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sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Os Agentes do Destino" transforma a ficção científica em discussão metafísica

Autor de O Vingador do Futuro, O Homem Duplo, O Homem do Castelo Alto e outras obras primas do gênero chamado de “ficção-científica”, o americano Phillip K. Dick morreu em 1982, aos 52 anos, logo após conquistar a estabilidade financeira proporcionada pelo sucesso de Blade Runner – O Caçador de Andróides. Recorrendo ao gênero policial como um terreno de comparação, em termos de importância, seu trabalho se aproximava mais de Dostoievsky do que de Agatha Christie. Mais do que “científico” e baseado num conto de Dick, o filme Agentes do Destino oferece um suspense metafísico e meta-linguístico, ao colocar em pauta a questão do livre-arbítrio, na vida e na dramaturgia.
Matt Damon interpreta um jovem candidato ao Senado americano, com grande possibilidade de chegar à presidência. Após uma eleição, ele percebe que um grupo de pessoas interfere em sua vida para afastá-lo da mulher (Emily Bunt – O Lobisomen) – uma bailarina destinada a se tornar a maior coreógrafa do país – e considerada por ele o amor de sua vida. Os responsáveis pela intervenção são indivíduos com aparência de policiais e dotados de poderes mágicos que ele descobre serem anjos, ou emissários do divino, encarregados de zelar pelo cumprimento dos planos que Ele desenhara para os humanos. A cada “acidente” ou falha na “programação”, esses agentes entram em cena para promover uma “manipulação”, com vistas ao “ajustamento” mencionado no título original. Por coincidência esses conceitos e ações fazem parte de uma determinada corrente da semiótica atual.
Para complicar essas tarefas, é preciso que os humanos continuem acreditando no princípio do livre arbítrio. Um desses seres sobrenaturais é interpretado por Terence Stamp (Teorema e Superman II) e explica que a liberdade dos mortais existe sim, ainda que dentro de limites impostos pela vontade divina. Nesse sentido, ele apresenta uma irônica interpretação da história, pela qual os homens se acham sempre em conflito com o projeto do criador. Assim, Ele teria criado a “Pax Romana” que foi anulada pelos bárbaros, dando origem aos mil anos da “Idade das Trevas”. Mais tarde, deu-nos a Renascença que a humanidade estragou com o Absolutismo. Ao Iluminismo se seguiu o “Terror”, a “belle époque” foi encerrada ela Primeira Guerra e assim por diante.
Para o herói do filme em particular, o amor só lhe seria permitido “em pequenas doses”, porque o relacionamento com uma mulher que lhe bastasse afetivamente seria letal para o desenvolvimento de sua trajetória política. Nesse ponto, aliás, parece ficar explicada a importância do celibato para alguns líderes e sacerdotes. A novidade é que a trama procura mostrar as coisas do lado feminino: se aquela futura coreógrafa se casasse com o presidente, terminaria a carreira ensinando balé para crianças. Por essa brecha envereda toda a carga romântica da história que, por conta da sua diminuta dosagem, funciona aqui como um saboroso tempero para a narrativa. Como do ponto de vista da ação dramática, só interessam os personagens capazes de escolher entre este ou aquele caminho, o dilema dos agentes celestiais passa ser, então, o mesmo do roteirista George Nolfi (Ultimato Bourne – 2007), em seu primeiro trabalho como diretor.

Ele recorre, então, à idéia exposta por outro agente segundo a qual nem mesmo os desígnios celestiais são imutáveis e existem resíduos de antigas programações que se transformaram ao longo do tempo. Em outras palavras, até destino muda de idéia. O fato é que não há cena sequer em que o personagem de Matt Damon passe sem ser levado a tomar uma decisão, ou seja, absolutamente todos os caminhos do roteiro se acham nas mãos do protagonista, como se ele estivesse em constante batalha contra o “deus ex machina”. E nessa guerra quem vence são o saudoso Phillip K. Dick e o promissor roteirista George Nolfi.



OS AGENTES DO DESTINO
The Adjustment Bureau
estreia 13 05 2011
EUA, 2011, 106 min, 12 anos.
gênero ficção científica / fantasia
Distribuição Paramount
Direção George Nolfi
Com Matt Damon, Emily Bunt, Terence Stamp
COTAÇÃO
* * * *
ÓTIMO

4 comentários:

Enaldo Soares disse...

Nossa, adorei. Eu vi Blade Runner 26 vezes e é o meu preferido de todos os tempos. Este Agentes do Destino parece ser o filme que mais me despertou o interesse no corrente ano. É uma Philip Dick ter morrido tão jovem. Acho que falta gente para escrever temas muito interessantes para o cinema.

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Oi, Luciano!

Sério que esse filme convence assim? Estou quase mudando de ideia e pensando em vê-lo. Vi o trailer um par de vezes e ele me pareceu uma boa porcaria. Agora, "Blade Runner" é genial. Se há algo dele em "Agentes do destino", então parece que vale a visita.

Como vai a vida, Luciano?
Bjs e até mais!
Dani

PS: Mudei de ideia sobre "Cópia Fiel" (culpa da Juliette Binoche, que me fez voltar ao cinema). Escrevi sobre ele no www.ofilmequeviontem.blogspot.com. Se quiser, dá uma passada lá.

Tullio Dias disse...

Boa.

Ainda não conferi o Blade Runner (e acho isso um tremendo disparate para alguém que é editor de um blog de cinema há três anos), mas assisti os outros filmes baseados em contos de Dick. Gostei bastante de AdD, mesmo sendo um romance disfarçado de ficção-científica. Mas com a Emily Blunt, fica impossível não gostar... hahaha

essa semana vou publicar algum comentário do filme no Cinema de Buteco. Passa lá!

abc

Enaldo Soares disse...

Achei o filme uma bela bobagem, uma combinação de clichês eleitorais, românticos e sobre o destino. Filme para fundamentalistas do meio-oeste, deixei-o de lado após meia hora.