




The Beaver
estreia 27 05 2011
gênero drama /família
EUA, 2011, 100 min, Livre.
Distribuição Paris Filmes
Direção Jodie Foster.
Com Mel Gibson, Cherry Jones e Jodie Foster
COTAÇÃO
Textos de Luciano Ramos (jornalista, sociólogo e escritor paulista) sobre crítica de filmes nacionais e internacionais, reflexão a respeito da arte cinematográfica, notícias sobre o mundo do cinema, inserção do cinema na história da cultura, patrimônio histórico e cultural.
Autor de O Vingador do Futuro, O Homem Duplo, O Homem do Castelo Alto e outras obras primas do gênero chamado de “ficção-científica”, o americano Phillip K. Dick morreu em 1982, aos 52 anos, logo após conquistar a estabilidade financeira proporcionada pelo sucesso de Blade Runner – O Caçador de Andróides. Recorrendo ao gênero policial como um terreno de comparação, em termos de importância, seu trabalho se aproximava mais de Dostoievsky do que de Agatha Christie. Mais do que “científico” e baseado num conto de Dick, o filme Agentes do Destino oferece um suspense metafísico e meta-linguístico, ao colocar em pauta a questão do livre-arbítrio, na vida e na dramaturgia.
Matt Damon interpreta um jovem candidato ao Senado americano, com grande possibilidade de chegar à presidência. Após uma eleição, ele percebe que um grupo de pessoas interfere em sua vida para afastá-lo da mulher (Emily Bunt – O Lobisomen) – uma bailarina destinada a se tornar a maior coreógrafa do país – e considerada por ele o amor de sua vida. Os responsáveis pela intervenção são indivíduos com aparência de policiais e dotados de poderes mágicos que ele descobre serem anjos, ou emissários do divino, encarregados de zelar pelo cumprimento dos planos que Ele desenhara para os humanos. A cada “acidente” ou falha na “programação”, esses agentes entram em cena para promover uma “manipulação”, com vistas ao “ajustamento” mencionado no título original. Por coincidência esses conceitos e ações fazem parte de uma determinada corrente da semiótica atual.
Para complicar essas tarefas, é preciso que os humanos continuem acreditando no princípio do livre arbítrio. Um desses seres sobrenaturais é interpretado por Terence Stamp (Teorema e Superman II) e explica que a liberdade dos mortais existe sim, ainda que dentro de limites impostos pela vontade divina. Nesse sentido, ele apresenta uma irônica interpretação da história, pela qual os homens se acham sempre em conflito com o projeto do criador. Assim, Ele teria criado a “Pax Romana” que foi anulada pelos bárbaros, dando origem aos mil anos da “Idade das Trevas”. Mais tarde, deu-nos a Renascença que a humanidade estragou com o Absolutismo. Ao Iluminismo se seguiu o “Terror”, a “belle époque” foi encerrada ela Primeira Guerra e assim por diante.
Para o herói do filme em particular, o amor só lhe seria permitido “em pequenas doses”, porque o relacionamento com uma mulher que lhe bastasse afetivamente seria letal para o desenvolvimento de sua trajetória política. Nesse ponto, aliás, parece ficar explicada a importância do celibato para alguns líderes e sacerdotes. A novidade é que a trama procura mostrar as coisas do lado feminino: se aquela futura coreógrafa se casasse com o presidente, terminaria a carreira ensinando balé para crianças. Por essa brecha envereda toda a carga romântica da história que, por conta da sua diminuta dosagem, funciona aqui como um saboroso tempero para a narrativa. Como do ponto de vista da ação dramática, só interessam os personagens capazes de escolher entre este ou aquele caminho, o dilema dos agentes celestiais passa ser, então, o mesmo do roteirista George Nolfi (Ultimato Bourne – 2007), em seu primeiro trabalho como diretor.
Ele recorre, então, à idéia exposta por outro agente segundo a qual nem mesmo os desígnios celestiais são imutáveis e existem resíduos de antigas programações que se transformaram ao longo do tempo. Em outras palavras, até destino muda de idéia. O fato é que não há cena sequer em que o personagem de Matt Damon passe sem ser levado a tomar uma decisão, ou seja, absolutamente todos os caminhos do roteiro se acham nas mãos do protagonista, como se ele estivesse em constante batalha contra o “deus ex machina”. E nessa guerra quem vence são o saudoso Phillip K. Dick e o promissor roteirista George Nolfi.
OS AGENTES DO DESTINO
The Adjustment Bureau
estreia 13 05 2011
EUA, 2011, 106 min, 12 anos.
gênero ficção científica / fantasia
Distribuição Paramount
Direção George Nolfi
Com Matt Damon, Emily Bunt, Terence Stamp
COTAÇÃO
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ÓTIMO
Editor Geral
Doutor em Cinema pela Unicamp. Crítico de cinema da Rádio Cultura FM, no programa CINEMA FALADO. Exerceu a crítica de cinema na Rádio USP, no Jornal da Tarde e na Folha de São Paulo. Dirigiu o Departamento de cinema da Rede Bandeirantes. Roteirista das minisséries "Avenida Paulista" e "Moinhos de Vento", bem como da novela "Champanhe" da Rede Globo.
Todos os textos aqui presentes no blog são de sua autoria.