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terça-feira, 17 de agosto de 2010

“Destinos Ligados” – um drama suave e amargo sobre os mistérios do universo feminino

O diretor e roteirista é o colombiano Rodrigo Garcia, um cineasta já há algum tempo radicado nos EUA, onde escreve e dirige tanto para o cinema quanto para a televisão. Em 2005, ele lançava “Questão de Vida”, que tinha 9 mulheres como protagonistas, consolidando o seu gosto por desenvolver diversas histórias no mesmo roteiro. Com “Destinos Ligados”, ele continua na mesma linha, apenas com um pouco mais de concisão: toma as trajetórias de três mulheres e as unifica por uma condição explicitada no título original (Mother and Child): são relatos de mães e filhas, ou seja, um drama que levanta a questão da maternidade em confronto com o tema da adoção.
Num primeiro núcleo, mãe e filha se acham separadas pelo tempo, pelo espaço e pelas circunstâncias: a advogada vivida por Naomi Watts não sabe quem é a sua mãe biológica – uma enfermeira interpretada por Annette Bening, que a entregara recém-nascida para adoção, há 35 anos, e que ainda vive incompleta e amargurada por causa disso. Já a advogada, por motivos evidentes, nem pensa em viver em família e jamais se imagina como mãe – até engravidar acidentalmente.
Para a primeira, os contatos com o sexo oposto não passam de oportunidades para o prazer ou para a ascensão social. Para a segunda, todos os homens do planeta representam uma potencial ameaça para a sua estabilidade psíquica. A primeira tarefa do escritor será dinamizar esses dois mundos, de tal modo que o seu possível encontro não desemboque no melodrama do lugar comum. Como mediação (tomando essa palavra agora em moda em sua conotação mais simples) entre eles, desenvolve-se outro núcleo dramático, formado por um casal que, apesar de relativamente jovem, não consegue ter filhos, o que leva a esposa a se tornar obcecada com a idéia de adotar uma criança.
A segunda tarefa é fechar esse leque harmoniosamente, de maneira plausível e o mais emocionante possível. Nesse aspecto é preciso observar os nomes que acompanham Rodrigo Garcia, como produtores executivos nesse projeto: os mexicanos Guillermo del Toro (“O Labirinto do Fauno”) e Alejandro Inarritu (“Babel”), este um especialista em desenvolver roteiros como “Destinos Ligados”, em que uma única história é conduzida por diferentes personagens. A origem desse estilo é literária e pode ser traçada a partir de “Ponto e Contraponto” (1928), de Aldous Huxley, que o escritor gaúcho Érico Veríssimo traduziu em edição brasileira, dois anos antes de escrever “Caminhos Cruzados” (1935). É lá que pode ser encontrada essa técnica que consiste em mesclar pontos de vista diferentes, tanto do escritor quanto das personagens, tratando-as como fragmentos de uma narrativa mais abrangente e que evolui sem que exista um centro catalisador no corpo do texto.
Aqui esse procedimento se acha a serviço de uma dramaticidade suavemente amarga, ou “sweet and sour”, como se costumava dizer em Hollywood, no tempo em que o pai de Rodrigo Garcia, o escritor Gabriel Garcia Márquez lançava a sua obra-prima “Cem Anos de Solidão” (1967). Neste tempo em que a comunicação se faz na instantaneidade dos meios digitais, é curioso que a literatura ainda seja uma influência formal e que a trama também use o artifício de dolorosas cartas, escritas por duas desconhecidas, para conduzir as tramas paralelas.
DESTINOS LIGADOS
Mother and Child
EUA/Espanha - 2009 – 122 min. - 12 anos
estréia 13 08 2010
Gênero Drama
Distribuição Playarte
Direção de Rodrigo Garcia
Elenco Annette Bening, Naomi Watts, Samuel L. Jackson
COTAÇÃO
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B O M

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