do apocalipse, numa triste antecipação do inferno. Como se os roteiristas, tivessem consultado o seguinte trecho da Bíblia:

Somos salvos pela misericórdia de Deus; não por obras ou qualquer outra coisa que fizermos para merecer a salvação (Tt 3.5; Ef 2.8,9). Até a fé mediante a qual recebemos a salvação, vem de Deus. Portanto, nem igreja, nem batismo, nem conduta ou qualquer outra coisa pode salvar o homem.”
Os eventos finais dão continuidade à discussão acima citada do professor com os alunos sobre a idéia de “pré-determinação”, em contronto com a de “livre-arbítrio”: Santo Agostinho versus São Tomás de Aquino. Mas há aínda uma surpresa nas cenas derradeiras, protagonizadas pelo filho do professor (foto abaixo). Elas vem acompanhadas de uma breve e comovente defesa sobre a "comunhão dos espíritos", que os católicos designavam pela palavra grega “koinonia”. Encerro por aqui, para não ser acusado de “spoiler”, por qualquer comentário a mais. Poderei externar a minha visão a respeito, numa resposta a quem se manifestar no blog.

Presságio
Knowing
2008 – EUA
estreia 10/04/2009
Direção de Alex Proyas
Com Nicolas Cage, Rose Byrne,
Adrienne Pickering, Nadia Townsend

6 comentários:

Anônimo disse...

muito bom o texto :)
fiz um trabalho sobre esse filme e não achei nada em nenhum site, ma achei aqui, parabéns.

Anônimo disse...

Muito bom o texto.

Esse filme lembrou-me uns e-mails que recebi nos anos 90 com uma teoria sobre ets na biblía. (algo do tipo "Eram os Deuses astronautas", mas com outras teorias mais próximas ao filme).

No texto você cita o orientalista Michael S. Heiser. Entretanto, numa pesquisa não encontrei muitas referência em português sobre esse autor. Você poderia me indicar algo?

Grato desde já.

Wesley Tavares disse...

nada a ver essa do nicolas cage ter ido pro inferno na hora que ele não foi o 'escolhido', se não o pai dele iria com os 'anjos' e o cage ficaria na Terra.
esse filme ele é bem explicado até a parte que aparece várias naves saindo da Terra, então foram salvas várias pessoas e não só os meninos, todos que foram salvos receberam as coordenadas? então teve várias 'lucindas' pelo mundo? essa é a parte que eu bato cabeça. Apesar que quando eles chegam na árvore da vida tem muitas naves, mas só tem eles de humanos.

Chris disse...

Não existe arrebatamento secreto ou antecipação do inferno....Deus seria um sádico ...pelo amor

Juan Rossi disse...

Apesar das péssimas críticas, tenho visto maus filmes pela Netflix de ficção científica no geral - alguns de qualidade mediana até boa - e este, mais um apocalíptico desenrolar tragicamente finalizado- dos EUA -, não é comum! As cenas finais, incluindo desastres, são estonteantemente bem feitas - sem deixar nada a dever às películas do gênero - e ainda com evidentes vantagens. Prende-nos em seu mistério do início ao fim, ressaltando algo não completamente cientificista no modo de conduzir sua trama. Vide nossa atual pandemia, resposta aos estragos que temos perpetrado ao planeta?? E, sim, embora seja coerentemente quase um ateu, declaro-me assustado com a veemência abismal que esta praga hodierna nos propõe, quiçá não mero acidente (aliás, proposição das aulas do astrofísico deste filme: determinismo versus aleatoriedade nos eventos totais universais). Faz-nos, apesar de toda verossimilhança possível metafísica por demasia - ou, diríamos, crente em seu cerne do apocalipse final -, ressignificar sobre o que é a vida? Afinal, mero acaso ou imperioso movimento sem freio das partículas que nos constituem? (E, nisto tudo, Contato, como este filme, é perturbador e eficaz no interesse do início ao fim). Aparte destas observações extra-película minhas, Presságio ainda é bom pelo feitio primoroso como ficção, como terror sobrenatural, como junção de crenças laicas e como uma flecha que nos acerta e esmaga nossas certezas - como a Covid-19 também tem sido... Merecida nota 9, sem dúvida!

Unknown disse...

As outras naves, levaram espécies de animais, frutas, árvores e demais ingredientes necessários a vida! Uma vez depositados no novo mundo, as naves se vão...