Chega às telas o personagem Thor, 45 anos depois de seu lançamento por Stan Lee e Jack Kirby, na revista “The Marvel Super Heroes”. O problema de adaptar quadrinhos para o cinema quase sempre esbarra com a especificidade dessas duas mídias, cada uma com seu público, suas condições de produção e consumo. Neste caso, também conta o fato desse herói não ter se originado no contexto dos comics, mas na antiga mitologia nórdica. Nos anos 1960, aliás, a editora Marvel foi considerada por críticos de prestígio “a matriz da mitologia do século XX” e Stan Lee chegou a ser apelidado de “o novo Homero”, por ter desenvolvido as sagas de figuras épicas como o Homem Aranha, o Quarteto Fantástico, o Homem de Ferro, o Incrível Hulk, o Surfista Prateado e este, o Poderoso Thor.
Uma vez Stan Lee declarou: “Eu admiro Shakespeare acima de qualquer coisa” e agora ele tem Kenneth Branagh − que já adaptou para o cinema quatro tragédias daquele autor − dirigindo o deus do trovão com a grandiosidade que ele merece. E o diretor de “Henrique V” (1989) e “Hamlet (1996) obteve o resultado que quase ninguém atingira antes, que é o da integração quase perfeita entre os universos do cinema e da HQ. Um bom gibi é capaz de nos transportar para outros mundos, porque mergulhamos nele com o senso crítico desligado e aceitando todas aquelas fantasias como coisas plausíveis. Já o cinema pede personagens dotados de conflitos internos, mas, se o filme exagera na densidade da dramaturgia, corre o risco estragar tudo.
Foi o que quase aconteceu, por exemplo, com “Batman, o Cavaleiro as Trevas”, de Christopher Nolan (2005). Apesar do sucesso de público e crítica, ele aprofundou com seriedade os aspectos psicológicos do herói em crise de consciência e do vilão Coringa pintado como um bandido muito próximo de um psicopata real. Por sua vez, nas mãos de Alain Chabat, “Asterix & Obelix: Missão Cleópatra” (2002) perde todo o encanto ao ser transformado de comédia gráfica de época numa chanchada, um besteirol sem um pingo de elegância ou inteligência.
Ou seja, a melhor adaptação é a que produz um efeito de envolvimento na narrativa, equivalente ao que uma revista em quadrinhos pode provocar, por meio de palavras e figuras. Em primeiro lugar, nem tudo precisa ser explicado porque, entre um quadro e outro, a imaginação do leitor complementa as sugestões oferecidas pelo desenho. Do mesmo modo, em “Thor” tudo se encaixa sem necessidade de explicações racionais, porque afinal estamos diante do filho de Odin que baixa em nosso planeta e se envolve com os humanos. É justamente dessa situação, na qual um ser divino se encontra partilhando o rés-do-chão com os simples mortais, que Branagh retira a comicidade necessária para que o filme não deixe a impressão de levar-se demasiadamente a sério: as pomposas falas de Anthony Hopkins, no papel de Odin, ficam amenizadas em confronto com o linguajar, ora técnico ora prosaico, da cientista vivida por Natalie Portman.
Por outro lado, no cinema os personagens não resistem àquela alta definição típica dos gibis e, assim por exemplo, o vilão Loki que é desenhado nos quadrinhos como um demônio do mal aparece no cinema cheio de dúvidas interiores, sublinhadas pelos olhos tristes do ator Tom Hiddlestone. Aliás, o restante do elenco é de primeira: além do ator trágico sueco Stellan Skarsgård, temos o simplório Clark Gregg, curiosamente vivendo pela quinta vez o agente Coulson da SHIELD − uma espécie de FBI do mundo Marvel − em filmes com diferentes personagens de Stan Lee. Finalmente, cumpre alertar que os acertos de “Thor” nada têm a ver com o discutível recurso do 3D. Como diz o cartunista Allan Sieber, “os caras pegaram o cinema, que é uma experiência de você entrar na tela, dentro da história, e inverteram: agora é a história que invade você.”
Uma vez Stan Lee declarou: “Eu admiro Shakespeare acima de qualquer coisa” e agora ele tem Kenneth Branagh − que já adaptou para o cinema quatro tragédias daquele autor − dirigindo o deus do trovão com a grandiosidade que ele merece. E o diretor de “Henrique V” (1989) e “Hamlet (1996) obteve o resultado que quase ninguém atingira antes, que é o da integração quase perfeita entre os universos do cinema e da HQ. Um bom gibi é capaz de nos transportar para outros mundos, porque mergulhamos nele com o senso crítico desligado e aceitando todas aquelas fantasias como coisas plausíveis. Já o cinema pede personagens dotados de conflitos internos, mas, se o filme exagera na densidade da dramaturgia, corre o risco estragar tudo.
Foi o que quase aconteceu, por exemplo, com “Batman, o Cavaleiro as Trevas”, de Christopher Nolan (2005). Apesar do sucesso de público e crítica, ele aprofundou com seriedade os aspectos psicológicos do herói em crise de consciência e do vilão Coringa pintado como um bandido muito próximo de um psicopata real. Por sua vez, nas mãos de Alain Chabat, “Asterix & Obelix: Missão Cleópatra” (2002) perde todo o encanto ao ser transformado de comédia gráfica de época numa chanchada, um besteirol sem um pingo de elegância ou inteligência.
Ou seja, a melhor adaptação é a que produz um efeito de envolvimento na narrativa, equivalente ao que uma revista em quadrinhos pode provocar, por meio de palavras e figuras. Em primeiro lugar, nem tudo precisa ser explicado porque, entre um quadro e outro, a imaginação do leitor complementa as sugestões oferecidas pelo desenho. Do mesmo modo, em “Thor” tudo se encaixa sem necessidade de explicações racionais, porque afinal estamos diante do filho de Odin que baixa em nosso planeta e se envolve com os humanos. É justamente dessa situação, na qual um ser divino se encontra partilhando o rés-do-chão com os simples mortais, que Branagh retira a comicidade necessária para que o filme não deixe a impressão de levar-se demasiadamente a sério: as pomposas falas de Anthony Hopkins, no papel de Odin, ficam amenizadas em confronto com o linguajar, ora técnico ora prosaico, da cientista vivida por Natalie Portman.
Por outro lado, no cinema os personagens não resistem àquela alta definição típica dos gibis e, assim por exemplo, o vilão Loki que é desenhado nos quadrinhos como um demônio do mal aparece no cinema cheio de dúvidas interiores, sublinhadas pelos olhos tristes do ator Tom Hiddlestone. Aliás, o restante do elenco é de primeira: além do ator trágico sueco Stellan Skarsgård, temos o simplório Clark Gregg, curiosamente vivendo pela quinta vez o agente Coulson da SHIELD − uma espécie de FBI do mundo Marvel − em filmes com diferentes personagens de Stan Lee. Finalmente, cumpre alertar que os acertos de “Thor” nada têm a ver com o discutível recurso do 3D. Como diz o cartunista Allan Sieber, “os caras pegaram o cinema, que é uma experiência de você entrar na tela, dentro da história, e inverteram: agora é a história que invade você.”
THOR
EUA, 2011, 114 min, 10 anos
estreia 29 04 2011
gênero fantasia / quadrinhos / mitologia
Distribuição Paramount
Direção Kenneth Branagh
Com Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins,
Stellan Skarsgård,Tom Hiddlestone
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
EUA, 2011, 114 min, 10 anos
estreia 29 04 2011
gênero fantasia / quadrinhos / mitologia
Distribuição Paramount
Direção Kenneth Branagh
Com Chris Hemsworth, Natalie Portman, Anthony Hopkins,
Stellan Skarsgård,Tom Hiddlestone
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO
Um comentário:
Dois fimes em cartaz com Natalie Portman, fora O Cisne Negro. Muito bonita, muito talentosa, e muito fominha.
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